Com informações da ESA - 27/05/2020
Enfraquecimento do
campo magnético da Terra
O campo magnético da Terra já
diminuiu em quase 10% na média global, mas o fenômeno é particularmente forte
em uma área que se estende da América do Sul à África.
Conhecida como "Anomalia
Magnética do Atlântico Sul", esta área já tem causado distúrbios técnicos
nos satélites que orbitam a Terra e que passam acima dela.
Ainda sem explicações para o
fenômeno e, portanto, sem condições de prever seu comportamento futuro,
geofísicos começaram a usar dados da constelação de observatórios Swarm, da
Agência Espacial Europeia, para tentar lançar alguma luz sobre o estranho
comportamento do magnetismo terrestre na região.
Anomalia do Atlântico
Sul
O campo magnético da Terra,
vital para a vida no nosso planeta, é uma força complexa e dinâmica que nos
protege da radiação cósmica e das partículas carregadas do Sol.
As teorias atuais indicam que o
campo magnético é gerado, ao menos em grande parte, por um oceano de ferro
líquido superaquecido e em turbilhão que compõe o núcleo externo da Terra, a
cerca de 3000 km abaixo dos nossos pés. Atuando como um condutor giratório,
semelhante ao que acontece num dínamo de bicicleta, esse fluxo cria correntes
elétricas que, por sua vez, geram o nosso campo eletromagnético ‒ os geofísicos
sabem que esta explicação é parcial porque já se sabe que as marés oceânicas
contribuem para o magnetismo da Terra.
Este campo está longe de ser
estático e varia em força e direção tanto no espaço quanto no tempo. Por
exemplo, estudos recentes mostraram que a posição do polo norte magnético está
mudando rapidamente.
Nos últimos 200 anos, o campo
magnético perdeu cerca de 9% da sua força ‒ em uma média global. A redução da
intensidade magnética foi particularmente forte entre a América do Sul e a
África: Apenas nos últimos 50 anos, a força mínima de campo nessa área caiu de
cerca de 24.000 nanoteslas para 22.000, enquanto, ao mesmo tempo, a área da
anomalia cresceu e moveu-se para o oeste a um ritmo de cerca de 20 km por ano.
Nos últimos cinco anos, um
segundo centro de intensidade mínima surgiu no sudoeste da África - indicando
que a Anomalia do Atlântico Sul poderia dividir-se em duas células separadas.
Campo magnético da
Terra está enfraquecendo
Ao contrário do polo norte
geográfico, que fica em um local fixo, o norte magnético vagueia, aparentemente
devido à competição entre duas bolhas magnéticas na borda do núcleo externo da
Terra.
O campo magnético da Terra é
visualizado como um poderoso ímã dipolar no centro do planeta, inclinado em
torno de 11° em relação ao eixo de rotação. No entanto, o crescimento da
anomalia do Atlântico Sul indica que os processos envolvidos na produção do
campo são muito mais complexos do que os cientistas têm imaginado ‒ modelos
dipolares comuns são incapazes de explicar o comportamento recente da Anomalia
do Atlântico Sul, por exemplo.
A expectativa é que os dados da
constelação de observatórios Swarm, que estão permitindo criar um mapa 3D do
campo magnético da Terra, ajudem a entender melhor a anomalia.
"O novo mínimo oriental da
Anomalia do Atlântico Sul apareceu na última década e, nos últimos anos, está
se desenvolvendo vigorosamente. Temos muita sorte de ter os satélites Swarm em
órbita para investigar o desenvolvimento da Anomalia do Atlântico Sul. O
desafio agora é entender os processos no núcleo da Terra que impulsionam estas
mudanças", disse Jürgen Matzka, do Centro Alemão de Pesquisa em
Geociências.
Inversão dos polos
magnéticos da Terra
Alguns cientistas têm levantado
a hipótese de que o atual enfraquecimento do campo seria um sinal de que a
Terra está caminhando para uma inversão dos polos, quando os polos magnéticos
norte e sul trocam de lugar. Eventos assim ocorreram muitas vezes ao longo da
história do planeta e, apesar de estarmos atrasados pela taxa média em que
estas reversões ocorrem ‒ aproximadamente a cada 250.000 anos ‒, a queda de
intensidade no Atlântico Sul ainda está dentro do que é considerado um nível
normal de flutuação.
No entanto, os satélites e
outras naves espaciais que voam pela área estão mais propensos a sofrer avarias
técnicas, uma vez o campo magnético é mais fraco nessa região, de modo que as
partículas carregadas podem penetrar nas altitudes dos satélites de órbita
baixa da Terra.
O mistério da origem da anomalia
do Atlântico Sul ainda não foi resolvido. O que se espera é que as observações
da constelação Swarm deem aos geofísicos novas ideias sobre como ocorrem os
processos pouco compreendidos do interior da Terra.
Bibliografia:
Artigo: Recent north
magnetic pole acceleration towards Siberia caused by flux lobe elongation
Autores: Philip W.
Livermore, Christopher C. Finlay, Matthew Bayliff
Revista:
Nature Geoscience
DOI:
10.1038/s41561-020-0570-9
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