Pesquisa levou uma década para
sequenciar o material genético de 38 cânceres e revelou que eles se originam,
abrindo caminhos para novos tipos de tratamento para a doença.
O projeto Pan-Câncer analisou o
genoma completo de mais de 2.600 pessoas que sofreram 38 tipos diferentes de
tumores.
O projeto Pan-Câncer concluiu
uma pesquisa sobre como e por que cada tipo de tumor surge no corpo humano. O
estudo, que durou uma década, envolveu 1.300 cientistas e clínicos de 37
países. Eles analisaram mais de 2.600 genomas de 38 tipos diferentes de
tumores. A série de artigos foi publicada nesta quinta-feira (05/02/2020) na
revista científica Nature.
"Entre as principais
conclusões do trabalho está a descoberta da enorme variedade de genomas de
câncer", disse Peter Campbell, membro do comitê diretor do projeto. Ao
todo, foram detectados mais de 80 processos que causam as mutações genéticas do
câncer. Algumas delas são relacionadas à idade, outras são herdadas ou podem
até estar ligadas a fatores do estilo de vida, como o fumo.
Resultados
A equipe constatou que o
desenvolvimento precoce de alguns tipos de câncer pode ocorrer décadas antes do
diagnóstico, às vezes até na infância. Isso mostra que há a oportunidade de
tratamento muito antes do desenvolvimento da doença.
Outra revelação dos cientistas
foi que os cânceres em diferentes partes do corpo às vezes são muito mais
parecidos do que se pensava. "Podemos ter um tipo de câncer de mama e de
próstata em que as mutações são semelhantes. Isso significa que os pacientes
podem se beneficiar do mesmo tipo de tratamento", disse, em nota, Joachim
Weischenfeldt, coautor e professor associado da Universidade de Copenhague.
A pesquisa também descobriu que
os padrões de mutações e onde elas ocorrem podem ajudar a identificar entre 1%
e 5% dos cânceres que não são identificados por meio de diagnósticos regulares.
Um genoma sequenciado pode até revelar erros de diagnóstico ocasionais de um
tipo de câncer.
Desenvolvimento do
tumor
Uma pessoa é um conjunto de 30
bilhões de células, as quais passam por processos genéticos e se multiplicam.
Cada vez que elas se dividem, o genoma completo, composto por 3.000 milhões de
letras, deve ser copiado o A com o T e o C com o G.
Nesse processo, erros de cópia
casuais podem ser cometidos, ou seja, as mutações. Um ser humano pode acumular
milhões dessas erratas, a grande maioria inofensiva, mas uma pequena fração
delas é o que pode desencadear o câncer. Por isso, identificar qual é a nociva
pode ser essencial para entender melhor a doença e criar novos tratamentos
contra ela.
"Com o conhecimento que
adquirimos sobre as origens e a evolução dos tumores, podemos desenvolver novas
ferramentas e terapias para detectar o câncer mais cedo, desenvolver
tratamentos mais direcionadas e curar os pacientes com sucesso", disse
Lincoln Stein, membro do comitê de direção do projeto, em uma declaração
emitida pelo Ontario Institute for Cancer Research.
Próximos passos
Segundo os responsáveis pelo
projeto, os resultados do trabalho fornecem dados essenciais para a medicina de
precisão, na qual os pacientes com câncer podem receber um tratamento ou outro,
dependendo de seu perfil genético.
“Mostramos como fazer grandes
estudos genômicos do câncer de maneira sustentável. Agora a ideia é fazer o
mesmo em hospitais e incluir dados clínicos de cada paciente, principalmente o
histórico do tratamento, para que talvez um dia podemos conhecer todas as
mutações causais do câncer”, destaca Alfonso Valencia, chefe de biocomputação
do Centro de Supercomputação de Barcelona e um dos pesquisadores do Pan-Câncer.
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