quinta-feira, 23 de janeiro de 2020

LEMBRANÇA DAS FALTAS[1]



Miramez

A recordação das faltas que a alma tenha cometido quando ainda imperfeita não perturba a sua felicidade, mesmo depois que ela se depurou?
‒ Não, porque ela resgatou as suas faltas e saiu vitoriosa das provas a que se submeteu com esse fim.
Questão 978/O Livro dos Espíritos

Mesmo depois que o Espírito culpado limpa as suas faltas da consciência, elas deixam alguns liames espirituais para o futuro? Essa é sempre a pergunta de muitos, que desejam conhecer na profundidade o ser, nas suas jornadas de ascensão.
Verdadeiramente, as faltas cometidas, ou o processo de despertamento da alma para a vida maior, causa transtorno, reveses de todos os tipos, dos quais conheces alguns nos caminhos do mundo. No entanto, Deus não é carrasco, a fazer sofrer uns mais que os outros.
A consciência, depois de limpa pelas bênçãos do arrependimento, juntamente com o reparo, torna à sua limpidez como foi criada, sem existir desarmonia na sua engrenagem divina. Por que a mente haverá de perturbar uma obra de Deus com sua simples ignorância? Quem paga uma conta não mais deve, principalmente quando os juros são contados, como nos processos de elevação das almas.
Deus é pureza espiritual, e a Inteligência Divina não iria criar almas, como o fez, sujeitas ao desequilíbrio eterno. É bom que se lembre de novo que aquilo que os homens acham impossível, é possível a Deus. Deus é amor, e somente isso basta para a nossa paz de consciência. Jesus nos fala que devemos amá-Lo acima de tudo e ao nosso próximo como a nós mesmos. O Espírito deve e pode amar a Deus em tudo que existe. Assim, a resposta virá ao nosso encontro, vertendo-se do amor universal.
As faltas que cometemos e que religiões classificam como pecado de variadas categorias, podem se comparar com a lama que venha a sujar: depois de um banho, deixa de existir.
Assim, os chamados erros, depois de um "banho" que o tempo oferece, vão para o esquecimento e a limpidez da consciência torna-se como o sol que dá vida e que nos faz amar mais aos que sofrem e a tudo o que existe em torno de nós. Então, dotados de harmonia mental, passamos a procurar a verdade, porque ela nos libertará.
Quem pratica a verdade aproxima-se da luz a fim de que as suas obras sejam manifestas, porque feitas em Deus. (João, 3:21)
Ao alcançarmos a verdade, as faltas tornam-se brumas diante do sol espiritual expresso pela consciência. Essas faltas, sistema indispensável para acordar a alma, transformam-se em virtudes pelas bênçãos do Criador e Transformador de todas as coisas.
A vida é movimento, e esse Deus operando em todos os rumos. Se ainda te lembras do mal que praticaste em alguma parte, a alguma pessoa, e te sentes infeliz, é porque não limpaste da consciência esse magnetismo turvado das ações más. Continua fazendo o bem e amando a todos sem distinção, que logo a consciência dará sinal de liberdade. Não esmoreças, pois os próprios Espíritos angélicos que assistem o Cristo nas suas esferas de luz, passaram por todos esses transes, qual o que por ora passas. Não perturbes o coração pelos processos que deves passar para o teu próprio bem. Não deves procurar o mal, nem incentivá-lo, mas, se a dor bater à tua porta, não blasfemes: procura livrar-te dela com paciência, no mesmo ritmo de paz que Jesus te ensinou. Enfrenta os problemas com coragem, sem procurá-los igualmente. Não compliques a tua vida; ela, mais natural, é bem melhor.
O objetivo primordial da Doutrina Espírita é o mesmo do Cristianismo: modificar o homem, fazer nascer o homem novo dentro do homem velho e iluminar os corações pelo processo do amor universal. O dia em que Jesus abrir Seus braços divinos dentro do coração humano, será o sinal de salvação da criatura para sempre.




[1] Filosofia Espírita – Volume 20 – João Nunes Maia

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