22 agosto 2017
Qual foi o ganhador do Oscar de
Melhor Filme em 1972?[2]
Se você acertou de primeira, sem
apelar para o Google, parabéns. Mas poderia ser melhor não ter lembrado: um
estudo de cientistas canadenses sugere que o esquecimento pode ser importante
para a manutenção da memória.
O argumento é que
"deletar" informações irrelevantes ajuda o cérebro a se concentrar em
aspectos que possam ajudar a tomada de decisões no dia a dia.
"O verdadeiro papel da
memória é otimizar o processo decisório", diz Blake Richards, cientista da
Universidade de Toronto e principal autor do novo trabalho.
Segundo Richards, o grosso das
pesquisas em neurobiologia relacionadas à memória prioriza os mecanismos
celulares de armazenamento de informações pelo cérebro, um processo conhecido
como persistência. E pouca atenção é dada aos mecanismos responsáveis pelo
processo de esquecimento (transiência).
Também é comum que a falta de
habilidade para lembrar seja atribuída a uma falha no armazenamento e
acionamento de informações pelo cérebro.
"Encontramos bastante
evidência de que há mecanismos promovendo a perda de memória e que são
distintos dos envolvidos no armazenamento de informações", diz Paul
Frankland, outro cientista participando do estudo.
Frankland explica que um outro
experimento realizado por seu laboratório no hospital infantil SickKids
constatou que o crescimento de novos neurônios no hipocampo (estrutura cerebral
considerada a principal sede da memória) parece promover o esquecimento. Em
pessoas jovens, essa é área do cérebro que gera mais células.
Tal mecanismo pode explicar por
que adultos normalmente não têm memórias para eventos ocorridos antes dos 4
anos de idade.
Em um texto publicado na revista
científica “Neuron”, os cientistas canadenses fazem também referência a um
experimento em ratos colocados em labirintos, que tiveram menos dificuldades
para encontrar saídas diferentes quando foram drogados para esquecer a
localização da saída anterior.
Richards explica que há duas
grandes razões para explicar por que o cérebro gasta energia para deletar
informações depois de também consumir reservas para armazená-las. A primeira é
a necessidade de eliminar informações ultrapassadas.
"Se você está navegando
pelo mundo e seu cérebro está constantemente carregando memórias conflitantes,
isso tornará mais difícil tomar uma decisão consciente".
A outra razão está ligada a um
conceito usado em projetos de inteligência artificial, a regularização.
Consiste em tentar fazer com que computadores aprendam a fazer generalizações
com base em grande quantidade de dados. Para fazer isso, é necessário esquecer
detalhes nos dados para priorizar a informação necessária para decisões.
"A melhor coisa para a
memória não é guardar absolutamente tudo", diz Richards. "Se você
está tentando tomar uma decisão, isso será impossível se seu cérebro é
constantemente bombardeado com informações inúteis".
O cientista canadense questiona
ainda o que chama de "idealização" de pessoas com boa memória.
"O objetivo da memória não
é ser capaz de lembrar quem ganhou o quê em 1972", ressalta.
Nenhum comentário:
Postar um comentário