BBC News Mundo - 22
novembro 2019
A publicação do livro “A Origem
das Espécies”, em que Charles Darwin estabeleceu a base da teoria da evolução
pela seleção natural, completa 160 anos neste 24 de novembro.
Mas o quanto sabemos de fato
sobre a história da nossa espécie?
E por que é um erro dizer que
"descendemos dos macacos"?
A BBC News Mundo, serviço em
espanhol da BBC, apresenta cinco questões que podem te surpreender sobre a
evolução humana.
1. Não descendemos de
macacos
Os homens modernos, da espécie Homo sapiens sapiens, não evoluíram dos
macacos, mas compartilham de um ancestral comum com eles.
"Um erro muito comum é
pensar que 'viemos dos macacos'. Esse erro faz com que muita gente negue a
teoria da evolução", afirmou à BBC News Mundo o paleoantropólogo espanhol
José María Bermúdez de Castro.
"Para começar, é melhor
afirmar que somos mais uma espécie da ordem dos primatas", diz o
coordenador do Programa de Paleobiologia do Centro Nacional de Pesquisa sobre a
Evolução Humana, em Burgos, na Espanha, e codiretor do projeto de pesquisa e
escavação nos sítios arqueológicos da Serra de Atapuerca, também na Espanha.
Essa linhagem de primatas
"começa sua história evolutiva há cerca de 7 milhões de anos. Naquela
época, um ancestral comum com os chimpanzés divergiu em duas linhagens
diferentes, provavelmente por razões climáticas".
"A linhagem que deu origem
aos chimpanzés, Pan paniscus e Pan troglodytes, permaneceu no oeste da África.
A linhagem que acabou dando origem à humanidade atual evoluiu no sul e no leste
da África."
Bermúdez de Castro acrescenta
que compartilhamos cerca de 99% de nossos genes com os chimpanzés, mas a
diferença (de aproximadamente 1,2%) é importante, uma vez que temos entre 20
mil e 25 mil genes operacionais.
"Deveríamos refletir sobre
nossa relação próxima com esses primatas, nossos primos em primeiro grau",
completa o cientista espanhol.
2. Mais da metade do
seu corpo não é humano
Estima-se que cerca da metade do
nosso corpo seja composto de células humanas, mas o restante é uma mistura de
bactérias, vírus e fungos que compõem o que é conhecido como microbioma.
Esse microbioma, que é tão
particular quanto a impressão digital de cada um, tem influência sobre uma
ampla variedade de funções — da digestão ao sistema imunológico.
Se pensarmos em termos
genéticos, os números são ainda mais surpreendentes. Microbiólogos da escola de
medicina da Universidade Harvard e do Joslin Diabetes Center, ambos nos EUA,
analisaram o DNA de cerca de 3,5 mil amostras da boca e intestinos.
Os resultados do estudo,
publicado neste ano na revista científica Cell Host & Microbe, indicam que
havia cerca de 46 milhões de genes bacterianos, sendo 24 milhões no microbioma
da boca e 22 milhões no dos intestinos.
3. Estamos repletos
de vestígios evolutivos
A evolução é um processo que
pode ser muito lento — e alguns de seus vestígios podem permanecer por muito
tempo depois que deixam de cumprir uma função.
Um exemplo é o apêndice, que
teria desempenhado uma função relacionada à digestão da celulose das plantas em
nossos ancestrais.
Os dentes do siso, que foram
úteis para moer alimentos fibrosos, são outro exemplo.
O cóccix também é considerado um
vestígio evolutivo, que no passado contribuiu para manter o equilíbrio. É o
vestígio de uma cauda que, no caso de embriões humanos, aparece no final da
quarta semana de desenvolvimento embrionário e desaparece no início da oitava
semana.
E se você fica arrepiado quando
sente frio ou medo, isso significa que suas fibras musculares conhecidas como arrectores pilorum (arrector pili, no
singular) estão se contraindo involuntariamente, o que provavelmente causará
arrepios.
Se você é um animal selvagem,
pode ser útil ter os pelos arrepiados, há que assim podem capturar mais ar para
reter o calor. Ou você pode parecer maior do que é, o que poderia desencorajar
seus predadores.
Mas, no caso dos seres humanos,
nossos arrectores pilorum não
oferecem nenhum desses benefícios.
4. Nossa espécie
surgiu há cerca de 300 mil anos
A história da nossa origem tem
mudado constantemente à medida que novos fósseis são descobertos.
"Nossa espécie, Homo sapiens, surgiu na África há pouco
mais de 200 mil anos. Alguns pesquisadores acreditam que certos fósseis de um
sítio arqueológico no Marrocos (Jebel Irhoud) já pertenciam à nossa espécie.
Esses fósseis têm 315 mil anos", explica Bermúdez de Castro.
"Independentemente deste
debate sobre datas, não se sabe de nenhuma mudança importante no ambiente da
África na época do Pleistoceno".
As eras glaciais afetaram o
hemisfério norte e tiveram impacto no enfraquecimento da espécie Homo neanderthalensis.
"Mas na África subsaariana
e no norte da África o clima não sofreu mudanças significativas. Portanto, nos
escapa saber que circunstâncias favoreceram o surgimento dos primeiros
hominídeos semelhantes a nós na maior parte de sua anatomia".
"Certos aspectos culturais,
como a arte ou o simbolismo, ainda levariam algum tempo para serem consolidados
no Homo sapiens. Mas, do ponto de
vista da anatomia, os homens africanos de 200 mil anos atrás eram praticamente
indistinguíveis de nós".
Atualmente, há muita discussão
sobre a possibilidade de ter havido diferentes rotas de expansão do Homo sapiens para fora da África e por
dois lugares diferentes: o Levante e o Estreito de Bab El-Mandeb, no Chifre da
África.
"Não seria estranho. Os
dados não são contraditórios e não afetam o resultado final: agora somos a
única espécie de hominídeo do planeta".
5. Não paramos de
evoluir
Ainda estamos nos adaptando ao
mundo ao nosso redor. Um exemplo é o rápido aumento, nas últimas 100 gerações
do Reino Unido, do gene de tolerância à lactose, o açúcar do leite.
Estima-se que há cerca de 11 mil
anos, os homens adultos não eram capazes de digerir a lactose.
À medida que os seres humanos
começaram a depender da produção de leite em certas regiões para se alimentar,
seus corpos se adaptaram para digerir este alimento, que antes era tolerado
apenas por crianças.
Em regiões com uma longa
tradição de produção de laticínios, como a Europa, a população é muito mais
tolerante à lactose do que na Ásia.
"É claro que não deixamos
de evoluir e nunca deixaremos, enquanto continuarmos sendo uma espécie na
Terra", diz Bermúdez de Castro.
"A própria cultura está
influenciando de maneira decisiva a nossa evolução. E essa influência será cada
vez mais importante, no momento em que a tecnologia nos permitir manipular com
segurança o genoma humano".
"Pode ser que os
experimentos de que temos notícia não sejam muito éticos e tenham riscos. Mas,
ao longo dos anos, vai ser possível realizar essas manipulações. Se chegarmos a
esse ponto, a mudança evolutiva será extremamente rápida", avalia.
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