(Lyon, novembro de 1863 – Médium: Sr. X...)
Temos-vos dito muitas vezes que
investiguem as comunicações que vos são dadas, submetendo-as à análise da
razão, e que não tomeis sem exame as inspirações que vêm agitar o vosso
Espírito, sob a influência de causas por vezes muito difíceis de constatar
pelos encarnados, entregues a distrações sem-número.
As ideias puras que, por assim
dizer, flutuam no espaço (segundo a ideia platônica), levadas pelos Espíritos,
nem sempre podem alojar-se sozinhas e isoladas no cérebro dos vossos médiuns.
Muitas vezes encontram o lugar ocupado por ideias preconcebidas, que se
espalham com o jacto da inspiração, perturbando-o e transformando-o de maneira
inconsciente, é verdade, mas algumas vezes de maneira bastante profunda para
que a ideia espiritual se ache, assim, inteiramente desnaturada.
A inspiração encerra dois
elementos: o pensamento e o calor fluídico destinado a excitar o Espírito do
médium, dando-lhe o que chamais a verve[2]
da composição. Se a inspiração encontrar o lugar ocupado por uma ideia
preconcebida, da qual o médium não pode ou não quer desligar-se, nosso
pensamento fica sem intérprete e o calor fluídico se gasta em estimular uma
ideia que não é nossa. Quantas vezes em vosso mundo egoísta e apaixonado temos
trazido o calor e a ideia! Desdenhais a ideia, que vossa consciência deveria
fazer-vos reconhecer e vos apoderais do calor, em benefício de vossas paixões
terrenas, por vezes dilapidando o bem de Deus em proveito do mal. Assim,
quantas contas terão de prestar um dia todos os advogados das causas
equivocadas!
Sem dúvida seria desejável que
as boas inspirações pudessem sempre dominar as ideias preconcebidas. Mas,
então, entravaríamos o livre-arbítrio da vontade do homem e, assim, este último
escaparia à responsabilidade que lhe pertence. Mas se somos apenas os
conselheiros auxiliares da Humanidade, quantas vezes nos devemos felicitar,
quando nossa ideia, batendo à porta de uma consciência estreita, triunfa da
ideia preconcebida e modifica a convicção do inspirado! Entretanto, não se
deveria crer que nosso auxílio mal-empregado não traísse um pouco o mau uso que
dele podem fazer. A convicção sincera encontra acentos que, partidos do
coração, chegam ao coração; a convicção simulada pode satisfazer as convicções
apaixonadas, vibrando em uníssono com a primeira, mas traz um frio particular
que deixa a consciência malsatisfeita e revela uma origem duvidosa.
Quereis saber de onde vêm os
dois elementos da inspiração mediúnica? A resposta é fácil: a ideia vem do
mundo extraterrestre – é a inspiração própria do Espírito. Quanto ao calor
fluídico da inspiração, nós o encontramos e o tomamos em vós mesmos; é a parte
quintessenciada do fluido vital em emanação; algumas vezes nós a tomamos do
próprio inspirado, quando este é dotado de certo poder fluídico, ou mediúnico,
como dizeis; na maioria das vezes nós o tomamos em seu ambiente, na emanação de
benevolência, de que está mais ou menos cercado. É por isto que se pode dizer
com razão que a simpatia torna eloquente.
Se refletirdes atentamente
nestas causas, encontrareis a explicação de muitos fatos que a princípio causam
admiração, mas dos quais cada qual possui uma certa intuição. Só a ideia não
bastaria ao homem, se não se lhe desse o poder de exprimi-la. O calor é para a
ideia o que o perispírito é para o Espírito, o que o vosso corpo é para a alma.
Sem o corpo a alma seria impotente para agitar a matéria; sem o calor, a ideia
seria impotente para comover os corações.
A conclusão desta comunicação é
que jamais deveis abdicar de vossa razão, ao examinardes as inspirações que vos
são submetidas. Quanto mais o médium tem ideias adquiridas, mas é ele
susceptível de ideias preconcebidas, mais deve fazer tábula rasa de seus
próprios pensamentos, abandonar as influências que o agitam e dar à sua
consciência a abnegação necessária a uma boa comunicação.
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