segunda-feira, 14 de outubro de 2019

GUILHERME TAYLOR MARCH[1]




Nascido no planalto da Serra dos Órgãos, atualmente cidade de Teresópolis, no Estado do Rio de Janeiro, no dia 21 de agosto de 1838, e desencarnado na cidade de Niterói no mesmo Estado, no dia 21 de junho de 1922.
Era filho de George March, cidadão nascido e criado em Portugal, mas inglês por direito diplomático, e de D. Ignácia March, de nacionalidade brasileira.
George March havia adquirido, antes de 1821, uma gleba de mais de 170 milhões de metros quadrados de terra, que destinou à agricultura e à criação de cavalos de raça. Essa enorme Fazenda que primitivamente se chamava Fazenda dos Órgãos, passou a ser denominada Fazenda do March. A atual cidade de Teresópolis, no Estado do Rio de Janeiro, foi construída dentro de seus limites.
Com a desencarnação de seu pai, Guilherme Taylor March, que nessa época tinha apenas 12 anos de idade, foi confiado a um tutor nomeado pela Justiça, o qual despendeu enormes quantias para que o jovem alcançasse aprimorada cultura, matriculando-o em vários colégios e posteriormente na Faculdade de Medicina da Corte, onde recebeu seu diploma de médico no dia 30 de novembro de 1859.
O seu tutor foi demasiadamente pródigo no trato de seus bens, não administrou suas propriedades e depósitos bancários com a devida precaução, fazendo com que Guilherme March ficasse arruinado de bens materiais.
Tendo sido acometido de varíola e, vivendo numa habitação coletiva, teria que ser removido para um hospital, entretanto, uma senhora espírita tratou-o com remédios homeopáticos, fazendo com que ele se restabelecesse, sem sequer ficar marcado pelas cicatrizes deformantes que as pústulas produzem.
Esse fato fez com que Guilherme March se tornasse apologista da ciência de Hahnemann, passando a praticar essa terapêutica até a data da sua desencarnação.
Observando os exemplos vivos propiciados pela sua hospedeira e por um velho espírita chamado Nascimento, que curava muita gente através da homeopatia e da sua mediunidade, mudou do modo de pensar. Viu que o verdadeiro Deus era diferente daquele que lhe mostraram no Colégio. Os exemplos vividos por ambos fizeram com que se interessasse pelo estudo das obras básicas de Allan Kardec, pois era muito culto, estudioso e poliglota.
Sua conversão foi comprovada pelo seu filho Edmundo March, em carta datada de 22 de setembro de 1940, onde dizia: "Não fazendo alarde de sua crença, não a negava em absoluto. Educado como geralmente todos os do seu tempo, na religião católica, procurou, depois de emancipado, conhecer a Doutrina de Kardec e, tendo encontrado nela a melhor forma de Cristianismo, adotou-a".
O Dr. March manteve relações cordiais com muitos vultos conhecidos do Espiritismo daquela época, dentre eles os Drs. Faria Júnior, Figueiras Lima, o médium Nascimento e muitos outros.
Desprendendo-se de todo interesse material, passou a integrar-se inteiramente, de dia e de noite, sem fadigas nem revoltas, à tarefa sublime de suavizar os sofrimentos do próximo, tendo por isso merecido o cognome de "Pai dos Pobres". Fez isso por mais de cinquenta anos, descuidando-se de si e da própria saúde, numa afirmação patente de renúncia e de dedicação, tornando-se, por isso mesmo, um homem que realmente viveu os ensinamentos evangélicos, levando a paz e a saúde a milhares e milhares de sofredores de todos os matizes. Chegava mesmo a rasgar as próprias vestes a fim de enxugar lágrimas alheias.
Alcançando grande projeção na cidade, muitos sacerdotes católicos tentaram atraí-lo, mesmo nos últimos momentos de sua vida, procurando fazê-lo em confissão, sendo preciso que seu filho lhes dissesse, sem rebuços, que não mais permitiria aquele assédio impertinente, porque seu pai desde muito adotara o Espiritismo e não aceitava dogmas e sacramentos religiosos.
O Dr. March casou-se no Rio de Janeiro, em 1860, com D. Francisca de Paula Correia March. Pouco depois transferiu sua residência para Niterói, no Estado do Rio de Janeiro, onde começou a clinicar intensamente. Possuía enorme clientela. A todos os pacientes que o procuravam ele passava a considerar um membro da sua família e, portanto, com direito à sua assistência material. Os pobres da cidade faziam verdadeiras romarias à sua casa, modesta residência onde morava e onde vivia do modo mais humilde possível.
O nosso biografado ocupou um único emprego, o de clínico do consultório homeopático criado na Santa Casa de Misericórdia de Niterói, inicialmente sem remuneração e posteriormente recebendo o salário de cinquenta mil-réis mensais.
Dada a sua dedicação extrema à pobreza, apesar de possuir uma das clínicas mais vastas da capital fluminense a sua renda era por demais reduzida. Sua situação econômica tornou-se muito crítica devido à enfermidade que o atacara na mocidade e que começava a tolher-lhe os movimentos locomotores.
Nessa altura dos acontecimentos, a massa anônima, percebendo a situação precária em que vivia o grande missionário do bem, adquiriu e lhe fez doação de uma casa para que ele pudesse nela residir. Uma comissão de senhoras da melhor sociedade fluminense fez nova subscrição para adquirir os móveis.
Tomando posse daquele imóvel, o Dr. March abriu-lhe as portas de par em par, e nunca mais as fechou, para que por ela entrassem livremente todos os infortunados e por isso exclamava: "Esta casa não é minha, mas de todos os que não têm teto".
Durante cerca de 33 anos residiu o Dr. March na casa que lhe havia sido doada pelo povo e para onde entrou já enfermo. Posteriormente esse imóvel foi reformado a expensas do governo municipal.
No dia 21 de junho de 1922, com a avançada idade de 84 anos, dos quais 63 dedicados ao exercício de atividades profissionais, desencarnou o velho apóstolo do bem. O sepultamento dos seus restos mortais foi uma apoteose.
O povo em massa acorreu e carregou-lhe o féretro nos braços, até o cemitério, onde foi sepultado com flores e lágrimas. A Prefeitura Municipal de Niterói custeou-lhe os funerais e mandou que fosse hasteado, por 48 horas, o pavilhão municipal.
O seu nome foi dado a um logradouro público da cidade. A Federação Espírita do Estado do Rio de Janeiro, denominou "Instituto Dr. March" a um grande e modelar educandário por ela fundado, onde estão abrigadas mais de 100 meninas.
Esta é, portanto, a súmula muito apagada de sua grande vida. De um homem que, imobilizado em seu leito de dor durante 20 anos, mesmo assim socorria a todos aqueles que o procuravam. Trabalhou para minorar os sofrimentos alheios, sem encontrar quem pudesse suavizar os seus próprios sofrimentos.
Na sua vida profissional havia assumido consigo mesmo o compromisso solene de cuidar dos aflitos e dos doentes, e assim a todos atendeu, não apenas receitando, mas doando os próprios medicamentos, no que era ajudado pela sua própria família que chegava muitas vezes a se privar de muitas coisas.
Imobilizado sobre o leito, este virtuoso homem, cuja bondade o santificou em vida, nunca esboçou um murmúrio contra a justiça do Criador, jamais teve uma imprecação contra as provações que o acometiam.

(Subsídios fornecidos por Alfredo D'Alcântara)




[1] Os Grandes Vultos do Espiritismo – Paulo Alves Godoy

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