quinta-feira, 1 de agosto de 2019

O PENSAMENTO DA CRIANÇA[1]



Miramez

Em uma criança de tenra idade, o Espírito, pondo-se de lado o obstáculo que a imperfeição dos órgãos opõe à sua livre manifestação, pensa como uma criança ou um adulto?
‒ Quando ele é criança, é natural que os órgãos da inteligência, não estando desenvolvidos, não podem lhe dar a intuição de um adulto. Ele tem, com efeito, a inteligência muito limitada enquanto a idade faz amadurecer a sua razão. A perturbação que acompanha a reencarnação não cessa subitamente no momento de nascer; ela não se dissipa senão gradualmente com o desenvolvimento dos órgãos.

Uma observação vem em apoio desta resposta: é que os sonhos, em uma criança, não têm o caráter dos de um adulto; seu objeto é quase sempre pueril, o que e indício da natureza das preocupações do Espírito. (Allan Kardec)
Questão 380/Livro dos Espíritos

O raciocínio nos diz que o Espírito envolvido em um corpo de criança não pode pensar qual o adulto. Os órgãos não oferecem campo de ação para sua manifestação mais livre. As suas faculdades são tolhidas pelos órgãos em desenvolvimento e somente com o tempo eles vão se afirmando, de modo que os canais de comunicações estejam sem impedimentos para as mensagens que o Espírito veio trazer ao mundo. É qual a massa em fermentação.
O cérebro da criança não oferece mais do que as próprias criancinhas, no entanto, como em todos os casos, existe exceção, e de vez em quando aparecem crianças-prodígios que, com pouca idade, já operam como adultos e até como sábios. Existem crianças médiuns, que transmitem para os homens as ideias dos benfeitores que controlam suas faculdades em serviço do fenômeno, de modo que a ciência possa estudar os fatos.
É a mesma coisa que perguntar por que uma árvore, antes do seu crescimento adequado à profusão de frutos, não dá antes esses frutos, ou porque um animal de poucos meses não faz o trabalho de um animal adulto. Tudo há de se esperar certo tempo para que surja a maturidade. Antes que asse o pão, é preciso que fermente a massa, descansando os ingredientes. A lei é a mesma em toda a criação. A criança, enquanto na formação do seu corpo, descansa por um grande período, para depois manifestar seus pendores, cumprindo a sua missão na Terra.
Como já foi dito, essa criança pode, em muitos casos, ser muito mais elevada de que muitos adultos, porém, o seu instrumento de manifestação da inteligência ainda se encontra em preparo pelas mãos do tempo e com as bênçãos de Deus. A responsabilidade dos pais, dos professores e governo é muita, porque os canais de comunicação que levam a criança à verdade, como estímulos, pode gravar nas telas da sua consciência o que se fala, o que se escreve e o que se vive, com responsabilidade do que fala, escreve e vive. O Espírito no estado infantil não pensa qual adulto, mas tem o poder de registrar tal qual esse, ou, ainda melhor, de acordo com as suas sensibilidades espirituais.
Nossa responsabilidade diante das crianças que cruzam os nossos caminhos é imensa e não podemos desdenhar os compromissos mediante as necessidades dos pequeninos em corpos, que, às vezes, são grandes em Espírito.
Quando o tempo está nublado, isso impede que a luz do sol chegue à Terra na sua pureza; entretanto, tão logo desaparecem as brumas, o sol volta a brilhar.
A criança pode não raciocinar igual aos adultos, não falar quais esses, porem ela tem poderes, de forma a plasmar tudo com mais nitidez que os próprios homens amadurecidos. A criança não é libertada da confusão de uma vez; isso acontece gradativamente, pois a lei nos ensina que a natureza não é violenta. A sua marcha se move na ponderação, para dar mais segurança aos dons espirituais.
A criança, certamente, é o homem de amanhã, se esperarmos com paciência o seu crescimento. Eis porque devemos investir com os nossos recursos na infância, se queremos um mundo melhor.
Vejamos o que disse o Senhor: “Vinde a mim as criancinhas”. Se trabalhamos com amor para as crianças de hoje, receberemos o mesmo, porque no amanhã seremos certamente crianças outra vez. Tudo que semeamos, colhemos.




[1] Filosofia Espírita – Volume 8 – João Nunes Maia

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