Rogério Coelho
(…) Espíritos que perderam o
corpo físico e, que abandonam-se à viciação, transformam-se em vampiros, à
procura de quem lhes aceite as sugestões infelizes[2].
O mestre lionês perguntou[3]
aos Benfeitores Espirituais se o mal não se torna um arrastamento irresistível,
quando o homem se acha, de certo modo, mergulhado na atmosfera do vício. Ao que
os Espíritos responderam: arrastamento
sim; irresistível não!
Realmente nada pode resistir à
força de vontade e à motivação para o bem. Quando com vontade firme
empreendemos o combate, não há arrastamento que não ceda.
Em que pese a ostensiva
influência espiritual, o livre-arbítrio fica sempre preservado. Os Espíritos,
portanto, não possuem o irresistível poder de nos induzir ao vício e muito
menos de alimentá-lo, a não ser que o permitamos, pois há quem se compraza em
comportamentos deletérios. Aqui vige a lei de sintonia. É como dizia o velho
axioma popular: assombração sabe pra quem
aparece.
De uma maneira eufêmica e
elegante, Jesus colocou a mesma linha de pensamento desses axiomas, quando
afirmou[4]: Onde está o tesouro, ali se encontra o
coração.
Faz-se necessária a ampliação do
conceito da palavra vício, vez que não constitui vício tão somente o tabagismo,
a alcoofilia, as drogas e quejandos, mas tudo que, de uma forma ou de outra,
caracteriza uma compulsão irresistível, como por exemplo: comer mais do que o
necessário, um joguinho inocente de baralho etc. Tudo isso pode ter como
corolário uma arruinadora viciação de lamentáveis consequências.
Eis a declaração feita por um
Espírito viciado em jogo, evocado em uma reunião mediúnica:
Fui um viciado no
jogo de cartas. Destruí minha vida por causa disso. Sem o saber, eu era um
doente da Alma e jamais atendi aos apelos de meus familiares para parar com o
hábito.
Minha iniciação
deu-se na infância, vendo meu pai envolvido com esse “entretenimento”. Quando
me vi adulto, depois de cuidar de minha vida profissional, dediquei-me
totalmente ao baralho.
No princípio,
apostava pequenas quantias com os amigos, apenas por brincadeira, mas o que era
prazer virou necessidade e as importâncias das apostas cresceram junto com a
compulsão de jogar sem parar. Só parava alguns minutos para atender –
apressadamente – às necessidades fisiológicas. Acabei perdendo todo o meu
patrimônio penosamente amealhado em uma vida inteira de trabalho. Desencarnei
deixando minha família em péssima situação financeira.
Aportei no Mundo
Espiritual num dos piores estados psíquicos que se possa imaginar.
Depois de ter sido
recolhido pelos Benfeitores Amigos, demorei muito em situação de letargia e,
mais tarde, eles me ensinaram que o Bem não tem duas faces, e que uma árvore
não pode dar frutos bons e maus ao mesmo tempo. Lembrei-me, então, que Jesus já
havia dito isso, só que não atinei em aplicar essas palavras em minha vida,
como, aliás, nada apliquei do que Ele ensinou ao preço de Sua própria vida.
O jogo é pernicioso
ao crescimento das criaturas em toda e qualquer situação.
Quisera ter
condições de ajudar aos irmãos, que ainda estão se iniciando nesse caminho
traiçoeiro; conscientizá-los dos malefícios causados por essa moléstia tão
amplamente acoroçoada pela sociedade.
O jogo escraviza o
homem tal qual as drogas, contra as quais combatem com energia. De qualquer
natureza ele é sempre um mal, tanto para quem faz uso como para quem o promove.
Ninguém pode sequer imaginar o aspecto espiritual da jogatina: verdadeiros vampiros
associam-se aos incautos e quanto mais se apaixonam pelo jogo, mais necessidade
passam a ter dele, numa estreita e constringente simbiose.
André Luiz desvela[5]
para todos nós os cinzentos e embaciados panoramas onde estão alocadas no Mundo
Espiritual essas Almas enviscadas no vício. Aprendamos um pouco com o ilustre
Benfeitor Espiritual:
(…) Muitos de nossos
irmãos, que já se desvencilharam do vaso carnal, se apegam com tamanho desvario
às sensações da experiência física, que se cosem àqueles nossos amigos
terrestres temporariamente desequilibrados nos desagradáveis costumes por que
se deixam influenciar.
(…) Esses nossos
companheiros situaram a mente nos apetites mais baixos do mundo, alimentando-se
com um tipo de emoções que os localiza na vizinhança da animalidade. Não
obstante haverem frequentado santuários religiosos, não se preocuparam em
atender aos princípios da fé que abraçaram, acreditando que a existência devia
ser para eles o culto de satisfações menos dignas, com a exaltação dos mais
astuciosos e dos mais fortes. O chamamento da morte encontrou-os na esfera de
impressões delituosas e escuras e, como é da Lei que cada alma receba da vida
de conformidade com aquilo que dá[6],
não encontram interesse senão nos lugares onde podem nutrir as ilusões que lhes
são peculiares, porquanto, na posição em que se veem, temem a verdade e
abominam-na procedendo como a coruja que foge à luz.
Chegará o dia em que
a própria Natureza lhes esvaziará o cálice (…), utilizando-se de uma infinidade
incomensurável de processos de reajuste, no Universo Infinito em que se cumprem
os Desígnios do Senhor, chamem-se eles aflição, desencanto, cansaço, tédio,
sofrimento, cárcere…
Há dolorosas reencarnações que
significam tremenda luta expiatória para as almas necrosadas no vício. Temos,
por exemplo, o mongolismo, a hidrocefalia, a paralisia, a cegueira, a epilepsia
secundária, o idiotismo, o aleijão de nascença e muitos outros recursos,
angustiosos embora, mas necessários, e que podem funcionar em benefício da
mente desequilibrada, desde o berço, em plena fase infantil. Na maioria das
vezes, semelhantes processos de cura prodigalizam bons resultados pelas
provações obrigatórias que oferecem…
No entanto, se as criaturas
visivelmente confiadas à devassidão resolverem reconsiderar o próprio caminho,
se voltarem à regularidade, através da renovação mental com alicerces no bem,
ganhariam tempo, recuperando a si mesmas… Usando a alavanca da vontade,
atingimos a realização de verdadeiros milagres; mas, para isso, há que se
despender esforço heroico.
(…) Onde há pensamento, há
correntes mentais e onde existem correntes mentais existe associação. E toda
associação é interdependência e influenciação recíproca. Daí concluímos quanto
à necessidade de vida nobre, a fim de atrairmos pensamentos que nos enobreçam.
Trabalho digno, bondade, compreensão fraterna, serviço aos semelhantes,
respeito à Natureza e oração constituem os meios mais puros de assimilar os
princípios superiores da vida, porque damos e recebemos, em Espírito, no plano
das ideias, segundo as leis universais que não conseguiremos iludir.
Concluem os Espíritos Superiores[7]:
(…) não tereis
verdadeiramente o direito de dizer-vos civilizados, senão quando de vossa
sociedade houverdes banido os vícios que a desonram e quando viverdes como
irmãos, praticando a caridade cristã. Até então, sereis apenas povos
esclarecidos, que hão percorrido a primeira fase da civilização.
Com todos esses fatos, podemos
compreender um pouco melhor o que motivou Jesus a dizer[8]:
Se, portanto, a luz
que em ti há são trevas, quão grandes serão tais trevas! Ninguém pode servir a
dois senhores; porque ou há de odiar um e amar o outro, ou se dedicará a um e
desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e a Mamon.
Fonte: Mundo Espírita (FEP)
[2] Xavier, Francisco Cândido. “Seara dos médiuns”. Pelo
Espírito Emmanuel. 11. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1998. cap. Espíritos
perturbados.
[3] Kardec, Allan. O
livro dos Espíritos. 88ª ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. pt. 3, cap. 1, q.
645.
[4] Bíblia, N. T. Mateus. Português. O novo testamento.
Tradução de João Ferreira de Almeida. Campinas: Os Gideões Internacionais no
Brasil, 1988. cap. 6, vers. 21.
[5] Xavier, Francisco Cândido. “Nos domínios da mediunidade”.
12ª ed. Rio de Janeiro: FEB, 1983. cap. 15.
[6] Bíblia, N. T. Mateus. Português. O novo testamento.
Tradução de João Ferreira de Almeida. Campinas: Os Gideões Internacionais no
Brasil, 1988. cap. 16, vers. 27.
[7] Kardec, Allan. O
livro dos Espíritos. 88ª ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. pt. 3, cap. VIII,
q. 793.
[8] Bíblia, N. T. Mateus. Português. O novo testamento.
Tradução de João Ferreira de Almeida. Campinas: Os Gideões Internacionais no
Brasil, 1988. cap. 6, vers. 23 e 24.
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