quinta-feira, 16 de maio de 2019

TRAÇOS DO PRETÉRITO[1]




Miramez

O homem, em suas diferentes encarnações, conserva os traços do caráter físico de existências anteriores?
‒ O novo corpo nenhuma relação tem com o antigo, que está destruído. Entretanto, o Espírito se reflete sobre o corpo. Sem dúvida o corpo não é mais que matéria, mas, malgrado isso, ele é modelado pela capacidade do Espírito, que lhe imprime um certo caráter, principalmente sobre o rosto, e é com fundamento que se designam os olhos como espelho da alma. Por isso, uma pessoa excessivamente feia, quando nela habita um Espírito bom, criterioso e humano, tem alguma coisa que agrada, a passo que existem rostos muito belos que nada fazem sentir e pelos quais se tem, mesmo, repulsa. Poderia crer que só os corpos bem feitos servem de envoltório aos Espíritos mais perfeitos, embora encontres todos os dias homens de bem sob aparências disformes? Sem haver uma semelhança pronunciada, a similitude de gostos e de pendores pode, pois, dar o que se chama “um ar de família”.
O corpo reveste a alma, numa nova encarnação, não tendo nenhuma relação necessária com o corpo que ela deixou, uma vez que pode ele ter tido uma procedência muito diferente, seria absurdo admitir-se uma sucessão de existências com uma semelhança física que não é senão fortuita. Entretanto, as qualidades do Espírito modificam, muitas vezes, os órgãos que servem à sua manifestação e imprimem sobre o rosto, e mesmo ao conjunto de maneiras, um cunho especial. É assim que, sob um envoltório mais humilde, podem-se encontrar expressões de grandeza e de dignidade, enquanto que sob o vestuário de um grande senhor veem-se, às vezes, as expressões da baixeza e da ignomínia. Certas pessoas saídas das posições mais obscuras, adquirem, sem esforços, os hábitos e as maneiras da alta sociedade. Parece que elas reencontram seu ambiente, ao passo que outras, malgrado o seu berço e a sua educação, estão sempre deslocadas nesse meio. Como explicar esse fato senão como um reflexo do que foi o Espírito?
Questão 217/Livro dos Espíritos

Existem certas leis que podem ou não ser aplicadas, isso de conformidade com o lugar ou com a pessoa que vai servir de instrumento. O corpo em formação nada tem a ver com o corpo que o Espírito teve em outra vida, no entanto, ele pode apresentar traços profundos, pela impressão da mente do reencarnante, se esse tem essa força já desenvolvida na sua estrutura espiritual.
Há casos em que o corpo da presente reencarnação de um Espírito parece cópia do outro que ele deixou em passadas existências. Aquela que mais agradou-lhe fica mais fortemente impressa na consciência, esse é o fato. Não que o corpo herde traços de outros corpos por leis que regem a matéria em formação.
A herança mais acentuada, biologicamente falando, são as características físicas dos pais, pois as pessoas imprimem, nos seus próprios gens, a vida que levam, em relação a enfermidade e até ao próprio caráter. Os filhos, então, nascem predispostos a tais enfermidades. Como os Espíritos que se reúnem em família estão espiritualmente endividados, mais ou menos no mesmo nível, eles, sem generalizar, podem vir a sofrer as mesmas doenças dos seus ancestrais.
Como, entretanto, a misericórdia de Deus pelas mãos de Jesus é muito grande, pode-se livrar de muitas enfermidades que vêm pelos fios das heranças, desde quando se compreenda o que deve ser feito para a devida limpeza cármica. O dever do devedor é pagar.
Acontece muitas vezes, e por certo é o que mais acontece, que Espíritos de baixa vibração aparecem em outros corpos com pouquíssimas mudanças, tanto moral quanto física. Somente o tempo modificar-lhes-á, devagarinho, em inúmeras reencarnações, os traços.
Quando já compreendemos essas leis, podemos e devemos nos esforçar na nossa própria melhoria espiritual. Analisemos o que somos e passaremos a ser melhores; observemos nossos pensamentos, analisemos nossa fala, nossa vida, e vejamos se ela está em sintonia com Jesus.
Procuremos com Jesus os meios mais rápidos de saldar nossas contas, que ficaremos livres, com mais rapidez, do grilhão da dor, cuja semente nós mesmos plantamos.
Não devemos pensar que somente em corpos bem moldados se encontram Espíritos de elevação. Pode ser, e quase sempre é, o contrário. Os grandes missionários pedem corpos sem atração física, para que eles possam desempenhar melhor sua missão. Reconheceremos essas almas pela vida que levam, pela presença benfeitora, pelo amor que desprendem na sublimação do próprio amor.
Jesus é o sol espiritual que nos guia a todos. Se queremos melhorar, não nos esqueçamos do Mestre, que Ele não nos esquece. Se queremos viver de boas heranças, devemos procurar herdar as qualidades enobrecidas de Jesus. Basta que queiramos. Comecemos, que Ele ajudar-nos-á na conquista.
Convidamos os pais a observarem os seus filhos, notando o que têm para consertar moralmente e trabalharem com amor, pois Deus opera com todos, no silêncio da vida. Cada esforço de aprimoramento é semente de luz para todos os corações do grupo familiar. O dever da família humana é trabalhar no sentido de todos por um e um por todos. Façamos qual o sol e a chuva, a água e o ar, que operam constantemente sem exigências, que a luz nascerá em nós.




[1] Filosofia Espírita – Volume 5 – João Nunes Maia

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