Divaldo Pereira Franco
No momento em que escrevo este
artiguete, arde em devoradoras chamas a incomparável Catedral de Notre-Dame de
Paris, um dos mais grandiosos símbolos da capital francesa.
Não posso negar a dor íntima que
experimento ao ver a destruição de um dos mais notáveis templos góticos da
humanidade.
Visitei-a mais de quinze vezes,
em todas as ocasiões em que estive em Paris. Exercia sobre mim um fascínio
indescritível, evocando o período das Cruzadas como o da Revolução de 1789.
No seu interior estiveram reis e
a ralé, potentados e miseráveis, bárbaros e santos, imperadores e o povo em
súplica, rogando as bênçãos de Nossa Senhora, em períodos de guerra, de peste,
no passado, e de júbilo.
Napoleão Bonaparte, no dia 2 de
dezembro de 1804, ali fez-se coroar imperador dos franceses, enquanto, anos
antes, ela fora palco do materialismo em famoso discurso que expulsava Deus do
país…
Começou a ser construída em 1163
e é um dos monumentos históricos mais extraordinários do engenho humano, na
pequena Île de la Cité, dedicada à
Mãe de Jesus.
Tudo nela era especial, desde
suas imensas colunas, suas torres, teto, vitrais, subsolo onde eram guardados
tesouros de valor incalculável, repositório de histórias vivas da cultura
francesa. Recordo-me do incêndio do Museu Histórico do Rio de Janeiro, que
destruiu documentos insubstituíveis e a memória de acontecimentos únicos do
nosso país.
Penso, nestes dias de ódio e de
primarismo, acompanhando na França os casacos amarelos, vândalos destruidores
da pior espécie, assim como os anarquistas de todo o mundo e da nossa Pátria
que não perdem oportunidade de destruir tudo, em alucinada volúpia de prazeres
patológicos, inclusive matando seres humanos.
Se ambos os incêndios foram por
negligência humana, igualmente considerada criminosa, estarrece-nos mais,
porém, se foram com o objetivo de instalar na Terra o pavor e no último caso
anular “o Cristianismo que comanda o ocidente há dois mil anos e deve ser
aniquilado a qualquer preço”, muito pior para a nossa paradoxal civilização.
Estamos numa encruzilhada
sociocultural das mais complexas.
De um lado, predominam as
paixões mais asselvajadas que se possa imaginar ao lado de especial tecnologia
de ponta e de ciência avançada, sem ética nem moral, nem paz ou alegria de
viver. E do outro, as perspectivas de mudança de comportamento, voltando-se aos
valores da dignidade, da família e da humanidade.
Nas sombras das incertezas,
cabe-nos a todos nós e a cada um em particular a conduta nobre e o
desenvolvimento da cultura da paz e do amor. Seja Notre-Dame de Paris o último
espetáculo truanesco destes dias desafiadores, que devem ceder lugar aos
deveres de elevação moral do ser humano.
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