Jane Maiolo
Há tanto tempo estou convosco, e tu não me tens conhecido?
João 14:9
De onde vem o sentimento do
medo? Por que temos medo de sentir medo? O que desperta a inquietação na alma
ante o perigo, até mesmo imaginário?
Questiona-se apenas o medo
comum, o “medo nosso de cada dia” e não o medo sintomático, o medo patológico,
o pânico fóbico sob um cortejo de desordens psicossomáticas.
Grandes personagens da
humanidade admitem que têm medos ou já passaram por situações que desencadearam
fobias importantes.
A cultura do medo obstrui a
espontaneidade humana, impedindo o homem de viver sem as persistentes
repressões delimitadoras da liberdade relativa. Temos medos das misteriosas
circunstâncias do porvir. Receamos falar, ouvir, pensar, aproximar, sentir. São
pavores incompreensíveis que sequer ousamos buscar as explicações razoáveis. Em
face disso, atrofiamos os sentidos sob o jugo do temor.
Internalizamos até mesmo o
receio de outrem. Atemorizamo-nos ante os assaltos, os sequestros relâmpagos,
os projeteis “perdidos”. Ficamos ruborizados diante do “estouro” do cheque
especial, tememos trajar os vestuários mais simples a fim de escapar da crítica
alheia. Intimidamo-nos diante da probabilidade de errar, tememos viver e nos
assombramos diante da morte.
Somos assim, seres amedrontados
diante das críticas, preferimos passar uma vida inteira no anonimato a nos
arriscar a uma situação que nos colocaria em evidência.
Se o ditado popular profere:
filho de peixe, peixinho é, então devemos, por convicção, entender que filho de
Deus… grandioso é. Somos isso! Grandiosos e capazes de nos livrar dos medos,
dos preconceitos, do egoísmo, do orgulho, enfim, dos terrores limitantes a fim
de superar as fragilidades e deficiências psicológicas diante da experiência.
A cultura do medo é instalada
desde o berço, observemos: quando embalamos nossos filhos para niná-los,
cantamos as cantigas: “boi-da-cara-preta”, “nana nenê que a cuca vem pegar”,
desde pequenos somos educados, condicionados, consciente ou inconscientemente,
que devemos temer algo, alguém ou alguma coisa. Tememos até mesmo o Criador da
vida.
Mas não é esse o sentido da
vida, deveríamos propor desde o berço a prudência eivada de esperanças,
confianças, afetos e coragens, pois recordemos que filho de Deus… grandioso é!
Somos criaturas com
incomensurável potencial afetivo. Basta acionarmos o start para potencializarmos o amor, a vida, e o encanto pelas
coisas, pelas pessoas, para esse desiderato basta encontrarmos um caminho de
equilíbrio para que a vida tenha maior significação.
A cultura do medo deve ser
banida da sociedade, assim como a corrupção, a ironia, a desvalorização do ser
humano. Não é esse um ponto de vista ingênuo, romântico, e utópico, mas uma
concepção essencialmente corajosa, próspera e idealista. Vale a pena investir
nos princípios, crenças, conceitos, valores e atitudes do ser humano, um ente
incrível, admirável e curioso na essência.
A cultura da esperança principia
no direito à liberdade, no sorriso amistoso, no gesto de confiança e no aceno
de parceria.
A teoria de Erickson, psiquiatra
norte-americano, pesquisador da neurolinguística e métodos de trabalho, revela
que “nos primeiros meses de vida, o bebê adquire a confiança ou o medo que
perdurarão pela vida toda”, assim sendo a criança maltratada cresce rancorosa e
agressiva. Humilhada, acumula sentimento de culpa, revolta e inferioridade e
lembrem-se que no futuro serão adultos e essas características poderão
acompanhá-la.
Quando instalamos a cultura da
esperança e tratamos com justiça e afeto nossas crianças, elas desenvolvem o
respeito, a confiança, o sentimento de amizade, aprende a gostar de si e dos
outros e são muito afetuosas.
Falar em esperança é alimentar a
confiança de que algo bom acontecerá, é acreditar que somos capazes e podemos
mudar nossas vidas. Muitos pensam em mutilar os nossos sonhos, enlameando nossa
história sob as infaustas auras das corrupções, escândalos e despautérios,
entretanto urge acreditar que é chegado o momento da transição, em que a
esperança subjuga o medo e não se pode mais arruinar a esperança da criatura
que aprendeu a receber os medos, adversidades e pluralidades. Somos grandiosos
e não podemos desistir nunca.
Nos paradoxos da vida quando
jovens perdemos a saúde correndo atrás do dinheiro e na decrepitude consumimos todo
o dinheiro correndo atrás da saúde. Realmente não entendemos a nossa proposta
para a vida, carece-nos a conexão com a esperança!
Não lemos nas bulas dos remédios
a inscrição de medicamentos que alarguem a esperança, porque esse sentimento
por excelência não se deixa capturar pelos instrumentos laboratoriais da Terra.
Um certo pensador já proferiu: “Se quiser matar um homem, rouba-lhe a
esperança”. O único remédio capaz de acrescer nossa esperança é aquele que
encontramos na intimidade da consciência. Portanto, o medo não deve ser matriz
do nosso insucesso.
A esperança significa luta,
expectativa de mudança, de fé em conseguir o que se deseja. Recusar o abrigo do
alento da esperança em nós mesmos é atitude de clara fraqueza moral.
Redescobrir a avenida do correto
sentido da vida é dar-nos a chance de um futuro intimorato e venturoso e isso é
expectativa positiva e seguramente transitável.
Valorizemos cada momento da vida
e optemos pela melhor circunstância, amando, perdoando, sorrindo, pois o amanhã
sempre será um outro dia.
Sejamos felizes nas fronteiras
dos merecimentos e abriguemos a esperança sem os abraços com o medo.
Fonte: Kardec Rio Preto
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