Adriana Machado
Começamos a nossa conversa com
essa pergunta e não se iludam pensando que ela é simples porque muitos terão
dificuldades em respondê-la.
Podemos ter respostas prontas do
tipo: a minha razão de viver é a minha família, meus filhos, meus pais, minha
realização pessoal... somente porque sabemos que seriam as respostas mais
“certas” para darmos. Mas, elas estampam a nossa realidade?
Como agimos todos os dias? Como
demonstramos a relevância destas pessoas no nosso dia a dia? Será que é somente
quando elas partem que analisaremos o nosso comportamento em relação a elas?
Para as primeiras questões,
deixo as respostas para a sua análise pessoal, mas para essa última pergunta a
resposta é: na maioria das vezes, sim, infelizmente. É somente quando alguém
que muito amamos se vai que paramos para sentir a sua falta, a sua relevância
em nossa vida e sofremos por não termos dado um pouco mais do nosso tempo para
ela em nosso cotidiano.
Em que pensamos quando
acordamos? É na família, no trabalho ou na ascensão social que quero alcançar?
Tudo junto?
Falamos de nossas famílias,
amigos, companheiros de jornada, que nos acompanham, nos amam e nos encorajam a
seguir com a vida, principalmente quando ela não está fácil. Falamos de
trabalho e ascensão social... mas, será que não falta alguém ou alguma coisa
nesta relação?
Existe alguém para quem muito
lutamos, mas pouco analisamos a sua relevância; que, normalmente, é esquecido,
é desvalorizado, e jamais é poupado de nossos desequilíbrios. Ele é quem mais
serve de alvo de nosso julgamento e críticas, de nossa intolerância e
descrédito frente às suas dificuldades. Esta pessoa que tanto necessita de
nossa atenção e consolo, de nossa tolerância e caridade, de nossa valorização e
tempo para ampará-la, amá-la e compreendê-la, deveria ser aquela que jamais
daríamos às costas porque sem ela nada poderíamos ser, fazer ou aprender.
Essa pessoa é o seu Eu.
Vai parecer clichê, mas quantos
de nós se valoriza? Quantos procuram conhecer a si mesmos? Quantos param para,
verdadeiramente, descobrir o que os incomoda, o que precisa ser mudado, o que
necessita para um crescer com menos dor? Quantos de nós se dão paz?
Hoje, graças a Deus, muitos são
os que estão se voltando para compreender o seu papel nesta grande Escola da
Vida. Estão se buscando, porque algo está faltando e este algo é a ligação mais
profunda do seu Eu, da sua Chama Divinal, com o ser consciente.
Outros, porém, ainda não
acordaram para isso. Enquanto estes continuarem depositando a sua razão de
viver em algo ou alguém que não seja o seu Eu mais profundo, tudo ficará sem
sentido, não se sentirão aptos para a sua caminhada evolutiva, não acreditarão
em sua capacidade de enfrentar os desafios da vida, sofrendo profundamente
diante das adversidades porque não se fizeram aliados de si mesmos. Sozinhos
sucumbirão ante as dificuldades que lhes fazem ascender.
Lembrei-me do pontinho preto no
imenso lençol branco. No que vocês fixariam a sua atenção? Se a sua resposta é
para o pontinho preto que o está incomodando, você acabou de descortinar uma
sábia manobra da vida para o seu crescimento íntimo: tudo o que o incomoda o
leva a prestar mais atenção nele, o faz querer consertá-lo ou modificá-lo para
que fique bem alinhado aos ditames do que você acha ser o certo. Então,
concluímos que não são ruins os pontos negros em nossos lençóis, porém, como
escolhemos enfrentá-los ou como exacerbamos os nossos incômodos é que fará a
diferente!
Por ainda não compreendermos o
quanto ele (ponto preto) pode nos fazer progredir, fixamo-nos neste, reclamando
do lençol ter sido maculado, e esquecemos que a sua função de cobrir não está perdida
e que o ponto preto pode ser lavado.
Reclamamos tanto daquilo que nos
incomoda que deixamos de valorizar o que temos de positivo e deixamos de agir
com todo o nosso potencial para enfrentarmos as adversidades. Como reflexo
desta nossa postura, não nos valorizamos, não nos perdoamos, não aceitamos as
nossas limitações, criando um vazio existencial.
Por exemplo, eu não consigo
fazer algo que outras pessoas fazem bem. Em razão disso, me condeno pela minha
incapacidade. Estaciono no meio do caminho ante o meu cruel julgamento. Mas, se
voltamos para nós os olhos da tolerância e amor, perceberíamos que isso nós
ainda não conseguimos fazer, mas outras tantas coisas já fazemos com muita
competência (= relação do ponto preto com lençol branco). Isso é nos conhecermos.
Sei que podem estar pensando que
eu os quero egoístas e pensando somente em si. Claro que não é isso! O que
estou dizendo é que, para nos doarmos por inteiro, para estarmos bem com quem
amamos e com o mundo, temos que agir da mesma forma conosco. Para tanto,
precisamos saber quem somos nas boas ou más tendências. Isso não é egoísmo,
isso é auto amor. Quando nos amamos com consciência, conseguimos amar muito
mais profundamente o outro que está ao nosso lado.
Infelizmente, ao não nos amarmos
com sabedoria, nos fixamos muito mais nas nossas más tendências e nos
convencemos que não somos capazes de valorizar quem somos e, por consequência,
quem está ao nosso redor.
Conhecer a si mesmo vai além do
saber do que somos capazes, é também olharmos para nós sem uma visão deturpada
de nós mesmos. Precisamos nos esforçar para nos parabenizar pela caminhada
árdua que trilhamos até onde estamos.
A nossa razão de viver deve
estar pautada, primordialmente, na vontade de nos “bem compreender”, porque
fazendo isso nos “bem capacitamos” na compreensão do próximo e, nesta vibração
enobrecedora, tudo se tornará um “bom reflexo” do caminhar seguro do Ser divino
que há em nós.
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