O doutor Julian Ochorowicz,
psicólogo e filósofo polaco, lente de Psicologia e Filosofia na Universidade de
Lemberg, co-director desde 1907 do Institut Général Psychologique de Paris, foi
um dos mais ilustres e competentes investigadores da "sugestão
mental". Nasceu em 23 de fevereiro de 1850 na cidade de Radzymin, Polônia,
e faleceu em 1 de maio de 1917, na cidade de Varsóvia, Polônia. Tinha formação
universitária (Universidade de Leipzig). Exerceu a cátedra na Universidade de
Lemberg.
Na Itália, teve oportunidade de
constatar os extraordinários fenômenos produzidos por Eusápia Paladino.
Declarou na "Gazeta Semanal Ilustrada", o seguinte:
Quando me recordo de
que, numa certa época, eu me admirava da coragem de William Crookes em
sustentar a realidade dos fenômenos espíritas; quando reflito, sobretudo, que
li as suas obras com o sorriso estúpido que iluminava a fisionomia dos seus
colegas, ao simples enunciado destas coisas, eu coro de vergonha por mim
próprio e pelos outros.
A sua obra, “A Sugestão Mental”,
é um clássico da literatura parapsicológica. Nela o doutor Ochorowicz faz
extenso e minucioso relato das suas investigações acerca dos fenômenos de
telepatia. O seu trabalho divide-se em diversas seções conforme as diferentes
modalidades de telepatia por ele encontradas em sua extensa experiência
pessoal. Vamos enumerar algumas delas: Sugestão mental aparente; sugestão mental
provável; sugestão mental verdadeira; simpatismo orgânico; simpatismo e
contágio; transmissão dos estados emotivos; transmissão das ideias; transmissão
direta da vontade; ação da vontade e a questão da "relação"; ação sem
que o sonâmbulo saiba, ou contra a sua vontade; sugestão mental a prazo;
sugestão mental à distância. Infelizmente é impossível tratar de todas estas
modalidades em tão curto espaço, mas faremos o possível para expor pelo menos
alguns exemplos interessantes.
Ochorowicz, no capitulo I do seu
livro, confessa que inicialmente não acreditava na "sugestão mental".
Em 1867, em Lublin, pela primeira vez Ochorowicz experimentou verificar a
sugestão mental com um rapaz de 17 anos, assaz difícil de adormecer, mas que
manifestava, depois de hipnotizado, certos fenômenos curiosos. Ele reconhecia,
por exemplo, qualquer pessoa de suas relações que apenas lhe tocasse nas costas
com um só dedo. Deste modo ele conseguiu, certa ocasião, distinguir
sucessivamente 15 pessoas, algumas das quais haviam entrado na sala depois de
estar ele adormecido. Certa ocasião, aconteceu-lhe identificar uma senhora que
penetrava na sala sem que ele soubesse e a qual vira pela primeira vez alguns
dias antes. Estes fatos, porém, não convenceram Ochorowicz; nem outros mais evidentes
ainda, ocorridos com o mesmo sonâmbulo. Ele buscava fatos realmente
inexplicáveis. Seu cepticismo era muito acentuado e sua exigência neste sentido
muito grande. Ochorowicz procurou investigar mais outros casos e terminou por
encontrá-los.
O primeiro caso que ele
classificou de "sugestão mental verdadeira" ocorreu ocasionalmente
com uma sua paciente.
SUGESTÃO MENTAL VERDADEIRA
Em 25 de Janeiro de 1886, J.
Ochorowicz comunicou à Sociedade de Psicologia Fisiológica de Lemberg um relato
de suas observações e experiências de "sugestão mental à distância"
levadas a efeito com a Srª. M., de 27 anos de idade. Em Agosto de 1886, foram
publicados alguns excertos dessas experiências.
A Srª. M. era cliente do doutor
Ochorowicz. Tratava-se de uma mulher jovem, aparentemente forte, bem
constituída e de saúde perfeita. Porém, esta senhora sofria, a algum tempo, de
uma histero-epilepsia, agravada, mais tarde, por acessos de mania de suicídio.
Uma noite, após tê-la assistido
durante um dos seus ataques e declarando-se ela melhor, a seu próprio pedido o
doutor Ochorowicz resolveu retirar-se. Ficara apenas uma amiga da Srª. M.
Apesar de vê-la bem disposta, o doutor Ochorowicz desceu lentamente as escadas
(ela morava no terceiro andar), detendo-se várias vezes com o ouvido à escuta,
perturbado por um mau pressentimento. Chegado ao portão deteve-se mais uma vez.
De repente, a janela abriu-se com ruído, e ele viu o corpo da Sr.ª. M.
inclinar-se para fora. Ele precipitou-se para o lugar onde ela devia cair.
Maquinalmente, concentrou a sua vontade no intuito de opor-se à sua queda. A
doente, já inclinada, deteve-se e recuou lentamente por sacudidelas.
A mesma manobra repetiu-se cinco
vezes seguidas. Finalmente a doente, como que fatigada, imobilizou-se,
encostando-se no parapeito da janela.
Ela não poderia ter visto o
doutor Ochorowicz, porque era noite e ele achava-se na parte não iluminada.
Naquele momento, a amiga que ficara com a Srª. M. acudiu e agarrou-a pelos
braços, lutando para afastá-la dali. O doutor Ochorowicz subiu as escadas
rapidamente e encontrou a doente num acesso de loucura. Depois de muita luta,
foi conduzida ao leito e posta em estado sonambúlico. Uma vez em sonambulismo
ela revelou que era seu intuito atirar-se mesmo pela janela, mas que naquele
momento, cada vez que tentara fazê-lo, uma força a "reerguera por
baixo". Não suspeitava que o médico ainda estivesse presente. Aproveitara,
então, a ocasião para tentar o suicídio: "Entretanto pareceu-me por
momentos que estáveis ao meu lado ou por detrás de mim e que não queríeis que
eu caísse" ‒ disse ela ao doutor Ochorowicz.
Este incidente levou o médico a
experimentar com a Srª. M. a "sugestão mental à distância". Ele
costumava adormecê-la de dois em dois dias. Era a rotina do seu tratamento.
Durante esses momentos ele observava-a e tomava notas em seu memorial.
Dia 2 de Dezembro de 1885,
Ochorowicz tinha a sua paciente adormecida. Ele encontrava-se a certa distância
da sua cama e fingia tomar notas em seu caderno. Porém, interiormente,
concentrava sua vontade sobre uma ordem mental dada: "erga a mão
direita" ‒ 1º minuto: ação nula; 2º minuto: uma agitação na mão direita;
3º minuto: a agitação aumenta, a doente franze as sobrancelhas e ergue a mão
direita!
Animado por este sucesso, o
médico deu-lhe outra ordem mental: "Levante-se lentamente com dificuldade
e vá até ele, com a mão estendida"!
E assim, sucessivamente,
Ochorowicz conseguiu que sua paciente obedecesse, com êxito, a várias ordens
mentais. Em algumas ocasiões as ordens mentais não eram atendidas imediatamente,
e a paciente parecia embaraçar-se ao cumpri-las. Todas as ordens mentais eram
dadas silenciosamente e sem gestos.
Ochorowicz relatou ao todo 14
sessões levadas a efeito de dois de Dezembro de 1885 a 5 de Fevereiro de 1886,
durante as quais ele fez um número enorme de experiências de sugestão mental,
com grande êxito e com a mesma Srª. M.
Ochorowicz teve a oportunidade
de registar outros casos semelhantes ocorridos com diversas pacientes tratadas
por ele em sua clínica normal. Naquela época, estava muito em voga o
hipnotismo, e grande número de psiquiatras usava-o correntemente e com êxito no
tratamento das moléstias nervosas. Hoje em dia, infelizmente, generalizou-se o
uso de drogas...
AS EXPERIÊNCIAS NO HAVRE
Julian Ochorowicz tomou
conhecimento através de uma conferência das experiências de sugestão mental à
distância que os doutores Pierre Janet e Gibert haviam feito com a Srª. Léonie,
no Havre. No mês de Novembro de 1885, o doutor Paul Janet, tio do doutor Pierre
Janet, leu perante a Sociedade de Psicologia Fisiológica uma comunicação do seu
sobrinho, o doutor Pierre Janet, que era professor de Filosofia no Liceu do
Havre. A sua tese levava um título um tanto vago: "Sobre alguns fenômenos
de sonambulismo". Porém, o conteúdo da tese encerrava assunto muito grave,
pois colidia com a posição fisiologista que já imperava em amplos setores das
escolas psicológicas. O nome da Sociedade de Psicologia Fisiológica faz
presumir que o título da tese foi propositadamente vago para lá ter entrada.
Entretanto, tratava-se de uma série de observações feitas sobre fatos que
evidenciavam não só a existência de fenômenos de "sugestão mental" em
geral, mas, o que era mais extraordinário, de "sugestão mental à distância
de alguns quilômetros e sem que o paciente o soubesse!".
O comunicado de Pierre Janet
certamente provocou um impacto na assistência. O auditório, conforme declarou o
doutor Ochorowicz, prestou a isto a maior atenção, não sem uma grande dose de
incredulidade. O Sr. Janet absteve-se de qualquer teoria; somente relatava os
fatos, devia crer-se ou não. A comunicação ouvida em silêncio, foi em seguida
passada sob silêncio, salvo algumas considerações de um caráter muito geral,
formuladas pelo Sr. Charcot.
Ochorowicz já houvera feito
inúmeras experiências de "sugestão mental", mas a curta distância,
achando-se o paciente sob ação hipnótica, como no caso da Srª. M Em outra
ocasião uma nova paciente. A Srª. B estava desperta, mas achava-se a pequena
distância e apenas executou algumas ordens mentais em estado de vigília. Porém,
os doutores Pierre Janet e Gibert foram bem sucedidos, adormecendo o paciente à
distância e dando-lhe ordens mentais que foram obedecidas. O caso interessou
vivamente Ochorowicz:
Eis o que me pareceu
estranho - diz ele - "É este
último fenômeno que eu queria verificar desde logo, reconhecendo o seu valor
por uma teoria de sugestão e pelo problema do magnetismo em geral. É evidente
que semelhante constatação seria a morte da teoria exclusiva do hipnotismo
contemporâneo, que se gabava de ser o sucessor legítimo do extinto magnetismo
animal, e que não deveria de ora em diante ocupar senão um lugar muito modesto
ao lado do seu predecessor. (...).
Interessado em obter
pessoalmente, uma confirmação ou negação dos fatos relatados pelos doutores Janet
e Gibert, Ochorowicz dirigiu-se ao Havre, acompanhado de alguns colegas entre
eles o famoso investigador, F. W. H. Myers, que naquela época estava em plena
atividade em busca de fenômenos de telepatia. Myers fez constar o episódio do
Havre em sua obra clássica “Human Personality and its Survival of Bodily Death”.
Os outros observadores eram o professor Paul Janet, doutores Jules Janet e A.
T. Myers (irmão de F. W. H. Myers) e o Sr. Marillier.
Entre 3 e 9 de Outubro de 1885
puderam estes senhores observar inúmeras vezes a Srª. Léonie ser hipnotizada à
distância de mais de dois quilômetros e receber ordens mentais como, por
exemplo, sair à rua e ir até ao consultório dos doutores Janet e Gibert.
Estes fatos colocam a hipnose
numa nova categoria de fenômenos e, em parte, restabelece as antigas hipóteses
do "magnetismo animal", muito embora não invalidem as hipóteses de
Pavlov. Apenas elas sugerem que, ao lado das bases fisiológicas do fenômeno da
hipnose, deve cogitar-se da possibilidade de existir algo, ainda não bem
conhecido, capaz de provocar a inibição cortical e acionar o paciente,
levando-o a obedecer a determinadas ordens telepáticas emanadas do operador.
Nenhum comentário:
Postar um comentário