segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019

Julian Ochorowicz[1]




O doutor Julian Ochorowicz, psicólogo e filósofo polaco, lente de Psicologia e Filosofia na Universidade de Lemberg, co-director desde 1907 do Institut Général Psychologique de Paris, foi um dos mais ilustres e competentes investigadores da "sugestão mental". Nasceu em 23 de fevereiro de 1850 na cidade de Radzymin, Polônia, e faleceu em 1 de maio de 1917, na cidade de Varsóvia, Polônia. Tinha formação universitária (Universidade de Leipzig). Exerceu a cátedra na Universidade de Lemberg.
Na Itália, teve oportunidade de constatar os extraordinários fenômenos produzidos por Eusápia Paladino. Declarou na "Gazeta Semanal Ilustrada", o seguinte:
Quando me recordo de que, numa certa época, eu me admirava da coragem de William Crookes em sustentar a realidade dos fenômenos espíritas; quando reflito, sobretudo, que li as suas obras com o sorriso estúpido que iluminava a fisionomia dos seus colegas, ao simples enunciado destas coisas, eu coro de vergonha por mim próprio e pelos outros.
A sua obra, “A Sugestão Mental”, é um clássico da literatura parapsicológica. Nela o doutor Ochorowicz faz extenso e minucioso relato das suas investigações acerca dos fenômenos de telepatia. O seu trabalho divide-se em diversas seções conforme as diferentes modalidades de telepatia por ele encontradas em sua extensa experiência pessoal. Vamos enumerar algumas delas: Sugestão mental aparente; sugestão mental provável; sugestão mental verdadeira; simpatismo orgânico; simpatismo e contágio; transmissão dos estados emotivos; transmissão das ideias; transmissão direta da vontade; ação da vontade e a questão da "relação"; ação sem que o sonâmbulo saiba, ou contra a sua vontade; sugestão mental a prazo; sugestão mental à distância. Infelizmente é impossível tratar de todas estas modalidades em tão curto espaço, mas faremos o possível para expor pelo menos alguns exemplos interessantes.
Ochorowicz, no capitulo I do seu livro, confessa que inicialmente não acreditava na "sugestão mental". Em 1867, em Lublin, pela primeira vez Ochorowicz experimentou verificar a sugestão mental com um rapaz de 17 anos, assaz difícil de adormecer, mas que manifestava, depois de hipnotizado, certos fenômenos curiosos. Ele reconhecia, por exemplo, qualquer pessoa de suas relações que apenas lhe tocasse nas costas com um só dedo. Deste modo ele conseguiu, certa ocasião, distinguir sucessivamente 15 pessoas, algumas das quais haviam entrado na sala depois de estar ele adormecido. Certa ocasião, aconteceu-lhe identificar uma senhora que penetrava na sala sem que ele soubesse e a qual vira pela primeira vez alguns dias antes. Estes fatos, porém, não convenceram Ochorowicz; nem outros mais evidentes ainda, ocorridos com o mesmo sonâmbulo. Ele buscava fatos realmente inexplicáveis. Seu cepticismo era muito acentuado e sua exigência neste sentido muito grande. Ochorowicz procurou investigar mais outros casos e terminou por encontrá-los.
O primeiro caso que ele classificou de "sugestão mental verdadeira" ocorreu ocasionalmente com uma sua paciente.

SUGESTÃO MENTAL VERDADEIRA
Em 25 de Janeiro de 1886, J. Ochorowicz comunicou à Sociedade de Psicologia Fisiológica de Lemberg um relato de suas observações e experiências de "sugestão mental à distância" levadas a efeito com a Srª. M., de 27 anos de idade. Em Agosto de 1886, foram publicados alguns excertos dessas experiências.
A Srª. M. era cliente do doutor Ochorowicz. Tratava-se de uma mulher jovem, aparentemente forte, bem constituída e de saúde perfeita. Porém, esta senhora sofria, a algum tempo, de uma histero-epilepsia, agravada, mais tarde, por acessos de mania de suicídio.
Uma noite, após tê-la assistido durante um dos seus ataques e declarando-se ela melhor, a seu próprio pedido o doutor Ochorowicz resolveu retirar-se. Ficara apenas uma amiga da Srª. M. Apesar de vê-la bem disposta, o doutor Ochorowicz desceu lentamente as escadas (ela morava no terceiro andar), detendo-se várias vezes com o ouvido à escuta, perturbado por um mau pressentimento. Chegado ao portão deteve-se mais uma vez. De repente, a janela abriu-se com ruído, e ele viu o corpo da Sr.ª. M. inclinar-se para fora. Ele precipitou-se para o lugar onde ela devia cair. Maquinalmente, concentrou a sua vontade no intuito de opor-se à sua queda. A doente, já inclinada, deteve-se e recuou lentamente por sacudidelas.
A mesma manobra repetiu-se cinco vezes seguidas. Finalmente a doente, como que fatigada, imobilizou-se, encostando-se no parapeito da janela.
Ela não poderia ter visto o doutor Ochorowicz, porque era noite e ele achava-se na parte não iluminada. Naquele momento, a amiga que ficara com a Srª. M. acudiu e agarrou-a pelos braços, lutando para afastá-la dali. O doutor Ochorowicz subiu as escadas rapidamente e encontrou a doente num acesso de loucura. Depois de muita luta, foi conduzida ao leito e posta em estado sonambúlico. Uma vez em sonambulismo ela revelou que era seu intuito atirar-se mesmo pela janela, mas que naquele momento, cada vez que tentara fazê-lo, uma força a "reerguera por baixo". Não suspeitava que o médico ainda estivesse presente. Aproveitara, então, a ocasião para tentar o suicídio: "Entretanto pareceu-me por momentos que estáveis ao meu lado ou por detrás de mim e que não queríeis que eu caísse" ‒ disse ela ao doutor Ochorowicz.
Este incidente levou o médico a experimentar com a Srª. M. a "sugestão mental à distância". Ele costumava adormecê-la de dois em dois dias. Era a rotina do seu tratamento. Durante esses momentos ele observava-a e tomava notas em seu memorial.
Dia 2 de Dezembro de 1885, Ochorowicz tinha a sua paciente adormecida. Ele encontrava-se a certa distância da sua cama e fingia tomar notas em seu caderno. Porém, interiormente, concentrava sua vontade sobre uma ordem mental dada: "erga a mão direita" ‒ 1º minuto: ação nula; 2º minuto: uma agitação na mão direita; 3º minuto: a agitação aumenta, a doente franze as sobrancelhas e ergue a mão direita!
Animado por este sucesso, o médico deu-lhe outra ordem mental: "Levante-se lentamente com dificuldade e vá até ele, com a mão estendida"!
E assim, sucessivamente, Ochorowicz conseguiu que sua paciente obedecesse, com êxito, a várias ordens mentais. Em algumas ocasiões as ordens mentais não eram atendidas imediatamente, e a paciente parecia embaraçar-se ao cumpri-las. Todas as ordens mentais eram dadas silenciosamente e sem gestos.
Ochorowicz relatou ao todo 14 sessões levadas a efeito de dois de Dezembro de 1885 a 5 de Fevereiro de 1886, durante as quais ele fez um número enorme de experiências de sugestão mental, com grande êxito e com a mesma Srª. M.
Ochorowicz teve a oportunidade de registar outros casos semelhantes ocorridos com diversas pacientes tratadas por ele em sua clínica normal. Naquela época, estava muito em voga o hipnotismo, e grande número de psiquiatras usava-o correntemente e com êxito no tratamento das moléstias nervosas. Hoje em dia, infelizmente, generalizou-se o uso de drogas...

AS EXPERIÊNCIAS NO HAVRE
Julian Ochorowicz tomou conhecimento através de uma conferência das experiências de sugestão mental à distância que os doutores Pierre Janet e Gibert haviam feito com a Srª. Léonie, no Havre. No mês de Novembro de 1885, o doutor Paul Janet, tio do doutor Pierre Janet, leu perante a Sociedade de Psicologia Fisiológica uma comunicação do seu sobrinho, o doutor Pierre Janet, que era professor de Filosofia no Liceu do Havre. A sua tese levava um título um tanto vago: "Sobre alguns fenômenos de sonambulismo". Porém, o conteúdo da tese encerrava assunto muito grave, pois colidia com a posição fisiologista que já imperava em amplos setores das escolas psicológicas. O nome da Sociedade de Psicologia Fisiológica faz presumir que o título da tese foi propositadamente vago para lá ter entrada. Entretanto, tratava-se de uma série de observações feitas sobre fatos que evidenciavam não só a existência de fenômenos de "sugestão mental" em geral, mas, o que era mais extraordinário, de "sugestão mental à distância de alguns quilômetros e sem que o paciente o soubesse!".
O comunicado de Pierre Janet certamente provocou um impacto na assistência. O auditório, conforme declarou o doutor Ochorowicz, prestou a isto a maior atenção, não sem uma grande dose de incredulidade. O Sr. Janet absteve-se de qualquer teoria; somente relatava os fatos, devia crer-se ou não. A comunicação ouvida em silêncio, foi em seguida passada sob silêncio, salvo algumas considerações de um caráter muito geral, formuladas pelo Sr. Charcot.
Ochorowicz já houvera feito inúmeras experiências de "sugestão mental", mas a curta distância, achando-se o paciente sob ação hipnótica, como no caso da Srª. M Em outra ocasião uma nova paciente. A Srª. B estava desperta, mas achava-se a pequena distância e apenas executou algumas ordens mentais em estado de vigília. Porém, os doutores Pierre Janet e Gibert foram bem sucedidos, adormecendo o paciente à distância e dando-lhe ordens mentais que foram obedecidas. O caso interessou vivamente Ochorowicz:
Eis o que me pareceu estranho - diz ele - "É este último fenômeno que eu queria verificar desde logo, reconhecendo o seu valor por uma teoria de sugestão e pelo problema do magnetismo em geral. É evidente que semelhante constatação seria a morte da teoria exclusiva do hipnotismo contemporâneo, que se gabava de ser o sucessor legítimo do extinto magnetismo animal, e que não deveria de ora em diante ocupar senão um lugar muito modesto ao lado do seu predecessor. (...).
Interessado em obter pessoalmente, uma confirmação ou negação dos fatos relatados pelos doutores Janet e Gibert, Ochorowicz dirigiu-se ao Havre, acompanhado de alguns colegas entre eles o famoso investigador, F. W. H. Myers, que naquela época estava em plena atividade em busca de fenômenos de telepatia. Myers fez constar o episódio do Havre em sua obra clássica “Human Personality and its Survival of Bodily Death”. Os outros observadores eram o professor Paul Janet, doutores Jules Janet e A. T. Myers (irmão de F. W. H. Myers) e o Sr. Marillier.
Entre 3 e 9 de Outubro de 1885 puderam estes senhores observar inúmeras vezes a Srª. Léonie ser hipnotizada à distância de mais de dois quilômetros e receber ordens mentais como, por exemplo, sair à rua e ir até ao consultório dos doutores Janet e Gibert.
Estes fatos colocam a hipnose numa nova categoria de fenômenos e, em parte, restabelece as antigas hipóteses do "magnetismo animal", muito embora não invalidem as hipóteses de Pavlov. Apenas elas sugerem que, ao lado das bases fisiológicas do fenômeno da hipnose, deve cogitar-se da possibilidade de existir algo, ainda não bem conhecido, capaz de provocar a inibição cortical e acionar o paciente, levando-o a obedecer a determinadas ordens telepáticas emanadas do operador.

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