Adriana Machado
O tempo todo pensamos que temos
tempo para fazer o que desejamos. É tão intrínseco isso que deixamos para
depois o que podemos fazer hoje.
O problema ‒ se posso dizer que
é um problema ‒ é que nós não temos tempo. O tempo não nos pertence, ele flui e
nós estamos nele, como estamos em Deus.
O Tempo flui
O tempo passa e tudo o que
passou não volta mais. O tempo escoa por nossos dedos e tudo o que nele tinha a
sua base também com ele escoará. O nosso passado está no passado.
Podemos, porém, não nos
desatrelar do passado, trazendo-o para o presente. E fazemos isso porque o
passado ainda não é passado; não está acabado, não está encerrado para nós. Ele
ainda é presente.
No entanto, o tempo do passado
no presente ou o próprio presente no presente, a cada segundo, deixa de existir
e o que ficou foram nossas impressões, são as nossas crenças internas
construídas ou destruídas a cada experiência. Elas nos fazem mais sábios, mesmo
que não estejamos enxergando as lições que ficam para nós; mesmo que não
entendamos que aquilo que ficou fará sentindo um dia em nossa existência.
O que é mais
valorizado: o Tempo ou o que fazemos com ele?
Após a nossa criação por Deus,
nos tornamos seres atemporais ‒ nosso espírito imortal ‒, e para o plano
imaterial voltaremos, deixando, finalmente, o ser que sofre o efeito do tempo
se findar. Isso nos amedronta, mas é o destino de todos nós que ainda
necessitamos viver no plano material. Para nós, na carne, nada fará o tempo
voltar e ele poderá fazer falta se acharmos que não o aproveitamos como
deveríamos.
Isso é notório quando estamos
acamados, doentes em casa ou nos hospitais. Temos tempo para perceber realmente
se e como aproveitamos ‒ ou não ‒ o nosso tempo, porque, nos tornamos mais
introspectivos quando nestas condições.
Quase todos os médicos e
enfermeiras são unânimes em concordar que o que mais se vê, nos quartos,
enfermarias e corredores dos hospitais, são os doentes e familiares
arrependidos por não terem se doado por inteiro àquela vida ‒ sua ou do seu
amor ‒ a si ofertada; por não terem se dedicado mais aos verdadeiros valores do
espírito, aos únicos tesouros que o espírito pode acumular e levar daqui. É
como se você tivesse resolvido investir todo o seu dinheiro ‒ tempo ‒ em fundos
de investimento ‒ escolhas ‒ e estes perderem o seu valor com a quebra da bolsa
de valores ‒ escolhas equivocadas.
A culpa por esse horrível
investimento o acometerá, mas você poderá se acusar de ter errado se, naquele
momento, tudo o levava a acreditar que seus investimentos estavam certos? Preste
atenção onde a culpa se baseia, porque, possivelmente, é você se acusando ‒ justa
ou injustamente ‒ de não ter feito tudo o que podia para impedir aquele
desfecho.
Prestaram a atenção no que eu
disse? Justa ou injustamente! Nem sempre estaremos corretos ao nos condenarmos
pelas escolhas que fizermos.
Justificativas ou
Desculpas?
Voltemos ao caso da doença ou de
um dos nossos amores no hospital, lugar onde paramos e nos damos a oportunidade
de pensar sobre o que fizemos ou deixamos de fazer em relação a eles ou a nós
mesmos: claro que poderíamos ter aproveitado melhor a presença dos nossos
filhos, mas eu precisava trabalhar para dar o melhor para eles; claro que
poderíamos ter ido visitar mais vezes os nossos pais, mas acreditávamos que
teríamos mais tempo; claro que poderíamos ter ajudado financeiramente a nosso
irmão quando este pediu ajuda, mas entendíamos que estávamos construindo o seu
caráter para lutar pelo que ele sonhava... E quando nós ou estes se vão, uma
culpa pode nos atormentar a alma.
Se isso ocorre é porque nós não
estávamos totalmente convencidos de nossas próprias justificativas (ou
desculpas) e, com o tempo que se foi, amadurecemos para perceber que elas (ou
elas) poderiam ser contornadas e que a valorização do ser espiritual deveria ter
sido a primeira meta. Mas, todas essas circunstâncias estão no passado e, o
amadurecimento, no nosso presente. Por isso, aprendamos com o que ocorreu no
passado e tentemos não repetir aquilo que provocou hoje o tormento de nossa
alma.
O Tempo é
O tempo não nos pertence porque
ele não nos atende em nossos desejos. Ele chega e vai, ele chega e fica, ele
vem e vai sem pudor, sem convite ou carta de despedimento.
Mas, mesmo não nos pertencendo,
ele faz diferença, ele nos dá a oportunidade de nos moldar, ele nos dá a chance
de refazermos os nossos equívocos simplesmente por estarmos nele e ele escoar
de nós.
Não possuímos o tempo e quanto
mais tempo gastarmos com o que não nos faz crescer, mais arrependidos poderemos
nos sentir por não percebermos que a cada tempo que se vai, menos tempo teremos
nesta vivência para melhor dela aproveitar e crescer.
Que entendamos que o tempo é um
presente divino e que somente no presente ele existe para nós, mas que, como
uma onda intensa, passará e também estará conosco e nos arremeterá aonde
necessitamos estar para o nosso aprimoramento.
Usemos do tempo a nosso favor,
mesmo que ele não possa ficar, mesmo que ele ainda esteja ao nosso redor!
O tempo não nos pertence, mas é
nele que agiremos com os princípios e crenças que nos norteiam para
transformarmos a nossa vida no presente, tendo o passado como instrutor e o
futuro como meta!
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