quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

SUCUMBIR NA PROVA[1]


Miramez


Visto que Deus sabe tudo, sabe, igualmente, se um homem deve, ou não, sucumbir em uma prova; por conseguinte, qual a necessidade dessa prova, visto que ela não pode ensinar nada a Deus, que já não saiba, sobre a vida desse homem?
‒ Com isso queres perguntar por que Deus não criou o homem perfeito e realizado[2]; por que o homem deve passar pela infância antes de atingir a idade adulta[3]. A prova não tem o objetivo de esclarecer a Deus sobre o mérito desse homem, porque Deus sabe perfeitamente o que ele quer, mas de deixar a esse homem toda a responsabilidade de sua ação, visto que tem a liberdade de fazer ou não fazer. Tendo o homem a escolha entre o bem e o mal, a prova tem por efeito coloca-lo em luta com a tentação do mal e deixar-lhe todo o mérito da resistência. Ora, visto que Deus sabe muito bem, e antecipadamente, se ele triunfará ou não, não pode, em sua justiça, nem puni-lo nem recompensá-lo por um ato que ainda não tenha praticado[4].
Questão 871 – Livro dos Espíritos
Abrimos esta página com a anotação de João, no capítulo três, versículo trinta e cinco, que diz: “O Pai ama ao filho, e todas as cousas tem confiado às suas mãos”.
Deus confia sempre em Seus filhos, porque a todos os conhece; necessário se faz que correspondamos a essa confiança de Paternidade Divina. Muitos questionam que, se Deus é onisciente, por que deixa que os Espíritos sucumbam nas provas? Busquemos a resposta com nosso raciocínio, que a razão nos responderá, principalmente quando conhecemos a Doutrina Espírita.
É bastante claro para os estudiosos que, em se sucumbindo no caminho não se perde tudo; as experiências ficam, e muito aprende o Espírito na própria queda. Os grandes Espíritos que hoje se apresentam envoltos em luz, já sucumbiram no passado, recolhendo experiências nessas lutas. Então não vale a pena lutar? É de luta em luta que chegamos ao objetivo, na condição de alunos, ou mesmo professores para os que vêm em nossa retaguarda.
A impressão que dá a palavra sucumbir é de fracasso, entretanto, devemos entendê-la como lição. O aprendizado é contínuo e naquele que erra se gravam mais as lições e o conhecimento das leis de Deus, porque é reparando o erro que o Espírito adquire experiência.
Deus não criou o homem perfeito porque, a ser assim, não precisaria criar; ele ficaria no Seu seio divino, para a divina ventura espiritual. Quis o Senhor que tivéssemos personalidade, mostrando o seu trabalho perfeito, mas, na sequência de despertamento dos valores eternos.
Devemos estudar o Espírito, e isso fazemos constantemente, mas, conhecer totalmente a nós mesmos, depende de muito tempo e até mesmo de vivermos fora do tempo e do próprio espaço. Se nos confundimos com pouca coisa, em se referindo a nós, quanto mais em conhecer a vida e seus pormenores! Quando estivermos confundidos em assuntos relevantes como Deus, Cristo e nós mesmos, busquemos a oração, que ela alivia e nos ensina até onde devemos ir, no nosso crescimento espiritual.
Verdadeiramente somos crianças ante Jesus, e é justo que tomemos alimento de criança para não nos desequilibrarmos nas nossas fraquezas. O Pai nos deu liberdade de escolha, por saber que primeiramente iríamos escolher o mal, para que esse mal nos mostrasse o bem com maior firmeza de vida. Se assim não fora, não o permitiria. Já falamos muitas vezes que o mal não existe; ele é a estrada para chegarmos ao bem com mais certeza no amor e na verdade.
Deus certamente não irá punir um filho antes que esse filho experimente caminhos divergentes do amor, mas que, ao fim, levem a esse. O próprio juiz da Terra somente condena depois do erro. Essa é a dignidade da sua posição.
Se queres saber o que a alma primitiva vai fazer em seu caminho de despertamento espiritual, observa tuas próprias crianças; somente o tempo tem o poder de modificação das criaturas. A luz não pode se fazer em uma residência sem primeiro o projeto da sua fonte, a feitura da mesma, os fios, as lâmpadas. Assim as criaturas de Deus existem e têm uma sequência de vida, de trabalhos e de desvios, se podemos chamá-los por esse nome. Depois, vêm a bonança, a harmonia mental e a tranquilidade de consciência que não se perturba.
Para o espírita estudioso não é preciso conhecimento do futuro, pois o seu presente está de certa forma ligado ao futuro. Colhemos somente o que plantamos e ele sabe que está colhendo o que plantou no passado. Entretanto, a fé, as mudanças internas em seu favor têm o poder de limpar com mais urgência o magnetismo inferior que a invigilância criou.
Confiemos em Deus e em Jesus, que tudo mais nos virá por misericórdia. Essa é a nossa grande alegria de viver, trabalhando e ajudando, pois sabemos que nunca nos faltará a Luz de Deus em nossos caminhos, e ela fica cada vez mais visível para os companheiros que estão despertando para a vida maior.




[1] Filosofia Espírita – Volume 18 – João Nunes Maia
[2] KARDEC, Allan – Livro dos Espíritos – Questão 119.
[3] Idem, Questão 379.
[4] Idem, Questão 258.

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