Ernesto Bozzano
O publicista inglês muito
conhecido, William Stead, diretor da Review
of Reviews, em sua obra intitulada Real
Ghost Stories, conta o seguinte episódio:
Termino o capítulo pela exposição de uma das manifestações
de fantasmas, a mais detalhada que se produziu nos tempos modernos. É também a
única manifestação aqui contada que ilustra a crença consoladora de que os
Espíritos das pessoas que nos são caras vêm receber-nos no leito de morte, para
servir-nos de guias na existência espiritual.
Durante o verão de 1880, 14 oficiais do 5º Regimento de
Lanceiros estavam sentados, conversando na sala de refeições do quartel de
cavalaria, em Aldershot.
Eram cerca de 7 horas da noite e eles tinham vindo de
marchar, quando viram entrar na sala uma senhora vestida com uma roupa de seda
branca, tendo longo véu de casada sobre o rosto. Ela parou, por momentos, em
frente à mesa, depois dirigiu-se para a cozinha, onde entrou.
Caminhava com passo rápido, mas os cinco oficiais,
colocados à cabeceira da mesa, a viram todos.
Nenhum deles duvidou um só instante que fosse uma senhora
de carne e osso, aparecida ali não se sabia por que acaso.
O Capitão Norton, Ajudante-de-campo, levantou-se de salto
e, correndo à cozinha, perguntou ao sargento onde estava a senhora que tinha
entrado naquele momento.
– Ninguém entrou na
cozinha – respondeu o sargento, asserção que o cozinheiro e ajudantes foram
unânimes em apoiar.
Quando o Capitão Norton contou a seus colegas a assombrosa
narrativa, travou-se entre todos animada discussão e acabaram por concluir que
se devia tratar de um fantasma. Discutiram também acerca dos trajes da
aparição; os que a viram foram acordes em afirmar que ela era bela, morena,
exprimindo-se-lhe no rosto grande tristeza.
O Coronel Vandeleur, que não a tinha visto, ouvindo a
descrição dos traços do fantasma, observou:
– Mas é a mulher do
veterinário X., morta na Índia.
O oficial que ele nomeava estava nessa ocasião, ou pelo
menos assim o supunham, em licença, por motivo de moléstia.
Em todo o caso, mesmo que o fantasma aparecido tivesse
sido o de sua mulher, não se sabia por que razão se tinha manifestado na sala
de refeições, por essa forma estranha.
Veio ter-se notícia, entretanto, que o referido oficial
veterinário havia voltado da licença na tarde do mesmo dia, sem que seus
colegas o soubessem, posto que tivesse ainda à sua disposição muitos dias de
folga.
Também se soube que ele subira a seu quarto, situado acima
da cozinha, e tocara a campainha para chamar a ordenança, acusando mal-estar e
pedindo que lhe trouxessem aguardente com soda.
Na manhã seguinte, por volta de 8:30, a ordenança subiu ao
quarto do oficial e o encontrou morto na cama.
O Capitão Norton, na qualidade de Ajudante-de-campo,
entrou no quarto para proceder ao inventário dos bens deixados pelo defunto e
apor os selos. E o primeiro objeto que lhe caiu sob as vistas foi a fotografia
da senhora, que ele tinha visto na tarde precedente e com as mesmas vestes.
Eis os nomes dos oficiais que perceberam a aparição:
Capitão Norton, Ajudante-de-campo. Capitão Aubrey Fife, do Clube Militar e
Naval; Capitão Benion, do mesmo clube; o médico do Regimento (nome esquecido);
o Lugar-Tenente Jack Russel, redator do Sporting
Times, sob o pseudônimo de Brer Babbit.
O lado particularmente
importante deste episódio é o do fantasma desconhecido aos percipientes e em
seguida identificado por uma fotografia, lado que daria, em aparência, ao fato
o valor de autêntica identificação espírita. E nada impede que o seja, com
efeito.
Não se pode negar, entretanto,
que do ponto de vista científico, a hipótese telepática estaria ainda em
condições de explicar o fenômeno. Com efeito, se se levar em conta que, no
andar superior e precisamente acima da cozinha onde entrara a aparição,
achava-se o marido da defunta que os oficiais viram, é permitido supor que essa
aparição pudesse ser uma alucinação telepática, causada por seu pensamento, e
nesse momento elevado à morta querida.
Isso posto, é preciso notar,
para a correção científica na exposição das hipóteses, que o acontecimento se
realizou na iminência da morte do marido da defunta, de sorte que este
acontecimento tomaria um caráter de prenúncio de morte iminente e visita de falecido
no leito mortuário, duas circunstâncias muito impressivas e que não podemos
deixar de ter em consideração. Se a aparição se tivesse produzido na
proximidade do marido da defunta, mas sem a circunstância da morte deste
último, a explicação puramente telepática do acontecimento seria mais
verossímil; e se não propendo para ela, mesmo nestas circunstâncias, é por
causa das razões seguintes (admissíveis para toda classe de manifestações das
de que nos ocupamos): em 1º lugar, porque as alucinações telepáticas entre
vivos se realizam geralmente entre pessoas efetivamente ligadas entre si,
condição essencial para que a relação psíquica entre o agente e o percipiente
possa estabelecer-se e esse laço efetivo falta no episódio exposto; em 2º
lugar, porque – salvo raras exceções que não infirmam a regra –, nas
manifestações telepáticas entre vivos o agente transmite ao percipiente o
fantasma alucinatório de si mesmo e não o de terceiras pessoas, nas quais pense
por acaso; isto é, se se tratasse de telepatia, os camaradas do moribundo
deveriam ter percebido o fantasma deste último e não o de sua defunta mulher.
Tendo em conta, por conseguinte,
essas circunstâncias que contradizem a explicação telepática do acontecimento,
a espírita adquire grandes probabilidades de ser a explicação verdadeira e
autêntica.
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