quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

Casos nos quais os familiares do moribundo são os únicos a perceberem os fantasmas de defuntos[1]




Ernesto Bozzano

O publicista inglês muito conhecido, William Stead, diretor da Review of Reviews, em sua obra intitulada Real Ghost Stories, conta o seguinte episódio:
Termino o capítulo pela exposição de uma das manifestações de fantasmas, a mais detalhada que se produziu nos tempos modernos. É também a única manifestação aqui contada que ilustra a crença consoladora de que os Espíritos das pessoas que nos são caras vêm receber-nos no leito de morte, para servir-nos de guias na existência espiritual.
Durante o verão de 1880, 14 oficiais do 5º Regimento de Lanceiros estavam sentados, conversando na sala de refeições do quartel de cavalaria, em Aldershot.
Eram cerca de 7 horas da noite e eles tinham vindo de marchar, quando viram entrar na sala uma senhora vestida com uma roupa de seda branca, tendo longo véu de casada sobre o rosto. Ela parou, por momentos, em frente à mesa, depois dirigiu-se para a cozinha, onde entrou.
Caminhava com passo rápido, mas os cinco oficiais, colocados à cabeceira da mesa, a viram todos.
Nenhum deles duvidou um só instante que fosse uma senhora de carne e osso, aparecida ali não se sabia por que acaso.
O Capitão Norton, Ajudante-de-campo, levantou-se de salto e, correndo à cozinha, perguntou ao sargento onde estava a senhora que tinha entrado naquele momento.
– Ninguém entrou na cozinha – respondeu o sargento, asserção que o cozinheiro e ajudantes foram unânimes em apoiar.
Quando o Capitão Norton contou a seus colegas a assombrosa narrativa, travou-se entre todos animada discussão e acabaram por concluir que se devia tratar de um fantasma. Discutiram também acerca dos trajes da aparição; os que a viram foram acordes em afirmar que ela era bela, morena, exprimindo-se-lhe no rosto grande tristeza.
O Coronel Vandeleur, que não a tinha visto, ouvindo a descrição dos traços do fantasma, observou:
– Mas é a mulher do veterinário X., morta na Índia.
O oficial que ele nomeava estava nessa ocasião, ou pelo menos assim o supunham, em licença, por motivo de moléstia.
Em todo o caso, mesmo que o fantasma aparecido tivesse sido o de sua mulher, não se sabia por que razão se tinha manifestado na sala de refeições, por essa forma estranha.
Veio ter-se notícia, entretanto, que o referido oficial veterinário havia voltado da licença na tarde do mesmo dia, sem que seus colegas o soubessem, posto que tivesse ainda à sua disposição muitos dias de folga.
Também se soube que ele subira a seu quarto, situado acima da cozinha, e tocara a campainha para chamar a ordenança, acusando mal-estar e pedindo que lhe trouxessem aguardente com soda.
Na manhã seguinte, por volta de 8:30, a ordenança subiu ao quarto do oficial e o encontrou morto na cama.
O Capitão Norton, na qualidade de Ajudante-de-campo, entrou no quarto para proceder ao inventário dos bens deixados pelo defunto e apor os selos. E o primeiro objeto que lhe caiu sob as vistas foi a fotografia da senhora, que ele tinha visto na tarde precedente e com as mesmas vestes.
Eis os nomes dos oficiais que perceberam a aparição: Capitão Norton, Ajudante-de-campo. Capitão Aubrey Fife, do Clube Militar e Naval; Capitão Benion, do mesmo clube; o médico do Regimento (nome esquecido); o Lugar-Tenente Jack Russel, redator do Sporting Times, sob o pseudônimo de Brer Babbit.

O lado particularmente importante deste episódio é o do fantasma desconhecido aos percipientes e em seguida identificado por uma fotografia, lado que daria, em aparência, ao fato o valor de autêntica identificação espírita. E nada impede que o seja, com efeito.
Não se pode negar, entretanto, que do ponto de vista científico, a hipótese telepática estaria ainda em condições de explicar o fenômeno. Com efeito, se se levar em conta que, no andar superior e precisamente acima da cozinha onde entrara a aparição, achava-se o marido da defunta que os oficiais viram, é permitido supor que essa aparição pudesse ser uma alucinação telepática, causada por seu pensamento, e nesse momento elevado à morta querida.
Isso posto, é preciso notar, para a correção científica na exposição das hipóteses, que o acontecimento se realizou na iminência da morte do marido da defunta, de sorte que este acontecimento tomaria um caráter de prenúncio de morte iminente e visita de falecido no leito mortuário, duas circunstâncias muito impressivas e que não podemos deixar de ter em consideração. Se a aparição se tivesse produzido na proximidade do marido da defunta, mas sem a circunstância da morte deste último, a explicação puramente telepática do acontecimento seria mais verossímil; e se não propendo para ela, mesmo nestas circunstâncias, é por causa das razões seguintes (admissíveis para toda classe de manifestações das de que nos ocupamos): em 1º lugar, porque as alucinações telepáticas entre vivos se realizam geralmente entre pessoas efetivamente ligadas entre si, condição essencial para que a relação psíquica entre o agente e o percipiente possa estabelecer-se e esse laço efetivo falta no episódio exposto; em 2º lugar, porque – salvo raras exceções que não infirmam a regra –, nas manifestações telepáticas entre vivos o agente transmite ao percipiente o fantasma alucinatório de si mesmo e não o de terceiras pessoas, nas quais pense por acaso; isto é, se se tratasse de telepatia, os camaradas do moribundo deveriam ter percebido o fantasma deste último e não o de sua defunta mulher.
Tendo em conta, por conseguinte, essas circunstâncias que contradizem a explicação telepática do acontecimento, a espírita adquire grandes probabilidades de ser a explicação verdadeira e autêntica.




[1] Fenômenos Psíquicos no momento da Morte – Caso 52 - Ernesto Bozzano

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