quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

Casos nos quais as aparições dos mortos são percebidas unicamente pelo moribundo e se referem a pessoas cujo falecimento era por ele conhecido[1]




São estes os modos de manifestação mais frequentes na casuística em questão; concebe-se que sejam também os menos interessantes, sob o ponto de vista científico.
Dado o estado muito vivo de excitação no qual se encontra, provavelmente, um moribundo que conserva a consciência de si próprio; dado, por consequência, o estado de hiperestesia dos centros corticais de ideação e as condições mais ou menos mórbidas de seu funcionamento; dada, enfim, a orientação inevitável do pensamento de um moribundo, que não pode deixar de voltar-se, com angústia suprema, para as pessoas caras e afastadas e para aqueles que o precederam no túmulo, facilmente se conceberá que tudo isso deva determinar, muito frequentemente, fenômenos de alucinação subjetiva.
Não obstante, porém, impõem-nos os métodos de pesquisas científicas notar que, nos casos de aparição de mortos nos leitos de agonizantes, encontramos uma circunstância que não pode ser facilmente esclarecida pela hipótese alucinatória: é que, se o pensamento, ardentemente voltado para as pessoas caras, fosse a causa determinante dos fenômenos, o moribundo, em lugar de experimentar exclusivamente formas alucinatórias representando defuntos – por vezes, mesmo, defuntos esquecidos pelo doente – deveria ser sujeito, as mais das vezes, a formas alucinatórias representando pessoas vivas às quais fosse vivamente ligado – o que não se produz.
Verifica-se, ao contrário, que não há exemplo de moribundos que percebam supostos fantasmas de vivos ou lhes dirijam a palavra da mesma maneira que às visões dos mortos. Só com estes se produzem os diálogos.
São bem conhecidos os casos de agonizantes que têm tido visões de fantasmas que se crê sejam de pessoas vivas; mas, nesses casos, verifica-se invariavelmente, em seguida, que essas pessoas tinham morrido pouco antes, posto que nenhum dos assistentes nem o próprio doente o soubessem.
É preciso reconhecer que essas considerações se revestem de alto valor indutivo, no sentido da interpretação espírita dos fatos, ainda que a demonstração experimental da legitimidade dessa explicação seja muito difícil, por causa da própria natureza dos fatos de que se trata. De qualquer modo, essas considerações contribuem para fazer melhor sobressair a oportunidade de uma nova análise mais atenta dos casos de que nos ocupamos.
Passo agora a expor um exemplo...:

Na vida do Rev. Dwight L. Moody, ardente propagandista evangélico, nos Estados Unidos, escrita por seu filho, encontra-se o seguinte relato dos seus últimos momentos:
“Ouviram-no, de repente, murmurar:
– A Terra se afasta, o céu se abre diante de mim; já lhe ultrapassei os limites; Deus me espera; Não me chamem; tudo isso é belo; dir-se-ia uma visão de êxtase. Se tal é a morte, como é doce!...
Reavivou-se-lhe o rosto e com alegre expressão de arrebatamento exclamou:
– Dwight! Irene! Vejo as crianças. (ele fazia alusão a dois de seus netos que estavam mortos)
Em seguida, voltando-se para a consorte, lhe disse:
– Tu foste sempre uma boa companheira para mim.
Depois destas palavras perdeu a consciência.




[1] Fenômenos Psíquicos no momento da Morte – Ernesto Bozzano

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