Jorge Hessen - jorgehessen@gmail.com
Charity era viciada em drogas e
deu à luz o menino Paris. Nove anos depois engravidou novamente e teve a menina
Ella. O menino era mais introvertido e tímido, enquanto Ella era extrovertida,
teimosa e determinada.
Charity conseguiu ficar longe
das drogas por alguns anos. Porém, quando Paris tinha 12 anos e Ella 3, teve
uma recaída (por seis meses) com cocaína. Foi difícil para Paris perceber que
sua mãe era uma viciada. Transtornado, com 13 anos de idade, ele sufocou e
esfaqueou sua irmã 17 vezes com uma faca de cozinha. Após o crime, ligou para o
911, o número de emergência local. Paris disse à polícia que estava dormindo e
que, ao acordar, viu que Ella tinha se transformado em um demônio em chamas.
Então, ele teria pegado a faca e tentado matar o “demônio”.
Em 2007, Paris foi condenado a
40 anos de prisão pelo assassinato. Charity estava convencida de que o crime
não havia sido um acidente ou resultado de uma psicose temporária, pois, para
ela, Paris realmente quis matar a irmã. Charity acredita que a recaída nas
drogas contribuiu para deixar Paris furioso. Entretanto, do mesmo modo crê que
grande parte do que está por trás da personalidade do filho seja genética, pois
o pai de Paris tinha esquizofrenia do tipo paranoica, caracterizada, por
exemplo, pela presença de ideias frequentemente de perseguição, em geral
acompanhadas de alucinações.
Cremos que o ambiente familiar e
social tem papel importante no desenvolvimento e manutenção de transtorno de
conduta. Em alguns casos o uso de álcool e drogas pela mãe durante a gestação,
e também de alguns medicamentos, já foram confirmados. As pessoas com
transtorno de conduta são caracterizadas por padrões persistentes de
comportamento socialmente inadequado, agressivo ou desafiante, com violação de
normas sociais ou direitos individuais. São pessoas carentes de amor e de
apreço pela sociedade, por isso ignoram o outro. Adotam costumes criminosos sem
nenhum remorso, conservando-se frios e insensíveis ao que ocorre ao seu redor.
Para a psicologia o “self”
nessas pessoas é desconectado do “ego”, padecendo uma rachadura que impede o
completo relacionamento que determinaria a sua adaptação ao grupo social. O
Espiritismo explica que isso procede de legados morais e espirituais que brotam
das experiências infelizes de outras existências, quando o Espírito delinquiu,
camuflando a sua culpa e se esquivando da coexistência social. E há em muitos
casos influências espirituais que podem levar a desvios de conduta e mau caráter.
Allan Kardec esclarece que há
vários tipos de obsessão, sendo o mais grave o de subjugação, em que o obsessor
interfere e domina o cérebro do encarnado. A subjugação pode ser psíquica,
física ou fisiopsíquica. Assim, as doenças mentais ou físicas também podem, de
acordo com o conhecimento espírita, sofrer influências externas.
Recuando à época de Jesus,
conferimos que os evangelistas anotaram diversos episódios de obsessões. A
exemplo de Lucas, que descreveu o homem que se achava no santuário, possuído
por um Espírito infeliz, a gritar para Jesus, tão logo lhe marcou a presença: Que temos nós contigo?[2] Numa ação obsessiva, seguida de possessão e
vampirismo, o evangelista Marcos escreveu sobre o auxílio seguro prestado pelo
Cristo ao pobre gadareno[3],
tão intimamente manobrado por entidades cruéis, e que mais se assemelhava a um
animal feroz, refugiado nos sepulcros[4]. No
episódio da obsessão envolvendo alma e corpo, o apóstolo Mateus anotou que o
povo trouxe ao Mestre um homem mudo, sob o controle de um Espírito em profunda
perturbação e, afastado o hóspede estranho pela bondade do Senhor, o enfermo
foi imediatamente reconduzido à fala[5].
Na obsessão indireta, cuja
vítima padece de influência aviltante, sem perder a própria responsabilidade, o
discípulo amado João registrou que um Espírito perverso havia colocado no
sentimento de Judas a ideia de negação do apostolado[6]. E
na complicada obsessão coletiva causadora de “moléstias-fantasmas”, encontramos
o episódio em que Filipe, transmitindo a mensagem do Cristo entre os
samaritanos conseguiu que muitos coxos e paralíticos se curassem, de pronto,
com o simples afastamento dos Espíritos inferiores que os molestavam[7].
Diante dessas inquietações
espirituais, Emmanuel afirma que o Novo Testamento trata o problema da obsessão
com o mesmo interesse humanitário da Doutrina Espírita. Em face disso, devemos
manter-nos atentos e ampliar o serviço de socorro aos processos obsessivos de
qualquer procedência, porque os princípios de Allan Kardec revivem os
ensinamentos de Jesus, na antiga batalha da luz contra a sombra e do bem contra
o mal[8].
Fonte: A Luz na Mente
[3] Relativo a ou natural ou habitante de Gadara, cidade da
antiguidade (hoje cidade do norte da Jordânia).
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