Israelita de nascimento, viveu
no lar paterno os preconceitos de sua raça contra o Carpinteiro de Nazaré. Na
verdade, porém, Fígner, como muitos outros judeus, não tinha religião alguma.
Foi no Brasil e quando já
negociante próspero, com seu estabelecimento comercial e industrial no Rio de
Janeiro e uma sucursal em São Paulo, que Fígner foi chamado a conhecer a
verdade. Nos últimos anos do século passado ou nos primeiros deste século,
Fígner travou relações de amizade com Pedro Sayão, filho do saudoso doutrinador
Antônio Luís Sayão, pai da célebre cantora Bidu Sayão. Pedro Sayão, durante
cerca de dois anos, lhe frequentava a loja e palestrava sobre Espiritismo e
Cristianismo, sem que Fígner se impressionasse muito pelo assunto; porém, numa
de suas visitas ao seu estabelecimento de São Paulo, Fígner ouviu a dolorosa
história de um seu empregado, cuja esposa se achava gravemente enferma e
necessitada de melindrosa intervenção cirúrgica. Ao regressar ao Rio, Fígner
pediu a Pedro Sayão lhe obtivesse receita para cura da enferma de São Paulo.
Veio a receita e a cura da doente, sem intervenção alguma dos médicos. Foi esse
fato que inclinou Fígner a favor do Espiritismo.
Já impressionado com a cura da
doente mediante uma receita mediúnica, Fígner foi procurado em sua loja por um
pobre, pai de família desempregado, em penosa situação econômica. Ouviu-lhe o
relato de suas aflições, deu-lhe um pouco de dinheiro e disse-lhe que voltasse
oito dias mais tarde. Ao sair o necessitado, pela primeira vez na vida Fígner
fez um pedido ao Carpinteiro de Nazaré: “Se é como dizem os cristãos que Tu
tens poder, ajuda a esse pobre pai de família; arranja-Lhe trabalho e meios de
vida”!
Oito dias mais tarde, voltava o
homem com o sorriso dos felizes e lhe narrava: “Já estou trabalhando e
brevemente virei restituir seu dinheiro, Sr. Fígner. Fui procurado por uma
pessoa que me convidou para um emprego inteiramente inesperado”. Fígner se
entusiasmou e repetiu semelhantes pedidos, com resultados sempre positivos. Em
vez de pedir a Jesus, passou a pedir a Maria e igualmente os resultados não se
faziam esperar. Encheu-se de fé que transporta montanhas e estudou com
entusiasmo o Espiritismo e o Cristianismo. Passou a consagrar sua vida ao
serviço dos outros.
Não se sabe ao certo quando se
deu essa conversão, mas em 1903 já se encontram vestígios das atividades
espíritas de Fígner na Federação Espírita Brasileira. Por ocasião da gripe
“espanhola”, em 1918, com 14 doentes em seu próprio lar e ele mesmo adoentado e
febril, passava os dias inteiros na Federação, atendendo a doentes e
necessitados que lá iam, em avalanches, buscar recursos para situações
aflitivas.
Sua vida normal durante longos
anos consistia em ir de manhã e a tarde à Federação tomar ditados de receitas
de diversos médiuns, chegando a tomar 150 a 200 receitas por dia e a dar passes
em numerosos doentes. Levantava-se às cinco horas da manhã e, antes de ir à
loja, ia à Federação, de onde só saía quando terminava esse serviço de tomar
ditados de receitas. Às quatro horas da tarde lá estava de novo para orar e dar
passes em doentes. E curava mesmo os enfermos, pois que seus “fregueses”, como
ele lhes chamava na intimidade, cresciam sempre de números.
Como propagandista da Doutrina,
manteve sempre uma seção no “Correio da Manhã” que era lida no País todo. Em
1921 polemizou com o Padre Florêncio Dubois pela “Folha do Norte”, do Pará.
Promoveu a publicação de muitos livros, custeando as edições. Foi à Inglaterra
visitar o célebre “Circle of Crew”, onde o médium Willy Hope obtinha as famosas
fotografias de extras; visitou, então, Sir Arthur Conan Doyle e outros grandes
vultos do Espiritismo inglês.
Em 1920 perdeu a filha
primogênita, e sua esposa ficou inconsolável. Ouvindo falar da médium de
materialização D. Ana Prado, de Belém do Pará, decidiu-se a partir para o
Norte. No dia 1º de Abril de 1921, embarcou com toda a família. O que sucedeu
naquelas sessões acha-se relatado no livro do Dr. Nogueira de Faria, intitulado
“O Trabalho dos Mortos”, pela senhora D. Esther Fígner, esposa de Frederico
Fígner, a qual, apenas regressando das sessões e assistida por sua filha
Leontina, escrevia relato minucioso de tudo que ocorrera. Frederico Fígner
nasceu na madrugada de 2 de Dezembro de 1866, na casa humilde de n.º 37 da Rua
Teynska, em Milevsko, perto de Tabor, Tchecoeslováquia, então Boêmia e parte do
Império austro-húngaro.
Era, portanto, compatriota de
outro missionário que como ele vinha cumprir sua tarefa no Brasil, durante
longa existência como brasileiro, entre os melhores, Francisco Valdomiro Lorenz
[vide biografia neste blog, publicada em
12/12/2016], nascido em Zbislav, perto de Tcháslav, e chegado ao Brasil
dois anos depois de Fígner. Ambos vinham da Pátria dos grandes mártires do
Cristianismo, João Huss e Jerônimo de Praga, divulgar aqui os ideais superiores
que conduziram os dois heróis aos tormentos da Inquisição. Fígner e Lorenz
gravitaram para a Federação Espírita Brasileira que era muito jovem quando eles
chegaram ao Brasil. Fígner venceu galhardamente a escorregadiça e perigosa
prova da riqueza, Lorenz venceu com igual bravura os tormentos da pobreza e se
tornou um dos mais cultos esperantistas do mundo, com várias obras publicadas.
Filho de pais pobres, Fígner
tinha que imigrar para o Novo Mundo, como faziam os jovens da Europa Central,
naquele tempo. Aos treze anos sai do lar paterno e vai para a cidade de Bechim
aprender um ofício. Em 1882, aos 16 anos, deixa definitivamente a terra natal.
Parte com sua maleta de emigrante par Bremershafen, de onde, a bordo do vapor
“Elbe“ (como passageiro de terceira classe), ruma para os Estados Unidos só
levando dinheiro para a travessia. Contava Fígner um pormenor interessante
dessa viagem. Sua mãe fizera e lhe dera para a viagem uma trança de pão doce.
Chegando a bordo, nota que a alimentação de terceira classe é absolutamente
insuportável. Divide então o seu pão doce, de sorte a bastar para todo tempo da
travessia que durou 14 dias. Foi essa a sua única alimentação durante duas
semanas.
Levava como modelo de conduta a
tenacidade dos pais. Era o exemplo a imitar para vencer na vida. Uma tempestade
violenta foi o único incidente da travessia, mas foi-lhe rude a luta para
adquirir estabilidade econômica de sorte a manter-se e ajudar os pais e irmãos.
Estados Unidos, México, América Central e, finalmente, América do Sul, foram
seus campos de luta econômica. No Brasil, esse filho de Israel encontrou sua
Canaã. Estabeleceu-se, prosperou, conheceu uma jovem de peregrinas virtudes e
alma de artista, D. Esther de Freitas Reys, filha de família ilustre.
Em 1897, Frederico Fígner e D.
Esther de Freitas Reys fundavam, pelo matrimônio, seu lar feliz. Recebia ele o
prêmio de suas grandes lutas de trinta anos, mas não sonhava repouso, que não
era ideal de seu caráter vibrante. Desse feliz enlace nasceram seis filhos:
Rachel, Aluízio, Gabriel, desaparecidos do mundo antes do venerado genitor;
Leonilda, Helena e Lélia, muito devotados ao seu velho pai.
O serviço de Figner nas obras de
assistência e no trabalho profissional afastava-o muito do lar, mas isso não
prejudicava o cultivo de um afeto extremo entre pai e filhos. Amavam-se com
ardor e respeitavam reciprocamente as ideias e crenças particulares de cada um.
Ainda nos últimos dias de sua vida, distribuía ele principescamente donativos
por instituições e pessoas pobres de sua amizade, guiando-se pelo coração e nem
sempre pelo cérebro, e só respeitando a fortuna das filhas.
Trabalhou e serviu abnegadamente
até que a enfermidade o prendeu ao leito, poucos dias antes da partida.
Completou oitenta anos em 2 de Dezembro de 1946, e em 19 de Janeiro de 1947, às
20 horas, partiu para o mundo espiritual, deixando abertos caminhos de luz
sobre a Terra que pisara por tanto tempo.
Ao funeral compareceu uma
multidão de amigos e admiradores. Diante da câmara mortuária, o Presidente da
Federação pronunciou palavras de despedida e o Vice-Presidente fez uma prece.
Ao descer o ataúde ao jazigo, no Cemitério de São Francisco Xavier, falaram com
sentimento os Drs. Miranda Ludolf, Lins de Vasconcellos e o Capitão Silva
Pinto.
A Federação Espírita Brasileira,
após a morte de Fígner, publicou-lhe alguns dos escritos no livro intitulado -
“Crônicas Espíritas”.
O livro “Voltei”, psicografado
por Francisco C. Xavier, publicado em 1949, foi ditado por Frederico Fígner
(Irmão Jacob).
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