Dora Incontri - Publicado em 15 de julho de 2018
Tempos atrás em nosso site da
Associação Brasileira de Pedagogia Espírita, num desses debates acalorados que
provocamos no movimento espírita, lançamos um abaixo assinado, pontuando
algumas questões relativas a certas declarações de Divaldo Franco. Os que assinamos
esse documento nos autodeclaramos espíritas progressistas.
Esse qualificativo foi objeto de
apaixonadas discussões. Alguns achavam que seria um pleonasmo, outros se
indignavam, dizendo que não existem espíritas progressistas. Que espírita é
espírita e pronto. Quem se intitula progressista – insinuavam ou diziam aos
berros – certamente é comunista, esquerdopata e deveria ir para Cuba (sic).
Na época, cheguei a explicar
para alguns que sim, espírita progressista é um pleonasmo, mas porque existem tantos
espíritas conservadores, retrógrados, que se torna uma necessidade enfatizar o
caráter de vanguarda de grupos como o nosso.
O que significa afinal
progressista? É um termo usado de forma genérica, para indicar posições de mais
abertura, mais avançadas, em qualquer domínio. Por exemplo, diz-se: os setores
mais progressistas de tal ou qual religião, de tal ou qual corrente política e
assim por diante. Não se refere a uma ideia específica, mas a uma atitude de
compreender e aceitar o novo e procurar soluções mais corajosas para as
mudanças da sociedade. Trata-se de uma postura mais crítica em relação à
realidade.
Ora, inacreditavelmente deu-se
um fato, que preciso narrar aqui. Meses depois do tal documento assinado por
“espíritas progressistas”, eis que desembarco na França para a filmagem de um
documentário sobre Kardec, do qual sou corroteirista e pesquisadora.
Entrevistamos sociólogos, antropólogos, historiadores que têm como objeto de
estudo Kardec e o espiritismo. E qual não foi meu deleite ao ouvir de todos,
sem exceção, justamente a palavra “progressista”, para se referir a Kardec e ao
espiritismo, no século XIX! Todos os acadêmicos colocam o nascimento do
espiritismo e a atuação de Kardec num contexto de grande efervescência
cultural, de ideias de transformação da sociedade e que o espiritismo surgiu na
vanguarda, aliado ao socialismo utópico, à homeopatia, ao feminismo, à
emancipação da Igreja e à afirmação da liberdade e da razão.
Por isso, podemos plenamente
reivindicar esse termo como próprio do espiritismo, até porque se trata de uma
filosofia que enfatiza a evolução, ao contrário daquelas religiões salvacionistas
e daquelas doutrinas materialistas pessimistas. Entendendo-se que nem toda
religião é salvacionista (por exemplo, o budismo e o hinduísmo não são, mas
também não são evolucionistas) e nem toda doutrina materialista é pessimista
(por exemplo, o marxismo não é, porque tem a ideia de fazer, através da
revolução, uma sociedade futura sem Estado e sem classes e a psicanálise
freudiana é pessimista, porque Freud não vê muita saída para o ser humano,
pelos seus impulsos de agressividade e morte). Entendendo-se também que toda
visão evolucionista, seja revolucionária ou não, assume que a história e a
humanidade estão em mudança permanente para melhores condições e propõe que os
indivíduos sejam sujeitos históricos que influenciem nesse movimento.
Sucedendo-se a Kardec, tivemos
Léon Denis na França e Herculano Pires no Brasil – ambos progressistas, no
sentido de serem críticos da sociedade e trabalharem pela sua melhoria com
ideias novas e abertas, dentro de seus contextos, claro. É preciso alertar
também que as ideias progressistas de uma época podem depois parecer muito
óbvias, porque em outra época, elas já foram incorporadas.
Aqui no Brasil, justamente no
campo da educação, tivemos os espíritas progressistas, o próprio Herculano, que
criou o termo Pedagogia Espírita e começou a teorizar sobre o assunto e antes
dele, Eurípedes Barsanulfo e Anália Franco, ambos do final do século XIX e início
do século XX e que assumiram propostas muito à frente de sua época, por
exemplo, a inclusão da mulher, do negro, uma educação inter-religiosa, ativa e
com diálogo e afeto – coisas totalmente ausentes daquele tempo.
Mas na sua grande maioria, os
espíritas brasileiros se bandearam para posturas conservadoras, também sob a
influência de Chico Xavier e do próprio Emmanuel. Não estou desconsiderando a
contribuição que Chico deu com muitos de seus livros mediúnicos, edificantes e
belos – embora alguns sejam bastante problemáticos e requerem uma crítica mais
apurada. Mas dentro de seu contexto social e educacional e sob a influência de
Emmanuel, um espírito que considero elevado e nobre, mas ainda com resquícios
do senado romano e da ordem jesuítica – era o que ele poderia oferecer.
Entretanto, nas falas de Chico, há posturas extremamente conservadoras, como o
seu apoio à ditadura militar, a submissão da mulher, a naturalização de se
bater e torturar crianças (quando ele narrava de maneira quase masoquista o que
a madrasta fazia com ele…). Enfim, hoje diríamos que Chico teria de ter passado
por uma terapia, para enfrentar seus traumas, para encarar sua possível
homossexualidade etc. Mas eram outros tempos. O que não podemos fazer é
continuarmos a ter essa atitude cega e idólatra em relação a ele, compreendendo
que se tratou de um ser humano, com seus limites históricos, uma criança
sofrida e abusada, com traumas psíquicos nunca tratados.
E o que podemos ainda menos
fazer é aceitar os médiuns contemporâneos, que não têm mais a limitação
histórica, social e psíquica de 100 anos atrás, e estão em contato com as redes
sociais, aptos a se inteirarem das informações e das contrainformações, e mesmo
assim assumem atitudes fechadas, conservadoras, apoiando o que há de mais
retrógrado na sociedade.
Enfim, na dinâmica da evolução,
é sempre melhor estar na ponta da história, sem violência, sem desrespeito a
ninguém, mas com firmeza de princípios e visão aberta. Kardec estava – segundo
seus próprios estudiosos não-espíritas. E nós, onde estamos?
Caros irmãos Espíritas, é procedente a evolução que chamas progressista, como o é a Ciência e a contemporaneidade de Darwin e Allan Kardec, e o que se tem hoje em dia com o seu avanço, na Filosofia também, cabíveis as Leis Humanas Mutáveis, o que difere da Religião, que corresponde as Leis de Deus.
ResponderExcluirQuanto a abordagem feita a Chico Xavier, é totalmente imatura. O irmão Chico, para início de convesa, foi um Médium de moral irrefutável. Se ele sabia e não podia dizer os meandros da época da Ditadura, eu lhe digo. O Regime Militar, com apoio dos USA foi uma tentativa falida, com os assassinatos de Kennedy, Castelo Branco e Costa e Silva, de barrar o domínio do narcotráfico que comandou as torturas e mortes na fachada militar,com o apoio dos viciados das Forças Armadas, e em diversos âmbitos da sociedade, e que perdura até hoje, com muitos "viciados empáticos", por sinal.
Quanto a questão da feminilidade de Chico, ele era Lívia, esposa de Públius Lentulus, que veio auxiliá-lo a divulgar o trabalho de Jesus em resgate ao seu erro cometido há 2 mil anos. Se vc ler o livro, inclusive, verá a declaração da parte de Lívia do desejo de esclarecer as mães, o consolo que teve de Jesus, feito em suas cartas, enquanto Emmanuel fazia o seu resgate divulgando em sua grande obra, por exemplo Fonte Viva, a visão do Consolador em bases do Novo Testamento.
Esse anseio de melhorar a política do Brasil, louvável, ao Brasil Coração do Mundo Pátria do Evangelho, necessita de um trabalho de concientização muito grande, e os conservadores primam com sua contribuição, sim, por exemplo e fazer um trabalho com viciados, por exemplo. Que tal um trabalho de conscientização contra o uso de drogas ? Muitos progressistas, cuidado, são financiados por narcotraficantes, cuidado !