quarta-feira, 6 de junho de 2018

O conhecimento científico e as asas da evolução[1]


José Márcio de Almeida


“Portanto, se o teu olho direito te escandalizar, arranca-o e atira-o para longe de ti; pois te é melhor que se perca um dos teus membros do que seja todo o teu corpo lançado no inferno. E, se a tua mão direita te escandalizar, corta-a e atira-a para longe de ti, porque te é melhor que um dos teus membros se perca do que seja todo o teu corpo lançado no inferno”. (Mt 5:29-30)
 [...] “Eu, porém, vos digo que não resistais ao mau; mas, se qualquer te bater na face direita, oferece-lhe também a outra”. (Mt 5:39)
O Sermão do Monte retratado nos capítulos 5, 6 e 7 do Evangelho Segundo Mateus é, sem contradita, uma das mais belas páginas já escritas. A beleza e a amplitude dos ensinamentos nele contidos e transmitidos por Jesus superam tudo o que já se escreveu do ponto de vista moral.
Trata-se, a rigor, de um código moral cósmico, universal.
Interessante notar, nos três versículos que pinçamos (acima), que Jesus refere-se ao olho, à mão e à face do lado direito do corpo. Porque o Mestre não disse olho esquerdo, mão esquerda ou face esquerda?
Perguntamo-nos intrigados: há uma razão para ser assim?
A resposta vem fácil: certamente que sim! Afinal, Jesus, do alto de sua envergadura espiritual, não poderia se equivocar.
Entretanto, não nos parece crível imaginar que Jesus nos convida a arrancar o olho e tampouco cortar a mão. Mas, se não devemos interpretar literalmente a lição, o que quis, então, dizer O Divino Mestre?
Pode a ciência nos ajudar a entender estas sublimes lições do Meigo Rabi da Galileia?
Vejamos.
Segundo o Instrutor Emmanuel[2], pela psicografia de Francisco Cândido do Amor Xavier:
[...] “duas asas conduzirão o espírito humano à presença de Deus. Uma chama-se Amor, a outra, a Sabedoria.
[...] Através do amor, valorizamo-nos para a vida. Através da sabedoria somos pela vida valorizados.
Daí o imperativo de marcharem juntas a inteligência e a bondade”.
Sentimento e razão.
Sentimento, o elemento feminino, vertical, Maria; Razão, o elemento masculino, horizontal, José. O primeiro nos coloca em contato com os planos superiores da criação; o segundo, em relação com as questões materiais. O produto de Maria (amor; sentimento) e José (sabedoria, razão) é Jesus (a perfeição, a pureza)!
Ao se referir ao lado direito do corpo (olho, mão e face) Jesus, Espírito Puro, se vale de um conhecimento que a ciência, somente séculos à frente, nos revelou. O Mestre sabia, desde aquela época, que o hemisfério direito do cérebro governa o raciocínio, ou seja, a razão, e que o hemisfério esquerdo governa a emoção, o sentimento; que o primeiro se manifesta através da linguagem oral e o segundo apenas pela linguagem visual. Daí o ensinamento ser verbalizado.
Em 1836, o neurologista francês Marc Dax (1770-1837), sugeriu que os hemisférios cerebrais teriam funções diferentes.
Observando pacientes com derrame cerebral, percebeu que quando a lesão era no hemisfério esquerdo, o paciente ficava com o corpo paralisado do lado direito e sem fala.
Posteriormente esses fatos foram confirmados por outro cientista francês, o anatomista Pierre Paul Broca (1824-1880), que descobriu que o centro motor de comando da linguagem falada encontra-se apenas no hemisfério esquerdo e que uma lesão nessa área torna a pessoa total ou parcialmente afásica, ou seja, sem a capacidade de enunciar a voz, sem, entretanto, alterar outras funções relacionadas à linguagem.
Na esteira do ensinamento de Jesus, por muito tempo vários filósofos e outros cientistas afirmaram que o hemisfério esquerdo do cérebro era relacionado ao raciocínio lógico e à linguagem (logos = palavra).
Ao se referir às áreas do corpo – e Jesus não se referiu a qualquer área, mas ao olho, a mão e a face, órgãos de manifestação dos sentidos – governados pela razão, quis o Mestre nos chamar a atenção para o aspecto de que é imperioso conceder “espaço”, quando de nossas manifestações e aprendizado na senda evolutiva, não apenas à razão, mas também ao sentimento, ou, para melhor destacarmos o significado da lição, não apenas à inteligência, mas também ao amor. Foi o que nos fez relembrar o preclaro Emmanuel: “Daí o imperativo de marcharem juntas”.
Ademais, outro aspecto importante a ressaltar desta passagem evangélica componente do Sermão do Monte, refere-se ao disposto no versículo 39, outro ensinamento que, por muito tempo, gerou grande controvérsia.
Disse-nos Jesus, que se alguém (qualquer um!) nos bater na face direita, devemos oferece-lhe também a outra.
Tratando-se de um comando, muitos, de forma afoita e superficial, rotularam o Mestre de fraco, de covarde, de subserviente.
Não! Não se trata disso!
É que, imprevidentes ou tendenciosos, tomaram a letra em seu sentido frio, não espiritual, ou moral. Nesta passagem Jesus nos revela o imperativo das Leis Naturais.
Já vimos que a face direita governa a razão (inteligência); a esquerda, o sentimento (amor).
Fazendo uso da razão, somos chamados ao reajuste com a Lei por meio do amor. O “tapa” na face direita é da Lei (é quando a Lei de causa e efeito nos alcança); dar a outra face, significa que, após o reajuste necessário, o que nos aguarda é o amor. Retribuir o mal com o bem; ante o mau, ser bom; eis tudo!
Sob esta perspectiva o ensinamento do Mestre alcança esferas superiores e sublimes do nosso mundo mental e nos coloca a caminho da luz imperecível que governa e sustenta a tudo: O Pai, todo-poderoso, soberanamente justo e bom, único, imaterial e onipresente.
Alguém disse que Ciência e Evangelho não podem caminhar de mãos dadas?




[1] Revista Fóton – Volume 11 – Maio/2018
[2] XAVIER, Francisco Cândido, Pensamento e Vida, cap. 4.

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