José Márcio de Almeida
“Portanto, se o teu
olho direito te escandalizar, arranca-o e atira-o para longe de ti; pois te é
melhor que se perca um dos teus membros do que seja todo o teu corpo lançado no
inferno. E, se a tua mão direita te escandalizar, corta-a e atira-a para longe
de ti, porque te é melhor que um dos teus membros se perca do que seja todo o teu
corpo lançado no inferno”. (Mt 5:29-30)
[...] “Eu, porém, vos digo que não resistais
ao mau; mas, se qualquer te bater na face direita, oferece-lhe também a outra”.
(Mt 5:39)
O Sermão do Monte retratado nos
capítulos 5, 6 e 7 do Evangelho Segundo Mateus é, sem contradita, uma das mais
belas páginas já escritas. A beleza e a amplitude dos ensinamentos nele
contidos e transmitidos por Jesus superam tudo o que já se escreveu do ponto de
vista moral.
Trata-se, a rigor, de um código moral
cósmico, universal.
Interessante notar, nos três
versículos que pinçamos (acima), que Jesus refere-se ao olho, à mão e à face do
lado direito do corpo. Porque o Mestre não disse olho esquerdo, mão esquerda ou
face esquerda?
Perguntamo-nos intrigados: há
uma razão para ser assim?
A resposta vem fácil: certamente
que sim! Afinal, Jesus, do alto de sua envergadura espiritual, não poderia se
equivocar.
Entretanto, não nos parece crível
imaginar que Jesus nos convida a arrancar o olho e tampouco cortar a mão. Mas,
se não devemos interpretar literalmente a lição, o que quis, então, dizer O
Divino Mestre?
Pode a ciência nos ajudar a
entender estas sublimes lições do Meigo Rabi da Galileia?
Vejamos.
[...] “duas asas
conduzirão o espírito humano à presença de Deus. Uma chama-se Amor, a outra, a
Sabedoria.
[...] Através do
amor, valorizamo-nos para a vida. Através da sabedoria somos pela vida
valorizados.
Daí o imperativo de marcharem
juntas a inteligência e a bondade”.
Sentimento e razão.
Sentimento, o elemento feminino,
vertical, Maria; Razão, o elemento masculino, horizontal, José. O primeiro nos
coloca em contato com os planos superiores da criação; o segundo, em relação
com as questões materiais. O produto de Maria (amor; sentimento) e José
(sabedoria, razão) é Jesus (a perfeição, a pureza)!
Ao se referir ao lado direito do
corpo (olho, mão e face) Jesus, Espírito Puro, se vale de um conhecimento que a
ciência, somente séculos à frente, nos revelou. O Mestre sabia, desde aquela
época, que o hemisfério direito do cérebro governa o raciocínio, ou seja, a
razão, e que o hemisfério esquerdo governa a emoção, o sentimento; que o
primeiro se manifesta através da linguagem oral e o segundo apenas pela linguagem
visual. Daí o ensinamento ser verbalizado.
Em 1836, o neurologista francês
Marc Dax (1770-1837), sugeriu que os hemisférios cerebrais teriam funções
diferentes.
Observando pacientes com derrame
cerebral, percebeu que quando a lesão era no hemisfério esquerdo, o paciente
ficava com o corpo paralisado do lado direito e sem fala.
Posteriormente esses fatos foram
confirmados por outro cientista francês, o anatomista Pierre Paul Broca (1824-1880),
que descobriu que o centro motor de comando da linguagem falada encontra-se apenas
no hemisfério esquerdo e que uma lesão nessa área torna a pessoa total ou
parcialmente afásica, ou seja, sem a capacidade de enunciar a voz, sem,
entretanto, alterar outras funções relacionadas à linguagem.
Na esteira do ensinamento de
Jesus, por muito tempo vários filósofos e outros cientistas afirmaram que o
hemisfério esquerdo do cérebro era relacionado ao raciocínio lógico e à
linguagem (logos = palavra).
Ao se referir às áreas do corpo
– e Jesus não se referiu a qualquer área, mas ao olho, a mão e a face, órgãos
de manifestação dos sentidos – governados pela razão, quis o Mestre nos chamar
a atenção para o aspecto de que é imperioso conceder “espaço”, quando de nossas
manifestações e aprendizado na senda evolutiva, não apenas à razão, mas também ao
sentimento, ou, para melhor destacarmos o significado da lição, não apenas à
inteligência, mas também ao amor. Foi o que nos fez relembrar o preclaro Emmanuel:
“Daí o imperativo de marcharem juntas”.
Ademais, outro aspecto importante
a ressaltar desta passagem evangélica componente do Sermão do Monte, refere-se
ao disposto no versículo 39, outro ensinamento que, por muito tempo, gerou
grande controvérsia.
Disse-nos Jesus, que se alguém
(qualquer um!) nos bater na face direita, devemos oferece-lhe também a outra.
Tratando-se de um comando, muitos,
de forma afoita e superficial, rotularam o Mestre de fraco, de covarde, de
subserviente.
Não! Não se trata disso!
É que, imprevidentes ou
tendenciosos, tomaram a letra em seu sentido frio, não espiritual, ou moral.
Nesta passagem Jesus nos revela o imperativo das Leis Naturais.
Já vimos que a face direita governa
a razão (inteligência); a esquerda, o sentimento (amor).
Fazendo uso da razão, somos
chamados ao reajuste com a Lei por meio do amor. O “tapa” na face direita é da
Lei (é quando a Lei de causa e efeito nos alcança); dar a outra face, significa
que, após o reajuste necessário, o que nos aguarda é o amor. Retribuir o mal
com o bem; ante o mau, ser bom; eis tudo!
Sob esta perspectiva o ensinamento
do Mestre alcança esferas superiores e sublimes do nosso mundo mental e nos coloca
a caminho da luz imperecível que governa e sustenta a tudo: O Pai,
todo-poderoso, soberanamente justo e bom, único, imaterial e onipresente.
Alguém disse que Ciência e
Evangelho não podem caminhar de mãos dadas?
[1] Revista Fóton –
Volume 11 – Maio/2018
[2] XAVIER, Francisco Cândido, Pensamento e Vida, cap. 4.
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