Adriana Machado
Somos seres que vivemos na
coletividade. Isso é tão importante para nós que somos influenciados por uma
lei divina e natural chamada Lei da Sociedade, cujo objetivo é vivermos em
comunidade para aprendermos no coletivo e, para isso, Deus nos concedeu as faculdades
necessárias ao relacionamento.
Sabemos que existem pessoas que
querem ficar sozinhas, ou escolhem uma vida de reclusão e, a princípio,
poderíamos dizer que elas estariam contrárias ao estado natural do ser humano.
Bem, apesar de O livro dos Espíritos[2]
afirmar que querer viver só é um estado de egoísmo, também nos mostra que
existem exceções à regra, quando a escolha daquele que se isola tem uma
conotação meritória, como, por exemplo, fugir do mundo para se devotar ao
alívio dos sofredores.
Mas, veja que gostar de estar só
é muito diferente de querer estar só. O primeiro pode englobar o segundo, mas,
a recíproca não é verdadeira. O primeiro se dá quando você gosta de estar
consigo mesmo, de curtir a sua presença. É se autoconhecer. E isso é muito bom
porque tal estado não nos impede de curtir a presença dos demais. Já o segundo,
pode conotar vários estados de espírito em desalinho associados a um medo não
flagrado pelo seu detentor.
Vimos que, para que estejamos
indo de encontro ao um estado natural, precisamos ter alguma base racional ou
emocional para isso. Vocês poderiam estar pensando no caso em que alguém faz
uma opção reencarnatória para viver na reclusão buscando valorizar as
companhias que, até então, nunca as tinha apreciado. Sim, esses casos existem,
e podem ter certeza que tal experiência marcará essa pessoa, mesmo resignada,
diante de sua escolha como toda e qualquer escolha que nos faça mudar as
crenças que tínhamos até então. Mas, deixando as exceções e comentando sobre os
casos em geral, precisamos estar atentos aos nossos comportamentos, como também
aos dos nossos amores, porque estando (ou sendo) nós (ou eles) muito sozinhos,
tal postura pode estar sendo alimentada, por exemplo, (e não se surpreendam!),
pelo objetivo incessante de querermos agradar aos outros.
É certo que vivemos hoje um
momento em que a sociedade exige TUDO de nós. Saímos do Oito e fomos para o
Oitenta num salto. Estamos vivendo num oceano de cobranças que, vez por outra,
suas águas nos afogam. As pessoas estão se sentindo tão cobradas que, por ação
reflexa, cobram de si e dos outros também, e o ciclo vicioso se instala. Diante
desta realidade, muitos não estão conseguindo enfrentar suas frustrações, por
não saberem que tais exigências são irreais, inconcebíveis, impraticáveis,
inatendíveis. Se soubessem, reagiriam diferente, não dando margem a adoecerem,
abandonarem seus sonhos e suas vidas.
Como não conseguimos atender a
todas as nossas expectativas ou daqueles que nos circundam, podemos nos sentir
incapazes e, por consequência, fugirmos de suas companhias para não sofrermos
com as nossas decepções. “Antes só do que mal acompanhado”, se pensamos ou
sentimos que ele estaria nos fazendo sofrer. O problema é que se estamos
fugindo dos outros, não estaremos em paz, e isso nos leva a uma vida sem
sentido e triste.
Por tudo isso, se alguém está
ficando muito só algo pode estar errado, mesmo que essa pessoa sempre tenha
sido assim. Precisamos ajudá-la, a saber, se o estado de solidão em que ela se
abrigou é só um momento em que ela precisa se deparar consigo mesma
(autoanálise), ou se ela está se refugiando neste estado para não ter de
enfrentar alguns de seus medos mais íntimos, porque se for o segundo caso (que
pode durar anos a fio), esta pessoa estará deixando de aproveitar uma das
bênçãos mais notáveis que o Pai nos concedeu: vivermos na coletividade para
aprendermos mais rápido e, se possível, mais felizes.
[2] Editora Petit, Cap. 07, ano 1999, p. 265.
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