Nascido em Tulle, França, no dia 2 de maio de 1827, e desencarnado em Paris, no dia 10 de abril de 1901.
Pierre-Gaëtan Leymarie foi um
dos mais destacados continuadores da obra de Allan Kardec. Foi um homem
notável, que sempre se interessou pelos ideais nobres, tornando-se na época um
ardente defensor dos ideais republicanos em sua pátria. Por ocasião do golpe de
Estado de 1851, foi considerado inimigo do regime, sendo por isso exilado, sem,
contudo, deixar de manter o mais íntimo contato com correligionários do Partido
proscrito, mantendo aceso o facho do seu idealismo.
Quando alcançou a anistia,
regressou à França, dedicando-se ao comércio, no que não teve muito sucesso,
mas, nem por isso deixou de manter absoluta integridade moral e escrupulosa probidade.
Integrando as fileiras
espíritas, empolgou-se com seus nobilitantes ideais e, quando Allan Kardec
iniciou a publicação da Revue Spirite e das obras fundamentais do Espiritismo,
dando início às sessões de estudos e experimentações, contou com o
incondicional apoio de Leymarie, o qual se tornou um dos seus mais assíduos
assessores.
Pouco antes da sua
desencarnação, Allan Kardec lançou as bases de uma Sociedade Anônima, de
capital variável, à qual legaria os seus bens, tudo com o objetivo básico de
assegurar a difusão metódica do Espiritismo. Leymarie foi um dos primeiros a
integrar-se na sociedade, da qual se tornou administrador dois anos após a
desencarnação do Codificador. Nessa época passou também a exercer os cargos de
redator-chefe e diretor da Revue Spirite.
Durante trinta anos, no
atribulado período que se seguiu ao decesso de Kardec, quando o Espiritismo era
encarado com reservas, sendo alvo de zombarias e inconcebíveis ataques,
Leymarie manteve-se em luta constante, proclamando bem alto os nobres ideais da
Terceira Revelação, fazendo-o através das páginas da Revue Spirite e da palavra
falada.
Quando seu amigo Jean Macé pretendeu
fundar a Liga do Ensino, teve em Leymarie e esposa dois sustentáculos e
colaboradores, podendo-se mesmo afirmar que a residência do casal foi o berço
daquela ideia. A Revue Spirite se tornou em órgão de divulgação de todos os
ideais nobres de cunho humanitário, moral e espiritualista. Os trabalhos
encetados na Inglaterra por "Sir" William Crookes tiveram na revista
a melhor acolhida e o próprio Leymarie fez experiências com um médium
fotógrafo, obtendo uma série de fotos que foi publicada em suas páginas.
Nessa época foi vítima dos
detratores do Espiritismo, quando o fotógrafo Buguet, fazendo uso de meios
fraudulentos na obtenção de fotografias de Espíritos, é processado pelo
Ministério Público. Aos 16 de junho de 1875, Leymarie e Firman foram também
envolvidos no processo, em vista dos laços de amizade que mantinham com Buguet,
e desta forma julgados coniventes na fraude.
Depoimentos distanciados da
verdade, expressos pelo próprio Buguet, originaram a condenação dos três.
Recorrendo-se então a instâncias superiores, Buguet e Firman conseguiram a liberdade,
o primeiro passando a residir na Bélgica e o segundo graças à interferência de
altas autoridades. Leymarie, por sua vez, elaborou notável Memória à Corte
Suprema, atestando, perante a sua consciência e de seus filhos, a sua
inocência, mostrando-se confiante na decisão final daquele tribunal.
Roído pelo remorso, Buguet
escreveu ao Ministro da Justiça dando insofismável testemunho sobre a inocência
de Leymarie, acrescentando que, embora muitas das fotos fossem verídicas, devido
ao desconhecimento que tinha da Doutrina Espírita, praticava a fraude, quando
não as conseguia com sua mediunidade.
Em sua carta ele afirmou:
"Lastimo, pois, haver dito, na minha fraqueza, o contrário da pura
verdade, renunciando eu à minha mediunidade e pedindo perdão a Deus por esse
ato que deploro, pois, que ele serviu para incriminar um homem probo, cuja boa
fé se tornou suspeita em face das minhas afirmações", Amèlie Boudet, viúva
de Allan Kardec, apesar de sua avançada idade, atuou no processo como
testemunha. Cartas de solidariedade de todo o mundo foram enviadas a Leymarie.
A "Sociedade para a Continuação das Obras Espíritas de Allan Kardec"
recebeu manifestações de simpatia de vários países, inclusive do Brasil,
partindo elas tanto dos encarnados como dos desencarnados.
Apesar de todo o empenho e de
tantas declarações e testemunhos abonadores, Leymarie foi condenado a um ano de
prisão celular. Um pouco mais tarde, anulada a sentença condenatória, o
infatigável discípulo de Kardec voltou às atividades, retomando a direção da
"Sociedade" e da Revue Spirite.
No ano de 1878, Leymarie
organizou também uma sociedade de estudos psicológicos, congregando em torno
dessa sociedade homens de renomada projeção. No seio dessa sociedade foram
analisadas obras de Cahagnet, da doutrina de Swedenborg e outras. A mediunidade
e o magnetismo animal eram objeto de estudos constantes.
Graças à ação de Leymarie, as
obras de Allan Kardec foram traduzidas para vários idiomas. Conferências são
programadas, Leymarie efetuou várias viagens à Bélgica, Espanha e Itália, difundindo
ali os consoladores ensinamentos da Doutrina dos Espíritos.
Participou, como delegado, do I
Congresso Espírita de Bruxelas.
No ano de 1888, foi eleito para
ocupar uma das presidências do Congresso Espírita de Barcelona. Por ocasião da
realização deste último certame, foi lida comovente moção de gratidão enviada
da prisão de Tarragona, por um grupo de condenados a trabalhos forçados,
convertidos à fé espírita.
Em 1889, Leymarie organizou o I
Congresso Espírita de França, esquivando-se, no entanto, de ocupar cargos de
relevância, aceitando apenas a vice-presidência de uma das comissões.
Em 1898, ele enviou ao Congresso
Internacional dos Espiritualistas de Londres, um trabalho particular versando
sobre Evolução e Revelação.
Leymarie foi assim fervoroso
propagandista da Doutrina.
Sua fé profunda fez dele
abalizado orador espírita e apreciado escritor. Conseguiu pela firmeza de seus
ideais atrair a simpatia e a admiração de muitos pensadores da época. Foi um
homem desinteressado, sensível e profundamente honesto, foi grande em sua
singeleza.
Sua esposa, Marina, mulher
admirável, vinte anos mais moça que o marido, deu-lhe sempre a máxima
cooperação. Quando ele foi processado, ela escreveu, em 1875, a admirável
memória "Processo dos Espíritas[2]",
que se tornou precioso documento para a história do Espiritismo. Ela foi a
sucessora do esposo na direção da Revue Spirite e da Livraria Espírita, e nesse
trabalho esteve durante três anos e pouco, ou seja, até a data da sua desencarnação,
ocorrida em 29 de setembro de 1904.
[1] PERSONAGENS DO
ESPIRITISMO - Antônio de Souza Lucena
e Paulo Alves Godoy
[2] Processo dos
Espíritas – Madame P.-G. Leymarie -
FEB
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