segunda-feira, 19 de março de 2018

PIERRE-GAËTAN LEYMARIE[1]







Nascido em Tulle, França, no dia 2 de maio de 1827, e desencarnado em Paris, no dia 10 de abril de 1901.
Pierre-Gaëtan Leymarie foi um dos mais destacados continuadores da obra de Allan Kardec. Foi um homem notável, que sempre se interessou pelos ideais nobres, tornando-se na época um ardente defensor dos ideais republicanos em sua pátria. Por ocasião do golpe de Estado de 1851, foi considerado inimigo do regime, sendo por isso exilado, sem, contudo, deixar de manter o mais íntimo contato com correligionários do Partido proscrito, mantendo aceso o facho do seu idealismo.
Quando alcançou a anistia, regressou à França, dedicando-se ao comércio, no que não teve muito sucesso, mas, nem por isso deixou de manter absoluta integridade moral e escrupulosa probidade.
Integrando as fileiras espíritas, empolgou-se com seus nobilitantes ideais e, quando Allan Kardec iniciou a publicação da Revue Spirite e das obras fundamentais do Espiritismo, dando início às sessões de estudos e experimentações, contou com o incondicional apoio de Leymarie, o qual se tornou um dos seus mais assíduos assessores.
Pouco antes da sua desencarnação, Allan Kardec lançou as bases de uma Sociedade Anônima, de capital variável, à qual legaria os seus bens, tudo com o objetivo básico de assegurar a difusão metódica do Espiritismo. Leymarie foi um dos primeiros a integrar-se na sociedade, da qual se tornou administrador dois anos após a desencarnação do Codificador. Nessa época passou também a exercer os cargos de redator-chefe e diretor da Revue Spirite.
Durante trinta anos, no atribulado período que se seguiu ao decesso de Kardec, quando o Espiritismo era encarado com reservas, sendo alvo de zombarias e inconcebíveis ataques, Leymarie manteve-se em luta constante, proclamando bem alto os nobres ideais da Terceira Revelação, fazendo-o através das páginas da Revue Spirite e da palavra falada.
Quando seu amigo Jean Macé pretendeu fundar a Liga do Ensino, teve em Leymarie e esposa dois sustentáculos e colaboradores, podendo-se mesmo afirmar que a residência do casal foi o berço daquela ideia. A Revue Spirite se tornou em órgão de divulgação de todos os ideais nobres de cunho humanitário, moral e espiritualista. Os trabalhos encetados na Inglaterra por "Sir" William Crookes tiveram na revista a melhor acolhida e o próprio Leymarie fez experiências com um médium fotógrafo, obtendo uma série de fotos que foi publicada em suas páginas.
Nessa época foi vítima dos detratores do Espiritismo, quando o fotógrafo Buguet, fazendo uso de meios fraudulentos na obtenção de fotografias de Espíritos, é processado pelo Ministério Público. Aos 16 de junho de 1875, Leymarie e Firman foram também envolvidos no processo, em vista dos laços de amizade que mantinham com Buguet, e desta forma julgados coniventes na fraude.
Depoimentos distanciados da verdade, expressos pelo próprio Buguet, originaram a condenação dos três. Recorrendo-se então a instâncias superiores, Buguet e Firman conseguiram a liberdade, o primeiro passando a residir na Bélgica e o segundo graças à interferência de altas autoridades. Leymarie, por sua vez, elaborou notável Memória à Corte Suprema, atestando, perante a sua consciência e de seus filhos, a sua inocência, mostrando-se confiante na decisão final daquele tribunal.
Roído pelo remorso, Buguet escreveu ao Ministro da Justiça dando insofismável testemunho sobre a inocência de Leymarie, acrescentando que, embora muitas das fotos fossem verídicas, devido ao desconhecimento que tinha da Doutrina Espírita, praticava a fraude, quando não as conseguia com sua mediunidade.
Em sua carta ele afirmou: "Lastimo, pois, haver dito, na minha fraqueza, o contrário da pura verdade, renunciando eu à minha mediunidade e pedindo perdão a Deus por esse ato que deploro, pois, que ele serviu para incriminar um homem probo, cuja boa fé se tornou suspeita em face das minhas afirmações", Amèlie Boudet, viúva de Allan Kardec, apesar de sua avançada idade, atuou no processo como testemunha. Cartas de solidariedade de todo o mundo foram enviadas a Leymarie. A "Sociedade para a Continuação das Obras Espíritas de Allan Kardec" recebeu manifestações de simpatia de vários países, inclusive do Brasil, partindo elas tanto dos encarnados como dos desencarnados.
Apesar de todo o empenho e de tantas declarações e testemunhos abonadores, Leymarie foi condenado a um ano de prisão celular. Um pouco mais tarde, anulada a sentença condenatória, o infatigável discípulo de Kardec voltou às atividades, retomando a direção da "Sociedade" e da Revue Spirite.
No ano de 1878, Leymarie organizou também uma sociedade de estudos psicológicos, congregando em torno dessa sociedade homens de renomada projeção. No seio dessa sociedade foram analisadas obras de Cahagnet, da doutrina de Swedenborg e outras. A mediunidade e o magnetismo animal eram objeto de estudos constantes.
Graças à ação de Leymarie, as obras de Allan Kardec foram traduzidas para vários idiomas. Conferências são programadas, Leymarie efetuou várias viagens à Bélgica, Espanha e Itália, difundindo ali os consoladores ensinamentos da Doutrina dos Espíritos.
Participou, como delegado, do I Congresso Espírita de Bruxelas.
No ano de 1888, foi eleito para ocupar uma das presidências do Congresso Espírita de Barcelona. Por ocasião da realização deste último certame, foi lida comovente moção de gratidão enviada da prisão de Tarragona, por um grupo de condenados a trabalhos forçados, convertidos à fé espírita.
Em 1889, Leymarie organizou o I Congresso Espírita de França, esquivando-se, no entanto, de ocupar cargos de relevância, aceitando apenas a vice-presidência de uma das comissões.
Em 1898, ele enviou ao Congresso Internacional dos Espiritualistas de Londres, um trabalho particular versando sobre Evolução e Revelação.
Leymarie foi assim fervoroso propagandista da Doutrina.
Sua fé profunda fez dele abalizado orador espírita e apreciado escritor. Conseguiu pela firmeza de seus ideais atrair a simpatia e a admiração de muitos pensadores da época. Foi um homem desinteressado, sensível e profundamente honesto, foi grande em sua singeleza.
Sua esposa, Marina, mulher admirável, vinte anos mais moça que o marido, deu-lhe sempre a máxima cooperação. Quando ele foi processado, ela escreveu, em 1875, a admirável memória "Processo dos Espíritas[2]", que se tornou precioso documento para a história do Espiritismo. Ela foi a sucessora do esposo na direção da Revue Spirite e da Livraria Espírita, e nesse trabalho esteve durante três anos e pouco, ou seja, até a data da sua desencarnação, ocorrida em 29 de setembro de 1904.




[1] PERSONAGENS DO ESPIRITISMO - Antônio de Souza Lucena e Paulo Alves Godoy
[2] Processo dos Espíritas – Madame P.-G. Leymarie - FEB

Nenhum comentário:

Postar um comentário