Joanna de Ângelis
A família é o resultado do largo
processo evolutivo do espírito na extensa trajetória vencida por meio das
sucessivas reencarnações.
Resultado do instinto gregário
que une todos os animais, aves, répteis e peixes em grupos que se auxiliam e se
interdependem reciprocamente, no ser humano atinge um estágio relevante e de
alta significação, em face da conquista do raciocínio, da consciência.
Dessa forma, a família é o
alicerce sobre o qual a sociedade se edifica, sendo o primeiro educandário do
espírito, onde são aprimoradas as faculdades que desatam os recursos que lhe
dormem latentes.
A família é a escola de bênçãos
onde se aprendem os deveres fundamentais para uma vida feliz e sem cujo apoio
fenecem os ideais, desfalecem as aspirações, emurchecem as resistências morais.
Quando o individuo opta pela
solidão, exceção feita aos grandes místicos e pesquisadores da ciência, filósofos
e artistas que abraçam os objetivos superiores como a sua família, termina
sendo portador de transtorno da conduta e da emoção.
Organizada, a família, antes da
reencarnação, quando são eleitos os futuros membros que a constituirão, ou
sendo resultado da precipitação e imprevidência sexual de muitos indivíduos, é
sempre o santuário que não pode ser desconsiderado sem graves prejuízos para
quem lhe perturbe a estrutura.
É permanente oficina onde se
caldeiam os sentimentos e as emoções, dando-lhes a direção correta e a
orientação segura para os empreendimentos do futuro.
Por essa razão, é que não se
vive na família ideal, aquela na qual se gostaria de conviver com espíritos
nobres e ricos de sabedoria, mas no grupo onde melhormente são atendidas as
necessidades da evolução.
Não poucas vezes, no grupo
doméstico ressumam as reminiscências perturbadoras do Além ou de outras
existências, que devem ser trabalhadas pelo cinzel da misericórdia, da
tolerância e da compaixão, a fim de que sejam arquivadas como diferentes
emoções enobrecidas, que irão contribuir em favor do progresso de todos.
De inspiração divina, a família é
a oportunidade superior do entendimento e da vera fraternidade, de onde surgirá
o grupo maior, equilibrado e rico de valores, que é a sociedade.
Por isso, no momento em que a
família se desestrutura sob os camartelos da impiedade e da agressão, ou se dilui
em face da ilusão acalentada pelos seus membros, ou se desmorona em razão da imprevidência,
a sociedade sofre um grande constrangimento.
No lar, fomentam-se e
desenvolvem-se os recursos da compreensão humana ou da agressividade e ressentimento
contra as demais criaturas.
A constelação familiar não é uma
aventura ao país enganoso do prazer e da fantasia, mas uma experiência de
profundidade, que faculta a verdadeira compreensão da finalidade da existência
terrena com os olhos postos no futuro da humanidade.
Campo experimental de lutas
íntimas e externas, constitui oportunidade incomum para que o espírito se
adestre nos empreendimentos pessoais, sem perder o contato com a realidade
externa, com as demais pessoas.
Mesmo quando não correspondendo
às expectativas pessoais, em face do reencontro com adversários ou caracteres
inamistosos, no lar adquire-se a necessária filosofia existencial para
conduzir-se com equilíbrio durante toda a existência.
O exercício da paciência no clã
familiar é valiosa contribuição para a experiência iluminativa, porquanto, se
aqueles com os quais se convive tornam-se difíceis de ser amados, gerando
impedimentos emocionais que se sucedem continuamente, como poder-se vivenciar o
amor em relação a pessoas com as quais não se tem relacionamento, senão por
paixão ou sentimentos de interesse imediatista?
No lar, onde se é conhecido e
muito dificilmente se podem ocultar as mazelas interiores, são lapidadas as
imperfeições em contínuos atritos que não devem resvalar para os campeonatos da
indiferença ou do ódio, do ciúme ou da revolta.
Aquele que hoje se apresenta
agressivo e cínico no grupo doméstico, dando lugar a guerrilhas perversas,
encontra-se doente da alma, merecendo orientação e exigindo mais paciência.
Ninguém se torna infeliz por
mero prazer, mas em consequência de muitos fatores que lhe são desconhecidos. O
próprio paciente ignora o distúrbio de que é portador, detendo-se,
invariavelmente, no tormento em que se debate, sem capacidade de discernimento
para avaliar os danos que produz no grupo onde se encontra, nem compreensão do
quanto necessita para auto-superar-se e agir corretamente.
Por isso mesmo, transforma-se em
desafio familiar, conduzindo altas cargas tóxicas de antipatia, de agressividade,
de desequilíbrio.
A constelação familiar recorda o
equilíbrio que vige no universo: os astros menores giram atraídos pela força
dos maiores, no caso específico das estrelas, planetas, satélites e asteroides...
No caso, em tela, são os pais as estrelas de primeira grandeza cuja força
gravitacional impõe-se aos filhos, na condição de planetas à sua volta, assim
como de futuros satélites que volutearão no seu entorno sob a atração da afetividade,
que são todos aqueles que se vinculam aos descendentes...
Nos astros há perfeita harmonia
em face das leis cósmicas que os mantêm em contínuo equilíbrio.
No entanto, na família, em razão
dos sentimentos, das individualidades, das experiências transatas, o fenômeno é
muito diferente, oscilando o equilíbrio conforme o desenvolvimento ético-moral
de cada qual, que se apresenta conforme é e não consoante gostaria de ser.
Por mais combatida pelos novos
padrões da loucura que grassa na Terra, a família não desaparecerá do contexto
social, na condição de instituição superada, porque o amor que sempre existirá
nos corações se expressará em maior potencialidade no lar, núcleo de formação
que é, para expandir-se na direção do colossal grupo humano.
Quem não consegue a capacidade
de amar aqueles com os quais convive, mais dificilmente poderá amar aqueloutros
que não conhece.
O combustível do amor se inflama
com maior potencialidade quando oxigenado pela convivência emocional. Noutras
condições, trata-se apenas de atração física passageira, de libido exagerada
que logo cede lugar ao desencanto, ao tédio, ao desinteresse...
A família, portanto, é um núcleo
de aformoseamento espiritual, que enseja aprendizagem de relacionamentos
futuros exitosos.
No grupo animal, quando os
filhos adquirem a capacidade de conseguir o alimento, os pais abandonam-nos,
quando isso excepcionalmente em algumas espécies não ocorre antes.
No círculo humano da família é
diferente: os laços entre pais e filhos jamais se rompem, mesmo quando há
dificuldades no relacionamento atual, o que exige transferência para outras
oportunidades no futuro reencarnacionista, que se repetem até a aquisição do
equilíbrio afetivo.
É da Divina Lei que somente
através do amor o espírito encontra a plenitude, e a família é o local onde se
aprimora esse sentimento, que se desdobra em diversas expressões de ternura, de
abnegação, de afetividade...
Com o treinamento doméstico o
espírito adquire a capacidade de amar com mais amplitude, alcançando a
sociedade, que se lhe transforma em família universal.
[1] Constelação
Familiar – Joanna de Ângelis / Divaldo
Franco
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