sábado, 3 de março de 2018

Como alguns animais podem encontrar o caminho de casa?[1]



Ademir Xavier

Permanece um mistério para a ciência como alguns animais conseguem encontrar seu caminho de volta para casa uma vez tendo se perdido. Um caso interessante foi o do cão Pero[2], da raça Sheepdog, que voltou para casa depois de perdido a 400 quilômetros de distância. Diversos outros casos semelhantes a esse acumulam-se com cães e gatos, e são narrados por famílias surpreendidas com a capacidade desses animais. Como eles conseguem?
De acordo com o conhecimento científico presente, animais possuem diversos tipos de "sensores"[3] que podem ser usados na localização e na realização de viagens. Esses sensores não só representam sentidos muito superiores aos dos humanos (cães, por exemplo, têm olfato e audição muito superiores, gatos enxergam muito bem no escuro etc.), mas também modalidades novas de sentidos, como, por exemplo, sensores magnéticos. Pássaros e abelhas possuem verdadeiras "bússolas" internas capazes de auxiliar o voo entre pontos distantes. Recentemente, uma molécula (chamada Criptocromo 1)[4], associada à recepção de "campos magnéticos", foi encontrada na retina de vários animais, cães inclusive. Será então que cães e outros mamíferos se guiam pelos campos magnéticos? Essas são apenas conjecturas, e, ainda que ficasse demonstrado que eles conseguem detectar a orientação da linha norte-sul, muito mais do que isso é necessário para guiar um animal em um trajeto complexo e distante de sua origem, como no caso de Pero. Para ver isso, basta se imaginar perdido em um local distante, sem poder se comunicar com quem quer que seja, tendo apenas uma bússola ou quiçá um detector de odores...

Uma ajuda do Espiritismo
Em um ensaio em O Livro dos Espíritos, Cap. XXII "Da Mediunidade dos animais", Kardec apresenta uma dissertação atribuída ao Espírito Erasto, que também aparece na "Revue Spirite" de Agosto de 1861, sob o título "Os animais médiuns". O texto foi motivado por discussões na Sociedade Espírita de Paris, assim como diversas cartas que Kardec recebeu de pessoas que narravam feitos incríveis de seus animais. O leitor poderá reler a argumentação apresentada por Erasto, seguindo o link que colocamos abaixo[5].
Essencialmente, na acepção pela qual ficou conhecida a palavra "médium", não se pode falar verdadeiramente em "mediunidade dos animais". A mediunidade é um fenômeno complexo que exige certa ressonância entre mentes que não pode estar distantes "evolutivamente" uma da outra. Assim, por uma questão de clareza no sentido do termo e seu significado dentro do Espiritismo, não podemos atribuir à mediunidade as narrativas desses fenômenos estranhos.
Mas, isso não significa que eles não possam detectar a presença e, quiçá, até receber orientações dos Espíritos5:

Certamente os espíritos podem tornar-se visíveis e tangíveis para os animais, e muitas vezes o pavor súbito que os toma, e que vos parece sem motivo, é causado pela visão de um ou de muitos desses Espíritos, mal intencionados em relação aos indivíduos presentes ou aos seus donos. Muito frequentemente se veem cavalos que se recusam a avançar ou recuar, ou que se empinam diante de um obstáculo imaginário. Pois bem! Podeis estar certos de que o obstáculo imaginário é quase sempre um Espírito ou um grupo de Espíritos que se comprazem em detê-los. Lembrai-vos da mula de Balaão, que, vendo um anjo pela frente e temendo sua espada flamejando, não queria avançar. É que antes de se manifestar visivelmente a Balaão, o anjo quis tornar-se visível apenas para o animal. Mas, quero repeti-lo: não mediunizamos diretamente nem os animais nem a matéria inerte. Precisamos sempre do concurso consciente ou inconsciente de um médium humano, porque necessitamos da união dos fluidos similares, que não encontramos nos animais nem na matéria bruta. (grifos meus)

Segundo essa passagem, é possível aos animais perceberem a presença de Espíritos, o que se dá por intermédio de médiuns, que são sempre humanos. Esses, por sua vez, não precisam sequer ter consciência de que agem como intermediários (ou seja, o fenômeno não é provocado, mas espontâneo). Nesses episódios, os Espíritos podem permanecer invisíveis aos humanos, porém, serem percebidos pelos animais, aproveitando-se da superioridade de seus sentidos aprimorados.
É importante considerar que a ideia de que animais podem, em certas circunstâncias, ver e ouvir Espíritos é algo que pode ser validado experimentalmente. Para isso, podemos imaginar a seguinte situação: o dono de um cão falece. Sabe-se que, em sua presença, o cão exibe determinado comportamento. Da constatação de repetição completa ou parcial do comportamento do cão, sob a presença do Espírito do dono conforme indicado pelo médium, valida-se a tese, e esse é apenas um dos experimentos possíveis.
Não é difícil imaginar assim que Espíritos possam estar envolvidos nos episódios de retorno de cães e gatos a seus donos. Esse é pelo menos um mecanismo plausível, já que a ajuda dos sentidos, mesmo que bastante desenvolvidos, não parece ser suficiente para explicar completamente todos os casos de animais que conseguem encontrar o retorno de seus lares por centenas de quilômetros. Para tanto, eles devem contar com alguns "amigos" a mais entre os invisíveis.

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