quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

Espírito, Perispírito e Corpo[1]


 
Antônio Carlos Navarro[2]
 
Não vamos aqui  entrar na discussão sobre a existência ou não dos espíritos.
Vamos, a partir da crença generalizada mundialmente, há milênios, de que não só existem, mas que são as almas dos homens que já viveram na Terra. Ou seja, nós os encarnados, também o somos.
Allan Kardec, o Codificador da Doutrina Espírita, sistematizou o conhecimento da realidade, e a respeito do Espírito propôs algumas perguntas aos Espíritos Superiores.
O que é o Espírito?
– Espírito é o princípio inteligente do universo[3].
Somos o Ser Pensante, que tem como atributo essencial a capacidade mental de raciocinar, de planejar, resolver problemas, abstrair e compreender ideias e linguagens, e ainda, aprender.
Qual é a natureza íntima do Espírito?
– Não é fácil explicar o Espírito com a vossa linguagem. Para vós, ele não é nada, visto que o Espírito não é algo palpável, mas para nós é alguma coisa[4].
Para nós, os encarnados, acostumados com o mundo das dimensões físicas, não é muito fácil tratar da subjetividade do espírito, e por isso Kardec continua:
Que definição se pode dar dos Espíritos?
– Pode-se dizer que os Espíritos são os seres inteligentes da Criação. Eles povoam o universo, fora do mundo material[5].
Com essas definições dadas pelos responsáveis pela implantação do Consolador, prometido por Nosso Senhor Jesus Cristo[6], Kardec aprofunda a questão em torno da condição existencial do Espírito no Mundo Espiritual.
Os Espíritos têm uma forma determinada, limitada e constante?
– Aos vossos olhos, não; aos nossos, sim. O Espírito é, se quiserdes, uma chama, um clarão ou uma centelha etérea[7].
Essa chama ou centelha tem uma cor qualquer?
– Para vós, ela varia do escuro ao brilho do rubi, conforme seja o Espírito mais ou menos puro[8].
Lembra-nos Allan Kardec em comentário à questão acima:
“É costume representarem-se os gênios com uma chama ou uma estrela sobre a fronte. É uma alegoria que lembra a natureza essencial dos Espíritos. Coloca-se no alto da cabeça, porque é aí a sede da inteligência.”
Tratando sobre a aparência do Espírito, pergunta o Codificador:
O Espírito, propriamente dito, não tem nenhuma cobertura, ou como pretendem alguns, é envolvido por alguma substância?
– O Espírito é envolvido por uma substância vaporosa para vós, mas ainda bem grosseira para nós; é suficientemente vaporosa para poder se elevar na atmosfera e se transportar para onde quiser [9].
Para deixar as coisas mais claras possíveis, Kardec, que foi um exímio educador, comenta a questão acima:
“Assim como nas sementes o germe do fruto é envolvido pelo perisperma, do mesmo modo o Espírito, propriamente dito, é revestido de um envoltório que, por comparação, pode-se chamar perispírito”.
E continua a perguntar:
De onde o Espírito tira seu envoltório semimaterial?
– Do fluido universal de cada globo. É por isso que não é igual em todos os mundos. Ao passar de um mundo a outro, o Espírito muda de envoltório, como trocais de roupa[10].
Assim, quando os Espíritos que habitam os mundos superiores vêm até nós, revestem-se de um perispírito mais grosseiro?
– É preciso que se revistam de vossa matéria, como já  dissemos[11].
O envoltório semimaterial do Espírito tem formas determinadas e pode ser perceptível?
– Sim, tem a forma que lhe convém. É assim que se apresenta, algumas vezes, nos sonhos, ou quando estais acordados, podendo tomar uma forma visível e até mesmo palpável[12].
Com base nas questões acima podemos facilmente chegar a algumas deduções.
A nossa coloração, enquanto espíritos, é consequência da nossa condição moral. É por isso que se diz que alguém é espírito de luz. A esse respeito o Senhor Jesus falou que:
“A candeia do corpo é o olho. Sendo, pois, o teu olho simples, também todo o teu corpo será luminoso; mas, se for mau, também o teu corpo será tenebroso. Vê, pois, que a luz que em ti há não sejam trevas[13]”.
A forma como olhamos o mundo está relacionada à nossa moralidade. Se formos simples de coração e bondosos, a luminosidade de nosso espírito será cada vez mais brilhante e saudável, e, ao contrário, sustentando a maldade no coração, nossa luminosidade será mais e mais opaca e escura, e por isso mesmo prejudicial.
Essa luminosidade parte do espírito, passa pelo perispírito formando, no seu limiar, o que se conhece por “Aura”, e como o perispírito é que dá a forma ao corpo físico, transmite-lhe toda a energia luminosa para os órgãos físicos, seja boa ou seja má.
Como o perispírito, embora invisível é matéria, tem, portanto, peso. Isso significa que quando deixarmos o corpo físico pelo processo da desencarnação estaremos sujeitos a Lei de Gravidade, que nos situará de acordo com a leveza da luz que há em nós, ou junto dos espíritos mais apagados e presos nas proximidades do mundo material, ou próximo daqueles que brilham a luz do amor já em paragens superiores.




[2] Antônio Carlos Navarro  é membro da Rede Amigo Espírita, estudioso e palestrante espírita. Trabalhador do Centro Espírita Francisco Cândido Xavier em São José do Rio Preto - SP. e-mail: antoniocarlosnavarro@gmail.com
[3] O Livro dos Espíritos, Allan Kardec, questão 23
[4] Idem, questão 23-a
[5] Idem, questão 76
[6] João 14:26
[7] O Livro dos Espíritos, Allan Kardec, questão 88
[8] Idem, questão 88
[9] O Livro dos Espíritos, Allan Kardec, questão 93
[10] O Livro dos Espíritos, Allan Kardec, questão 94
[11] O Livro dos Espíritos, Allan Kardec, questão 94-a
[12] O Livro dos Espíritos, Allan Kardec, questão 95
[13] Lucas 11:34,35

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