terça-feira, 21 de novembro de 2017

Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas[1]


 

A Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas foi o primeiro centro espírita oficialmente legalizado no mundo, fundada em 1º de abril de 1858, por Allan Kardec, que foi escolhido presidente por aclamação, com sede em Paris, França. Como o próprio nome indica, o objetivo da instituição era estudar o Espiritismo e pesquisar os fenômenos mediúnicos, conforme o primeiro artigo de seu regulamento: "A Sociedade tem por objeto o estudo de todos os fenômenos relativos às manifestações espíritas e suas aplicações às ciências morais, físicas, históricas e psicológicas". Contava com a colaboração de vários médiuns, pelos quais seus membros interagiam com os Espíritos comunicantes, tendo São Luís como o patrono espiritual de seus trabalhos.
O seu lançamento foi notificado na Revista Espírita, edição de maio de 1858 com a seguinte nota:
A extensão por assim dizer universal que a cada dia tomam as crenças espíritas fazia vivamente desejar-se a criação de um centro regular de observações; essa lacuna acaba de ser preenchida. A Sociedade, cuja formação temos o prazer de anunciar, composta exclusivamente de pessoas sérias, isentas de prevenções e animadas do sincero desejo de serem esclarecidas, contou, desde o início, entre seus associados, com homens eminentes por seu saber e posição social. Ela é chamada — disso estamos convencidos — a prestar incontestáveis serviços à comprovação da verdade. Seu regulamento orgânico lhe assegura uma homogeneidade sem a qual não há vitalidade possível; autorizada por portaria do Sr. Prefeito de Polícia, conforme o aviso de S. Exa. Sr. Ministro do Interior e da Segurança Geral, em data de 13 de abril de 1858.
 Baseia-se na experiência dos homens e das coisas e no conhecimento das condições necessárias às observações que são o objeto de suas pesquisas. Vindo a Paris, os estrangeiros que se interessarem pela Doutrina Espírita encontrarão, assim, um centro ao qual poderão dirigir-se para obter informações, e onde poderão também comunicar suas próprias observações.
— Allan Kardec
 
Em Obras Póstumas, Kardec conta que a entidade surgiu da necessidade de acolher o crescente número de adeptos ao Espiritismo que vinham participar das reuniões regulares que ele realizava em sua casa, na Rua dos Mártires, às terças-feiras. Os participantes propuseram então alugarem juntos um cômodo apropriado para comportar aqueles importantes trabalhos.
Mas, então, fazia-se necessária uma autorização legal, a fim de se evitar que a autoridade nos fosse perturbar. O Sr. Dufaux, que se relacionava pessoalmente com o Prefeito de Polícia, encarregou-se de tratar do caso. A autorização também dependia do Ministro do Interior. A tarefa de obter essa autorização coube então ao general X..., que, sem que ninguém o soubesse, era simpático às nossas ideias — embora sem as conhecer inteiramente. Graças à sua influência, a autorização pôde ser concedida em quinze dias, quando, normalmente, leva três meses para ser dada.
— Allan Kardec
Obras Póstumas – Segunda Parte, Fundação da Sociedade Espírita de Paris
 
Uma vez regulamentada a Sociedade, as sessões foram transferidas para uma sala alugada no Palais-Royal, inicialmente na galeria de Valois, depois, para uma sala maior, na Galeria Montpensier, quando suas sessões foram remarcadas para as sextas-feiras. Em 1860, a instituição foi relocada para sua sede própria, adquirida na Rua Saint-Anne, n° 59.
As suas sessões eram fechadas ao público, reservando-se aos seus sócios e, eventualmente, a convidados que fossem previamente apresentados por um membro e autorizados pelo presidente. A admissão de um associado seguia um rigoroso processo de aprovação que, entre outros critérios, exigia a fiança de dois membros titulares e conhecimentos prévios da doutrina.
O regulamento completo da entidade foi publicado em O Livro dos Médiuns, Segunda Parte, cap. XXX. As principais atividades e notas da Sociedade eram publicadas na Revista Espírita.
Reeleito sucessivas vezes presidente da entidade, Kardec lutou para a manutenção da rígida disciplina das sessões e não menos rigoroso cuidado na admissão dos associados, enquanto isso, nos corredores, muitos de seus correligionários cobravam uma abertura maior da instituição. Alegando sobrecarga de tarefas, o codificador chegou a pedir demissão de suas funções administrativas da Sociedade, o que não ocorreu devido o apelo geral dos membros em favor de sua permanência na presidência (Revista Espírita, Julho de 1859: "Discurso de encerramento do Ano Social").
Depois da desencarnação do seu fundador, a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas ficou a cargo de uma comissão diretora composta de sete membros, dentre as quais Amélie Boudet, a viúva de Kardec, porém, não permanecendo ativa por muito tempo, uma vez que os continuadores da obra kardecista passaram a se concentrar nas atividades de uma organização, a Sociedade Anônima, que o codificador havia projetado para substituí-lo.
 
Referências
²  Obras Póstumas, Allan Kardec - especialmente 2ª Parte, "Fundação da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas" (ler online).
²  O Livro dos Médiuns, Allan Kardec- especialmente cap. XXX: "Regulamento da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas" (ler online).
²  Kardec, Marcel Souto Maior.
²  Revolução Espírita, Paulo Henrique de Figueiredo.
²  Em nome de Kardec, Adriano Calsone.




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