Marco Milani[2]
Reclamar é uma atitude humana.
Alguns reclamam mais, outros menos. Alguns com razão aos olhos do próximo,
outros com razão somente aos próprios olhos.
Ao nos manifestarmos sobre o que
acreditamos ser necessário e correto, exercemos o livre-arbítrio e buscamos o
aprimoramento de determinado contexto, entretanto, nem sempre o que
reivindicamos guarda relação com a justiça e com a verdade. Em nosso acanhado
nível evolutivo, não é raro observarmos o orgulho e o egoísmo motivarem essas
manifestações.
Uma forma orgulhosa e imatura de
posicionamento é culpar terceiros pela situação em que o reclamante se
encontra. Os outros seriam os responsáveis diretos pelas infelicidades e
desconfortos percebidos. Se não fossem aquelas pessoas, tudo seria diferente...
O centro espírita não está imune
desses comportamentos, pois não é o rótulo que determina o comportamento dos
frequentadores.
Podemos encontrar queixosos
recorrentes que alegam ser vítimas de dirigentes, por não terem suas ideias e
propostas revolucionárias acatadas na casa espírita. Algumas queixas podem ser
justas e outras não.
Muitos reclamantes se consideram
perseguidos e vítimas das circunstâncias por não terem todos os seus desejos
satisfeitos.
Alguns potencializam suas
queixas nas redes sociais, tentando cooptar simpatizantes em causa própria.
Acusam dirigentes de entidades espíritas de impedirem o desenvolvimento do
espiritismo no Brasil e no mundo, por não lhes oferecer a tribuna para se
apresentarem ou por não obterem espaços privilegiados em eventos para venderem
os seus livros.
Mas críticas a dirigentes
existem desde os primórdios do espiritismo, pois Kardec mesmo foi chamado de
centralizador e acusado por adeptos místicos de impedir que 'novos
ensinamentos', obtidos sem qualquer critério metodológico sério, fossem
inseridos no corpo doutrinário. Um desses queixosos foi o advogado
Jean-Baptiste Roustaing, que afirmava ter recebido 'novas revelações', mas como
se mostravam bem distante do bom senso e da coerência doutrinária foram
justificadamente rejeitadas por Kardec.
Nos dias de hoje, basta um
clique para se fazer circular eletronicamente textos elaborados com as mais
variadas intenções, sendo cômodo para algumas pessoas simplesmente se afirmarem
vítimas injustiçadas de malvados dirigentes de centros espíritas, que tolhem
suas maravilhosas iniciativas. Servindo-se do discurso acusatório atual,
Roustaing chamaria Kardec de conservador, retrógrado, reacionário e outros
adjetivos da moda.
Certamente, todos erram e podem
melhorar. Portanto, o diálogo respeitoso e racional sempre será o melhor
caminho para os esclarecimentos necessários às partes envolvidas em
divergências de ideias. As conquistas morais, entretanto, não são obtidas por
reclamações ou vitimismo, mas por trabalho e mérito.
[1] Publicado no jornal Correio Fraterno - Edição 477
setembro/outubro 2017
[2] Economista e professor da Unicamp. Diretor do
Departamento do Livro da USE-Regional SP.
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