sexta-feira, 24 de novembro de 2017

Reclamações e Vitimismo[1]


 
Marco Milani[2]


Reclamar é uma atitude humana. Alguns reclamam mais, outros menos. Alguns com razão aos olhos do próximo, outros com razão somente aos próprios olhos.
Ao nos manifestarmos sobre o que acreditamos ser necessário e correto, exercemos o livre-arbítrio e buscamos o aprimoramento de determinado contexto, entretanto, nem sempre o que reivindicamos guarda relação com a justiça e com a verdade. Em nosso acanhado nível evolutivo, não é raro observarmos o orgulho e o egoísmo motivarem essas manifestações.
Uma forma orgulhosa e imatura de posicionamento é culpar terceiros pela situação em que o reclamante se encontra. Os outros seriam os responsáveis diretos pelas infelicidades e desconfortos percebidos. Se não fossem aquelas pessoas, tudo seria diferente...
O centro espírita não está imune desses comportamentos, pois não é o rótulo que determina o comportamento dos frequentadores.
Podemos encontrar queixosos recorrentes que alegam ser vítimas de dirigentes, por não terem suas ideias e propostas revolucionárias acatadas na casa espírita. Algumas queixas podem ser justas e outras não.
Muitos reclamantes se consideram perseguidos e vítimas das circunstâncias por não terem todos os seus desejos satisfeitos.
Alguns potencializam suas queixas nas redes sociais, tentando cooptar simpatizantes em causa própria. Acusam dirigentes de entidades espíritas de impedirem o desenvolvimento do espiritismo no Brasil e no mundo, por não lhes oferecer a tribuna para se apresentarem ou por não obterem espaços privilegiados em eventos para venderem os seus livros.
Mas críticas a dirigentes existem desde os primórdios do espiritismo, pois Kardec mesmo foi chamado de centralizador e acusado por adeptos místicos de impedir que 'novos ensinamentos', obtidos sem qualquer critério metodológico sério, fossem inseridos no corpo doutrinário. Um desses queixosos foi o advogado Jean-Baptiste Roustaing, que afirmava ter recebido 'novas revelações', mas como se mostravam bem distante do bom senso e da coerência doutrinária foram justificadamente rejeitadas por Kardec.
Nos dias de hoje, basta um clique para se fazer circular eletronicamente textos elaborados com as mais variadas intenções, sendo cômodo para algumas pessoas simplesmente se afirmarem vítimas injustiçadas de malvados dirigentes de centros espíritas, que tolhem suas maravilhosas iniciativas. Servindo-se do discurso acusatório atual, Roustaing chamaria Kardec de conservador, retrógrado, reacionário e outros adjetivos da moda.
Certamente, todos erram e podem melhorar. Portanto, o diálogo respeitoso e racional sempre será o melhor caminho para os esclarecimentos necessários às partes envolvidas em divergências de ideias. As conquistas morais, entretanto, não são obtidas por reclamações ou vitimismo, mas por trabalho e mérito.
 




[1] Publicado no jornal Correio Fraterno - Edição 477 setembro/outubro 2017
[2] Economista e professor da Unicamp. Diretor do Departamento do Livro da USE-Regional SP.

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