3 agosto 2017
Este é um dos fenômenos mais
curiosos da neurociência cognitiva.
Há algumas pessoas no mundo com
"visão cega": são pessoas cegas, mas que têm uma espécie de
"segunda visão", pois seu cérebro é capaz, inconscientemente, de
perceber as coisas ao seu redor.
A escocesa Milina Cunning perdeu
a visão por volta dos 20 anos. Pesquisadores investigam seu caso há algum
tempo.
"Se atirassem uma bolinha
de ping-pong na cabeça de Milina, provavelmente ela levantaria seu braço e a
pegaria na mão antes de ter consciência do que estava acontecendo", disse
Jody Culham, uma pesquisadora que estudou o cérebro de Cunning.
"Posso me mover na minha
casa sem problemas e organizar as coisas, mas não consigo vê-las. Sei que estão
aqui, meu cérebro me informa disso".
Mas como é a vida através dos
olhos de Milina? Assim como ela mesma descreve:
Quando cheguei ao hospital,
era uma pessoa com visão normal. Colocaram-me em coma induzido devido a
problemas de saúde que eu tinha. E fiquei em coma durante 52 dias.
Quando acordei, via tudo
completamente preto. Não era capaz de ver nada. Disseram-me que, enquanto eu
estava em coma, sofri um derrame cerebral que me deixou cega.
Durante os próximos meses,
as coisas começaram a mudar. Depois de seis meses, parecia que eu via alguma
cor, mas ninguém acreditava em mim.
Então, entrei em contato
com um neurologista chamado Gordon Dutton. Assim que me viu, ele supôs que eu
tinha visão cega.
Quando me encontrei com
Dutton, ele insistiu em fazer alguns testes. Em um deles, ele colocava cadeiras
no corredor do hospital e me pedia para caminhar entre elas. Simplesmente ande no seu ritmo normal,
disse.
Fiz isso e fiquei
esbarrando nas cadeiras. Quando cheguei ao fim do corredor, ele me disse: Agora caminhe um pouco mais depressa entre
as cadeiras.
Assim que caminhei mais
depressa através delas, uma a uma, não me machuquei nenhuma vez. Foi incrível.
Dutton me explicou o
seguinte: não pense muito, apenas faça.
Não dê muitas voltas na cabeça. Era meu subconsciente me dizendo como
realizar essa tarefa e evitando que eu batesse nas cadeiras.
Consigo me movimentar pela
minha casa sem problemas, mas não consigo ver as coisas. Sei que estão ali, meu
cérebro me diz.
O mesmo ocorre se a minha
família deixa coisas atiradas pela sala. Digo a elas: vocês têm que arrumar um
pouco as coisas, senão vou tropeçar por tudo.
Se há alguma coisa, como
uma bolsa ou sapatos, consigo vê-los, passar por cima ou guardá-los.
É estranho que consiga ver
coisas que eu não posso ver por ser cega.
Sei que você está sentado
aqui, perto de mim... Mas não consigo vê-lo.
Leia a versão original desta reportagem
(em inglês) no site da BBC Future
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