Jorge Hessen -
jorgehessen@gmail.com
Um amigo indagou-me o que era
“fogo fátuo” e “duplo etérico”. Respondi-lhe que uma das opiniões que se
defende sobre o “fogo fátuo”, acena para a emanação “ectoplásmica” de um
cadáver que, à noite ou no escuro, é visível, pela luminosidade provocada com a
queima do fósforo “ectoplásmico” em presença do oxigênio atmosférico. Essa tese
tenta demonstrar que um “cadáver” de um animal pode liberar “ectoplasma”.
Outra explicação encontramos no
dicionarista laico, definindo o “fogo fátuo” como uma fosforescência produzida
por emanações de gases dos cadáveres em putrefação[2],
ou uma labareda tênue e fugidia produzida pela combustão espontânea do metano e
de outros gases inflamáveis que se evola dos pântanos e dos lugares onde se
encontram matérias animais em decomposição. Ou, ainda, a inflamação espontânea
do gás dos pântanos (fosfina), resultante da decomposição de seres vivos:
plantas e animais típicos do ambiente.
Sob o enfoque espírita, Allan
Kardec fez breve referência ao termo conforme inserto no cap. VI, de O Livro dos Médiuns, questão 29, ao
indagar: “Que se deve pensar da crença que atribui os “fogos-fátuos” à presença
de almas ou Espíritos”? Os espíritos responderam: “Superstição produzida pela
ignorância”. Bem conhecida é a causa física dos “fogos-fátuos”[3].
Sobre o tema “duplo etérico”
explicamos ser muito intricado. O termo não está presente na Codificação, porém
existem associações teóricas subjetivas, por vezes polêmicas, contidas nas
obras “complementares” para explicá-lo. O fato é que não encontramos a
nomenclatura, digamos, “clássica” no Espiritismo, isto é, não é definido por
Kardec, embora superficialmente o tema é acenado (uma única vez) em O Livro dos Médiuns[4].
A rigor, a palavra e seus conceitos dimanam especialmente dos burgos místicos
do esoterismo, apinhada de crença orientalista , mística e espiritualista,
portanto não sendo objeto de estudo de Kardec ou dos Espíritos nas Obras
básicas.
Partindo do princípio definido
pelo dicionário esotérico somos informados que todo corpo físico está cercado
por um invólucro de matéria etérica, sendo uma reprodução perfeita do corpo
físico. Ele ultrapassa epiderme cerca de cinco centímetros. Não é um veículo
independente, se desfazendo após a morte física. Sua grande importância é
receber e distribuir as forças vitais provenientes do sol e da terra. É nele
que estão localizados os chamados “chacras”[5].
Kardec inquiriu aos Espíritos se
a alma é externa e envolve o corpo. Os Benfeitores explanaram que as almas (os
encarnados) irradiamos e nos manifestamos no exterior (do corpo físico), como a
luz através de uma lâmpada ou como o som em redor de um centro sonoro. É por
isso que se pode dizer que ela (alma) é externa, mas não como uma película do
corpo. A alma tem dois envoltórios: um, sutil e leve, o primeiro que chamas
perispírito; o outro, grosseiro, material e pesado, que é o corpo biológico[6].
Divulga-se que o “duplo
etérico”, ou, para alguns, a “bioenergia”, é o contingente de energia vital
(“neuropsíquica”), resultado da ação do corpo espiritual (perispírito) sobre os
elementos físicos, canalizados à consolidação do corpo físico como, também,
aglutinados em uma outra estrutura que vai servir de verdadeiro reservatório de
vitalidade, necessário, durante a vida física, à reposição de energias gastas
ou perdidas[7].
André Luiz distingue o
perispírito - a que chama também de “corpo astral”, “corpo espiritual” e
“psicossoma” - do “duplo etérico”, cuja natureza, afirma como sendo de "um
conjunto de eflúvios vitais que asseguram o equilíbrio entre a alma e o corpo
biológico" (...), "formado por emanações neuropsíquicas que pertencem
ao campo fisiológico e que, por isso mesmo, não conseguem maior afastamento da
organização terrestre, destinando-se à desintegração, tanto quanto ocorre ao
arcabouço carnal por ocasião da morte renovadora”[8].
Na desencarnação o “duplo
etérico” (ou “corpo vital”) pode ficar adjunto ao corpo físico ou pairar no
ambiente, por um período curto ou longo consoante a evolução do desencarnado,
até o desligamento definitivo, quando sobrevém a sua desintegração. Isto
porque, sendo um campo de energia de predominância física, poderá servir de
sustentação a espíritos vampirizadores. Nos seres evoluídos, o “duplo etérico”
é quase que imediatamente desintegrado.
André Luiz , portanto , confirma
que todos os seres vivos se revestem de um halo magnético que lhe corresponde à
natureza e que no homem essa projeção é modificada e enriquecida pelos fatores
do pensamento contínuo, constituindo a “aura” humana, o “corpo vital” ou
"duplo etérico". Por ele exteriorizamos o reflexo de nós mesmos, de
acordo com o que pensamos e fazemos[9].
Sinceramente? Não identificamos
problemas conceituais nas considerações de André Luiz. Não obstante, ocorrerem
clamores que divergem do autor de “Nosso Lar”, a propósito do emprego das
terminologias “aura” e “corpo vital”. Asseguram tais divergentes que as palavra
e os conceitos estão propostos sem um maior critério doutrinário, pois que nas
obras básicas e na Revista Espírita, Kardec não usou tais palavras. Lembremos,
porém, que o Codificador usou a expressão “atmosfera fluídica” ou “atmosfera
individual” para definir o mesmo fenômeno aqui analisado.
Nalgumas escolas
espiritualistas, o “corpo vital” (empregado por André Luiz) é constituído por
átomos de matéria sutil (etérea), sendo denominado como tal por ser a fonte das
forças nervosas eletrovitais, e, portanto, o construtor e restaurador das
formas densas, interpenetrando todo o corpo físico. Todavia, na época de Kardec
não se empregava com frequência o termo “duplo etérico” ou “corpo vital”, mas
ao registrar Kardec que o perispírito é composto de matéria sutil, de matéria
nervosa, de matéria inerte, evidentemente estava referindo-se ao perispírito
como um corpo complexo, e não de natureza compacta.
Leopoldo Cirne, um espírita
estudioso de Kardec, concluía, das experiências de materialização, a existência
de um corpo invisível no encarnado, dessemelhante do perispírito, que poderia
subsistir por algum tempo após a morte física, mas não permaneceria
definitivamente ligado ao Espírito desencarnado, a que denominou de “corpo
etéreo”, “duplo astral”, “corpo astral”, responsável pela possibilidade de
materialização dos Espíritos[10].
Em seguida, na sua obra (póstuma) “O Homem Colaborador de Deus”, Cirne manteve
seu ponto de vista sobre a existência de um corpo não-físico além do
perispírito, não o designando mais de duplo (corpo) astral, mas apenas de
“corpo etéreo”, inseparável do corpo físico durante a vida[11].
Sabemos que o tema é sensível,
difícil, problemático e não pacificado ainda, mas faço minhas as palavras de
Kardec, mencionando que o estudo de um tema que nos lança numa ordem de coisas
abstratas só pode ser feito com inteligência, imparcialidade e utilidade por pesquisadores
sérios, perseverantes, livres de prevenções e animados de firme e sincera
vontade de chegar a um resultado. Não sabemos como dar esses qualificativos aos
que julgam “a priori”, inconsideradamente, sem tudo ter visto; que não imprimem
a seus estudos a continuidade, a regularidade e o recolhimento indispensáveis[12].
[3] KARDEC , Allan. O
livro dos Médiuns, cap. VI, questão 29, RJ: Ed FEB, 1990
[4] Idem questão 4 do item 128 do capítulo VIII.
[6] KARDEC , Allan. O
Livro dos Espíritos, RJ: Ed FEB, 1990 questão. 141.
[7] ZIMMERMANN Zalmino. PERISPÍRITO, SP: Editora: Centro
Espírita Allan Kardec, 2002.
[8] XAVIER, Francisco Cândido. Evolução em Dois Mundos,
RJ: Ed. FEB 1958, 13a ed.
[9] Idem.
[10] CIRNE, Leopoldo. Doutrina e Prática do Espiritismo, 1
edição, RJ: Editora: Typ . do Jornal do Commercio, 1920.
[11] CIRNE, Leopoldo. O Homem Colaborador de Deus, SP: Ed
Mundo Maior, 1949.
[12] KARDEC , Allan. O livro dos Espíritos, item VIII da
introdução, RJ: Ed FEB, 1990.
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