Ermance Dufaux
O médium que queira gozar sempre da assistência dos bons Espíritos tem
de trabalhar por melhorar-se.
O médium que compreender o seu dever, longe de se orgulhar de uma
faculdade que não lhe pertence, visto que lhe pode ser retirada, atribui a Deus
as boas coisas que obtém.
O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO – Cap. XXVIII, Item 9
As tarefas sucediam-se umas às
outras no Nosocômio Esperança[2] .
A obra de amor do apóstolo sacramentano tornou-se polo dispensador das bênçãos
da complacente misericórdia.
Naquela manhã, antes mesmo do
sol afugentar a madrugada, preparávamos para mais uma caravana de aprendizado.
Vamos acompanhar Dona Maria Modesto Cravo em atividade de assistência fraternal
na Terra. Convidamos uma pequena equipe de jovens que faziam seus primeiros
estágios de aprendizado junto à crosta, depois de alguns meses de adaptação pós-
desencarne.
Rumamos para o local previamente
combinado e lá, já encontramos Dona Modesta[3] e
outros amigos do Hospital. Após os cumprimentos, ela explicou-nos a atividade
com detalhes, nesses termos:
— Nossa intercessão dessa hora é providência de urgência em favor de Cesário,
dedicado médium da seara espírita. Nosso irmão tem se apresentado com disposições
valorosas ao trabalho, razão pela qual as investidas espirituais perseguem-no com
programação perseverante.
Aproximamo-nos do médium
oferecendo liberdade aos jovens componentes da equipe, a cena era muito
educativa. Cesário estava preparando-se para as atividades do dia em seu lar
através da oração, no entanto, à porta de sua residência, uma chusma de almas
postavam-se em atenciosa expectativa. Percebemos nítido halo magnífico provindo
das dependências de sua casa abrangendo larga faixa de espaço até a vizinhança,
impedindo a entrada daqueles que certamente estavam à espreita da oportunidade
para alguma iniciativa infeliz.
Cesário preparava-se para sair e
notamos intensa movimentação. Dona Modesta fez um sinal ao irmão Ferreira,
experiente companheiro dos serviços de defesa, e vimos toda a sua equipe em
atitude que bem recordavam os momentos que antecedem os combates da Terra.
Cesário tornou a direção da rua com seu veículo e o vozerio da turba foi ouvido
com estrondo. Dona Modesta, na condição de condutora, pediu-nos a prece, o que
fizemos com emoção. Após a oração e visão espiritual de todos nós aguçou-se e
constatamos, ao lado do médium, a sua amorosa benfeitora envolvendo-o em
dulçorosa paz. Um anel magnético muito luminoso com cones violetas prateadas acomodava-se
sobre a cabeça de Cesário, como se fosse uma boina com a parte superior aberta.
Constatávamos que petardos de matéria enfermiça eram atirados sobre o servidor,
mas eram dissolvidos integralmente por alguma “força especial” que partia desse
anel. Os jovens, curiosos mas vigilantes nos serviços de apoio, olhavam para
mim como a rogar orientação para a hora que se prenunciava como sendo portadora
de gravidade.
Observamos então que o
trabalhador da mediunidade, tão logo dispôs de alguns momentos, estacionou seu
automóvel em razão de súbito mal estar mental.
Sentia pelos canais medianímicos
que algo não estava bem. Recorreu à prece e percebeu que estava sendo alvo de
um ataque de adversários do amor. Tomou então a iniciativa de criar um laço
constante com sua memória, estabelecendo um clima de segurança, buscou a
leitura refazente e orou com carinho pelos que lhe atacavam pedindo a Jesus
pelo bem de todos eles. Irmão Ferreira com sua equipe de colaboradores
utilizava-se de recursos eficazes de proteção. Rapidamente, constatamos que a
cilada foi frustrada e todos nós nos reuníamos a Dona Modesta para agradecer a
Deus e aprender um pouco mais. Assim que foram encerradas as atividades, a
devotada servidora do Cristo colocou-se à disposição dos jovens aprendizes para
as oportunas indagações. Sérgio toma a palavra e diz:
— Dona Modesta, podemos classificar as atividades dessa hora como uma desobsessão?
— Certamente. Podemos dizer que é um gênero específico de obsessão. Comumente
encontramos três tipos de almas nos capítulos da obsessão: os nossos credores
de outros tempos, os oportunistas que criam vínculos pela invigilância humana e
os declarados adversários do bem.
— Em que caso enquadram-se os agressores de Cesário?
— São adversários ferrenhos do Espiritismo que procuram atormentá-lo. É um
caso típico de “obsessão controlada”.
— Obsessão controlada?!!
— Nosso irmão apresenta o recurso à imunidade psíquica com o que nos permite
uma tarefa de parceira. Ele é usufrutuário de um “contrato de assistência” permanente
em razão dos méritos que se fez credor.
Enquanto Sérgio interrogava, os
demais amigos mal continham sua ânsia de saber. Prenunciando a curiosidade de
todos, o coração querido de Pedro Helvécio que acompanhava-nos a tarefa dirigiu
a palavra à nossa instrutora buscando sintetizar as questões:
— Dona Maria, explique-nos, por caridade, sobre aquele anel luminoso na cabeça
de Cesário.
— Sim, Helvécio. É uma criação de almas superiores em favor da obra do bem
que todos, pouco a pouco, estamos construindo na Terra. Chama-se “imunizador
psíquico”. Composto de material rarefeito, mas de alta potencia irradiadora de
ondas mentais de curta frequência, é um aparelho de defesa mental que concede
ao médium melhores recursos no desempenho de sua missão.
Tomado de um impulso, Rosângela,
outra integrante de nosso grupo que serviu com louvor às fileiras do
Protestantismo, indagou:
— Todos os médiuns carregam esse anel?
— Não, minha jovem. O “imunizador psíquico” é uma concessão da misericórdia.
Fruto de um planejamento no tempo...
— O que fez Cesário para merecê-lo? Será um “espírito santo” com elevada missão?
Terá ele algum mandato diante de Deus?
— Cesário em se dedicando à tarefa da educação de si mesmo como todos os
benfeitores da Nova Revelação. Não é portador de missões especiais e nem dotado
de grande elevação moral. Sua qualidade mais saliente, por enquanto, é a devoção
persistente que apresenta, ininterruptamente, durante duas décadas no serviço
mediúnico socorrista de almas perturbadas.
— Quer dizer então que após um período de serviços de vinte anos os médiuns
podem receber semelhante graça?
— Compreendo sua terminologia, considerando sua formação evangélica, mas
não se trata de graça, Rosângela, e sim de mérito, justiça e complacência
divina. Nosso irmão perseverou durante esse tempo, mas além disso integrou o
escasso grupo de servidores doutrinários que apresentam uma rara qualidade.
— E qual é essa qualidade, Dona Modesta?
— Cooperativismo cristão. Apesar de suas vivências doutrinárias restringiram-se
a uma casa espírita, desde os seus primeiros passos nos projetos doutrinários
tem se oferecido pelo bem de outras agremiações, desenvolvendo um estimável
labor coletivo junto à seara. Graças a isso, tem chamado a atenção dos inimigos
da causa que procuram desanimá-lo no ideal com sorrateiras armadilhas. Sua
sincera disposição de melhoria espiritual é seu verdadeiro recurso imunizador,
todavia, algumas almas superiores analisaram o pedido de sua amável mentora
para que lhe fosse prestado esse benefício para alento e estímulo.
Sérgio mais uma vez retorna com
outra pergunta:
— Será sensato entender essa concessão como prêmio?
— Prêmio, meu filho, à luz do Evangelho significa recurso para trabalhar mais,
e nosso companheiro na carne já entendeu isso. Ele tem claramente estabelecido
para si mesmo a consciência da “concessão” da qual foi alvo e com que objetivos
lhe foi outorgada. Tão logo foi implantado o “anel” em seu cérebro, ele passou
a experimentar uma maior capacidade de domínio interior que suavizou as dores
íntimas e ampliou-lhe as percepções extrafísicas. Sua avaliação, entretanto, ao
invés de convergir para uma ideia vaidosa de dotes morais adquiridos ou
virtudes conquistadas, conduziu-se para o que expressa as intenções nobres do
Plano Superior em relação ao seu dever, ou seja, amparo para melhor servir.
Dessa forma, em regime de parceira que amadurece a cada dia, temos condições de
manter as obsessões de nosso irmão sob controle rigoroso e proveitoso.
— Perdoai-me a infantilidade, Dona Modesta, mas não posso deixar de expor
meu pensamento: não haverá aqui alguma parcialidade na ajuda de Cesário?
— Absolutamente, Sérgio, não existe. Não se sinta tão infantil por perguntar.
É um raciocínio comum para quem veio da Terra há tão pouco tempo como você.
Pediria ao nosso Helvécio que pudesse ler para nós aquele conhecido trecho de O Livro dos Médiuns, para
esclarecimento de todos.
Compulsando a obra do
codificador sem nenhuma dificuldade e como quem já esperava semelhante pedido
de Dona Modesta, o nosso amigo destacou o item 268, questões 19 e 20, que
dizem: Poderiam os Espíritos superiores impedir que os maus Espíritos tomassem
falsos nomes?
Certamente que o podem, porém, quanto piores são os Espíritos, mais obstinados
se mostram e muitas vezes resistem a todas as injunções. Também é preciso
saibais que há pessoas pelas quais os Espíritos superiores se interessam mais
do que outras e, quando eles julgam conveniente, as preservam dos ataques da mentira.
Contra essas pessoas os Espíritos enganadores nada podem.
Qual o motivo de semelhante parcialidade?
Não há parcialidade, há justiça. Os bons Espíritos se interessam pelos que
usam criteriosamente da faculdade de discernir e trabalham seriamente por melhorar-se.
Dão a esses suas preferências e os secundam, pouco, porém, se incomodam
com aqueles junto dos quais perdem o tempo em belas palavras.
Terminada a leitura, como nada
mais restasse a perguntar, nossa instrutora concluiu com orientações que
somente poderiam vir de um coração tão generoso e experiente nas questões da
mediunidade.
O médium em questão não está
isento de sua luta autoeducativa em razão dos “anéis defensivos”, e sempre tem
sido lembrado sobre isso nas suas incursões noturnas fora do corpo. Esse
“artefato de proteção” é implantado no corpo sutil entre o cérebro e o corpo
perispiritual, junto ao centro coronário, através de uma verdadeira cirurgia
que lembra um transplante... E assim como nos transplantes orgânicos pode haver
a rejeição, igualmente no tema em foco, se nosso irmão não continuar alimentando-se
das benesses do sentimento da fé e do amor – sustendo das nobres realizações –,
poderá ocorrer uma “suspensão natural” da imunização psíquica. Até agora,
entretanto, Cesário vem demonstrando bom proveito relativamente ao alívio
mental da sobrecarga de vibrações que lhe são desfechadas, utilizando-se desse
“empréstimo” para investir mais no trabalho do bem. Porém, dia virá em que suas
defesas naturais superarão os recursos defensivos do anel protetor, e ele não
mais terá a mesma função. Nessa ocasião, como sempre acontece com outros
medianeiros, dentre os poucos que se fazem credores desses tipos de amparo, sua
benfeitoria, obviamente, lhe oferecerá outros créditos, sempre visando a expansão
da luz de todos. Os recursos nesse sentido são infinitos como expressões do
Amor do Pai.
Arrematando sua fala sempre
sincera e bem humorada, Dona Maria Modesto assim encerrou sua lição:
— Importante considerar que o “anel” propicia-lhe proteção, inclusive, em
relação aos petardos mentais dos encarnados que não lhe são tão simpáticos aos esforços
no bem coletivo. E não imaginem que seja de fora das lidas doutrinárias a origem
dessas “forças contrárias”. Essa é uma questão que deveria merecer de todos os
espíritas encarnados uma investigação mais séria, porque, pelo que temos constatado,
as obsessões de homem para homem são mais comuns que imaginam nossos irmãos na
carne. E sem querer decepcionar a ninguém, sou obrigada a concluir que, mesmo
clareados com a luz do Espiritismo, existe muito espírita obsidiando
espírita... Quem sabe, além do gênero que já mencionai sobre as obsessões
controladas, poderíamos classificar mais esse tipo no capítulo das interferências
obsessivas, talvez com o título “obsessão espírita!!!
[1] Reforma Íntima
sem Martírio – Wanderley S. de
Oliveira
[2] Obra de amor no plano espiritual fundada por Eurípedes
Barsanulfo.
[3] Maria Modesto Cravo nasceu em Uberaba a 16 de abril de
1899 e desencarnou em Belo Horizonte a 8 de agosto de 1964. Uma das pioneiras
do Espiritismo em Uberaba, atual com devotamento junto ao “Centro Espírita
Uberabense” e ao “Lar Espírita”. Médium de excelentes qualidades, trabalhadora incansável
do amor ao próximo e mulher de muitas virtudes, Dona Modesta, como era
conhecida, foi a fundadora do “Sanatório Espírita de Uberaba”, voltado para
tratamento dos transtornos mentais, inaugurado em 31/12/1933 e em plena
atividade até hoje. Foi nessa casa de amor que se tornou conhecido o valoroso
companheiro Dr. Inácio Ferreira, médico psiquiatra e um dos baluartes do bem.
Muito bom esse texto. Mostra bem como a imunidade psíquica é capaz de defender o médium das várias formas de obsessão, inclusive da "obsessão espírita", além de auxiliá-lo na capacidade de domínio interior e no desempenho de seus trabalhos.
ResponderExcluirComo fica claro no referido texto, esse imunizador psíquico exige uma educação de si mesmo, uma reforma íntima, uma mudança de comportamento, além de preces.
Há que vigiar nossas ações, sentimentos e emoções e pedir proteção. Lembrar-se que o perdão, para nós mesmos e para os outros, inclusive para o Espírito obsessor, é um grande curador, um excelente remédio, associado ao sentimentos de humildade e compreensão...
Maria marialudo05@gmail.com
marialudoO5@gmail.com
ResponderExcluirObrigada por me lembrar de estudar. Sempre. Boa tarefa....
ResponderExcluirmarialudo05@gamil.com