quarta-feira, 19 de abril de 2017

A Obsessão e a Força do Pensamento[1]


Dra. Marlene Nobre - Associação Médico-Espírita do Brasil


Certa vez, conversando com o médium Francisco Cândido Xavier sobre revelações espirituais e Ciência, ouvi suas lúcidas ponderações sobre o tema e guardei especialmente a conclusão: “A Fé abre uma picada, a Ciência passa por cima e constrói uma estrada”.
Mais tarde, deparei-me com um pensamento semelhante em Agostinho: “A fé procura, o intelecto encontra”, a propósito de um comentário do Santo a Isaías, VII : 9: “Se não crerdes não entendereis”.
Em meu livro A Obsessão e suas Máscaras, tomei como diretriz básica essas mesmas ideias. Nele, parto da revelação espiritual, procurando dissecar os ensinamentos dos espíritos na obra de André Luiz. Tento organizar esse extraordinário filão de informações e proponho aos pesquisadores e estudiosos o desenvolvimento de investigações e trabalhos práticos sobre o assunto. Procuro, assim, contribuir, embora reconheça a forma singela desse tentame, para que a Ciência avance nessa direção, uma vez que a obsessão é um dos piores flagelos da humanidade. Neste trabalho, aqui apresentado, seguimos a mesma orientação.
Convidada a resumir os assuntos do meu livro, apresento, nestas páginas, algo da primeira parte do mesmo, visando, sobretudo, ressaltar a tentativa de classificação das obsessões e suas psicopatologias.
Um dos ilustres precursores da Psiquiatria Iluminada, Dr. Inácio Ferreira, responsável pelo Sanatório Espírita de Uberaba, instituição à qual dedicou mais de 50 anos de sua existência física, aplicou, habitualmente, a medicina da alma, aliando o tratamento médico ao espiritual, contando, para esse árduo trabalho, com médiuns valorosos e abnegados. E os resultados foram surpreendentes, com enorme sucesso terapêutico onde outros falharam.
Convicto da interferência da humanidade desencarnada na existência humana, o Dr. Ferreira ressaltou que os médicos “precisam desviar-se um pouco de suas investigações da matéria, lançando-se ao estudo e às experimentações no campo espiritual”. E, antevendo o futuro, enfatizou: “Precisam compreender e chegarão a essa compreensão, quer queiram, quer não, que 70% dessas tragédias que se desenrolam na Humanidade, produzindo esses desequilíbrios mentais, são consequências de atuações psíquicas partidas do mundo invisível aos nossos olhos materializados, porém, percebidas e sentidas pelos médiuns, criaturas possuidoras de um sexto sentido”.
Kardec referiu-se à obsessão como sendo “o domínio que alguns Espíritos logram adquirir sobre certas pessoas”. Embora a tivesse classificado em obsessão simples, fascinação e subjugação, reconheceu que esse estado patológico “apresenta caracteres muito diferentes, que vão desde a simples influência moral, sem perceptíveis sinais exteriores, até a perturbação completa do organismo e das faculdades mentais”.
Na obra de André Luiz encontramos detalhados, praticamente, todos esses caracteres diferentes da obsessão. Segundo a revelação de Emmanuel, na erraticidade existem mais de 20 bilhões de espíritos, errantes e conscientes, gravitando em torno da Terra, sendo que a maioria deles está a espera de novas existências para dar prosseguimento à luta evolutiva. Desses postulantes à reencarnação, três quarto são espíritos imperfeitos, afeiçoados ainda ao egoísmo destruidor, daí a grande heterogeneidade e as características de atraso e imperfeição do mundo em que vivemos.
Tendo em vista que “a influência dos espíritos é de todos os instantes e, mesmos os que não creem neles, estão sujeitos a sofrê-la” é possível ter uma ideia do grau de pressão e o tipo de influência que essas três quartas partes exercem sobre a humanidade encarnada.
“Fora erro acreditar alguém que precisa ser médium, para atrair a si os seres do mundo invisível. Eles povoam o espaço; temo-los incessantemente em torno de nós, investindo em nossas reuniões, seguindo-nos ou evitando-nos, conforme os atraímos ou repelimos”, ressalta Kardec.
Neste século, o espírito Marilyn Monroe chamou a atenção para esse perigo. Em entrevista a Humberto de Campos, notável escritor brasileiro desencarnado, realizada no Memorial Park Cemetery, em Hollywood, e transmitida a Francisco Cândido Xavier, a famosa estrela confessou-se vampirizada por inimigos desencarnados e classificou a obsessão como um dos piores flagelos da humanidade.
A psicóloga Edith Fiore também ressalta esse tipo de ação, afirmando que essa influência “na vida e no comportamento dos hospedeiros desacautelados é sempre negativa e, às vezes, fatal”.
É preciso destacar os dois tipos básicos de obsessão: as de natureza anímica, ocasionadas pelos próprios espíritos encarnados, e as de natureza mediúnica, provocadas pelos desencarnados.
As obsessões de natureza anímica procedem da capacidade de comunicação dos espíritos encarnados, de se desprenderem dos sentidos físicos, atuando como almas relativamente livres.
As mediúnicas (espiríticas) são as obsessões propriamente ditas e são ocasionadas pelos espíritos desencarnados.
No rastreamento da obra de André Luiz e de alguns outros livros de Chico Xavier, foi possível detectar diferentes aspectos das obsessões anímicas, classificando-as em dois grandes grupos.
Efeitos Inteligentes: Obsessão telepática; auto-obsessão; personalidade antiga cristalizada (fixação mental); possessão partilhada (parceiros no vício);
Efeitos Físicos: Casos de Poltergeist, referidos, mas não detalhados na série. Como esse tipo está também presente nas obsessões mediúnicas, vamos analisá-la, ao final, após ter detalhado os tipos de obsessões mediúnicas de efeitos inteligentes.
As obsessões mediúnicas apresentam-se sob várias modalidades, partindo dos dois grandes grupos: de Efeitos Inteligentes e de Efeitos Físicos.
Efeitos Inteligentes: Simbioses em graus diversos; Parasitose mental ou vampirismo, com mecanismos e graus diversos de atuação: infecções fluídicas, fixação mental (monoideísmo), psicopatologias do corpo espiritual (perispírito), como parasitas ovoides, deformidades e zoantropia (licantropia); Vampirismo com repercussões orgânicas: possessão, epilepsia, neuroses etc.. Sintonia: prevalência do mecanismo hipnótico, como na fascinação (canalização com dominação telepática); obsessão oculta (obsessão durante o sono físico) e obsessão coletiva. Encontramos, ainda, nesta classificação, os pensamentos sonorizados (mecanismos semelhante à radiofonia e televisão) e as alergias com origem obsessiva.
Efeitos Físicos: Poltergeist, referidos na obra, mas não detalhados. Há casos de Poltergeist que expressam o predomínio da ação dos encarnados, responsáveis pelo aliciamento de espíritos inferiores no processo obsessivo; em outros, a predominância na ação é dos desencarnados.
Em todos esses casos temos de considerar a utilização negativa dessa força que é o ectoplasma.
Hermani Guimarães Andrade, um dos maiores pesquisadores de Poltergeist do mundo, pôde constatar na maioria dos casos investigados, essa interferência física negativa, que se inicia, quase sempre, sob o comando de encarnados que se acumpliciam com os desencarnados, no intuito de prejudicar a vida de algumas pessoas ou de famílias inteiras.
Obsessão Telepática
Como vimos, fenômenos anímicos são aqueles produzidos pela alma do homem encarnado. Aksakof descreve os quatro tipos de ação extracorpórea do homem vivo:
1) aqueles que comportam efeitos psíquicos (telepatia, impressões transmitidas a distância);
2) os de efeitos físicos (fenômenos telecinéticos, transmissão de movimento à distância);
3) os que determinam o aparecimento de sua imagem (aparecimento de duplos);
4) aqueles em que há o aparecimento de sua imagem com certos atributos de corporeidade (ele é visto em dois lugares ao mesmo tempo).
Temos, assim, muitas ocorrências que podem resultar nos fenômenos mediúnicos de efeitos físicos ou de efeitos intelectuais, com a própria inteligência encarnada comandando manifestações ou delas participando com diligência, numa demonstração de que o corpo espiritual pode efetivamente desdobrar-se e atuar com os seus recursos e implementos característicos, como consciência pensante e organizadora, fora do corpo físico.
Essa capacidade de sair fora do corpo e atuar como espírito livre também pode ser empregada em condutas patológicas. Nesse caso, estamos diante da obsessão anímica, a influência negativa de almas encarnadas entre si.
Uma dessas modalidades é a obsessão anímica telepática, que se traduz pela guerra de pensamentos, “assumindo as mais diversas formas de angústia e repulsão”. E é muito mais comum do que podemos imaginar.
John Herenwald descreve os casos de sua clínica psicanalítica referentes à obsessão telepática. Um deles é o de um rapaz rejeitado por companheiros de pensão. O detalhe importante é que essa rejeição não era fácil de ser detectada porque tinha caráter oculto, pois todos fingiam apreciá-lo. Com o afastamento do paciente do local, a mudança de ambiente fez com que os sintomas obsessivos desaparecessem, gradualmente, na proporção em que os “amigos” o esqueciam.
Refere-se André Luiz a um caso de dominação telepática em Nos Domínios da Mediunidade. O casal janta na companhia das três filhas. O marido está alheio à conversação que se faz animada em torno da mesa, mantém ar de enfado, olhar distante. Após ler os jornais, prepara-se para sair. A mulher fica decepcionada, esperava que ele ficasse para as preces que fariam em conjunto, logo mais. Nesse momento, surge em cena à frente dos olhos do marido, uma surpreendente imagem de mulher projetada sobre ele à distância, aparecendo e desaparecendo, com intermitências. Apressado, ele despede-se e sai, alegando negócios e compromissos. A esposa não acredita e intui que os compromissos sejam com outra mulher. À medida que a dona da casa a identifica mentalmente e passa a produzir pensamentos hostis em relação a ela, a mesma imagem de mulher que aparecera para o marido começa a surgir à sua frente, até se tornar inteiramente presente. Ambas entram em franca contenda mental, trocando mútuas acusações como autênticas inimigas.
Nesses casos de influência telepática, o fenômeno está relacionado com a sintonia.
O assistente Áulus adverte: “Muitos processos de alienação mental guardam nele as origens. Muita vezes, dentro do mesmo lar, da mesma família ou da mesma instituição, adversários ferrenhos do passado se reencontram. Chamados pela Esfera Superior ao reajuste, raramente conseguem superar a aversão de que se veem possuídos, uns à frente dos outros, e alimentam com paixão, no imo de si mesmos, os raios tóxicos da antipatia que, concentrados, se transformam em venenos magnéticos, suscetíveis de provocar a enfermidade e a morte. Para isso, não será necessário que a perseguição recíproca se expresse em contendas visíveis. Bastam as vibrações silenciosas de crueldade e despeito, ódio e ciúme, violência e desespero, as quais, alimentadas, de parte a parte, constituem corrosivos destruidores”.
Milhões de lares podem ser comparados a trincheiras de lutas, em que pensamentos guerreiam pensamentos com angústia e repulsão.
Em Obreiros da Vida Eterna, o assistente Barcelos, benfeitor espiritual também ligado à psiquiatria iluminada, traz, do mesmo modo, importantes ponderações sobre a influência de encarnados entre si. Refere-se às obsessões do plano espiritual que passam para a existência terrestre e são vivenciadas dentro dos lares: “Os antagonismos domésticos, os temperamentos aparentemente irreconciliáveis entre pais e filhos, esposos e esposas, parentes e irmãos, resultam dos choques sucessivos da subconsciência, conduzida a recapitulações retificadoras do pretérito distante. Congregados de novo, na luta expiatória ou reparadora, as personagens dos dramas que se foram, passam a sentir e ver, na tela mental, dentro de si mesmas, situações complicadas escabrosas de outra época, malgrado os contornos obscuros da reminiscência, carregando consigo fardos pesados de incompreensão, atualmente definidos por ‘complexos de inferioridade’”.
Barcelos ressalta ainda que o encarnado, nessas condições, é um forte candidato à loucura, porque não sabe explicar as recordações imprecisas que brotam do passado no presente e não conta também com o auxílio de psiquiatrias e neurologistas, muito presos ainda às convenções da medicina ortodoxa. Segundo crê, falta-lhes a água viva da compreensão e a luz mental que lhes revela a estrada da paciência e da tolerância, em favor da redenção própria.
E pode haver ainda um agravante. Como reconhece Aksakof: “Nos fatos da telepatia é frequentemente difícil precisar o momento no qual o fato anímico se torna um fato mediúnico”. Daí, observarmos, muitas vezes, nos casos de obsessão telepática, a participação de desencarnados de condição inferior, agravando de muito o quadro patológico inicial.
O PENSAMENTO NO UNIVERSO
Emmanuel, no prefácio do livro Mediunidade e Sintonia, dá um outro enfoque para o ditado popular “Dize-me com quem andas que te direi quem tu és”.
O mentor de Chico Xavier lembra que os nossos pensamentos ditam nossa conduta e que, de acordo com nossa conduta, amealhamos companhias, através das quais somos conhecidos, principalmente por observadores do mundo espiritual.
Para a doutrina espírita, o estudo do pensamento é fundamental. Pensar é criar, portanto, o ato de pensar está relacionado diretamente à nossa origem espiritual.
Fomos criados à imagem e semelhança de Deus, com a capacidade de interferir em sua obra. Como bem lembrou o físico William Barret, “A criação não é mais do que o pensamento divino exteriorizado, e desse atributo divino nós partilhamos muito limitadamente, como parcelas da inteligência infinita”.
André Luiz sustenta a mesma ideia: “Nos fundamentos da criação vibra o pensamento imensurável do Criador e sobre esse pensamento divino vibra o pensamento mensurável da criatura, a constituir-se no vasto oceano de força mental em que os poderes do espírito se manifestam”.
O hausto do Todo Sábio banha tudo quanto existe e nós, com nossa força mental deficitária, somos capazes de influir positiva ou negativamente, ainda que de forma restrita, nesse vasto oceano de energias desconhecidas.
Em 1968, formulou-se a Teoria das Supercordas (String Theory) na tentativa de unificação da física quântica e gravitacional, entreabrindo-se a possibilidade de existência de infinitas dimensões no universo.
Entre as cordas, a estável corresponderia ao elemento primordial, conceito muito próximo do fluido cósmico primitivo revelado pelos espíritos a Kardec, ou do plasma divino na designação atualizada de André Luiz.
Na década de 1980, Andrei Linde, astrofísico russo radicado nos Estados Unidos, formulando a Teoria dos Universos Inflacionários, utilizou o conceito de sopa de plasma para indicar o elemento do qual o universo é formado, aquele estado “onde não existem átomos, nem elétrons, nem galáxias”.
Temos, assim, a possibilidade de co-criar, moldando o fluido cósmico universal, ou plasma divino, através da força mental inerente ao nosso espírito. Realizamos esse processo através das ideoplastias.
Para o médico e pesquisador Gustave Geley, ideoplastia é a “moldagem da matéria viva, feita pela ideia”. E André Luiz define com clareza: “A ideia é um ‘ser’ organizado por nosso espírito, a que o pensamento da forma e ao qual a vontade imprime movimento e direção”. Assim, através desses “seres” produzidos por nós mesmos, coagulados a partir dos nossos pensamentos, influímos nesse vasto oceano de forças que nos rodeiam.
Desse modo, nossas ideias exteriorizadas criam imagens tão vivas quanto desejamos. Como nossas ações são frutos de nossas ideias, geramos a felicidade ou a desventura para nós mesmos. O encarnado pode, assim, ser perseguido por si mesmo, devido às suas próprias criações mentais. No livro Libertação, André Luiz refere-se a dois casos de auto-obsessão. Um deles é o do investigador de polícia que abusou de sua posição para humilhar e ferir e encontrou, na terceira idade, o resultado de suas próprias ações negativas, apresentando-se na condição de perseguido por si mesmo. Com a senectude corporal, o remorso abriu-lhe grande brecha na fortaleza mental, passando, então, a ser atormentado pelo que fez e pelo que tem sido. Com isso, houve o fortalecimento do parasitismo ovoide, em um processo de vampirismo espiritual.
O outro caso é o de um escritor atormentado pelas próprias criações mentais negativas e destrutivas que criou em seus livros. Os personagens voltam, sob a forma de ideoplastias ou formas-pensamento, para atormentá-lo. Esse processo se dá no mundo espiritual ou durante a encarnação, especialmente na fase da senectude, quando a alma do escritor se torna mais vulnerável.
Em ambos os casos, só com extrema modificação mental e persistente reforma íntima é que cada protagonista conseguirá curar-se de sua psicopatologia.
Aprendemos com os benfeitores espirituais que a maldade deliberada é moléstia da alma e a modificação no plano mental das criaturas jamais pode ser imposta; é, antes, fruto do tempo, do esforço e da evolução.




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