domingo, 29 de janeiro de 2017

O DESPERTAR DA CONSCIÊNCIA ESPIRITUAL[1]



André de Paiva Salum
 

 A vida, considerada sob qualquer aspecto, inclusive o espiritualista, é uma sucessão de eventos e fenômenos de transformação, obedecendo à lei universal da evolução. Tudo no Universo se transforma e se ajusta em contínuo mecanismo de adaptação e aperfeiçoamento.
A evolução anímica é um desenvolvimento gradual da consciência. A cada etapa do processo evolutivo a consciência se expande e amplia as percepções e concepções de si mesma bem como da vida em geral.
Tudo faz parte desse processo universal, inclusive o estágio evolutivo humano. Ocorre que a evolução da consciência não se dá de forma linear, mas em ciclos que se sucedem e se interpenetram. No final de um ciclo e início de outro mais avançado, ocorrem momentos especiais de crise, de alteração de rumo, de mudança de plano vibratório. Em algumas etapas do processo evolutivo, para alcançar maior nível de consciência a pessoa precisa romper com padrões de conduta que não servem mais ao novo estado; portanto existe uma crise de crescimento. Tais situações são como rupturas no padrão de vida que o ser vinha trilhando de modo condicionado, rumando para patamares de maior expressão, lucidez e liberdade.
Após a conquista da autoconsciência, isto é, a percepção de si mesmo como individualidade pensante, desde os primeiros bruxuleios do raciocínio, em tempos remotos, até as conquistas atuais da razão aprimorada, o despertar tem ocorrido em etapas sucessivas de autossuperação.
Na fase atual vem ocorrendo, para uma parcela significativa da humanidade, o gradual despertamento da consciência espiritual, retirando os seres do estado de semiconsciência em que estagiaram por longos períodos e os convidando a novas conquistas evolutivas.
Esse amadurecimento significa a transferência do foco de consciência do ego ou personalidade para o Self, ou Si espiritual. É o despertar para a realidade do que se é, além da condição em que se está.
Tal processo provoca necessariamente mudanças significativas no modo de ser de quem o experimenta. Tudo se lhe apresenta novo: valores, princípios, leis espirituais até então desconhecidas ou desconsideradas, bem como perspectivas de participação ativa nos movimentos renovadores da sociedade e do mundo...
Todos os seres, mais cedo ou mais tarde, passam pelo despertar da consciência espiritual, que significa reconhecer-se cada um como é: espírito imortal, essência divina em estágio temporário na matéria. Como o nome indica, é um verdadeiro despertar do sono da ignorância em que vivia até então. É um abrir os olhos da alma para realidades que se faziam inexistentes para a cegueira seletiva do ego.
A partir desse despertamento, tudo se transforma, desde a percepção do mundo e das circunstâncias, até os relacionamentos e papéis que se desempenha na vida comunitária.
O despertar espiritual requer, naturalmente, mudanças no estilo de vida e o enfrentamento de novos desafios, que se transformam em excelentes oportunidades de crescimento. No início a incompreensão alheia, as críticas gratuitas, a desconfiança quanto à sinceridade dos novos ideais abraçados, tudo pode parecer conspirar contra as novas aquisições, e são impostas por aparentes adversários do progresso, os quais se incomodam com aquele que lhes mostra perspectivas diferentes e mais elevadas de vida. Desde que persevere nos novos ideais, quem despertou para as realidades do espírito, através do amadurecimento interior, do serviço e da ação edificantes, fortalece-se na fé e na confiança e ganha maior motivação para continuar nas tarefas renovadas e renovadoras do destino individual e, consequentemente, coletivo.
Cada ser tem o seu momento de intensificar a luz interior, após longos períodos em que transitou pelas sombras da ignorância. A humanidade, como sabemos, é composta de seres nos mais diversos níveis evolutivos, portanto heterogênea quanto à luz espiritual que cada um pode expressar. Há seres que, desde há muito, já acenderam a luz em si mesmos e a projetaram para o mundo, na condição de mestres, sábios e santos. Muitos outros, até hoje, manifestam o primarismo que ainda lhes caracteriza a conduta. Daí a necessidade da compaixão diante de todos os irmãos do caminho. Da mesma forma que os seres mais evoluídos nos compreendem e respeitam amorosamente as nossas limitações, precisamos exercitar a compaixão diante dos irmãos que, por enquanto, ainda não despertaram para as verdades espirituais que julgamos compreender.
As religiões podem servir como chamamentos ao despertar dos seguidores, desde que representem convite à reflexão, tomada de consciência e renovação de atitudes perante si mesmos e diante da vida. Caso isso não ocorra, o despertar espiritual pode significar a mudança de opção religiosa, quando a crença professada até então não mais responde aos anseios da alma mais amadurecida. Assim, a conscientização individual requer e promove um despertar concomitante dos caminhos religiosos, pois esses também evoluem para atender às necessidades crescentes de esclarecimento e orientação.
A Doutrina Espírita, como revelação dos tempos modernos, é valioso convite ao despertar espiritual para o ser humano contemporâneo, pois apresenta propostas renovadoras e repletas de ensinamentos e consolações. Fala à razão e toca o coração, tendo assim a força de auxiliar aqueles que já se mostram receptivos aos apelos do Alto para se unirem aos servidores da Nova Era de fraternidade que se anuncia para todo o mundo.




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