André de Paiva Salum
A vida, considerada sob qualquer aspecto,
inclusive o espiritualista, é uma sucessão de eventos e fenômenos de
transformação, obedecendo à lei universal da evolução. Tudo no Universo se
transforma e se ajusta em contínuo mecanismo de adaptação e aperfeiçoamento.
A evolução anímica é um
desenvolvimento gradual da consciência. A cada etapa do processo evolutivo a
consciência se expande e amplia as percepções e concepções de si mesma bem como
da vida em geral.
Tudo faz parte desse processo
universal, inclusive o estágio evolutivo humano. Ocorre que a evolução da
consciência não se dá de forma linear, mas em ciclos que se sucedem e se
interpenetram. No final de um ciclo e início de outro mais avançado, ocorrem
momentos especiais de crise, de alteração de rumo, de mudança de plano
vibratório. Em algumas etapas do processo evolutivo, para alcançar maior nível
de consciência a pessoa precisa romper com padrões de conduta que não servem
mais ao novo estado; portanto existe uma crise de crescimento. Tais situações são
como rupturas no padrão de vida que o ser vinha trilhando de modo condicionado,
rumando para patamares de maior expressão, lucidez e liberdade.
Após a conquista da
autoconsciência, isto é, a percepção de si mesmo como individualidade pensante,
desde os primeiros bruxuleios do raciocínio, em tempos remotos, até as
conquistas atuais da razão aprimorada, o despertar tem ocorrido em etapas
sucessivas de autossuperação.
Na fase atual vem ocorrendo,
para uma parcela significativa da humanidade, o gradual despertamento da
consciência espiritual, retirando os seres do estado de semiconsciência em que
estagiaram por longos períodos e os convidando a novas conquistas evolutivas.
Esse amadurecimento significa a
transferência do foco de consciência do ego ou personalidade para o Self, ou Si
espiritual. É o despertar para a realidade do que se é, além da condição em que
se está.
Tal processo provoca
necessariamente mudanças significativas no modo de ser de quem o experimenta.
Tudo se lhe apresenta novo: valores, princípios, leis espirituais até então
desconhecidas ou desconsideradas, bem como perspectivas de participação ativa
nos movimentos renovadores da sociedade e do mundo...
Todos os seres, mais cedo ou
mais tarde, passam pelo despertar da consciência espiritual, que significa
reconhecer-se cada um como é: espírito imortal, essência divina em estágio
temporário na matéria. Como o nome indica, é um verdadeiro despertar do sono da
ignorância em que vivia até então. É um abrir os olhos da alma para realidades
que se faziam inexistentes para a cegueira seletiva do ego.
A partir desse despertamento,
tudo se transforma, desde a percepção do mundo e das circunstâncias, até os
relacionamentos e papéis que se desempenha na vida comunitária.
O despertar espiritual requer,
naturalmente, mudanças no estilo de vida e o enfrentamento de novos desafios,
que se transformam em excelentes oportunidades de crescimento. No início a
incompreensão alheia, as críticas gratuitas, a desconfiança quanto à
sinceridade dos novos ideais abraçados, tudo pode parecer conspirar contra as
novas aquisições, e são impostas por aparentes adversários do progresso, os
quais se incomodam com aquele que lhes mostra perspectivas diferentes e mais
elevadas de vida. Desde que persevere nos novos ideais, quem despertou para as
realidades do espírito, através do amadurecimento interior, do serviço e da
ação edificantes, fortalece-se na fé e na confiança e ganha maior motivação
para continuar nas tarefas renovadas e renovadoras do destino individual e,
consequentemente, coletivo.
Cada ser tem o seu momento de
intensificar a luz interior, após longos períodos em que transitou pelas
sombras da ignorância. A humanidade, como sabemos, é composta de seres nos mais
diversos níveis evolutivos, portanto heterogênea quanto à luz espiritual que
cada um pode expressar. Há seres que, desde há muito, já acenderam a luz em si
mesmos e a projetaram para o mundo, na condição de mestres, sábios e santos.
Muitos outros, até hoje, manifestam o primarismo que ainda lhes caracteriza a conduta.
Daí a necessidade da compaixão diante de todos os irmãos do caminho. Da mesma
forma que os seres mais evoluídos nos compreendem e respeitam amorosamente as
nossas limitações, precisamos exercitar a compaixão diante dos irmãos que, por
enquanto, ainda não despertaram para as verdades espirituais que julgamos
compreender.
As religiões podem servir como
chamamentos ao despertar dos seguidores, desde que representem convite à
reflexão, tomada de consciência e renovação de atitudes perante si mesmos e
diante da vida. Caso isso não ocorra, o despertar espiritual pode significar a
mudança de opção religiosa, quando a crença professada até então não mais
responde aos anseios da alma mais amadurecida. Assim, a conscientização
individual requer e promove um despertar concomitante dos caminhos religiosos,
pois esses também evoluem para atender às necessidades crescentes de
esclarecimento e orientação.
A Doutrina Espírita, como
revelação dos tempos modernos, é valioso convite ao despertar espiritual para o
ser humano contemporâneo, pois apresenta propostas renovadoras e repletas de
ensinamentos e consolações. Fala à razão e toca o coração, tendo assim a força
de auxiliar aqueles que já se mostram receptivos aos apelos do Alto para se
unirem aos servidores da Nova Era de fraternidade que se anuncia para todo o
mundo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário