(1849 -
1918)
Neide Fonseca
Nascida aos 13 de maio de 1849,
em Edimburgo, Escócia – Grã Bretanha, com o nome de Elizabeth Hope, passando a
ser conhecida como Mme. D’Espérance, uma das maiores e mais importantes médiuns
do movimento espírita europeu e da história do Espiritismo em geral.
Filha de uma dona de casa e de
um comandante de navio teve uma infância de classe média, porém, conturbada por
visões de diversos Espíritos, em um velho casarão no Leste de Londres, onde
passou sua infância e parte da adolescência.
Como ninguém via esses
Espíritos, D’Espérance sofreu muito, era desacreditada, tornou-se uma criança
solitária. Sua mãe chegou a ter atitudes violentas para com ela e seu pai
precisou afastá-la por um período para que a relação entre as duas melhorasse.
Toda a vida dessa grande médium
foi dedicada a demonstrar aos encarnados a existência do mundo espiritual e,
por consequência, a imortalidade do Espírito, mesmo quando ainda não tinha
conhecimento do Espiritismo com o qual tomou contato já na mocidade depois de
casada.
Quando jovem, D’Espérance narra
em seu livro “Shadow Land”[2],
algo semelhante ao que aconteceu com Francisco Candido Xavier, sobre uma
redação escolar. No período em que esteve em uma escola interna, D’Espérance
deixou de ver os Espíritos e agora com boa saúde, dedicou-se a estudar,
contudo, como ela mesma diz em sua autobiografia, era péssima em todas as
matérias. Chegando o período em que os estudos terminariam era preciso
apresentar uma redação, cujo tema sorteado para D’Espérance era: “O que é a
natureza”.
Ela não conseguia sair da
primeira linha; em prantos, faz uma prece a Deus para auxiliá-la, acabando por
adormecer. Quando na manhã seguinte acorda, eis que vê os papeis e os lápis que
havia deixado na mesinha ao lado de sua cama espalhados, pega-os e lá esta a
redação pronta e com sua letra.
Ao julgar as composições, a sua
foi lida à parte pelo Reitor, não fazendo parte do concurso de redações, pois o
Reitor e a professora julgaram que era de alta qualidade e as circunstâncias
nas quais fora obtida (através de uma prece), não seria justo para com as
outras alunas, porém, não podia deixar de considerá-la muito bela, pelo que ia
tomar a liberdade de lê-la em voz alta. Desse modo, D’Espérance obteve a sua
aprovação final.
Mme. Elizabeth D’Espérance
casou-se e tornou-se a senhora Reed, em 1874, passando a morar em
Newcastle-on-Tyne.
É nessa fase da vida, aos
dezenove anos, que ela volta a ver Espíritos o que a faz entrar em contato com
a Doutrina Espírita, através de um casal amigo. Kardec já havia lançado O Livro dos Espíritos, porém naquela
parte da Inglaterra ainda se praticavam atividades com as mesas girantes.
Um acontecimento fez com que
D’Espérance acreditasse que, de fato, algo acontecia através daquelas mesas,
que não um simples passatempo como muitos acreditavam. Conta ela em seu livro
que certa feita sua mãe encontrava-se muito doente, e precisava entrar em
contato urgente com seu marido em viagem de negócios, porém sem saber a sua
exata localização. D’Esperance consulta a mesa, que responde corretamente o
local e o nome do navio em que o seu pai se encontrava. Assim pôde comunicar-se
com ele e trazê-lo de volta para casa.
São inúmeros os fatos narrados
pela médium que a partir de então, foi desenvolvendo seus talentos mediúnicos
sempre a serviço do próximo e da ciência.
D’Espérance foi uma poderosa
médium de efeitos físicos, psicografia, clarividência, telefotografia e
materialização.
Com o falecimento de seus pais,
D’Espérance sofreu um abalo em sua saúde física, adoecendo gravemente acabou
por mudar-se para o Sul da França a fim de restabelecer-se. Ao melhorar, abraça
definitivamente o Espiritismo e decide dedicar sua vida a trabalhar pela causa.
Vai para a Alemanha e fica
hospedada na casa de um professor de nome Friese, onde conhece o professor
Friedrich Zöllner, espírita. Acontecem sessões memoráveis na casa de Friese,
que também se torna espírita, e é obrigado a renunciar à sua cátedra na
Universidade de Breslau.
Tempos difíceis para os que
professam a Doutrina Espírita: perseguições, achincalhes e não foi diferente
com D’Espérance, que se viu obrigada a submeter-se a diversas experiências para
com os cientistas e descrentes da época.
De volta a Londres ela retoma o
seu grupo de estudo e trabalho, começa então um período de maravilhosas
materializações que abalariam as estruturas do materialismo.
Alexandre Aksakof, pesquisador e
professor da Academia de Leipzig(Alemanha), estudou a médium e os fenômenos por
ela produzidos por mais de vinte anos. Aksakof testemunhou um evento importante
em uma sessão de materialização em que D’Espérance participava, escrevendo
posteriormente a obra intitulada “Um Caso de Desmaterialização”.
Vejamos um trecho da obra: “Um
caso dos mais extraordinários produziu-se, em dezembro de 1893, numa sessão
realizada em Helsingfors (Finlândia) pela Mme. D’Espérance, fato que projeta
viva luz sobre os misteriosos fenômenos de materialização, e que confirma, pela
vista e pelo tato de muitas testemunhas, o que até a presente data não era
senão um postulado teórico exigido pela lógica”.
Em todos os tempos foi
reconhecido pelo Espiritismo que o fenômeno de materialização se produz a
expensas do corpo do médium, que fornece os elementos necessários, isto é, que
um certo grau de desmaterialização do médium corresponde ao começo inevitável
do fenômeno de materialização do Espírito.
A mediunidade de Mme.
D’Esperance pode ser dividida em quatro etapas:
1ª fase: infanto-juvenil, com a visão de Espíritos que brincavam
com ela, uma vez que os via como de carne e osso. Isso perturbava os seus pais,
que chegaram a levá-la à presença de um médico, pois a julgavam louca.
2ª fase: pintura e psicografia, especialmente do Espírito Humnur
Stafford, que em grande parte foram respostas às indagações elaboradas por T.
P. Barkas, abrangendo vários aspectos da ciência, em inglês, alemão e latim.
3ª fase: materializações de Espíritos e flores.
4ª fase: médium de fotografias espíritas (fotografias de Espíritos,
iniciando a partir de 1896)
Elizabeth D’Espérance também se
dedicou a divulgar a Doutrina na tentativa de arrebanhar as criaturas para um
melhor entendimento da vida. Assim é que, certa feita, no ano de 1883, escreve
a Gabriel Delanne, embora não se conhecessem pessoalmente, para que fosse
visitá-la, pois tinha algo serio a falar com ele. Ele aquiesceu ao pedido um
pouco desconfiado, pois pensava ser mais uma daquelas pessoas que dizia
conhecer o Espiritismo e não passavam de simples curiosos. Porém, Delanne se
surpreende ao encontrar-se com a médium que lhe diz desejar fundar um jornal
para divulgar o Espiritismo e lhe entrega cinco mil francos (quantia vultosa à
época), para as primeiras despesas. Nasce assim a Revista “O Espiritismo”,
graças à generosidade de Mme D’Esperance.
Mme. D’Espérance publicou muitos
artigos na imprensa espiritualista. Além disso publicou sua autobiografia
“Shadow Land“, e três anos depois, publicou “Northern Lights“.
Em 1893, aos 44 anos de idade,
adoece gravemente, após uma sessão em Helsingfors, na Finlândia, porque um
pesquisador assistindo à sessão de materialização suspeitou de que tudo aquilo
fosse uma fraude e de súbito agarrou o Espírito que se materializara. Isso,
porém, teve um resultado desastroso, pois a repentina desmaterialização do
Espírito repercutiu no corpo físico da médium que teve uma hemorragia pulmonar,
adoecendo por dois anos.
Em um tempo em que na Europa
médiuns viam esse dom como uma atividade lucrativa, D’Esperance nunca cobrou
nada, foi fiel ao projeto de Jesus.
Elizabeth D’Esperance falece a 20
de Julho de 1918, na Alemanha deixando um rastro de luz na Terra ao cumprir sua
missão de servir de intermediaria entre os dois planos da vida levando a muitos
pesquisadores a comprovação da imortalidade.
Encerramos essa pequena
biografia dessa grandiosa mulher com trechos da mensagem aos Espíritas, contido
na sua autobiografia “No País das Sombras”, capítulo XXVIII – “Os
Investigadores que conheci” (5ª ed. 1987, p. 311):
“A vós todos, porém, que estais
fatigados da vida, de seus cuidados incessantes, de seus amargores e
sofrimentos; a vós, cuja alma aspira à certeza, que vistes partir seres amados,
deixando-vos no coração a dor e o desespero, que tendes o desejo sincero de
obter provas da sobrevivência; é a vós que me dirijo. Purificai o vosso
espírito de todo preconceito, o vosso cérebro de todo veneno, o vosso corpo das
impurezas causadas pelas enfermidades, filhas dos vossos apetites, e buscai
confiantes a verdade, porque achareis o que procurais. (…) A minha tarefa está
agora terminada. Os que me seguirem poderão sofrer como eu sofri, por causa da
ignorância das leis divinas. Como o mundo hoje é mais sábio do que no meu
tempo, os que empreenderem a obra talvez não tenham, como eu, de lutar contra a
superstição e os juízos severos dos fariseus.(…) Agora que afinal encontrei o
que buscava durante tão longos anos, anos de estudos ingratos, misto de raios
de sol e tempestades, de prazeres e sofrimentos, posso bradar bem alto e com
alegria a todos os que quiserem escutar-me: “Encontrei a Verdade! Ela será
também a vossa grande recompensa, se a buscardes com perseverança, humildade e
seriedade.”
Bibliografia consultada:
Elisabeth D’Esperance – No País das Sombras – Rio de Janeiro
– FEB – 5.ª edição, 1987
Revista de Espiritismo no. 40, julho/setembro 1998
Alexandre Aksakoff – Um caso de desmaterialização – Rio de
Janeiro – FEB
[2] Shadow Land, editado pela FEB – Federação Espírita
Brasileira com o título “Região das Sombras”, 5.ª edição, 1987.
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