sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

APEGO E SOFRIMENTO[1]


 
Hugo Lapa[2]


Sobre os nossos apegos terrenos, precisamos lembrar de algo muito importante:
“Aquilo com o qual nos apegamos no mundo, será o nosso sofrimento no plano espiritual.”
Essa máxima é muito importante de ser compreendida, pois ela define nosso bem estar, nossa felicidade e nossa paz… Ou define nossa dor, vazio e sofrimento após a morte.
Aquele que depende de uma coisa para viver, como por exemplo, comida, compras, vícios, sexo, dinheiro, patrimônio etc. vai sofrer muito quando chegar ao plano espiritual e perceber que essas coisas não existem lá. Não existe comida no plano espiritual, pois o espírito não precisa se alimentar.
Por isso, se você é dependente da comida, se tem apego a ela, no plano espiritual você vai sofrer pela ausência de comida. Vai desejar a comida e ela não estará lá. Quanto maior o apego, maior será o seu sofrimento no plano espiritual quando você descobrir que seu objeto de apego não está presente.
No plano espiritual somos muito mais sensíveis do que no plano material. Quando estamos na Terra, revestidos por um invólucro composto de matéria grosseira, essa roupagem que envolve o espírito de certa forma nos protege de quem somos. Isso é positivo para o humano encarnado, pois lhe dá mais tempo de realizar sua purificação interior e se libertar de todas as suas imperfeições. No plano físico temos os desejos relacionados ao corpo e seus prazeres. Mas na condição de espíritos, fora da vida corpórea, aquele que não se libertou dos seus desejos em vida, permanece com eles. O mais grave é que os desejos que ficam na memória do espírito, com os quais ele se apegou, se apresentam de forma bem mais intensa e vívida.
O espírito que se acostumou em comer carne, adora carne, está apegado à carne e não consegue se imaginar vivendo sem comer carne, no plano espiritual vai sofrer muito com a ausência da carne. Ele vai desejar a carne, e não poderá se alimentar de carne. Da mesma forma o espírito de um fumante vai desejar o cigarro e não poderá mais sentir o prazer do tabaco em seu organismo. O resultado dessa falta é apenas um… sofrimento. O sofrimento pelos desejos não satisfeitos, pelos apegos, pelas nossas dependências e vícios humanos, é muito forte. Muitos espíritos nessa condição de ânsia pelos desejos materiais sentem-se tão carentes dos seus objetos de apego que permanecem no plano material, errático e perturbados, para poder usufrui-los.
É muito comum ver espíritos se ligando a encarnados, em graves processos obsessivos, fumando junto com eles. Ou espíritos alcoólatras que, quando desencarnam, não podem mais beber e, assim, entram em “possessão” com os encarnados para beber junto com eles. Se o encarnado obsedado por esses espíritos decide dar um ponto final e largar o vício, esses espíritos podem assedia-lo intensamente, estimulando sua necessidade pelo álcool, provocando no encarnado a sensação de carência, de desprovimento, de privação, e assim, faze-lo voltar a beber. Nesse estado, o encarnado pode ceder a esse apego e retornar o vício. Assim, os espíritos que estão com ele continuarão bebendo junto com ele. Obviamente não se trata de beber fisicamente, pois o espírito não tem mais corpo. Trata-se de incorporar no encarnado e compartilhar com ele da sensação da bebida, do prazer na ingestão do álcool.
De vez em quando vejo algumas pessoas dizendo: “Sim, eu sei que tenho esse apego, mas ainda não consigo larga-lo. No futuro eu me desapego”. Esse pensamento é muito perigoso, pois o ser humano encarnado não sabe o momento de sua morte. Ele pode morrer daqui a alguns segundos, como pode morrer daqui a 80 anos. Pode acontecer de alguém deixar para depois a libertação dos seus apegos e morrer repentinamente, num acidente de carro, num ataque cardíaco ou em outras condições. Quando isso acontece, não praticamos o desapego e o sofrimento no plano espiritual será uma realidade. O espírito que chega ao plano espiritual com todos os seus apegos, não pode mais se libertar. Ou ele se liberta aqui na matéria, ou não se liberta.
Estamos falando do sofrimento no plano espiritual, mas é certo que o apego também gera sofrimento aqui mesmo, na matéria. Uma pessoa muito apegada a sua casa, pode perder essa casa ainda em vida e sofrer muito com isso. Uma pessoa muito apegada a seu dinheiro, pode viver uma crise financeira e perder seu dinheiro e seus bens e também sofrer muito com isso. Algumas pessoas muito apegadas podem até mesmo pensar em suicídio, tal é seu grau de apego em relação àquilo que possuem. A depressão é muitas vezes o resultado de apegos não satisfeitos muito arraigados dentro de nós. Aquele que faz sua vida depender de uma coisa e depois a perde, pode também perder sua vida quando seu apego não existe mais. Todos precisam compreender que todo e qualquer tipo de apego deve ser extirpado de nossa vida, por um motivo muito simples: nenhum desses objetos de apego existe no plano espiritual. O plano espiritual, que é o plano real, não dispõe de qualquer coisa que necessitamos na Terra. As necessidades do mundo são apenas do mundo… elas não existem fora daqui. Por isso, quem se apega, sempre sofre pela perda, seja na matéria, seja no plano do espírito.
Por outro lado, as pessoas não tem noção da liberdade espiritual que conquistam quando se libertam dos seus apegos terrenos. É uma liberdade impossível de se expressar em palavras, de tão elevada, sublime e plena. Todos aspiram à liberdade, mas poucos são aqueles que aceitam abrir mão de tudo o que nos aprisiona. Não é possível ser livre e viver com apegos. O apego é o oposto da liberdade, assim como a escuridão é o oposto da luz. Quem vive mergulhado em seus apegos, vive e morre preso e infeliz. Aquele que, ao contrário, se solta de tudo e vive apenas pelo espírito que é, esse é livre, totalmente livre… e infinitamente feliz após a morte.
Portanto, o desapego do que existe no mundo não é apenas uma questão de moral espiritual, de evolução da alma ou da aspiração à transcendência. É principalmente a melhor forma de evitar o sofrimento, de nos proteger da carência, de superar a dor da perda de algo que não podemos mais obter. E acredite: essa dor do apego, no plano espiritual, é muito, muito sofrida.




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