sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

A Veste no Guarda-Roupa[1]



Richard Simonetti
 

As cenas mais fortes dos filmes de horror, aquelas de “arrepiar”, mostram, geralmente, urnas funerárias e cadáveres.
Os cineastas que exploram o medo mórbido e atávico da criatura humana em relação à morte, para os que cultivam o insólito prazer de levar sustos, ver-se-ão na contingência de escolher outros temas, na proporção em que compreendemos que o caixão fúnebre é apenas uma caixa de madeira forrada de pano e que o cadáver nada mais é que a vestimenta carnal de alguém que, após o estágio terrestre, regressou ao mundo de origem - o Plano Espiritual.
Seria ridículo sentir arrepios ao contemplar um guarda-roupa ou, dentro dele, o traje de um familiar ausente. No entanto, é exatamente isso que ocorre com muita gente em relação à morte. Conhecemos pessoas que, sistematicamente, recusam-se comparecer a velórios, refratárias a contatos com caixões e defuntos, mesmo quando se trate de familiares, dominadas por indefiníveis temores. Provavelmente têm traumas com ocorrências trágicas no pretérito.
Para a grande maioria, entretanto, o problema tem origem na forma inadequada de encarar a grande transição, principalmente por um defeito de formação na idade infantil.
Lembro de que nos meus verdes anos, várias vezes fui instado a beijar familiares mortos, o que fazia com constrangimento, avesso ao contato de meus lábios com a face fria, descorada e rígida de alguém que eu conhecera pleno de vida, com quem convivera e que agora se quedava, inerte, solene, sombrio... E me deixava contagiar pelas lágrimas de desespero e doridas lamentações dos menos comedidos, sedimentando em minha cabeça a ideia de que a morte é algo de terrível e apavorante, uma infeliz imagem que somente na idade adulta, com o conhecimento espírita, consegui superar.
É preciso muito cuidado com as crianças, habituando-as à concepção de que somos seres espirituais eternos, usando uma veste de carne que um dia deixaremos, assim como se abandona um traje desgastado, após determinado tempo de uso.
É dessa forma que o corpo sem vida deve ser mostrado a uma criança, quando se disponha a vê-lo, explicando-lhe, em imagens singelas, de acordo com seu entendimento, que o vovô, a titia, o papai ou qualquer familiar desencarnado, foi morar em outro lugar, onde terá roupa nova e bem melhor.
Igualmente importante é o exemplo de serenidade e equilíbrio dos adultos, oferecendo aos pequenos uma visão mais adequada da morte, situando-a como a separação transitória de alguém que não morreu. Apenas partiu.




[1] Quem tem medo da morte? – Richard Simonetti

Um comentário:

  1. Eu não sei se tenho medo da morte ,penso muito nisso ,acho q tenho medo de sofrer, dar trabalho aos poucos parentes q tenho.Gostaria de dormir aqui e acordar do outro lado.acho q quem morre assim é merecedor 1 premiado.Acho q p ñ sentir medo da morte tem q ter muita fé em Deus e na Espiritualidade.Sei q ninguém escapará dela então ñ adianta ter medo,temos q ter coragem e refletir sobre ela.

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