Richard Simonetti
Quando comparecemos a um velório
cumprimos sagrado dever de solidariedade, oferecendo conforto à família.
Infelizmente, tendemos a fazê-lo pela metade, com a presença física, ignorando
o que poderíamos definir por compostura espiritual, a exprimir-se no respeito
pelo ambiente e no empenho de ajudar o morto.
Superada a longa fase das
carpideiras, em que obrigatoriamente a presença da morte era encarada como alto
terrível de inspirar compulsórios sentimentos de dor, com a participação de
lágrimas abundantes, fomos parar no extremo oposto em que, excetuados os
familiares, os circunstantes parecem estar em oportuna reunião social, onde
velhos amigos se reencontram, com o ensejo de “pôr a conversa em dia”. Contam-se
piadas, fala-se de futebol, política, sexo, modas... Ninguém se dá ao trabalho
sequer de reduzir o volume da voz, numa zoeira incrível, principalmente ao
aproximar-se o horário do sepultamento, quando o recinto acolhe maior número de
pessoas.
O falecido é sempre lembrado,
até com palavras elogiosas (em princípio todo morto é bom, conforme velha
tradição humana), mas fatalmente as reminiscências desembocam em aspectos
negativos de seu comportamento, gerando chistes e fofocas.
Imaginemos a situação desconfortante
do Espírito, ainda ligado ao corpo, mergulhado num oceano de vibrações
heterogêneas, “contribuição” lamentável de pessoas que comparecem em nome da
amizade, mas agem como indisciplinados espectadores a dificultar a tarefa de
diligente equipe de socorro no esforço por retirar um ferido dos escombros de
uma casa que desabou...
Preso à residência temporária
transformada em ruína física pela morte, o desencarnante, em estado de
inconsciência, recebe o impacto dessas vibrações desrespeitosas e desajustantes
que o atingem penosamente, particularmente as de caráter pessoal. Como se
vivesse terrível pesadelo ele quer despertar, luta por readquirir o domínio do
corpo, quedando-se angustiado e aflito.
Num velório concorrido, como
expressivo acompanhamento ao túmulo, comenta-se:
“Que belo enterro! Quanta gente!”
No entanto, nem sempre o que nos
parece agradável é bom, principalmente quando confrontamos a realidade física
com a espiritual. Quanto maior o número de pessoas, mas heterogêneas as
conversas, mais carregado o ambiente, maior o impacto sobre o falecido.
Há algum tempo estive em um
hospital providenciando o sepultamento de um indigente. Acertada a documentação
necessária, o morto partiu para o cemitério no carro fúnebre, sem nenhum
acompanhamento. Eu próprio não pude fazê-lo em virtude de obrigações
profissionais.
“Que tristeza! Velório vazio!
Enterro solitário!”
Espiritualmente, melhor assim.
Não havia ninguém para atrapalhar e os benfeitores espirituais puderam realizar
mais tranquilamente sua tarefa, libertando o prisioneiro de acanhada prisão de
carne para reconduzi-lo aos gloriosos horizontes espirituais.
[1] Quem tem medo
da Morte? – Richard Simonetti
Eu sei o que é isso, velório para uns uma tristeza sem conta, para outros alegria do reencontro de muito tempo. eu mesmo critiquei pós sepultamento do corpo que foi de minha filha. Após o meu desabafo eu encaminhei o Ser Espiritual até o Plano Maior onde aquele que foi Minha Genitora na existência atual já a estava esperando, aquilo me deu uma paz indiscutível, só passei a ocorrência para meus familiares. As pessoas que comparecem a um enterro deveriam ao menos mostrar um pouco de respeito, mas não. A mensagem está ai aprende quem quer, e depois não ache ruim.
ResponderExcluirÓtimo Texto, entendi que muitas vezes quantidade de pessoas podem atrapalhar ao inves de ajudar, por causa das atitudes que a maioria tem. Mas neste ultimo caso contato do enterro de um indigente, falou que foi melhor um enterro sem ninguém, pois facilitou trabalho dos benfeitores espirituais, mas caso este indigente, seja alguém que está desparecido com uma familia desesperada a sua procura, o espirito dele nao sentiria isto e poderia estar até preso aos laços familiares dificultando do mesmo jeito o trabalho dos bem feitores? Além de poder ser uma pessoa que foi assassinada e pode estar querendo vingança? Onde neste casos, poderia atrapalhar tbm o trabalho dos bem feitores em questão do próprio espirito não permitir sua proximidade
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