quinta-feira, 10 de novembro de 2016

O Movimento Espírita Brasileiro em ruínas[1]



Adeptos mal esclarecidos prejudicam sua marcha
 
A possibilidade da vida após a morte é um dos maiores mistérios da humanidade, desde que o homem tem consciência, procura formas de compreender esse fenômeno que todos deveremos experimentar em dado momento. Alguns conseguem rapidamente apreender através da intuição e da certeza inata, que o homem é muito mais do que uma simples máquina orgânica, outros, entretanto carecem de algo mais tangível, de explicações mais empíricas e racionais… ver para crer!
A Doutrina Espírita foi um dos primeiros corpos de ensino a pacificar o pensamento e a crítica científica com os fenômenos mediúnicos, através da observação científica e estudo metódico dos fatos. Allan Kardec deu o impulso inicial e fez a primeira pesquisa de campo em direção a compreensão e consequência imediata dos acontecimentos insólitos que vieram a abalar o mundo desde 1848, e deduziu que o fruto de tais conclusões dava nascimento a uma doutrina, a que chamou de Espírita, utilizando um termo já existente na América do Norte, como já nos foi demonstrado anteriormente por estudo realizado pelo pesquisador espírita Herivelto Carvalho.
Os adeptos da doutrina, no entanto, não foram capazes de compreender o pensamento do mestre lionês e transformaram o grande trabalho daquele ilustre pedagogo de inclinação científica, em mais uma religião vulgar cheia de crendices, superstições e dogmas. É o caso do espiritismo no Brasil, rebocado pela FEB. Por outro lado, os adeptos contrários ao religiosismo autointitulados “ortodoxos conservadores” tem o hábito de idolatrar o codificador, descartando como inútil tudo aquilo que não está nas 32 publicações kardequianas, circunscrevendo a doutrina a Kardec e fazendo dele um semideus, logo, indo em desencontro com as instruções claras e irretocáveis do codificador, quanto ao seu papel.
O movimento espírita brasileiro encontra-se entre a cruz e a espada, de um lado uma classe em quantidade inumerável de religiosos e evangelistas espíritas, onde seguramente podemos afirmar que entre os evangélicos espíritas e os evangélicos e protestantes não há qualquer diferença. De outro, um número quase insignificante de fanáticos alienados por Kardec. Um ataca o outro com escárnio, deboche e rancor, praticando tudo aquilo que é oposto à caridade. Ambos perduram na alienação, não por falta de aviso já que o próprio codificador tantas vezes preveniu os adeptos dos tropeços no caminho, mas pelo puro preciosismo e a falsa sensação de um conhecimento e um amadurecimento espiritual.
Não é por falta de motivos que a Doutrina Espírita, ao invés de progredir, não dá um passo desde Kardec. Atualmente sofre com uma turba de sabichões cheios de conhecimentos oriundos dos grupinhos do facebook. Colocam a Doutrina mesmo à frente do pensamento e do critério científico de onde ela nasceu, e insistem em distorcer a afirmação de que a Doutrina Espírita é uma questão de Fé e Crença, pincelando fora do contexto um discurso do Codificador.
A Ciência Espírita foi abandonada, por culpa destas duas classes tupiniquins de adeptos mal esclarecidos, que acreditam pertencer ao Espiritismo, já que no resto do globo ela quase desapareceu. Os talentos que a Doutrina Espírita conseguiu atrair ao longo dos anos, deixaram-na pela crítica encarniçada, inútil e sem fundamento às ideias de avanço propostas, por estes dois grupos de adeptos. Partindo em direção ao movimento metapsíquico fundado por Charles Richet, e atualmente na parapsicologia que possui um quadro invejável de intelectuais, fazendo dela muito mais que uma pseudociência.
Cumpre-se a “profecia” de que a Doutrina Espírita, será aquilo que seus adeptos fizerem dela. Alguns espíritas, não tem sequer o pudor de afirmar que Kardec e as obras fundamentais estão ultrapassadas e que em vista do novo (Emmanuel, André Luiz, Humberto de Campos, Joana de Angelis, etc.) o espiritismo kardequiano já não tem mais razão de ser, demonstrando uma ignorância flagrante e um completo desprezo pelo trabalho majestosamente elaborado por uma legião de dedicados Espíritos Superior, que nem o mais razoável dos “letrados” poderia ignorar.
Temos uma legião de alienados em um espiritismo à moda da casa. Estão absolutamente certos de conhecer todos os pormenores da doutrina, que se encheram de arrogância, presunção e prepotência. Cada um destes quer explicar as coisas a seu modo e à força, acusando aqueles que não compreendem seu pensamento, de ignorantes, imbecis e idiotas. Comportamento típico entre pseudointelectuais… lamentável egoísmo.
Mas nem tudo está perdido, há entre estas duas classes modernas de espíritas brasileiros, uma que orbita entre uma e outra. Esta sabe identificar logo de cara os exaltados religiosos e amantes do espiritismo “moderno” como também ignorar os fanáticos experimentadores e pseudointelectuais. Esta classe intermediária não se expõe em discussões e debates inúteis e exaltados, conhece o valor e a importância das obras fundamentais, sabe que a doutrina “teve início” com Kardec, mas não se encerrou com ele ou nele; que não é à força que se reforma ideias erradas ou mal compreendidas; que as demais ciências devem auxiliar a doutrina a ratificar suas conclusões ou retificá-las quando for necessário; que a doutrina espírita não é intocável ou perfeita, tendo em vista que foi transmitida por médiuns imperfeitos, sofreu diversas distorções após Kardec e várias traduções levianamente adulteradas para dar-lhe abrangência religiosa, e que precisará de um novo fôlego à luz das novas evidências científicas.
É bom lembrar que desde que o movimento espírita teve início ainda na França, Kardec identificou algumas classes de adeptos, e lançando os olhos sobre este movimento espírita brasileiro, temos a certeza de que esta classificação ainda é bem atual, com exceção da ausência – pelo menos que eu tenha ciência – de adeptos que se detém na primeira classe enumerada logo abaixo.  Dentre os que se convenceram dos preceitos Espíritas através do estudo, Kardec com muita propriedade e atualidade os classifica como:
1. Os que acreditam unicamente nas manifestações dos Espíritos. Para esses o Espiritismo se restringe ao fenômeno mediúnico, detendo-se apenas no aspecto de observação – chamados de ’espíritas experimentadores’, ou seja, só se interessam pelas reuniões mediúnicas.
2. Os que se dedicam exclusivamente ao estudo do aspecto filosófico do Espiritismo, admitindo a moralidade que dele decorre, mas sem a aplicabilidade da moralidade cristã em sua vida, posto que não mudam seus hábitos nem seus prazeres, pois a caridade cristã” não passa de uma bela máxima – são os espíritas imperfeitos, ou seja, meros estudiosos da Doutrina.
3. Já os verdadeiros espíritas praticam a moral espírita e aceitam suas consequências. Cientes da transitoriedade da existência corpórea, tratam de aproveitar os seus “breves instantes” esforçando-se para fazer o bem e reprimir as más tendências objetivando o seu progresso espiritual e elevação no Mundo dos Espíritos.
4. “Espíritas exaltados”, que são aqueles de confiança cega e pueril nas manifestações do mundo invisível – aceitam muito facilmente e sem controle aquilo que a reflexão e o exame demonstrariam ser absurdo ou impossível, pois o entusiasmo não esclarece, ofusca. (LM., Cap. III, 28)
 
No que concerne a tais espíritas, Kardec assevera que “se apenas eles tivessem de sofrer as consequências o mal seria menor, mas o pior é que oferecem, sem querer, motivos aos incrédulos que mais procuram zombar do que se convencer e não deixam de imputar a todos o ridículo de alguns. Isso não é justo nem racional, sem dúvida, mas os adversários do Espiritismo, como se sabe, só reconhecem como boa a sua razão e pouco se importam de conhecer o fundo do que falam”. (LM., Cap. III, 28)
Se você se ofendeu com este diagnóstico feito por mim, a possibilidade de você fazer parte de um dos dois extremos explicados anteriormente, é bem grande. Mas se você simplesmente não concorda, deixe seu comentário no final do artigo, explicando seu motivo, já que diferentemente destes dois extremos não pretendo ser sempre o portador da verdade ou da precisão na forma de expressão e também procuro melhorar sempre.
Algumas pessoas podem se questionar afinal, o motivo deste diagnóstico, já que a Doutrina Espírita pelas suas obras fundamentais continuará sendo a mesma? Bom, nós assumimos um compromisso quanto a divulgação correta dos postulados espíritas, procurando levar ao maior número de pessoas este corpo de doutrina, que reforma e alivia as almas. Não nos omitimos e deixamos a doutrina à mercê das circunstâncias. Os Espíritos Superiores já nos deram a doutrina, agora façamos bom emprego e bom uso dela, defendendo-a sem timidez, não permitindo que façam dela o que bem entendem alguns homens mal esclarecidos. Não queremos converter ninguém e nem fazer prosélitos, motivo pelo qual nos limitamos a escrever para aqueles que procuram a doutrina. Não queremos que daqui há algumas gerações, o Espiritismo se torne uma nova Cabala.
Se você é um Espírita, divulgue a doutrina com precisão, com zelo para que ela seja corretamente compreendida e para que alcance seu objetivo na sociedade, fazer avançar moralmente os homens.




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