Adeptos mal esclarecidos prejudicam sua marcha
A possibilidade da vida após a
morte é um dos maiores mistérios da humanidade, desde que o homem tem
consciência, procura formas de compreender esse fenômeno que todos deveremos
experimentar em dado momento. Alguns conseguem rapidamente apreender através da
intuição e da certeza inata, que o homem é muito mais do que uma simples
máquina orgânica, outros, entretanto carecem de algo mais tangível, de
explicações mais empíricas e racionais… ver para crer!
A Doutrina Espírita foi um dos
primeiros corpos de ensino a pacificar o pensamento e a crítica científica com
os fenômenos mediúnicos, através da observação científica e estudo metódico dos
fatos. Allan Kardec deu o impulso inicial e fez a primeira pesquisa de campo em
direção a compreensão e consequência imediata dos acontecimentos insólitos que
vieram a abalar o mundo desde 1848, e deduziu que o fruto de tais conclusões
dava nascimento a uma doutrina, a que chamou de Espírita, utilizando um termo
já existente na América do Norte, como já nos foi demonstrado anteriormente por
estudo realizado pelo pesquisador espírita Herivelto Carvalho.
Os adeptos da doutrina, no
entanto, não foram capazes de compreender o pensamento do mestre lionês e
transformaram o grande trabalho daquele ilustre pedagogo de inclinação
científica, em mais uma religião vulgar cheia de crendices, superstições e
dogmas. É o caso do espiritismo no Brasil, rebocado pela FEB. Por outro lado,
os adeptos contrários ao religiosismo autointitulados “ortodoxos conservadores”
tem o hábito de idolatrar o codificador, descartando como inútil tudo aquilo
que não está nas 32 publicações kardequianas, circunscrevendo a doutrina a
Kardec e fazendo dele um semideus, logo, indo em desencontro com as instruções
claras e irretocáveis do codificador, quanto ao seu papel.
O movimento espírita brasileiro
encontra-se entre a cruz e a espada, de um lado uma classe em quantidade
inumerável de religiosos e evangelistas espíritas, onde seguramente podemos
afirmar que entre os evangélicos espíritas e os evangélicos e protestantes não
há qualquer diferença. De outro, um número quase insignificante de fanáticos
alienados por Kardec. Um ataca o outro com escárnio, deboche e rancor,
praticando tudo aquilo que é oposto à caridade. Ambos perduram na alienação,
não por falta de aviso já que o próprio codificador tantas vezes preveniu os
adeptos dos tropeços no caminho, mas pelo puro preciosismo e a falsa sensação
de um conhecimento e um amadurecimento espiritual.
Não é por falta de motivos que a
Doutrina Espírita, ao invés de progredir, não dá um passo desde Kardec.
Atualmente sofre com uma turba de sabichões cheios de conhecimentos oriundos
dos grupinhos do facebook. Colocam a Doutrina mesmo à frente do pensamento e do
critério científico de onde ela nasceu, e insistem em distorcer a afirmação de
que a Doutrina Espírita é uma questão de Fé e Crença, pincelando fora do
contexto um discurso do Codificador.
A Ciência Espírita foi
abandonada, por culpa destas duas classes tupiniquins de adeptos mal
esclarecidos, que acreditam pertencer ao Espiritismo, já que no resto do globo
ela quase desapareceu. Os talentos que a Doutrina Espírita conseguiu atrair ao
longo dos anos, deixaram-na pela crítica encarniçada, inútil e sem fundamento
às ideias de avanço propostas, por estes dois grupos de adeptos. Partindo em
direção ao movimento metapsíquico fundado por Charles Richet, e atualmente na
parapsicologia que possui um quadro invejável de intelectuais, fazendo dela muito
mais que uma pseudociência.
Cumpre-se a “profecia” de que a
Doutrina Espírita, será aquilo que seus adeptos fizerem dela. Alguns espíritas,
não tem sequer o pudor de afirmar que Kardec e as obras fundamentais estão
ultrapassadas e que em vista do novo (Emmanuel, André Luiz, Humberto de Campos,
Joana de Angelis, etc.) o espiritismo kardequiano já não tem mais razão de ser,
demonstrando uma ignorância flagrante e um completo desprezo pelo trabalho
majestosamente elaborado por uma legião de dedicados Espíritos Superior, que
nem o mais razoável dos “letrados” poderia ignorar.
Temos uma legião de alienados em
um espiritismo à moda da casa. Estão absolutamente certos de conhecer todos os
pormenores da doutrina, que se encheram de arrogância, presunção e prepotência.
Cada um destes quer explicar as coisas a seu modo e à força, acusando aqueles
que não compreendem seu pensamento, de ignorantes, imbecis e idiotas.
Comportamento típico entre pseudointelectuais… lamentável egoísmo.
Mas nem tudo está perdido, há
entre estas duas classes modernas de espíritas brasileiros, uma que orbita
entre uma e outra. Esta sabe identificar logo de cara os exaltados religiosos e
amantes do espiritismo “moderno” como também ignorar os fanáticos
experimentadores e pseudointelectuais. Esta classe intermediária não se expõe
em discussões e debates inúteis e exaltados, conhece o valor e a importância
das obras fundamentais, sabe que a doutrina “teve início” com Kardec, mas não
se encerrou com ele ou nele; que não é à força que se reforma ideias erradas ou
mal compreendidas; que as demais ciências devem auxiliar a doutrina a ratificar
suas conclusões ou retificá-las quando for necessário; que a doutrina espírita
não é intocável ou perfeita, tendo em vista que foi transmitida por médiuns
imperfeitos, sofreu diversas distorções após Kardec e várias traduções
levianamente adulteradas para dar-lhe abrangência religiosa, e que precisará de
um novo fôlego à luz das novas evidências científicas.
É bom lembrar que desde que o
movimento espírita teve início ainda na França, Kardec identificou algumas
classes de adeptos, e lançando os olhos sobre este movimento espírita
brasileiro, temos a certeza de que esta classificação ainda é bem atual, com
exceção da ausência – pelo menos que eu tenha ciência – de adeptos que se detém
na primeira classe enumerada logo abaixo.
Dentre os que se convenceram dos preceitos Espíritas através do estudo,
Kardec com muita propriedade e atualidade os classifica como:
1. Os que acreditam unicamente
nas manifestações dos Espíritos. Para esses o Espiritismo se restringe ao
fenômeno mediúnico, detendo-se apenas no aspecto de observação – chamados de
’espíritas experimentadores’, ou seja, só se interessam pelas reuniões
mediúnicas.
2. Os que se dedicam
exclusivamente ao estudo do aspecto filosófico do Espiritismo, admitindo a
moralidade que dele decorre, mas sem a aplicabilidade da moralidade cristã em
sua vida, posto que não mudam seus hábitos nem seus prazeres, pois a caridade
cristã” não passa de uma bela máxima – são os espíritas imperfeitos, ou seja, meros
estudiosos da Doutrina.
3. Já os verdadeiros espíritas
praticam a moral espírita e aceitam suas consequências. Cientes da
transitoriedade da existência corpórea, tratam de aproveitar os seus “breves
instantes” esforçando-se para fazer o bem e reprimir as más tendências
objetivando o seu progresso espiritual e elevação no Mundo dos Espíritos.
4. “Espíritas exaltados”, que
são aqueles de confiança cega e pueril nas manifestações do mundo invisível –
aceitam muito facilmente e sem controle aquilo que a reflexão e o exame
demonstrariam ser absurdo ou impossível, pois o entusiasmo não esclarece,
ofusca. (LM., Cap. III, 28)
No que concerne a tais
espíritas, Kardec assevera que “se apenas eles tivessem de sofrer as
consequências o mal seria menor, mas o pior é que oferecem, sem querer, motivos
aos incrédulos que mais procuram zombar do que se convencer e não deixam de
imputar a todos o ridículo de alguns. Isso não é justo nem racional, sem
dúvida, mas os adversários do Espiritismo, como se sabe, só reconhecem como boa
a sua razão e pouco se importam de conhecer o fundo do que falam”. (LM., Cap.
III, 28)
Se você se ofendeu com este
diagnóstico feito por mim, a possibilidade de você fazer parte de um dos dois
extremos explicados anteriormente, é bem grande. Mas se você simplesmente não
concorda, deixe seu comentário no final do artigo, explicando seu motivo, já
que diferentemente destes dois extremos não pretendo ser sempre o portador da
verdade ou da precisão na forma de expressão e também procuro melhorar sempre.
Algumas pessoas podem se
questionar afinal, o motivo deste diagnóstico, já que a Doutrina Espírita pelas
suas obras fundamentais continuará sendo a mesma? Bom, nós assumimos um
compromisso quanto a divulgação correta dos postulados espíritas, procurando levar
ao maior número de pessoas este corpo de doutrina, que reforma e alivia as
almas. Não nos omitimos e deixamos a doutrina à mercê das circunstâncias. Os
Espíritos Superiores já nos deram a doutrina, agora façamos bom emprego e bom
uso dela, defendendo-a sem timidez, não permitindo que façam dela o que bem
entendem alguns homens mal esclarecidos. Não queremos converter ninguém e nem
fazer prosélitos, motivo pelo qual nos limitamos a escrever para aqueles que
procuram a doutrina. Não queremos que daqui há algumas gerações, o Espiritismo
se torne uma nova Cabala.
Se você é um Espírita, divulgue
a doutrina com precisão, com zelo para que ela seja corretamente compreendida e
para que alcance seu objetivo na sociedade, fazer avançar moralmente os homens.
Nenhum comentário:
Postar um comentário