É dos Gauleses que nos vem a
comemoração dos mortos, esta festa de 2 de Novembro que caracteriza o nosso
povo entre todos. Apenas, em vez de celebrá-la como nós nos campos fúnebres,
entre os túmulos, era no lar doméstico que recordavam as lembranças dos amigos
distantes, mas não perdidos, que evocavam a memória dos espíritos amados que,
por vezes, se manifestavam por intermédio das mulheres Druidas e dos Bardos
inspirados.
Henri Martin, na sua História da
França, volume I, página 71, exprime-se assim: “Tudo o que se refere à doutrina
da morte e da renovação periódica do mundo e de todos os seres parece estar
concentrado na crença e nos ritos do 1° de Novembro. Noite cheia de mistérios
que o Druidismo legou ao Cristianismo e que o dobre dos mortos anuncia ainda
hoje a todos os povos católicos esquecidos das origens desta antiga
comemoração.
Cada uma das grandes regiões do
mundo gaulês tinha um centro ou meio sagrado ao qual pertenciam todas as partes
do território confederado. Neste centro ardia um fogo perpétuo que se
denominava o fogo pai.
Na noite do 1° de Novembro,
segundo as tradições irlandesas, os Druidas reuniam-se em redor do fogo pai
guardado por um pontífice ferreiro e apagavam-no. A este sinal, de próximo em
próximo, apagavam-se todos os fogos; por toda a parte reinava um silêncio de
morte, a natureza inteira parecia mergulhada numa noite primitiva. De repente o
fogo saltava outra vez sobre a montanha santa e gritos de alegria eclodiam de
todos os lados. A chama tomada ao fogo pai corria de lar em lar de uma
extremidade à outra e reanimava por toda a parte a vida".
À questão do culto dos mortos
entre os Celtas, liga-se a recordação de Carnac com os seus monumentos
megalíticos. Todos os celtas conhecem esta imensa necrópole que se estendia por
várias milhas de comprimento desde lockmariaker até Erdeven.
Os alinhamentos de menires, hoje
em parte destruídos, contavam ainda milhares de pedras erguidas na Idade Média.
É preciso ver estas longas filas sombrias como monumentos funerários?
Colocou-se em dúvida, porque, nas escavações realizadas junto aos menires,
foram encontrados raros fósseis humanos. O espírito de Allan Kardec
assegura-nos que escavando mais profundamente ter-se-iam encontrado muito mais
ossos. As cavernas sepulcrais de Lockmariaker, os dólmens de Erdeven e outros
lugares, não deixam nenhuma dúvida sobre o destino deste vasto campo fúnebre.
Os menires eram tanto túmulos de chefes políticos como religiosos, enquanto que
as cavernas e os dólmens recebiam os restos de personagens menos elevadas na
ordem social.
Os megalíticos Locmariaquer são
um complexo de construções neolíticas em Locmariaquer, França. Eles compreendem túmulos e sepulturas e um
dólmen conhecido como o Table des Marchand "O Menir quebrada de Er
Grah", o maior bloco único conhecido de pedra transportada e erguido pelo
homem do Neolítico.
(...) Qual era então o
pensamento dominante que agrupava todos estes mortos na extremidade do
continente? Muitos escritores procuraram discerni-lo sem êxito. Contudo a
explicação parece ser a seguinte: Perante os horizontes infinitos do mar e do
céu, acreditava-se que o voo das almas era mais fácil para estes mundos que
brilham lá no alto, no seio das noites, ou então para os que se esbatem ao
largo à noite nas brumas do anoitecer; estas praias varridas pelas ondas, estas
fronteiras de um vasto desconhecido tinham para os nossos antepassados um
carácter misterioso e sagrado.
Nestas sepulturas: dólmens,
cavernas funerárias e túmulos de todas as dimensões, encontram-se objetos
diversos misturados a restos humanos calcinados ou a esqueletos inteiros. São
sílex brutos ou polidos, urnas, armas e até foices de ouro servindo para o culto.
Estes objetos pertencem, pois a todas as épocas desde os tempos mais recuados:
paleolíticos, neolíticos, idades do bronze e do ferro. (...) Os megálitos não
consistem somente em sepulturas, mas também em monumentos consagrados ao culto.
Os mais importantes são os (...) círculos de pedras no centro dos quais se
erguia geralmente um grande menir. Alguns são duplos e triplos e representam
então os três círculos da vida universal de acordo com a indicação das Tríades.
Nestes recintos, praticavam-se os ritos divinos e evocavam-se as almas dos
defuntos. Entre estas pedras, algumas desempenhavam o mesmo papel que as mesas
falantes dos nossos dias e respondiam pelos seus movimentos às perguntas dos
assistentes. Assim, o Manual para servir ao estudo da antiguidade céltica, fala
da pedra falante (...) que dava as respostas como a lech lavar dos gauleses.
Acrescentemos para memória que os autores antigos atribuíam aos Druidas um
poder mágico completamente perdido hoje em dia e cujo vestígio se encontra
apenas nas práticas do hipnotismo, do magnetismo e do faquirismo.
Plínio chamava os Druidas de
Magi, nome que constantemente lhes é dado nos textos latinos e irlandeses, diz
Dom Gougaud, beneditino inglês, no seu livro as Cristandades célticas[2].
De acordo com este autor, os Druidas gozavam dos poderes seguintes:
“condensações de nevoeiro, precipitações atmosféricas, tempestades no mar e
sobre a terra, etc.». Acrescenta que “o druida Fraechan Mac Tenuisain protegeu
o exército do rei da Irlanda, Diarmait Mac Cerbaill, contra o inimigo por uma
barreira mágica (airbe druad) que traçou à frente dela. Todos os que cruzavam
esta muralha fluídica eram feridos de morte. Todos os antigos textos irlandeses
estão recheados de fatos semelhantes”.
Quase sempre, os círculos de
pedras dos quais acabamos de falar eram dispostos nas clareiras das florestas,
porque, em matéria religiosa, a floresta mantém sempre para os Celtas o seu
prestígio augusto e sagrado. Na época druídica a natureza ainda não estava
alterada pela influência nociva, pela corrente destrutiva das paixões. Ela era
como o grande médium, o intermediário poderoso entre o céu e a terra.
Os Druidas, sob a abóbada das
árvores seculares, cujos cimos funcionavam como antenas que atraíam as
radiações do espaço, recebiam mais facilmente as intuições, as inspirações, os
ensinamentos do alto. Ainda hoje, apesar de tantas devastações sofridas, a floresta
não nos oferta uma impressão salutar e reconfortante pelos seus eflúvios, uma
espécie de dilatação da alma? É pelo menos o que eu próprio experimentei tantas
vezes. Certas pessoas, privadas de faculdades mediúnicas, interrogam-me às
vezes como preparar-se para entrar em contato com o invisível. A esta pergunta,
respondo: “Afastem-se do barulho das cidades, embrenhem-se na floresta, é na
solidão dos grandes bosques que melhor se julga a vaidade das coisas humanas e
a loucura das paixões. Nestas horas de recolhimento, parece que um diálogo
interno se estabelece entre a alma humana e os poderes do Além. Todas as vozes
da natureza se unem, os murmúrios que a terra e o espaço ciciam à orelha
atenta, tudo nos fala das coisas divinas, nos ilumina com os conselhos da
sabedoria e nos ensina o dever. Era o que dizia Joana D'Arc aos seus
interrogadores de Rouen que lhe perguntavam se ela ouvia sempre as suas vozes:
“O barulho das prisões impede-me de o perceber, mas se me conduzissem a
qualquer floresta eu os ouviria bem”. Passa-se o mesmo com a ciência dos
mundos; é uma fonte incomparável de elevação, porque ela revela-nos todo o
gênio do Criador.
No meio dos recintos sagrados,
os Druidas entregavam-se a observações atentas e neste intento possuíam meios que
faziam a admiração dos antigos. É verdade que o desfile imponente dos astros
durante as noites claras de inverno é um dos espetáculos mais impressionantes
que a alma pode fruir. Uma paz serena desce dos espaços, sentimo-nos como num
templo imenso, o pensamento eleva-se então num impulso mais rápido para estas
regiões superiores, interroga estes milhares de mundos, parece-lhe que as suas
sutis radiações respondem aos seus apelos. A aplicação das forças radiantes aos
usos terrestres permite crer que uma transmissão, mesma física, não é
impossível através dos abismos do espaço. As vias do destino que nos são
abertas vinculam-nos estreitamente a este esplêndido universo do qual nós somos
como espíritos um elemento imperecível, o seu futuro é o nosso, prosseguiremos
com ele e nele está a nossa evolução, participaremos na sua obra, na sua vida,
numa medida sempre engrandecedora.
Trecho selecionado da obra de LÉON DENIS, “O GÊNIO CÉLTICO E
O MUNDO INVISÍVEL”, SEGUNDA PARTE – O DRUIDISMO, IX – A RELIGIÃO DOS CELTAS, O
CULTO, OS SACRIFÍCIOS, A IDEIA DA MORTE.
[2] Gabalda, edit., Paris.
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