JOSÉ PASSINI[2]
- Juiz de Fora, MG (Brasil)
“É assim que tudo serve, que
tudo se encadeia na Natureza, desde o átomo primitivo até o arcanjo, que também
começou por ser átomo [3]”.
Todos nós, Espíritos imortais,
ao sermos criados, partimos de um mesmo ponto, recebendo como herança a
capacidade de progredir, em medida absolutamente igual, em consonância com a
indefectível justiça de Deus. Ao longo dos milênios sucessivos, através do esforço
evolutivo individual, vamos revelando a luz divina que trazemos dentro de nós,
conforme se depreende da recomendação de Jesus: “Assim resplandeça a vossa luz
diante dos homens (...) [4]”.
Jesus não teria feito essa
recomendação se não soubesse da existência dessa herança divina imanente em
todos os seres, cantada com o nome de amor pelo poeta: “O amor em nós, certo existe
desde o nosso alvorecer, remontando a priscas eras, no esboço do nosso ser. Em
estado de latência, no dealbar da existência, Deus concede de antemão, a sua herança
bendita, que a alma busca contrita nas asas da
evolução [5]”.
A exteriorização mais ou menos
intensa dessa herança divina que trazemos é que nos torna diferentes uns dos
outros. Só dentro de uma perspectiva evolutiva é que podemos ver um silvícola
feroz e um Francisco de Assis como filhos de um mesmo Deus justo, pois o que
diferencia esses dois Espíritos não é a sua natureza, a sua origem, mas,
apenas, evolução. As diferenças individuais se originam no homem, não em Deus.
A evolução do Espírito se
efetiva através de inúmeras vidas sucessivas, que lhe oferecem oportunidades
variadas de incorporar em si as experiências que o meio lhe propicia, num
processo que se pode chamar de desenvolvimento da inteligência e das virtudes
que lhe são imanentes. Essa visão da evolução do Espírito é muito clara no
Espiritismo.
Em outras religiões
reencarnacionistas, a reencarnação é vista apenas como oportunidade de os
Espíritos faltosos retornarem à Terra a fim de reparar seus erros ou de
concluir aquilo que deixaram inacabado. Admitem, também, a reencarnação de
Espíritos mais adiantados, que retornam ao mundo físico em missão, para ensinar
o caminho do Bem. Essas religiões não têm a perspectiva evolutiva.
O Espiritismo não nega essas
duas situações, indo, todavia, mais além, ensinando que não se reencarna só em
missão ou resgate, mas que a reencarnação é absolutamente necessária,
indistintamente, a todos os Espíritos, por ser inerente ao processo evolutivo.
Portanto, a reparação de faltas
anteriormente cometidas não é vista como punição, mas como elemento essencial
da escalada evolutiva rumo à perfeição, a que todos estamos sujeitos.
Igualmente, no desempenho de missão sacrificial, o Espírito Superior que a leva
a efeito não está fora do processo evolutivo, porque também ele está
progredindo, embora nada deva à Terra, tendo o seu retorno sido motivado apenas
pelo amor.
No Espiritismo, a reencarnação
ocupa lugar de destaque, constituindo-se num dos pilares básicos de toda sua
estrutura doutrinária, contrapondo-se frontalmente à tese salvacionista,
ensinada por outros setores do Cristianismo. Em verdade, a respeito de
salvação, o Espiritismo vai muito além de outras religiões, pois ao nos ensinar
que não existem penas eternas, leva-nos a concluir que todos estamos salvos,
porque somos cidadãos do Universo, filhos amados de Deus, habitantes da “Casa
do Pai”, conforme ensinou Jesus.
Em verdade, o Mestre nunca
apresentou soluções mágicas de salvação gratuita, com base apenas na fé. Pelo
contrário, suas lições sempre foram no sentido de acordar a criatura para a
necessidade de assumir sua vida, tomando em suas mãos as rédeas do seu próprio
destino: “(...) renuncie-se a si mesmo, tome sobre si a sua cruz, e siga-me [6]”.
São muitas as recomendações do
Mestre no sentido de a criatura despertar para a necessidade de progredir: “Eu,
porém, vos digo: Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei o
bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem [7]”
e, mais adiante, continua a recomendação: “Sede, pois, vós outros, perfeitos,
como perfeito é o vosso Pai celestial [8]”.
E por ser uma doutrina
eminentemente evolucionista e não salvacionista é que o Espiritismo prioriza a
oração consciente, o estudo, a reflexão, obediente à recomendação do Espírito
da Verdade: “Espíritas! amai-vos, este o primeiro ensinamento; instruí-vos,
este o segundo [9]”.
Assim, se bem atentarmos para a
amplitude e profundidade dos ensinamentos de Jesus, veremos que, em última
análise, seus ensinamentos se constituem numa ampla proposta de aperfeiçoamento
do Espírito, num chamamento ao esforço individual, que não pode ser
desenvolvido numa só vida. Por isso, quem medita sobre os ensinamentos e
exemplos de Jesus encara o Evangelho não como um livro sagrado que deva ser
lido de mãos cruzadas sobre o peito em atitude de reverência, mas o vê como um
manual de evolução do Espírito, que traça um roteiro de luz, a ser seguido ao
longo de milênios sucessivos.
[3] O Livro dos
Espíritos, item 540.
[4] Mateus, cap. 5, vers. 16.
[5] José Soares Cardoso (Acordes Espirituais).
[6] Mateus, cap. 16, vers. 24.
[7] Mateus, cap. 5, vers. 44.
[8] Mateus, cap. 5, vers. 48.
[9] O Evangelho
segundo o Espiritismo, cap. 6, item 5.
MUITO BOM !!!!!!!!!!!!!!!!!
ResponderExcluir