sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Processo de Desencarne[1]

 

A personalidade mediúnica do Doutor Horace Abraham Ackley descreve, nestes termos, a maneira por que seu Espírito se separou do organismo somático:
Como sucede a um bem grande número de humanos, meu espírito não chegou muito facilmente a se libertar do corpo. Eu sentia que me desprendia gradualmente dos laços orgânicos, mas me encontrava em condições pouco lúcidas de existência, afigurando-se-me que sonhava. Sentia a minha personalidade como que dividida em muitas partes, que, todavia, permaneciam ligadas por um laço indissolúvel. Quando o organismo corpóreo deixou de funcionar, pode o espírito despojar-se dele inteiramente. Pareceu-me então que as partes destacadas da minha personalidade se reuniam numa só. Senti-me, ao mesmo tempo, levantado acima do meu cadáver, a pequena distância dele, donde eu divisava distintamente as pessoas que me cercavam o corpo.
Não saberia dizer por que poder cheguei a me desprender e a me elevar no ar.
Depois desse acontecimento, suponho ter passado um período bastante longo em estado de inconsciência, ou de sono (o que, aliás, acontece frequentemente, se bem isso não se da em todos os casos); deduzo-o do fato que, quando tornei a ver o meu cadáver, estava ele em estado de adiantada decomposição.
Logo que voltei a mim, todos os acontecimentos de minha vida me destilaram sob as vistas, como num panorama; eram visões vivas, muito reais, em dimensões naturais, como o meu passado se houvera tornado presente. Foi todo o meu passado o que revi, compreendido o último episódio: o da minha desencarnação. A visão passou diante de mim com tal rapidez, que quase não tive tempo de refletir, achando-me como que arrebatado por um turbilhão de emoções. A visão, em seguida, desapareceu com a mesma instantaneidade com que se mostrara; às meditações sobre o passado e o futuro, sucedeu em mim vivo interesse pelas condições atuais.
Eu ouvira dizer aos espíritas que os Espíritos desencarnados eram acolhidos no mundo espiritual pelos seus parentes, ou por seus Espíritos guardiães.
Não vendo ninguém perto de mim, conclui que os espíritas se haviam enganado. Mas, apenas este pensamento me atravessou o espírito, vi dois Espíritos que me eram desconhecidos e para os quais me senti atraído por um sentimento de afinidade. Soube que tinham sido homens muito instruídos e inteligentes, mas que, como eu, não haviam cogitado de desenvolver em si os princípios elevados da espiritualidade. Chamaram-me pelo meu nome, embora não o houvesse eu pronunciado, e me acolheram com uma familiaridade tão benévola, que me senti agradavelmente reconfortado. Com eles deixei o meio onde desencarnara e onde me conservara até aquele momento. Pareceu-me nebulosa a paisagem que atravessei; mas dentro dessa meia obscuridade, fui conduzido a um lugar onde vi reunidos numerosos Espíritos, entre os quais muitos havia que eu conhecera em vida e que tinham morrido havia há algum tempo.
Notarei que no último parágrafo do episódio precedente se encontra um outro dos detalhes secundários habituais, que se diferenciam mais ou menos nas descrições de tantos Espíritos que se comunicam. Esse detalhe achará sua razão de ser nas condições espirituais, bem pouco evolvidas, do defunto autor da mensagem. Geralmente, nas de revelações transcendentais, se lê que os Espíritos dos mortos entram num meio mais ou menos radioso, onde são acolhidos pelos Espíritos de seus parentes. Aqui se vê, ao contrário, que o Espírito comunicante se encontrou em um meio nuvioso, onde foi acolhida amistosamente por dois Espíritos que lhe eram desconhecidos, mas que guardavam afinidade com ele, do ponto de vista das condições espirituais. E fácil de arguir que este aparente desacordo entre as primeiras impressões desse Espírito desencarnado e outras muitas mais frequentes dependa da circunstancia de que, como ele próprio o diz, se descuidara em vida de desenvolver em si o elemento espiritual e que os Espíritos que lhe foram ao encontro se achavam nas mesmas condições. Daí resultou que, pela lei de afinidade, um meio de luz não se adaptava às condições transitórias, mas obscurecidas, de seus Espíritos.
De outro ponto de vista, notarei que, também no episódio em apreço, o Espírito que se comunica afirma ter sofrido a prova da “visão panorâmica” de seu passado, prova que, neste caso, em vez de se desenrolar espontaneamente, em consequência de uma superexcitação sui generis das faculdades mnemônicas (superexcitação produzida pela crise da agonia, ao que dizem os psicologistas), pareceria antes provocada pelos “guias” espirituais, com o fim de predispor o Espírito recém-chegado a uma espécie de “exame de consciência”.
Notarei, finalmente, que este caso, ocorrido em 1857, já contém a narração de um incidente interessante de “bilocação” no leito de morte, seguido do fenômeno consistente na situação que durante algum tempo o Espírito desencarnado conservou, pairando por cima do cadáver. Frequentes incidentes análogos se encontrarão nas comunicações da mesma natureza; com mais frequência ainda, são sensitivos que, assistindo à morte de alguém, os descreverão segundo o que perceberam. As obras espiritualistas estão cheias de episódios deste gênero, a começar dos que foram descritos pelo famoso vidente Andrew Jackson Davis (vide Descrição da Morte por A. Jackson Davis, postado neste blog em 31/07/2016) e pelo juiz Edmonds, até aos que chegaram ao Rev. William Stainton Moses e à governante inglesa (enfermeira diplomada) Mrs. Joy Snell, que, ultimamente, assistiu à produção de fenômenos desta espécie durante uns vinte anos. Ora, quem não vê que o fato das afirmações de videntes, concordantes de modo admirável com o que narram os próprios Espíritas desencarnados, tem inegável importância, uma vez que se confirmam mutuamente? E também, com relação a esta ordem de incidentes, é muito comum que o médium escrevente, ou o sensitivo vidente, estejam na mais completa ignorância acerca da existência de tais fenômenos e da maneira por que se produzem no leito de morte. E como o caso com que acabamos de ocupar-nos remonta a 1857, isto é, aos começos do movimento espírita, tudo contribui para que se suponha que nesta circunstância o médium e os assistentes ignoravam tudo do que concerne aos fenômenos de bilocação em geral e, sobretudo, à maneira por que se dão com os moribundos.




[1] Crise da Morte – Ernesto Bozzano

quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Esboço de explicação espírita para a paralisia do sono[1]



04/10/2015

 
Conhecer os efeitos dessa força oculta que nos domina e nos subjuga malgrado nosso, não será ter a chave de muitos problemas, as explicações de uma porção de fatos que passam despercebidos?
Se esses efeitos podem ser funestos, conhecer a causa do mal não é ter um meio de preservar-se contra ele, assim como o conhecimento das propriedades da eletricidade nos deu o meio de atenuar os desastrosos efeitos do raio? (A. Kardec[2]).
O cenário é o de uma agradável tarde de final de semana. O estado que busco é o de repouso vespertino, quando se espera recuperar do cansaço físico da semana. O sono vem, porém, não da maneira usual. Pouco antes de acordar, começo a perceber tudo a minha volta. Por entre as pálpebras semifechadas, percebo a decoração conhecida do quarto. Porém, pânico e desespero tomam conta de mim: não consigo levantar. Ouço vozes dos familiares distantes que sabem que estou dormindo. Tento virar a cabeça, mas terrível surpresa! Ela parece feita de chumbo. Tento levantar meu braço sobre meu abdômen, mas ele parece ter se transformado em concreto. Sei que tento virar meu braço ou meu corpo, como se outro corpo tivesse. Quanto tempo permaneço nesse estado? Não sei dizer, mas quando finalmente desperto, por causa que desconheço, sinto-me ajustado novamente ao meu corpo original, o que me traz a sensação de grande alívio. Acabo de passar por uma experiência de paralisia de sono.
Quantas vezes tive essa experiência? Provavelmente umas três vezes. A chamada "paralisia do sono" é de ocorrência rara na vida de um indivíduo, mas bastante disseminada na população. O relato que fiz de minha experiência pessoal está longe de ser a mais comum. Além da sensação de impotência por não conseguir "se ajustar" ao corpo, há descrições de presenças, percepções anômalas ou figuras intrusivas na cena de quem desesperadamente procura acordar. Os relatos são semelhantes e descrevem uma sensação comum: a de que a personalidade se mantém íntegra, consciente da realidade a sua volta, mas, por alguma razão, não consegue se ajustar ao corpo e acaba percebendo o que parece ser uma mistura entre a "realidade" e "alucinações"...
 
Alucinações. Relatos de ocorrências anômalas durante a paralisia do sono.
O termo "alucinação" é algo recente. Ele foi criado por J. Étienne Esquirol[3], em 1845. Antes disso, o termo usado para tais ocorrências era "aparição". Chama a atenção que, nas obras de A. Kardec, esse termo é usado na acepção que se tornou dominante, em conjunto com "aparição" que tomou outro significado. Nas ocorrências de paralisia do sono, é comum o uso do termo "alucinações hipnagógicas" e "hipnopômpicas", o que não deve assustar, já que esses termos não servem para "explicar", mas apenas classificar ou designar. O primeiro termo representa alucinações que ocorrem ao adormecer, enquanto que o último designa as que ocorrem ao despertar. Tais nomes foram criados pelo filologista espiritualista F. Meyers.
Antes de esboçar uma explicação espírita para a sensibilidade expandida que ocorre com a paralisia do sono, convém ler alguns relatos. Estes foram retirados dos comentários do site www.nosleeplessnights.com [4] (acesso em setembro de 2015), mas outros semelhantes podem ser encontrados na literatura especializada[5]:
 Margaux de Bokay says: September 22, 2015 at 8:02 am:
 Meu nome é Margaux e tive uma experiência de paralisia do sono na noite passada. Mas essa foi algo diferente. Em minhas experiências de paralisia do sono frequentemente me vejo em companhia de uma entidade escura, demônio ou forma maligna. Ela não me mantem paralisada, mas fica me encarando e me olhando mover o corpo ou gritar por ajuda. Às vezes me esforço bastante para ter o controle de meu corpo de volta. Tento abrir os olhos para realmente ver a forma ou o rosto dessa entidade, tento tocá-la ou senti-la. E, depois de brigar bastante, convenço-me de que estou no controle de meu corpo, quando finalmente me alivio e a entidade vai embora. (grifos nossos)
 
Bailey says: September 17, 2015 at 3:50 am
Tive essas experiências algumas vezes ao longo de alguns meses. Elas tem acontecido desde que era bem jovem. Provavelmente hoje tive uma das mais assustadoras. Estou no terceiro mês de gravidez e me sinto bem cansada na maior parte do tempo. Cochilei um pouco na cama por algumas horas quando, de repente, percebi que não podia me mover, mas podia ouvir um ruído no meu ouvido direito como se uma mulher estivesse falando tão rápido que não podia entender. O que dizia me soava ruim e a mulher me pareceu do mal. Já que tinha experimentado isso antes, sabia que estava acontecendo de novo, mas era assustador. Acreditei ter aberto os olhos e vi um grupo de sombras sobre o teto ao meu redor. Elas estavam quietas, diferentemente da mulher que falava. Podia sentir minha mão sobre meu abdômen e instantaneamente me assustei ao me lembrar da criança. Tentei manter meus pensamentos em algo positivo. Não sou religiosa, mas comecei a cantar "Jesus me ama". De repente, a mulher parou de falar e disse: "não existe amor" e voltou a balbuciar. Fiquei chocada com a resposta e sai dessa suando bastante e assustada. Gostaria que houvesse um jeito de parar com esses episódios, pois eles me perturbam bastante. (grifos nossos)
 
Kevin A says:  September 9, 2015 at 11:29 pm
Tenho experiências como essas desde os nove ou dez anos de idade até hoje. Nem sempre, mas mais frequentemente do que gostaria de ter. Toda vez me encontro deitado, depois de me levantar no meio da noite, e logo percebo que não posso me mover. Isso depende da hora ou do lado da cama em que me encontro. Mas, tem sempre uma figura escura, mais negra do que o escuro do quarto, com uns dois metros de altura, em uma capa escura e com dedos ou unhas bastante longos (não consigo ver os detalhes, de forma que não sei se é dedo ou unha) e seu rosto é ainda mais escuro, sem nada onde se encontre a face, e que então levanta sua mão e aponta para mim. Em outra experiência comecei a rezar a oração do pai nosso e ele rosnou para mim e outra coisa parecida com demônio apareceu bem na frente do meu rosto e ai eu acordei. Em outro episódio concentrei-me em mover meu corpo a muito custo, conseguindo me libertar. Não sei no que acreditar, mas acho que ciência e religião poderiam se unir para criar uma explicação lógica que, espero, não envolva demônios ou espíritos do mal.  (grifos nossos)
 
Esboço de uma explicação espírita.
Como não existe uma teoria que permita integrar as percepções da consciência com o recebimento de informação pelo cérebro - embora a existências de muitas propostas conceituais - alucinações não podem ser explicadas, ainda que correlações existam entre o uso de drogas ou inconformidades no sistema nervoso (doenças mentais). Tais correlações não implicam em causação. Mas, nos casos de paralisia do sono não consta que a pessoa esteja sob ação de drogas ou que se apresente mentalmente enferma. Ainda que sua ocorrência afete entre 3% a 6% da população, ela é um evento raro na vida de um indivíduo, constituindo uma ocorrência "incontrolável". De qualquer forma, a maior prova de que as explicações fisiológicas fornecidas são insuficientes é que não é possível controlar nem parar episódios de paralisia do sono. Por outro lado, a simples designação do fenômeno por um termo específico não constitui explicação com já afirmamos antes.
Entretanto, os relatos de uma "presença maligna" são tão frequentes que clínicos procuraram dar uma explicação. Uma que mistura neurologia e evolucionismo foi proposta por Cheyne[6]:
Argumenta-se que a presença detectada durante a paralisia do sono surge por causa da ativação de um estado de atenção tendencioso e hipervigilante cuja principal função é resolver ambiguidades inerentes de ameaças de pistas biologicamente relevantes. Dada a inexistência de pistas que eliminem as ambiguidades, entretanto, o sentimento de uma presença persiste como uma experiência prolongada que é tanto misteriosa como ameaçadora. Essa experiência , por sua vez, elabora e integra a alucinação recorrente que frequentemente é tomada como tendo qualidades sobrenaturais ou demoníacas.
No meu ponto de vista, porém, essas são explicações adhoc, uma mistura de elementos linguísticos típicos de algumas abordagens da mente que dão a impressão de explicar por uma adequação de certas teses com a fenomenologia. A explicação acima não está de acordo com relatos de interação do indivíduo paralisado com a entidade e nem com outros que descrevem várias presenças[7] ou mesmo com a minha experiência (não avistei nenhum "misterioso ameaçador" - de fato a maioria das experiências de paralisa do sono não contém essas presenças). Outras explicações em torno da tese da "mente que confabula contra si mesmo", como um mecanismo de auto proteção, podem ser lidas em[8].
Algumas observações dos fatos narrados durante essas experiências são portanto:
·         Elas ocorrem mais ao despertar (apenas 10% ocorre ao adormecer, ou seja, são "hipnopômpicas");
·         As ocorrências parecem afetar principalmente adultos jovens[9];
·         A paralisia ocorre sem se estar sob efeito de drogas;
·         A paralisia ocorre sem se estar sob o julgo de uma doença mental (há, porém quem clame, ver[10] , que distúrbios mentais podem estar relacionados a algumas ocorrências);
·         Algumas experiências descrevem dificuldades de respirar;
·         Os episódios são incontroláveis. Não há como prevê-los ou um método infalível de cessar a paralisia;
·         Impressão de falta de controle do corpo, dai o nome "paralisia". É importante destacar que a consciência está ativa durante o fenômeno - seu estado não é o do sonho - embora se sinta deslocada ou não ligada a seu corpo, que está paralisado. Nas minhas experiências, lembro-me de sentir como que um "elástico" a fazer retornar minha "outra cabeça" para a "verdadeira", que permanecia imóvel;
·         A experiência sempre descreve como cenário o quarto ou lugar onde a pessoa está em repouso.  É a chamada "percepção realística do ambiente"[11]. Em outras palavras, a maior parte do que ela vê corresponderia ao que se acredita ser a única "realidade";
·         Alguns relatos (cerca de 1/4 dos casos[12]) descrevem quase sempre a presença de uma entidade maligna ou "coisa" que está a observar a pessoa em sua agonia ao tentar retomar o controle de seu corpo;
·         Alguns poucos relatos descrevem experiências fora do corpo completas.
 
Para o Espiritismo, o cérebro não cria a consciência, sendo, na verdade, uma interface para sua manifestação. Portanto, ainda que se possa encontrar causas fisiológicas associadas à paralisia do sono, sua dinâmica não pode dispensar a natureza dual do ser humano[13]. Aqui fazemos referência à tese do grande psicólogo inglês William James (ver "O prisma de James: uma metáfora para entender a fonte verdadeira da consciência humana"), para citar uma referência fora do contexto espírita. Dessa forma, todas as alucinações, como objetos tangíveis apenas à mente, têm sua origem no elemento espiritual, seja do próprio encarnado que a observa (como produto de sua atividade mental) ou de outras fontes de natureza espírita. Algumas narrativas mediúnicas (como o autor André Luiz, por F. Cândido Xavier) também descrevem Espíritos que têm alucinação, implicando que o fenômeno não termina com a morte física, e nem deveria terminar com a morte, pois sua origem está na mente, que não pode ser destruída.
Do lado espírita, são dois os principais fatores que contribuem para explicar as descrições da paralisia do sono:
1.      A natureza dual do ser humano: a evolução (biológica) em curso nos seres humanos prevê experiências que começam a nos preparar para uma vida desdobrada - entre os dois planos da existência (os sonhos seriam uma delas). Isso significa que as ocorrências de paralisia do sono poderiam ser vistas como ocorrências normais de "treinamento" do Espírito encarnado junto ao seu corpo;
2.      "Os Espíritos estão por toda parte"[14]. É provável que muitos relatos de presenças estranhas - na maioria das vezes ligadas a sensações do mal - sejam realmente provocados por Entidades desencarnadas (o caso de Bailey descrito acima é típico de uma interação com um desencarnado em estado menos feliz).
Como consequência desses princípios concluímos:
·         Muitos dos que passam pela paralisia do sono afirmam-se agnósticos ou sem crença religiosa (o caso de Bailey citado acima é um). Porém, durante o fenômeno, pedem proteção a Deus de alguma forma. Isso é um indício de que o indivíduo encontra-se em estado desdobrado, quando raciocina como Espírito e não como encarnado;
·         Portanto, a paralisia do sono poderia ser descrita como um fenômeno de "desdobramento incompleto", uma zona limiar entre o início do sono e o estado desperto, quando faculdades típicas do Espírito desencarnado operariam conjuntamente ou de forma perturbada com as faculdades sensoriais de encarnado. Nessa condição a pessoa passa a ver ou interpretar de forma extravagante a presença de Espíritos, que estão sempre a nossa volta.
·         Obsessão: não acreditamos que a paralisia do sono implique na presença de obsessões e nem que ela se descreva como um processo obsessivo. Dificilmente obsessões restringem sua atuação a ocorrências noturnas, quem sofre de obsessão tem seu período de vigília também alterado;
·         As sensações de audição de algo ou presença "respirando" próxima podem ser atribuídas à falha de associação do Espírito com seu corpo.
 
Talvez, o fenômeno da paralisia do sono seja a causa das descrições de "íncubos" e "súcubos" tão abundantes na literatura antiga.  Essa tese tem sido explorada em alguns trabalhos[15] e permite descrever alguns mitos culturais[16].
 
Como mitigar os efeitos de presenças na paralisia do sono
A explicação espírita tem uma vantagem: ela permite deduzir procedimentos que podem, em tese (e há relatos que o corroboram), reduzir o stress da paralisia. Uma vez considerado que se trate de um fenômeno de desdobramento parcial, consideramos que o controle mental e adoção de uma postura positiva com pedidos de proteção - o que envolve necessariamente a realização de uma prece - pode reduzir drasticamente influências inferiores, ainda que a ocorrência da paralisia não seja eliminada. Como o indivíduo no estado paralisado encontra-se "desperto", ele pode e deve pedir essa proteção. No trecho abaixo, A. Kardec parece ter resumido a questão:  
Ensinam os nossos estudos que o mundo invisível que nos circunda reage constantemente sobre o mundo visível e no-lo mostram como uma das forças da Natureza. Conhecer os efeitos dessa força oculta que nos domina e nos subjuga malgrado nosso, não será ter a chave de muitos problemas, as explicações de uma porção de fatos que passam despercebidos? Se esses efeitos podem ser funestos, conhecer a causa do mal não é ter um meio de preservar-se contra ele, assim como o conhecimento das propriedades da eletricidade nos deu o meio de atenuar os desastrosos efeitos do raio? Se então sucumbirmos, não nos poderemos queixar senão de nós mesmos, porque a ignorância não nos servirá de desculpa. O perigo está no império que os maus Espíritos exercem sobre as pessoas, o que não é apenas uma coisa funesta do ponto de vista dos erros de princípios que eles podem propagar, como ainda do ponto de vista dos interesses da vida material.[17]
A prece permite desvencilhar-se da influência opressora, reduzir ou mesmo eliminar a atuação de Espíritos mal intencionados, além de servir para fortalecer (predispor positivamente) o Espírito de quem passa pela situação. De um jeito ou de outro, somente teremos uma terapia efetiva de controle da paralisia do sono quando todas as causas (tanto físicas como espirituais) forem plenamente conhecidas. Claramente, a contribuição espírita não poderá ser desprezada.




[2] Kardec, A. "Revista Espírita". Julho de 1859. Discurso de encerramento do ano social 1858-1859.
[3] Blom, J. D. (2009). A dictionary of hallucinations. Springer Science & Business Media.
[5] Cheyne, J. A. (2001). The Ominous Numinous - Sensed presence and 'other' hallucinations. Journal of Consciousness Studies, 8(5-7), 133-150.
[6] Cheyne, J. A. (2001). The Ominous Numinous - Sensed presence and 'other' hallucinations. Journal of Consciousness Studies, 8(5-7), 133-150.
[7] Documentário sobre a paralisia do sono (em inglês) contrapondo explicações do mainstream a dados antropológicos de crenças em Espíritos.
[8] McNamara P (2011) Sleep Paralysis - when you wake up but can't move. Psychology Today. Disponível em: (acesso outubro de 2015) -     https://www.psychologytoday.com/blog/dream-catcher/201112/sleep-paralysis
[9] Idem item 6, acima.
[10] Idem item anterior.
[11] Adler, S. R. (2011). Sleep paralysis: Night-mares, nocebos, and the mind-body connection. Rutgers University Press.
[12] Cheyne, J. A. (2001). The Ominous Numinous - Sensed presence and 'other' hallucinations. Journal of Consciousness Studies, 8(5-7), 133-150.
[13] Documentário sobre a paralisia do sono (em inglês) contrapondo explicações do mainstream a dados antropológicos de crenças em Espíritos -     https://www.youtube.com/watch?v=AS3S7cd2tgw
[14] Kardec A. "O Livro dos Médiuns". Primeira Parte - Noções preliminares, Capítulo I - Há Espíritos?
[15] Adler, S. R. (2011). Sleep paralysis: Night-mares, nocebos, and the mind-body connection. Rutgers University Press.
[16] Alguns mitos ao redor do mundo que podem ser descritos como eventos de paralisia do sono (ver 8 para mais exemplos):
    Em Portugal: A palavra "pesadelo" está ligada a sensação de opressão, de "peso" provocado pela incapacidade de se mover;
    O fenômeno da opressão fantasma de Hong Kong;
    O Kanashibari (金縛り) no Japão;
    Dab Tsog (o demônio opressor) - Hmong;
    Ogun Oru (guerrilha noturna) em Iorubá (sudoeste da Nigéria);
    Ga-ui Nool-lim (가위눌림, o pesadelo que pressiona) - Coréias.
 
[17] Kardec, A. "Revista Espírita". Julho de 1859. Discurso de encerramento do ano social 1858-1859.

quarta-feira, 28 de setembro de 2016

POSSESSÃO ESPIRITUAL[1]



Hugo Lapa
 

Possessão espiritual é um fenômeno que consiste no envolvimento, influência, invasão, controle e até subjugação de uma entidade espiritual (espírito ou alma desencarnada) perante uma pessoa. A possessão espiritual é registrada historicamente e existe desde a aurora dos tempos. Não é fenômeno moderno e tampouco pertence a alguma denominação religiosa, mágica ou mística. Sua fenomenologia é universal, sendo encontrada sob os mais diferentes nomes e formas, desde as mais primitivas religiões tribais à mediunidade praticava modernamente em centros espíritas e espiritualistas. A possessão espiritual existe desde o aparecimento do ser humano na Terra.
“Sua psique ou corpo foram invadidas e estão sendo controladas por uma entidade ou energia malévola com características pessoais” (Psicologia do Futuro, Stanislav Grof). Em Psiquiatria, esse processo é chamado de Transtorno Dissociativo de Identidade ou Transtorno de Personalidade Múltipla. Muitas culturas aderem ao transe possessivo como parte integrante de seus ritos e valores. Por este motivo, os psiquiatras, antropólogos e pesquisadores em geral procuram ter muita cautela com as classificações e rotulações psicopatológicas. É consenso de que, quando a possessão é aceita culturalmente, o diagnóstico deve evitar a categorização de “patológica”.
Dessa forma, faz-se uma distinção entre o fenômeno de possessão patológico e o não patológico dentro da Psiquiatria. Assim, nem todo estado de possessão pode ser considerado um transtorno, vide o caso das invocações de espíritos em várias culturas, épocas e geografias diferentes, que fazem parte da cadeia simbólica intersubjetiva da população.
O mecanismo da possessão pode abranger dois tipos diferentes de processos psíquicos:
·         A possessão de uma presença (personalidade intrusa ou espírito desencarnado)
·         A possessão de uma personalidade de vida passada.
A primeira corresponde a uma entidade à parte, uma energia intrusa que vem externamente ao psiquismo do indivíduo. A segunda corresponde a um processo interno de obsessão, sendo o que Tendam (1988) chamou de “pseudo-obsessão”.
Apesar de admitirmos que existem não apenas espíritos obsessores, mas também a possessão de personalidades de vidas passadas, estaremos abordando nesta oportunidade apenas a respeito dos espíritos possessores. Isso por que o termo “possessão” não seria adequado para caracterizar o controle de uma personalidade de vida passada. Neste caso, a palavra mais apropriada seria “manifestação” ou “expressão” da personalidade, tendo em vista que se trata de um processo interno e não externo.
Dentro da TVP, a autora que mais mergulhou no estudo das possessões foi Edith Fiore. Em sua incrível obra “Possessão Espiritual”, Fiore conta suas pesquisas com regressão terapêutica e o tratamento de casos de possessão como causa dos bloqueios, sinto­mas, emoções e transtornos diversos apresentados na clínica de regressão terapêutica.
Como esse campo de estudo é extremamente vasto e com­plexo, optamos por resumir os pontos principais em tópicos para a melhor apreciação dos leitores:
Porcentagem: Fiore conta que 70% dos seus pacientes sofriam de possessão e essa era a causa do problema. Segundo Ignácio Ferreira (1955), médico espírita brasileiro, mais de 50% das obsessões não são intencionais. O espí­rito muitas vezes deseja proteger a pessoa, ou ajuda-la a cumprir alguma tarefa. Mesmo sem notar, a possessão ocorre e prejudica a vítima.
Quantidade: Fiore coloca uma média de cinquenta entidades ou mais que estavam envolvendo seus pacientes sem que eles se dessem conta. [apesar deste número, é possível que essas entidades não estivessem realizando a obsessão todas ao mesmo tempo, mas que cada uma estivesse ligada ao atendido por laços com origem em múltiplas existências corpóreas].
Despersonalização: É constante a impressão do desaparecimento ou encobrimento da personalidade usual dando espaço às possessões. “Quando há de fato muitas entidades presentes em uma pessoa, ela praticamente pode se despersonalizar e passar a levar uma vida conduzida pela corrente das influenciações mentais” (livro: Regressão e Espiritualidade).
Espíritos presos à Terra: Fiore chamou esses espíritos de “presos à Terra”, por estarem no nível da crosta terrestre e terem fácil acesso aos encarnados. Eles permanecem no nível da Terra pelos mais variados motivos, desde desejo por “sexo ou pasta de amendoim”. “Com frequência, incitam as pessoas vivas para que satisfaçam esses desejos” afirma Tendam (Cura Profunda).
Níveis de Possessão: Os graus de possessão e controle do encarnado variam de uma “leve influência” a estados de domínio quase completo, travando uma verdadeira luta pelo controle da pessoa, com “diálogos mentais, insultos e até ordens”, diz Fiore.
Transição inadequada: Os espíritos possessores eram, durante a vida, pessoas de várias ocupações diferentes, mas após a morte não haviam realizado a transição adequadamente e, pela ausência de um corpo físico, acabavam se fundindo com os encarnados, residindo no corpo de outros indivíduos por períodos curtos ou mais prolongados, adiando sua ida ao plano espiritual e atrasando sua evolução.
Possessões Demoníacas: Fiore destaca que nunca tratou possessão por demônios, (seres devotados unicamente ao mal por natureza) mas apenas espíritos, ou indivíduos sem um corpo físico.
Pouco adiantamento espiritual: Quando as entidades encontram-se no plano astral inferior, próximas ao plano da Terra e envolvem encarnados, para a satisfação de seus vícios e desejos, elas não fazem praticamente nenhum progresso espiritual, ficando estacionadas em sua evolução. Fiore declara ainda que os espíritos presos à Terra ficam como que “congelados” ou fixados nos parâmetros da última vida. Eles tendem a repetir de forma estereotipada seus comportamentos de quando estavam encarnados. Tendam (1989) dá o exemplo de uma menina que não percebe que desencarnou num bombardeio e continua chamando pela sua mãe.
Ceticismo e Fanatismo religioso: Muitas pessoas céticas, que conservam fortes e arraigadas convicções pessoais da inexistência da vida após a morte, são muitas vezes incapazes de perceber seus entes queridos e guias espirituais quando vêm auxilia-los. Outros encontram-se num estado mental de extrema confusão, e por isso, não conseguiam perceber sua própria condição de ausência do corpo físico. Outros ainda, religiosos fervorosos, que acreditam em penas eternas ou na beatitude do céu ao lado de Jesus, recusam-se a crer que morreram, caso contrário, deveriam estar ou no céu ou no inferno. Essas almas podem ir a certos locais e iniciar processos obsessivos.
Espíritos presos a locais específicos: Podem ocorrer possessões em casos de espíritos presos a locais específicos, como casas e propriedades que possuíam quando encarnados. É comum acontecer de espíritos iniciarem um processo possessivo em pessoas que compram a sua antiga residência, onde a entidade morou durante a vida inteira ou boa parte da vida. Geralmente os espíritos tratam os atuais proprietários como invasores (pois não sabem que morreram e continuam tratando a casa como se lhes pertencesse) e fazem de tudo para gerarem discórdia, confusão, bloqueios e sofrimento.
Possessão na infância: Algumas possessões podem se iniciar na infância e durar longos períodos de vida, ou mesmo a vida inteira de um encarnado. “Muitas crianças são obsedadas por entidades e manifestam raiva excessiva, atitudes agressivas, choro compulsivo, dificuldades de relacionamento em decorrência de certa influência mistu­rada a tendências de outras vidas”. (Livro: Regressão e Espiritualidade).
Possessão pela Aura: Segundo Fiore, nossa aura, ou campo de energias sutis do ser humano, deve vibrar em altas frequências para não estar vulnerável a ação de espíritos presos à Terra. “A aura está para a dimensão emocional, mental e espiritual de uma pessoa como o sistema de imunização está para o corpo físico” diz Fiore.
Possessão por medo de deixarem de existir: Alguns espíritos mantêm as possessões por medo de se perderem ou de deixarem de existir caso a possessão seja interrompida. O processo obsessivo acaba sendo um referencial para o espírito, uma base ou uma segurança. Os espíritos sentem a aura benéfica do encarnado e se atraem por afinidades de ideias e vibração. A energia do encarnado lhe proporciona segurança, conforto, energia e proteção.
Possessão no inconsciente: Entidades presas a Terra podem se ligar com os encarnados e mesclar-se aos seus conteúdos inconscientes, reforçando certos aspectos que desejamos ocultar de nós mesmos. Esse processo obsessivo pode alimentar nossas tendências negativas, tocando certos núcleos traumáticos que passam a se generalizar e invadir nossa personalidade e comportamento. Muitos espíritos podem fazer isso intencionalmente; outros apenas se ligam por afinidade e invadem nossa aura. É comum que um espírito ative certo núcleo inconsciente, ou complexo, passe a misturar-se com ele e usar isso como forma de controle do encarnado. A despossessão não é suficiente nesse caso, deve-se recorrer ao tratamento desses núcleos inconscientes para escapar das obsessões. Como diz Tendam “Maus espíritos podem nos induzir a praticar más ações, mas somente podem fazer isso estimulando e aproveitando um mau karma já presente” (Tendam, 1993). A TVP é um excelente meio para o tratamento dos núcleos inconscientes ativados por espíritos obsessores e na transmutação do mau karma.
Possessão por similaridade de ação: Algumas vezes atraímos espíritos cuja obra de vidas passadas foi semelhante a nossa. Por uma questão de sintonia, eles são atraídos para nossa aura e vice-versa. Por exemplo, se cometemos vários assassinatos numa vida passada, podemos atrair entidades de assassinos; se fomos pervertidos sexuais, podemos atrair entidades viciadas em sexo; se fomos suicidas, podemos atrair espíritos de suicidas, e assim por diante. Aqui verificamos a realidade pura e simples da lei da sintonia, onde semelhante atrai semelhante. Essa lei abrange muitos outros aspectos da vida universal.
 
Sintomas da Possessão
Sintomas físicos: doenças, dores, mal estar, náusea, dor na nuca, enjoo, arrepios, tontura, cansaço excessivo, estafa.
Problemas mentais: problemas de memória, desatenção, dissociação, falta de clareza, embotamento, parada do pensamento, confusão mental, ideias suicidas, despersonalização, pesadelos recorrentes, alucinações auditivas e visuais.
Descontrole emocional: ansiedade, angústia, medo, irritação, depressão, tristeza, choro sem causa aparente, impulsividade.
Inclinação às drogas: abuso de álcool, maconha, tabaco, drogas injetáveis, remédios.
Problemas com peso: Pelo estímulo à compulsão pela comida ou à perda de apetite, como obesidade, anorexia, bulimia.
Problemas de relacionamento: timidez, fobia social, introversão, dificuldade de comunicação.
Problemas sexuais: falta ou excesso de desejo sexual.
Fechamento dos caminhos: tudo parece dar errado, oportunidades não aparecem, dificuldade de expressar nosso potencial.
 
Motivo da prisão no plano da Terra:
Não cumpriram seu roteiro kármico (proposta encarnatória).
Suicidaram-se e deixaram assuntos inacabados.
Possuíam extremo apego a Terra e aos desejos materiais.
Viciaram-se em álcool, fumo, comida, sexo, lazer, prazeres diversos.
Tinham medo de morrer e após o desencarne continuaram negando a morte.
Dificuldade de aceitarem que passaram pela transição e não têm mais corpo físico.
Morte súbita (os espíritos não tiveram tempo de perceber que morreram).
Ódio e vingança a algum desafeto.
Apego a entes queridos ou a pessoas próximas.
Ceticismo fortemente arraigado.
Morte após deficiências mentais ou transtornos psíquicos graves.
Associações, contratos, acordos, compromissos e/ou votos, com fraternidades negras (um mago permanece preso a uma egrégora que atua negativamente no plano físico e se mantém a ela associado após a morte).
 
Aspectos práticos da despossessão:
Nenhum perigo: Fiore argumenta que não há qualquer perigo decorrente de uma despossessão. O máximo que pode ocorrer é o espírito ligado a Terra não deixar o encarnado e manter o mesmo mecanismo possessivo anterior, o que já acontecia. Ou seja, ou o espírito interrompe o processo ob­sessivo ou nada se modifica, não resultando daí, portanto, nenhum dano.
Não maltratar o espírito: As entidades desencarnadas estão enfermas, em estado confusional, doentes, sofrendo, sem energia e sem rumo, mesmo que neguem tudo isso. Dessa forma, eles podem também ser considerados como pacientes dentro da TVP. Assim, não se deve pensar em “chuta-los para fora”, “arrancá-los” do cliente, ou fazer nossa autoridade de terapeuta se sobrepor. A diferença entre o terapeuta e o exorcista é que o segundo tenta a todo custo expulsar o “ser maligno” de uma pessoa, enquanto o primeiro reconhece no espírito uma subjetividade, um histórico de causa e efeito que o levou à situação de possessão. O terapeuta procura analisar os motivos de o espírito buscar a possessão e tratar a raiz do problema, e não simplesmente “retirar” o espírito da aura do cliente, até por que podem existir laços kármicos unindo a ambos. Qualquer ação negativa realizada pelo terapeuta contra o espírito implicará instantaneamente na geração de karma negativo.
Assistência religiosa de guias espirituais: Com entidades aprisionadas à dogmas religiosos, pode-se invocar guias espirituais que se passam por líderes religiosos do credo do espírito.
Assistência para espíritos viciados: No caso de espíritos viciados em drogas, álcool etc., o terapeuta pode invocar espíritos de luz ou entes queridos que irão oferecer a droga ao espírito, para que deixe o encarnado. Após ser atraído, os espíritos de luz farão um tratamento com o espírito onde a droga lhe será dada em doses cada vez menores até o vício ser superado por completo. De qualquer forma, é indispensável que o possesso se abstenha integralmente do uso das drogas, para que não atraia outras entidades liga­das ao vício.
Identificar a causa da possessão: Bons terapeutas não se preocupam apenas em expulsar o espírito, mas em entender o motivo, o início e a permanência das ações obsessivas. O terapeuta pode percorrer o histórico encarnatório do espírito e verificar em que momento e sob quais circunstâncias ele se tornou um espírito preso a Terra. É possível que exista alguma espécie de vínculo kármico entre obsessor e obsedado numa vida passada. O espírito pode cobrar do encarnado algum prejuízo que o atendido tenha lhe proporcionado numa vida passada.
Conscientização da morte: Muitos espíritos passaram pela transição e não sabem que morreram. Isso ocorre por diversos motivos. Sabendo disso, o terapeuta pode mostrar ao espírito o momento de seu desencarne. É possível fazer a alma reviver os instantes finais de sua existência e o momento em que perdeu seu corpo físico. Isso pode ajudar na conscientização do espírito e ajuda-lo a reconhecer que morreu e precisa deixar o plano da Terra. Essa conscientização da morte pode ser realizada pelo discurso objetivo ou através de técnicas que mostrem diretamente a realidade incorpórea da entidade. Para tanto, o terapeuta deve ser treinado em cursos de formação para a boa aplicação desse tipo de técnica.
Mostrando o local de tratamento no astral superior: Como os espíritos têm receios e incertezas sobre seu futuro após a possessão, é possível minimizar esta ansiedade através da técnica da visão direta do local de tratamento que eles serão enviados no plano espiritual. Após a visão da harmonia desse lugar, das energias elevadas e benéficas, tal como a presença de entes queridos desencarnados, o espírito sente-se mais tranquilo e, em boa parte das vezes, aceita ser conduzido e tratado.
Conduzir à Luz: Na tradição budista tibetana se fala da “Clara Luz do Bardo”, uma luminescência divina que acolhe os espíritos e os faz sentir seu estado cósmico natural, sua fonte essencial de vida. O terapeuta pode orientar o espírito a unir-se com essa “Luz Clara”. Os espíritos que após a morte não se transformam em entidades presas a Terra seguiram essa luz, que lhes serve como um farol indicando o rumo certo a tomar. Muitos mestres ou guias espirituais já conduzem os espíritos a essa luz infinita, mas o terapeuta também pode invoca-la na despossessão após todo o processo de conscientização do espírito.
 
Cuidados gerais:
Alguns procedimentos de despossessão ou desobsessão canalizam e concentram forças e energias diversas, atraem outras entidades e podem provocar alguns efeitos negativos no terapeuta, caso este não esteja devidamente preparado e não saiba o que está fazendo. Alguns terapeutas arrogantes podem se acreditar intocáveis e não dar o devido valor a certas coisas, como a sua terapia individual, a proteção pessoal originária de algum grupo, a realização de trabalhos de caridade desinteressada e o estudo relacionado a temáticas espirituais superiores, como a leitura das palavras dos sábios da humanidade e seu próprio desenvolvimento interior. Porém, estes elementos são fundamentais para que o terapeuta não se perca em seu trabalho ou até mesmo acabe adoecendo com o tempo devido à continuidade de procedimentos como a despossessão. Independente de o terapeuta ser médium ou sensitivo, as influências espirituais sobre ele podem ser sentidas de várias formas.