Cezar Braga Said - janeiro/2016
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Há alguns dias uma amiga me
enviou uma interessante mensagem cujo conteúdo versava sobre “A mãe
desnecessária”. Referia-se a uma série de atitudes e posturas que uma mãe
deveria ter se quisesse ver seus filhos crescendo de modo autônomo, tornando-se
pessoas mais independentes e, ao mesmo tempo, maduras e conscientes diante das
responsabilidades e exigências da vida.
Desnecessária ela seria na
medida em que não criasse dependências dos filhos em relação a si e lhes
permitisse viver e sobreviver em sua ausência. Este tipo de mãe teria uma visão
de futuro e entenderia que os filhos são criados para o mundo, para a vida.
Não me furtei a fazer uma
relação com o comportamento do espírita, com o nosso comportamento, dentro e
fora do centro espírita, pensando em como seria um espírita desnecessário, o
que lhe caracterizaria, de modo geral, as ações em sua relação consigo e com os
companheiros de Ideal.
Sabemos que Allan Kardec nos
apresenta no capítulo dezessete, item 4 de O
Evangelho Segundo o Espiritismo (Os bons espíritas), a informação de que se
reconhece o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços
que emprega para domar as suas inclinações más.
O mesmo Codificador nos oferece
uma singela e muito lúcida classificação dos vários tipos de espíritas no
capítulo 3, itens 27 e 28 de O Livro dos
Médiuns, ressaltando ainda, no item 30, desse mesmo capítulo, que o
verdadeiro espírita jamais deixará de fazer o bem. Lenir corações aflitos;
consolar, acalmar desesperos, operar reformas morais. Essa a sua missão. É
nisso que encontrará satisfação real.
Assim, pensando em toda esta
fundamentação oferecida pelo bom senso de Allan Kardec e desejando seguir a
Doutrina dos Espíritos e não a doutrina dos espíritas, que seria uma espécie de
subdoutrina, um desvio, pois estaríamos adaptando o Espiritismo às nossas
conveniências, ao invés de nos amoldarmos à sua proposta, à proposta de Jesus,
podemos, em linhas gerais, dizer que o espírita desnecessário é aquele que:
1. Não coisifica os médiuns e
sendo médium ostensivo não se deixa coisificar, isto é, não idolatra, incensa
médium algum nem se compraz com elogios rasgados a si mesmo. Sabe o quanto isso
é prejudicial, porém, nunca deixa de estimular tais companheiros, pois deseja
ser também estimulado.
2. Não faz da mediunidade um fim
em si mesma. Sabe que ela é um meio para comprovar a imortalidade e, ao mesmo
tempo, uma ferramenta de autoburilamento.
3. Prepara substituto, pois não
se vê insubstituível. Trabalha em equipe e não em euquipe. Sabe que Jesus
convocou doze, setenta e depois quinhentos para auxiliá-lO. Kardec era
integrante da equipe do Consolador e não dispensou o auxílio de médiuns
devotados e, também, aquele oferecido por sua própria esposa.
4. Não se apega a cargos,
valoriza os encargos. Aceita e abraça os primeiros, mas reconhece que não são
eles que nos elevam os nos fazem estagnar, mas a maneira como lidamos com os
mesmos. Quer mais ser útil que estar à frente desse ou daquele setor.
5. Não exige perfeição de si nem
de ninguém, mas se esforça para ser uma pessoa melhor a cada dia. E o faz sem
ficar fiscalizando a vida alheia, sem ficar corrigindo nos outros o que carece
de correção em si próprio.
6. Não reproduz no centro e no
movimento espírita comportamentos característicos dos cenários
político-partidários, embora reconheça a necessidade da política como ciência e
como prática indispensável ao exercício consciente da cidadania no lar, no
centro espírita e na sociedade como um todo.
7. Reconhece o caráter
progressivo e progressista do Espiritismo. É aberto para o novo, mas tem
cautela com as novas revelações e os modismos passageiros que nos levam a
trocar o essencial (estudo) pelo acessório (práticas estranhas).
8. É crítico, autocrítico e
aceita a crítica sincera e equilibrada sem se melindrar. O que não é muito
fácil nem muito comum, pois somos, invariavelmente, muito suscetíveis a elogios
e críticas.
9. Nunca deixa de estudar a
Codificação (à sós e em grupo), procurando aplicar em si mesmo o fruto das suas
reflexões. Por isso não se isola, passando suas reflexões e conclusões pelo
crivo da universalidade dos ensinos, ouvindo e aprendendo com os demais
companheiros.
Esse tipo de espírita
desnecessário é, na verdade, muito necessário, é o espírita cristão a que alude
Kardec nas páginas da Codificação.
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