segunda-feira, 4 de julho de 2016

Médiuns ciumentos[1]


 
Cezar Braga Said – Junho/2016
 
O ciúme só traduz mesquinha rivalidade de amor-próprio[2].
Allan Kardec
 
 Não se trata de uma modalidade mediúnica não catalogada por Allan Kardec, em O livro dos Médiuns, mas de uma característica humana que pode atrapalhar, não apenas os labores mediúnicos da pessoa, mas a sua própria vida como um todo.
Sendo assim com filhos, esposa, amigos, companheiros do espaço profissional e com seus pertences pessoais, a criatura acaba criando dificuldades em suas múltiplas relações.
O ciúme e tudo o que o constitui: insegurança, possessividade, receio de perder, medo irracional, suspeição exagerada, denota um comportamento infantil, evidenciando aspectos da personalidade que ainda não amadureceram.
Tal imaturidade pode resultar das experiências vividas pelo Espírito, ao longo da evolução, da criação recebida e, também, de possíveis traumas emocionais experimentados nesta existência. Pode ainda se acentuar quando a pessoa se deixa influenciar por outras igualmente imaturas ou quando submetida a um processo de natureza obsessiva.
Falta ao ciumento uma autoimagem melhor trabalhada. Normalmente, é alguém com baixa autoestima, carecendo sempre de confirmações, elogios e reasseguramentos, de modo a ter a certeza de que aquilo que faz é bom, útil e edificante.
Sobre esse comportamento desajustado que, em muitos casos, raia para a patologia, o Espírito Joanna de Ângelis afirma: “Não bastassem os prejuízos que provocam onde se encontram, esses indivíduos são infelizes em si mesmos, merecedores de tratamento especializado, de ajuda fraternal, de consideração espiritual, porquanto avançam, cada vez mais, para situações penosas e aflitivas [3]”.  
Em se tratando do intercâmbio mediúnico, o médium ciumento é alguém que não suporta comparações do seu com o trabalho de alguém, mesmo que essas sejam bem intencionadas e edificantes.
Sente-se ofuscado com a produção quantitativa e qualitativa de outros medianeiros.
Sofre quando seu nome não está em evidência, nos últimos lançamentos literários ou nos principais congressos e encontros espíritas que ocorrem no Brasil e no mundo. Além disso, pode ainda se sentir afetado quando não é procurado para consultas e orientações ou nem mesmo citado pelos mais próximos, como uma referência na condução da faculdade que possua.
Esquece ou nunca parou para pensar que se alguém se apresenta mais aquinhoado para o serviço mediúnico, mais endividado certamente o será, porquanto a mediunidade a serviço do bem é via de acesso e de redenção para o espírito, e não moldura brilhante para as fulgurações terrestres[4].
Não quer se apagar para que o trabalho se sobressaia.
Incomoda-lhe o anonimato.
Age, portanto, como uma criança mimada que não quer crescer, acreditando, muitas vezes, que é um médium perfeito, alguém que renasceu para deixar seu nome como marco no movimento espírita.
É também muito comum se vitimar, achando-se perseguido e incompreendido por seus contemporâneos.
Falta-lhe equilíbrio no discernimento.
O Codificador, ao tratar da influência moral do médium nas comunicações, também nos alerta, em O livro dos Médiuns, para o fato de que certas qualidades de caráter atraem os bons Espíritos e alguns defeitos os afastam, destacando-se entre eles, o ciúme.
Cabe, portanto, a cada um dos que nos reconhecemos portadores de alguma faculdade mediúnica, iniciar ou prosseguir em nosso trabalho de autoconhecimento, extraindo de nossos erros toda experiência que concorra para nos aperfeiçoar.
Corrigindo este ciúme, evitaremos embaraços, não apenas ao trabalho mediúnico, mas à nossa vida, considerando todo o prejuízo que ele pode causar em nossa existência terrena e àquela que nos aguarda mais tarde, quando retornarmos ao mundo espiritual.



[2] KARDEC, Allan. O livro dos Médiuns. Rio de Janeiro: FEB, 1996. pt. 2, cap. XXIX, item 349. p. 441.
[3] FRANCO, Divaldo Pereira. Conflitos existenciais. Pelo Espírito Joanna de Ângelis. Salvador: LEAL, 2006. cap. 7. p. 91.
[4] __________. Médiuns e mediunidades. Pelo Espírito Vianna de Carvalho. Niterói: Arte & Cultura, 1990. cap. 15.  p. 71.

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