Cezar Braga Said – Junho/2016
Allan Kardec
Não se trata de uma modalidade mediúnica não
catalogada por Allan Kardec, em O livro
dos Médiuns, mas de uma característica humana que pode atrapalhar, não
apenas os labores mediúnicos da pessoa, mas a sua própria vida como um todo.
Sendo assim com filhos, esposa,
amigos, companheiros do espaço profissional e com seus pertences pessoais, a
criatura acaba criando dificuldades em suas múltiplas relações.
O ciúme e tudo o que o
constitui: insegurança, possessividade, receio de perder, medo irracional,
suspeição exagerada, denota um comportamento infantil, evidenciando aspectos da
personalidade que ainda não amadureceram.
Tal imaturidade pode resultar
das experiências vividas pelo Espírito, ao longo da evolução, da criação
recebida e, também, de possíveis traumas emocionais experimentados nesta
existência. Pode ainda se acentuar quando a pessoa se deixa influenciar por
outras igualmente imaturas ou quando submetida a um processo de natureza
obsessiva.
Falta ao ciumento uma autoimagem
melhor trabalhada. Normalmente, é alguém com baixa autoestima, carecendo sempre
de confirmações, elogios e reasseguramentos, de modo a ter a certeza de que
aquilo que faz é bom, útil e edificante.
Sobre esse comportamento
desajustado que, em muitos casos, raia para a patologia, o Espírito Joanna de
Ângelis afirma: “Não bastassem os prejuízos que provocam onde se encontram,
esses indivíduos são infelizes em si mesmos, merecedores de tratamento
especializado, de ajuda fraternal, de consideração espiritual, porquanto
avançam, cada vez mais, para situações penosas e aflitivas [3]”.
Em se tratando do intercâmbio
mediúnico, o médium ciumento é alguém que não suporta comparações do seu com o
trabalho de alguém, mesmo que essas sejam bem intencionadas e edificantes.
Sente-se ofuscado com a produção
quantitativa e qualitativa de outros medianeiros.
Sofre quando seu nome não está
em evidência, nos últimos lançamentos literários ou nos principais congressos e
encontros espíritas que ocorrem no Brasil e no mundo. Além disso, pode ainda se
sentir afetado quando não é procurado para consultas e orientações ou nem mesmo
citado pelos mais próximos, como uma referência na condução da faculdade que
possua.
Esquece ou nunca parou para
pensar que se alguém se apresenta mais aquinhoado para o serviço mediúnico,
mais endividado certamente o será, porquanto a mediunidade a serviço do bem é
via de acesso e de redenção para o espírito, e não moldura brilhante para as
fulgurações terrestres[4].
Não quer se apagar para que o
trabalho se sobressaia.
Incomoda-lhe o anonimato.
Age, portanto, como uma criança
mimada que não quer crescer, acreditando, muitas vezes, que é um médium
perfeito, alguém que renasceu para deixar seu nome como marco no movimento
espírita.
É também muito comum se vitimar,
achando-se perseguido e incompreendido por seus contemporâneos.
Falta-lhe equilíbrio no
discernimento.
O Codificador, ao tratar da
influência moral do médium nas comunicações, também nos alerta, em O livro dos Médiuns, para o fato de que
certas qualidades de caráter atraem os bons Espíritos e alguns defeitos os
afastam, destacando-se entre eles, o ciúme.
Cabe, portanto, a cada um dos
que nos reconhecemos portadores de alguma faculdade mediúnica, iniciar ou
prosseguir em nosso trabalho de autoconhecimento, extraindo de nossos erros
toda experiência que concorra para nos aperfeiçoar.
Corrigindo este ciúme,
evitaremos embaraços, não apenas ao trabalho mediúnico, mas à nossa vida,
considerando todo o prejuízo que ele pode causar em nossa existência terrena e
àquela que nos aguarda mais tarde, quando retornarmos ao mundo espiritual.
[2] KARDEC, Allan. O
livro dos Médiuns. Rio de Janeiro: FEB, 1996. pt. 2, cap. XXIX, item 349.
p. 441.
[3] FRANCO, Divaldo Pereira. Conflitos existenciais. Pelo
Espírito Joanna de Ângelis. Salvador: LEAL, 2006. cap. 7. p. 91.
[4] __________. Médiuns e mediunidades. Pelo Espírito
Vianna de Carvalho. Niterói: Arte & Cultura, 1990. cap. 15. p. 71.
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