As ações produzem efeitos, os
sentimentos geram criações, os pensamentos dão origem a formas e consequências
de infinitas expressões. E, em virtude de cada Espírito representar um universo
por si, cada um de nós é responsável pela emissão das forças que lançamos em
circulação nas correntes da vida[2].
Ao abordar os temas deste
trabalho, podemos tirar ilações substanciosas para a defesa mental das ações
obsessivas que podem nos acometer. A descoberta da interceptação psíquica é um desses temas. Sabendo que podemos
interceptar pensamentos não desejados, evitaremos que uma outra mente passe a
pensar junto conosco. De experiência própria, algumas vezes, utilizamos desses
recursos quando tivemos a percepção de que, certa vez, espíritos e até mesmo um
encarnado queriam impor suas presenças em nossas lembranças, pois volta e meia
os seus nomes, suas figuras, suas ideias, seus gestos surgiam inesperadamente.
Na vigilância que a tarefa espírita nos impõe, conseguíamos perceber que havia
algo de errado e tentávamos não permitir que essas interferências tivessem
continuidade, mas, por duas vezes, em dois casos diferentes, sabíamos até quem
eram as pessoas: médiuns, que de modo tenaz e perseverante mantinham suas
presenças mentais. Quando percebemos que por nós mesmos não teríamos forças de
rechaçar tais intromissões, começamos a, diariamente, antes de dormir,
solicitar a Deus, em preces, que não permitisse a ninguém invadir nossa mente,
que houvesse proteção espiritual, que os nossos guias pudessem agir e impedir
tais criaturas de se intrometerem, perturbando o andamento das nossas
realizações. A proteção veio e nunca mais conseguiram saber o que pensávamos
nem o que pretendíamos fazer. Somente a meditação constante, a vigilância e a
oração nos dão condições de enfrentar certas interferências. Com o tempo,
adquirimos forças para interceptar quaisquer pensamentos malfazejos.
Os escaninhos das assimilações
mentais descompensadoras podem permitir, em algumas de nossas vivências do
dia-a-dia, a influência perniciosa de obsessões. Esse, um outro tema importante
para ser discutido aqui.
Há uma necessidade premente de
entender que qualquer um de nós pode estar sendo influenciado por presenças em
alguns dos assuntos que nos enchem a mente, mas não necessariamente que haja
uma obsessão ostensiva global, e sim apenas nesse ou naquele setor de nossas
preocupações. Certo é que, se estamos enfermos e deprimidos, atraímos essas
mentes, encarnadas ou desencarnadas, que estão nesses mesmos estados; quando
temos uma fixação qualquer sobre algum modo de viver, podemos estar
representando o pensamento de algum espírito ou espíritos que estejam
associados a nossa mente naquele interesse. Lembremos os ensinamentos do
espírito Alexandre, no livro Missionários
da luz, de Chico Xavier:
O
intercâmbio do pensamento é movimento livre no Universo. Desencarnados e
encarnados, em todos os setores de atividade terrestre, vivem na mais ampla
permuta de ideias. Cada mente é um verdadeiro mundo de emissão e recepção e
cada qual atrai os que se lhe assemelham (cap.5)
Cabe a cada um de nós se
esforçar para o conhecimento de si mesmo, pois assim a vigilância é muito mais
precisa, visto que saberemos quem somos, o que queremos pensar e quais são as
nossas verdadeiras preferências. O campo sexual é muito afeito a esses tipos de
agregações mentais, tendo em vista as nossas fantasias e os nossos desejos, que
atraem interesses semelhantes. Para exemplo disso, lembramos de certo indivíduo
que, embora não fosse homossexual, tinha fortes desejos para a prática dessa
variação da libido, mas quando compreendeu que ele havia tido essas
preferências em sua vida anterior e que espíritos o pressionavam para
recomeça-las, a fim de lhe tomarem energias eróticas, desvencilhou-se desses
pensamentos com a meditação, a vigilância e a prece, não mais se incomodando
nem se abrasando com essa questão.
Portanto, imaginamos que podemos
ser uma pessoa útil e trabalhadora, mas em um ponto de nossa intimidade mental
estamos ataviados a algum sentimento inferior, possibilitando infestações de
pensamentos indesejáveis. Vamos ao caso de um cavalheiro, trabalhador, casado,
calmo, educado, mas que todos os dias, quando chegava do trabalho, ia direto ao
cantinho do bar de sua sala de visitas e tomava algumas doses de bebida
preferida. Sua esposa, espírita, não se incomodava com isso, pois seu marido
não apresentava nenhuma modificação do comportamento. Passados vinte anos, ela,
que possui certa sensibilidade mediúnica, percebeu, de relance, que havia algo
estranho naquele comportamento sistemático. Começou a levar o nome do marido
para a reunião mediúnica do centro e orar por ele, visando a descobrir o que se
passava. Verificou que uma entidade espiritual o esperava todos os dias,
fazendo-o de “caneco vivo”. A ação espírita foi eficaz, e esse espírito foi
afastado. O cavalheiro começou a esquecer de tomar suas doses e nunca mais se
interessou pela bebida.
A necessidade da vigilância
diária na vida do militante espírita, aliás, de todos os cristãos, é uma
realidade, tendo em vista que vivemos na corda bamba entre dois mundos, o da
luz e o das trevas. Nessa pendenga, precisamos estar atentos para que não
venhamos a nos desequilibrar e perder o nosso centro de apoio para a lucidez
espiritual. Somente a higiene mental diária nos dá recursos para essa
vigilância, pois no processo de meditação em que nos disciplinamos é que
podemos vasculhar o nosso mundo interno e encontrar os nossos pontos fracos.
Podemos discutir mais isso adiante.
Considerando os diversos campos
de interesses que tem um indivíduo, é possível também que ele venha a sofrer
influência de interesses estranhos nesse ou naquele setor existencial, enquanto
dure esse seu interesse, de tal forma que a assertiva dos espíritos a Kardec se
torna tão evidente aos olhos de quem observa os problemas de obsessão com
vistas às definições das variações do comportamento humano:
Incluem
os espíritos em nossos pensamentos e em nossos atos? – Muito mais do que
imaginais. Influem a tal ponto, que, de ordinário, são eles que vos dirigem. (O Livro dos Espíritos, pergunta 459)
Para entender esta questão,
evocamos a ideia de campo, ou seja, a
nossa aura de influência mental. Cada um de nós tem uma capacidade de
influenciar a partir de nossas emissões de raios mentais de configurações
variadas, com maior significado vindo daquele pensamento que abrigamos por mais
importante para nós. A ideia básica de campo
diz que ele “está circunscrito ao espaço de influência do corpo”. Temos, na verdade,
dois tipos básicos de campo: o nosso teor vibratório, formado pelas emissões
eletromagnéticas, uma condição natural dos seres vivos, e a aura formadas pelas
emissões vibratórias de frequência diversa, nascida do espírito que impulsiona
irradiações perispirituais.
As influências mentais se
estabelecem a partir das interações afins dos campos individuais, de acordo com a natureza de seus pensamentos
similares, tendo por base que os afins se atraem. Portanto, esse conhecimento
tem um reflexo prático muito grande, pois, se sabemos quais os nossos
interesses mais íntimos, conhecemos nossa fortaleza ou nossa fraqueza moral. A
vigilância será muito mais precisa, e isso só é possível com exercícios de
autoconhecimento. A meditação é o recurso que possibilita “o conhece-te a ti
mesmo” (O Livro dos Espíritos,
pergunta 919).
Um dos diretores de uma
instituição espírita que frequentávamos nos disse certa vez que estava com sua
esposa na sala de estar de sua residência. Ela bordava, e ele lia um livro,
quando lhe veio a seguinte ideia:
“Olhe bem essa mulher [com
referência à sua esposa], ela é uma jararaca, uma cobra venenosa. Como pude
viver com ela tanto tempo? É uma víbora peçonhenta, quando começa a falar não
para mais!...”
Foi aí que ele parou e pensou:
“Espera aí, eu nunca achei isso
de minha mulher, sempre gostei dela, e ela tem sido uma espécie de anjo
protetor encarnado ao meu lado. Esses pensamentos não são meus”.
Fez uma prece, pedindo aos seus
amigos espirituais que afastassem aqueles espíritos malfeitores de sua mente.
Nunca mais teve tais sentimentos, pois não eram dele. Mas caso ele houvesse
dado guarida a esse tipo de sentimento, aí sim poderiam ter começado ali muitas
horas de angústias e de sofrimentos morais.
Quando vínculos mentais
fortíssimos se estabelecem entre as mentes dos encarnados e desencarnados,
formam-se conluios mentais em estreitas ligações psíquicas de difícil
separação, pois que, nesses casos, a mente aceitou ideias que lhe estavam sendo
transmitidas, com fins de subjugação ou de fascinação. Nesse caso, temos
ligações esporádicas e específicas para determinado comportamento, ligações
perturbadoras que incomodam de modo insistente (obsessão simples), ligações
dominadoras que forçam o indivíduo a tomar atitudes morais e corporais que não
deseja (subjugação espiritual) e ligações controladoras, quando o indivíduo
recebe ideias enganosas e até mesmo ridículas e as aceita como verdadeiras
(fascinação).
Em relação aos dois primeiros
itens, temos muitos exemplos anotados acima, mas tanto a subjugação quanto a
fascinação acabam por fazer com que os familiares internem seus parentes num
manicômio. Cuidamos uma vez de um caso de subjugação no qual a vítima era um
médico psiquiatra. Os espíritos faziam com que entrasse num estado de
zoantropia, mesmo estando lúcido. Era obrigado a andar de quatro pelo chão da
casa e causava muitos transtornos. Seus algozes espirituais situaram junto ao
seu psiquismo um espírito de um suicida, cheio de fluido vital ainda, cujo
perispírito estava com o formato de um dragão. Apenas essa influência colada no
campo mental da vítima bastava para que fosse dominada. Após várias tentativas
de aliviar o obsesso, verificamos que havia inimigos espirituais muito
inteligentes às ocultas com o interesse de levar aquele senhor ao desespero e
ao suicídio. O sofrimento da esposa e dos seus pais era grande. Descobrimos
também que ele vinha trazendo, em sua memória ancestral, crimes hediondos
contra a humanidade, pois havia sido, em certa encarnação, nos tempos coloniais
do Brasil, um exterminador de índios, chacinando a quantos podia com seus
asseclas, quando criou terríveis e tenazes inimigos. Esse drama foi aliviado
com preces, irradiações, passes e doutrinações, mas, enquanto estávamos
cuidando do caso, não houve condições de recuperação total.
De outra feita, fomos chamados a
um apartamento situado em bairro familiar da capital. Residentes do prédio nos
colocaram a par do que estava acontecendo: o irmão mais velho, arrimo de toda a
família, cujo pai havia desencarnado, era um engenheiro competente de uma
grande firma brasileira. Ele, financeiramente, mantinha toda a família, sua
mãe, seus irmãos e suas irmãs. Quando, por ocasião do casamento de sua irmã
mais nova, ele se afastou da empresa em que trabalhava, passou a ficar sentado
diante da televisão e saía apenas para comprar cigarros. Solicitado a explicar
por que estava sendo irresponsável, ele disse que havia cumprido com sua
obrigação e que agora não ia fazer mais nada. Aquiesceu em receber passes e
beber água fluidificada. Os médiuns envolvidos na tarefa perceberam um espírito
feminino com a ficha dele na mão, que dizia: depois de ser totalmente dominado,
o conduziremos ao suicídio. Não houve suicídio, mas foi aposentado como
portador de apatia psicótica.
Acreditamos ter deixado bem
evidentes as variações das influências por assédio espiritual, seus mecanismos,
causas e recursos espíritas para alívio e compensações, tentando deixar bem
claro que a afecção mental, sendo obsessão espiritual, acaba no momento em que
é neutralizado o problema, mas se houver também enfermidade psíquica, como
depressão, psicose, esquizofrenia e outras, é necessária a atuação dos médicos
especializados.
Será importante considerar os
recursos mentais e espíritas para prevenir as obsessões de todos os tipos, o
que tentaremos fazer a seguir.
A oração, ou melhor, o hábito de orar, em preces sinceras a Deus,
todos os dias, antes de dormir, à noite, e ao acordar, pelo amanhecer, é um
ótimo recurso[3]. No
momento de dormir, o espírito se emancipa do corpo e vai procurar seus interesses
(O Livro dos Espíritos, capítulo
“Emancipação da Alma”). Nessa fase
existencial, quando o espírito entra em outro mundo de relação, o espiritual, é
possível que seja assediado por outros espíritos, encarnados ou desencarnados
também livres, trazendo influências hipnóticas importantes para o comportamento
no estado de vigília. A prece noturna traz uma garantia de abertura psíquica
para a espiritualidade superior e a proteção necessária contra as más
influências. Pelo amanhecer, a prece ajudará a termos calma, paciência, bons argumentos, clareza de
espírito, afabilidade, fraternidade, evitando aproximações de pessoas e
espíritos mesquinhos e maus. Aliás, não podemos esquecer das orientações
espirituais vindas pela mediunidade de Chico Xavier, na voz do espírito
Alexandre:
A
oração é o mais eficiente antídoto do vampirismo. A prece não é movimento
mecânico de lábios, nem disco de fácil repetição no aparelho da mente. É
vibração, energia, poder. A criatura que ora, mobilizando as próprias forças,
realiza trabalhos de inexprimível significação. Semelhante estado psíquico
descortina forças ignoradas, revela a nossa origem divina e coloca-nos em
contato com as fontes superiores. Dentro dessa realização, o Espírito, em
qualquer forma, pode emitir raios de espantoso poder [4].
Em segundo lugar, está a vigilância. Ela é importante para
podermos prevenir até os maus pensamentos que nos chegam, evitando-os, pois,
como asseverou o espírito Albério, no livro Nos
domínios da Mediunidade, de Chico Xavier:
Atraímos
os Espíritos que se afinam conosco, tanto quanto somos por eles atraídos; e se
é verdade que cada um de nós somente pode dar conforme o que tem, é
indiscutível que cada um recebe de acordo com aquilo que dá [5].
Com as antenas psíquicas abertas
pela prece, com a qual possibilitamos a aproximação de nossos amigos
espirituais, detectamos, pelos processos da inspiração ou intuição, a presença
de más ou boas influências, encarnadas ou desencarnadas. Tanto a oração
perfeita quanto a vigilância competente exigem certo treino mental, que só a
medição diária e contínua nos dá, pois favorece o crescimento anímico.
A meditação vem em terceiro lugar. Estamos falando da meditação
espírita, aquela aconselhada pelo espírito Santo Agostinho, na pergunta 919 de O Livro dos Espíritos. Trata-se de uma
espécie de higiene mental, momentos nos quais meditamos acerca de nossas vidas,
nossos atos e nossos objetivos, segundo os ditames da fraternidade. Não podemos
nos esquecer das orientações do espírito Áulus:
Basta,
no entanto, nos afeiçoemos aos exercícios da meditação, ao estudo edificante e
ao hábito de discernir para compreendermos onde se nos situa a faixa de
pensamento, identificando com nitidez as correntes espirituais que passamos a
assimilar [6].
Uma meditação diária, de pelo
menos meia hora, pode nos dar uma força a mais de poder, de concentração da
mente e definição de nossos objetivos existenciais, com tal segurança que
podemos escolher os pensamentos que queremos. Além disso, com o exercício da
meditação, ganhamos capacidade de pensar sobre o que queremos pelo tempo que
quisermos. A nossa prece será bem pensada, na quietude da fé e da certeza de
que o nosso pensamento, fervoroso e verdadeiro, alcançará os objetivos
almejados.
Os nossos amigos espirituais
instrutores têm orientado que é possível uma boa performance mental, com
reflexos favoráveis, tanto no campo mental quanto no físico, com a seguinte
disciplina:
·
pela noite, antes
do sono físico, deve-se fazer uma leitura de breve trecho do livro O Evangelho Segundo o Espiritismo e, em
seguida, meditar sobre o assunto lido, até que nenhum outro pensamento esteja
perturbando e uma quietude mental se estabeleça;
·
no momento de paz
alcançado, uma prece a Deus, pedindo, louvando ou agradecendo, ligando-se à
espiritualidade superior. A prece realizada na quietude mental é mais definida
e definitiva;
·
durante a prece,
colocar um copo com água para receber os bons fluídos no processo de
fluidificação da água. No final, tomar meio copo da água e guardar a outra
metade para o dia seguinte;
·
repetir, se
possível, todo o exercício na manhã seguinte.
O homem precisa saber pensar e
necessita exercitar-se para tal, visto que não sabe ainda controlar os próprios
pensamentos nem definir quais os pensamentos que lhe são transferidos, vindos
de mentes que são estranhas. Esse fato facilita, de muito, as obsessões. Uma
vez que elas começam pela aceitação, por parte da chamada vítima, dos
pensamentos que lhe são transmitidos pelo espírito que lhe quer provocar
prejuízos.
[1] Obsessão –
Assédio por espíritos – L. Palhano Jr.
– Bragança Paulista, SP: Instituto Lachâtre, 2012 – 2ª. edição
[2] Missionários
da Luz – Francisco C. Xavier, Capítulo
4.
[3] Na obra O livro
da prece, estudo com grande profundidade os recursos da oração e apresento
algumas técnicas para tornar a prece mais eficaz.
[4] Missionários
da Luz – Francisco C. Xavier –
Capítulo 6.
[5] Idem, Capítulo 1
[6] Nos domínios
da mediunidade – Francisco C. Xavier –
Capítulo 5
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