sábado, 23 de julho de 2016

Ensaio Teórico sobre os Canais Psíquicos de Sintonia da Mente[1]


 
L. Palhano Jr.
 

As ações produzem efeitos, os sentimentos geram criações, os pensamentos dão origem a formas e consequências de infinitas expressões. E, em virtude de cada Espírito representar um universo por si, cada um de nós é responsável pela emissão das forças que lançamos em circulação nas correntes da vida[2].
Ao abordar os temas deste trabalho, podemos tirar ilações substanciosas para a defesa mental das ações obsessivas que podem nos acometer. A descoberta da interceptação psíquica é um desses temas. Sabendo que podemos interceptar pensamentos não desejados, evitaremos que uma outra mente passe a pensar junto conosco. De experiência própria, algumas vezes, utilizamos desses recursos quando tivemos a percepção de que, certa vez, espíritos e até mesmo um encarnado queriam impor suas presenças em nossas lembranças, pois volta e meia os seus nomes, suas figuras, suas ideias, seus gestos surgiam inesperadamente. Na vigilância que a tarefa espírita nos impõe, conseguíamos perceber que havia algo de errado e tentávamos não permitir que essas interferências tivessem continuidade, mas, por duas vezes, em dois casos diferentes, sabíamos até quem eram as pessoas: médiuns, que de modo tenaz e perseverante mantinham suas presenças mentais. Quando percebemos que por nós mesmos não teríamos forças de rechaçar tais intromissões, começamos a, diariamente, antes de dormir, solicitar a Deus, em preces, que não permitisse a ninguém invadir nossa mente, que houvesse proteção espiritual, que os nossos guias pudessem agir e impedir tais criaturas de se intrometerem, perturbando o andamento das nossas realizações. A proteção veio e nunca mais conseguiram saber o que pensávamos nem o que pretendíamos fazer. Somente a meditação constante, a vigilância e a oração nos dão condições de enfrentar certas interferências. Com o tempo, adquirimos forças para interceptar quaisquer pensamentos malfazejos.
Os escaninhos das assimilações mentais descompensadoras podem permitir, em algumas de nossas vivências do dia-a-dia, a influência perniciosa de obsessões. Esse, um outro tema importante para ser discutido aqui.
Há uma necessidade premente de entender que qualquer um de nós pode estar sendo influenciado por presenças em alguns dos assuntos que nos enchem a mente, mas não necessariamente que haja uma obsessão ostensiva global, e sim apenas nesse ou naquele setor de nossas preocupações. Certo é que, se estamos enfermos e deprimidos, atraímos essas mentes, encarnadas ou desencarnadas, que estão nesses mesmos estados; quando temos uma fixação qualquer sobre algum modo de viver, podemos estar representando o pensamento de algum espírito ou espíritos que estejam associados a nossa mente naquele interesse. Lembremos os ensinamentos do espírito Alexandre, no livro Missionários da luz, de Chico Xavier:
O intercâmbio do pensamento é movimento livre no Universo. Desencarnados e encarnados, em todos os setores de atividade terrestre, vivem na mais ampla permuta de ideias. Cada mente é um verdadeiro mundo de emissão e recepção e cada qual atrai os que se lhe assemelham (cap.5)
Cabe a cada um de nós se esforçar para o conhecimento de si mesmo, pois assim a vigilância é muito mais precisa, visto que saberemos quem somos, o que queremos pensar e quais são as nossas verdadeiras preferências. O campo sexual é muito afeito a esses tipos de agregações mentais, tendo em vista as nossas fantasias e os nossos desejos, que atraem interesses semelhantes. Para exemplo disso, lembramos de certo indivíduo que, embora não fosse homossexual, tinha fortes desejos para a prática dessa variação da libido, mas quando compreendeu que ele havia tido essas preferências em sua vida anterior e que espíritos o pressionavam para recomeça-las, a fim de lhe tomarem energias eróticas, desvencilhou-se desses pensamentos com a meditação, a vigilância e a prece, não mais se incomodando nem se abrasando com essa questão.
Portanto, imaginamos que podemos ser uma pessoa útil e trabalhadora, mas em um ponto de nossa intimidade mental estamos ataviados a algum sentimento inferior, possibilitando infestações de pensamentos indesejáveis. Vamos ao caso de um cavalheiro, trabalhador, casado, calmo, educado, mas que todos os dias, quando chegava do trabalho, ia direto ao cantinho do bar de sua sala de visitas e tomava algumas doses de bebida preferida. Sua esposa, espírita, não se incomodava com isso, pois seu marido não apresentava nenhuma modificação do comportamento. Passados vinte anos, ela, que possui certa sensibilidade mediúnica, percebeu, de relance, que havia algo estranho naquele comportamento sistemático. Começou a levar o nome do marido para a reunião mediúnica do centro e orar por ele, visando a descobrir o que se passava. Verificou que uma entidade espiritual o esperava todos os dias, fazendo-o de “caneco vivo”. A ação espírita foi eficaz, e esse espírito foi afastado. O cavalheiro começou a esquecer de tomar suas doses e nunca mais se interessou pela bebida.
A necessidade da vigilância diária na vida do militante espírita, aliás, de todos os cristãos, é uma realidade, tendo em vista que vivemos na corda bamba entre dois mundos, o da luz e o das trevas. Nessa pendenga, precisamos estar atentos para que não venhamos a nos desequilibrar e perder o nosso centro de apoio para a lucidez espiritual. Somente a higiene mental diária nos dá recursos para essa vigilância, pois no processo de meditação em que nos disciplinamos é que podemos vasculhar o nosso mundo interno e encontrar os nossos pontos fracos. Podemos discutir mais isso adiante.
Considerando os diversos campos de interesses que tem um indivíduo, é possível também que ele venha a sofrer influência de interesses estranhos nesse ou naquele setor existencial, enquanto dure esse seu interesse, de tal forma que a assertiva dos espíritos a Kardec se torna tão evidente aos olhos de quem observa os problemas de obsessão com vistas às definições das variações do comportamento humano:
Incluem os espíritos em nossos pensamentos e em nossos atos? – Muito mais do que imaginais. Influem a tal ponto, que, de ordinário, são eles que vos dirigem. (O Livro dos Espíritos, pergunta 459)
Para entender esta questão, evocamos a ideia de campo, ou seja, a nossa aura de influência mental. Cada um de nós tem uma capacidade de influenciar a partir de nossas emissões de raios mentais de configurações variadas, com maior significado vindo daquele pensamento que abrigamos por mais importante para nós. A ideia básica de campo diz que ele “está circunscrito ao espaço de influência do corpo”. Temos, na verdade, dois tipos básicos de campo: o nosso teor vibratório, formado pelas emissões eletromagnéticas, uma condição natural dos seres vivos, e a aura formadas pelas emissões vibratórias de frequência diversa, nascida do espírito que impulsiona irradiações perispirituais.
As influências mentais se estabelecem a partir das interações afins dos campos individuais, de acordo com a natureza de seus pensamentos similares, tendo por base que os afins se atraem. Portanto, esse conhecimento tem um reflexo prático muito grande, pois, se sabemos quais os nossos interesses mais íntimos, conhecemos nossa fortaleza ou nossa fraqueza moral. A vigilância será muito mais precisa, e isso só é possível com exercícios de autoconhecimento. A meditação é o recurso que possibilita “o conhece-te a ti mesmo” (O Livro dos Espíritos, pergunta 919).
Um dos diretores de uma instituição espírita que frequentávamos nos disse certa vez que estava com sua esposa na sala de estar de sua residência. Ela bordava, e ele lia um livro, quando lhe veio a seguinte ideia:
“Olhe bem essa mulher [com referência à sua esposa], ela é uma jararaca, uma cobra venenosa. Como pude viver com ela tanto tempo? É uma víbora peçonhenta, quando começa a falar não para mais!...”
Foi aí que ele parou e pensou:
“Espera aí, eu nunca achei isso de minha mulher, sempre gostei dela, e ela tem sido uma espécie de anjo protetor encarnado ao meu lado. Esses pensamentos não são meus”.
Fez uma prece, pedindo aos seus amigos espirituais que afastassem aqueles espíritos malfeitores de sua mente. Nunca mais teve tais sentimentos, pois não eram dele. Mas caso ele houvesse dado guarida a esse tipo de sentimento, aí sim poderiam ter começado ali muitas horas de angústias e de sofrimentos morais.
Quando vínculos mentais fortíssimos se estabelecem entre as mentes dos encarnados e desencarnados, formam-se conluios mentais em estreitas ligações psíquicas de difícil separação, pois que, nesses casos, a mente aceitou ideias que lhe estavam sendo transmitidas, com fins de subjugação ou de fascinação. Nesse caso, temos ligações esporádicas e específicas para determinado comportamento, ligações perturbadoras que incomodam de modo insistente (obsessão simples), ligações dominadoras que forçam o indivíduo a tomar atitudes morais e corporais que não deseja (subjugação espiritual) e ligações controladoras, quando o indivíduo recebe ideias enganosas e até mesmo ridículas e as aceita como verdadeiras (fascinação).
Em relação aos dois primeiros itens, temos muitos exemplos anotados acima, mas tanto a subjugação quanto a fascinação acabam por fazer com que os familiares internem seus parentes num manicômio. Cuidamos uma vez de um caso de subjugação no qual a vítima era um médico psiquiatra. Os espíritos faziam com que entrasse num estado de zoantropia, mesmo estando lúcido. Era obrigado a andar de quatro pelo chão da casa e causava muitos transtornos. Seus algozes espirituais situaram junto ao seu psiquismo um espírito de um suicida, cheio de fluido vital ainda, cujo perispírito estava com o formato de um dragão. Apenas essa influência colada no campo mental da vítima bastava para que fosse dominada. Após várias tentativas de aliviar o obsesso, verificamos que havia inimigos espirituais muito inteligentes às ocultas com o interesse de levar aquele senhor ao desespero e ao suicídio. O sofrimento da esposa e dos seus pais era grande. Descobrimos também que ele vinha trazendo, em sua memória ancestral, crimes hediondos contra a humanidade, pois havia sido, em certa encarnação, nos tempos coloniais do Brasil, um exterminador de índios, chacinando a quantos podia com seus asseclas, quando criou terríveis e tenazes inimigos. Esse drama foi aliviado com preces, irradiações, passes e doutrinações, mas, enquanto estávamos cuidando do caso, não houve condições de recuperação total.
De outra feita, fomos chamados a um apartamento situado em bairro familiar da capital. Residentes do prédio nos colocaram a par do que estava acontecendo: o irmão mais velho, arrimo de toda a família, cujo pai havia desencarnado, era um engenheiro competente de uma grande firma brasileira. Ele, financeiramente, mantinha toda a família, sua mãe, seus irmãos e suas irmãs. Quando, por ocasião do casamento de sua irmã mais nova, ele se afastou da empresa em que trabalhava, passou a ficar sentado diante da televisão e saía apenas para comprar cigarros. Solicitado a explicar por que estava sendo irresponsável, ele disse que havia cumprido com sua obrigação e que agora não ia fazer mais nada. Aquiesceu em receber passes e beber água fluidificada. Os médiuns envolvidos na tarefa perceberam um espírito feminino com a ficha dele na mão, que dizia: depois de ser totalmente dominado, o conduziremos ao suicídio. Não houve suicídio, mas foi aposentado como portador de apatia psicótica.
Acreditamos ter deixado bem evidentes as variações das influências por assédio espiritual, seus mecanismos, causas e recursos espíritas para alívio e compensações, tentando deixar bem claro que a afecção mental, sendo obsessão espiritual, acaba no momento em que é neutralizado o problema, mas se houver também enfermidade psíquica, como depressão, psicose, esquizofrenia e outras, é necessária a atuação dos médicos especializados.
Será importante considerar os recursos mentais e espíritas para prevenir as obsessões de todos os tipos, o que tentaremos fazer a seguir.
A oração, ou melhor, o hábito de orar, em preces sinceras a Deus, todos os dias, antes de dormir, à noite, e ao acordar, pelo amanhecer, é um ótimo recurso[3]. No momento de dormir, o espírito se emancipa do corpo e vai procurar seus interesses (O Livro dos Espíritos, capítulo “Emancipação da Alma”).  Nessa fase existencial, quando o espírito entra em outro mundo de relação, o espiritual, é possível que seja assediado por outros espíritos, encarnados ou desencarnados também livres, trazendo influências hipnóticas importantes para o comportamento no estado de vigília. A prece noturna traz uma garantia de abertura psíquica para a espiritualidade superior e a proteção necessária contra as más influências. Pelo amanhecer, a prece ajudará a termos  calma, paciência, bons argumentos, clareza de espírito, afabilidade, fraternidade, evitando aproximações de pessoas e espíritos mesquinhos e maus. Aliás, não podemos esquecer das orientações espirituais vindas pela mediunidade de Chico Xavier, na voz do espírito Alexandre:
A oração é o mais eficiente antídoto do vampirismo. A prece não é movimento mecânico de lábios, nem disco de fácil repetição no aparelho da mente. É vibração, energia, poder. A criatura que ora, mobilizando as próprias forças, realiza trabalhos de inexprimível significação. Semelhante estado psíquico descortina forças ignoradas, revela a nossa origem divina e coloca-nos em contato com as fontes superiores. Dentro dessa realização, o Espírito, em qualquer forma, pode emitir raios de espantoso poder [4].
Em segundo lugar, está a vigilância. Ela é importante para podermos prevenir até os maus pensamentos que nos chegam, evitando-os, pois, como asseverou o espírito Albério, no livro Nos domínios da Mediunidade, de Chico Xavier:
Atraímos os Espíritos que se afinam conosco, tanto quanto somos por eles atraídos; e se é verdade que cada um de nós somente pode dar conforme o que tem, é indiscutível que cada um recebe de acordo com aquilo que dá [5].
Com as antenas psíquicas abertas pela prece, com a qual possibilitamos a aproximação de nossos amigos espirituais, detectamos, pelos processos da inspiração ou intuição, a presença de más ou boas influências, encarnadas ou desencarnadas. Tanto a oração perfeita quanto a vigilância competente exigem certo treino mental, que só a medição diária e contínua nos dá, pois favorece o crescimento anímico.
A meditação vem em terceiro lugar. Estamos falando da meditação espírita, aquela aconselhada pelo espírito Santo Agostinho, na pergunta 919 de O Livro dos Espíritos. Trata-se de uma espécie de higiene mental, momentos nos quais meditamos acerca de nossas vidas, nossos atos e nossos objetivos, segundo os ditames da fraternidade. Não podemos nos esquecer das orientações do espírito Áulus:
Basta, no entanto, nos afeiçoemos aos exercícios da meditação, ao estudo edificante e ao hábito de discernir para compreendermos onde se nos situa a faixa de pensamento, identificando com nitidez as correntes espirituais que passamos a assimilar [6]. 
Uma meditação diária, de pelo menos meia hora, pode nos dar uma força a mais de poder, de concentração da mente e definição de nossos objetivos existenciais, com tal segurança que podemos escolher os pensamentos que queremos. Além disso, com o exercício da meditação, ganhamos capacidade de pensar sobre o que queremos pelo tempo que quisermos. A nossa prece será bem pensada, na quietude da fé e da certeza de que o nosso pensamento, fervoroso e verdadeiro, alcançará os objetivos almejados.
Os nossos amigos espirituais instrutores têm orientado que é possível uma boa performance mental, com reflexos favoráveis, tanto no campo mental quanto no físico, com a seguinte disciplina:
·         pela noite, antes do sono físico, deve-se fazer uma leitura de breve trecho do livro O Evangelho Segundo o Espiritismo e, em seguida, meditar sobre o assunto lido, até que nenhum outro pensamento esteja perturbando e uma quietude mental se estabeleça;
·         no momento de paz alcançado, uma prece a Deus, pedindo, louvando ou agradecendo, ligando-se à espiritualidade superior. A prece realizada na quietude mental é mais definida e definitiva;
·         durante a prece, colocar um copo com água para receber os bons fluídos no processo de fluidificação da água. No final, tomar meio copo da água e guardar a outra metade para o dia seguinte;
·         repetir, se possível, todo o exercício na manhã seguinte.
O homem precisa saber pensar e necessita exercitar-se para tal, visto que não sabe ainda controlar os próprios pensamentos nem definir quais os pensamentos que lhe são transferidos, vindos de mentes que são estranhas. Esse fato facilita, de muito, as obsessões. Uma vez que elas começam pela aceitação, por parte da chamada vítima, dos pensamentos que lhe são transmitidos pelo espírito que lhe quer provocar prejuízos.




[1] Obsessão – Assédio por espíritos – L. Palhano Jr. – Bragança Paulista, SP: Instituto Lachâtre, 2012 – 2ª. edição
[2] Missionários da Luz – Francisco C. Xavier, Capítulo 4.
[3] Na obra O livro da prece, estudo com grande profundidade os recursos da oração e apresento algumas técnicas para tornar a prece mais eficaz.
[4] Missionários da Luz – Francisco C. Xavier – Capítulo 6.
[5] Idem, Capítulo 1
[6] Nos domínios da mediunidade – Francisco C. Xavier – Capítulo 5

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