Manoel Philomeno de Miranda[2]
Muito já se falou sobre o apelo
contido na abertura das Instruções dos Espíritos, Capítulo VI, item 5 de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”:
Espíritas! Amai-vos, esse o primeiro ensinamento; instruí-vos, esse o
segundo..., apelo este que vem antecedido por um vigoroso chamamento do
Espírito Verdade: Escutai-me... O escutai-me reforça o instruí-vos, ações sem
as quais não é possível a apreensão do conteúdo da Doutrina Espírita, nem de
conhecimento algum, ficando a pessoa, que é desinteressada, totalmente insulada
e mergulhada, por opção própria, na noite da ignorância.
A outra expressão imperativa do
Espírito Verdade, “amai-vos”, coloca-se como primeiro mandamento,
indissoluvelmente ligado ao “instruí-vos”, o segundo. Dizemos indissoluvelmente
ligado porque o amor não dispensa instrumentos práticos para poder
transformar-se em serviços, em doações conscientes e competentes a beneficio do
próximo, da vida, do progresso.
Quando Albert Schweitzer tomou
conhecimento da propaganda convocando voluntários para atender a miséria negra
das selvas africanas, sentiu-se tocado, e algo em sua alma falou-lhe que aquela
seria a obra de sua vida, a sua entrega verdadeira a Jesus. Mas, antes de se
engajar, ele refletiu procurando saber como poderia ser útil aos seus irmãos
sofredores.
"O que possuía, de
concreto, no momento, para ajudar?" perguntou-se. O maior cultor de Bach,
do mundo civilizado, o organista exímio e filósofo laureado, homem totalmente aclimatado
à polidez e às exigências intelectuais e culturais dos movimentos de vanguarda
de seu tempo, chegava à conclusão de que nada era e nada tinha com que servir
aos seus irmãos quase primitivos das selvas africanas.
Aí, ele decidiu preparar-se e
foi estudar Medicina, especializando-se em doenças tropicais a fim de poder
ajudar. Foi o Amor que o inspirou, dizendo-lhe: "Dá-me, Albert,
instrumentos para que eu possa agir...". E foi assim que o cidadão cósmico
que viria a ser, mais tarde, o detentor do Prêmio Nobel da Paz, após ter-se
habilitado pelo estudo e pela experiência, rumou para as florestas fechadas do
Congo, às margens do Rio Ogowe, na África Equatorial Francesa, para escrever
uma epopeia de amor a Deus e aos homens, convertendo-se num dos homens-símbolos
do Mundo Contemporâneo.
Na trilogia de Joanna de
Ângelis, o estudo corresponde ao “Qualificar” que, juntamente com o
“Espiritizar e o Humanizar” formam um triângulo equilátero definidor de responsabilidades
para o Centro Espírita. Viabilizar-se o estudo, encetar-se condições básicas
para que ele se realize é responsabilidade do Centro Espírita; realizá-lo é
tarefa do espírita.
Nesse sentido, estudar não é,
apenas, proposta para absorção de valores externos, de informações apenas, mas
um convite favorecedor do autodescobrimento através da reflexão atenta de todos
os estímulos que recebemos, inclusive dos conteúdos psíquicos que emergem de
nosso inconsciente, influenciando o comportamento pessoal. Justifica-se, assim,
o chamamento da Benfeitora espiritual aos médiuns e a todos nós: Estuda a
Doutrina Espírita e estuda-te.
Estudar, destarte, é palavra de
ordem no dicionário da vida, pois o saber descortina, aos olhos deslumbrados do
homem, o Mundo e a Criação Divina, suas leis, a beleza e harmonia que vigem em
tudo, facultando-o integrar-se nesse todo e em si mesmo, de forma ajustada e
consciente, felicitando e felicitando-se.
Recentemente, lemos, numa
propaganda de determinada empresa comercial, a seguinte frase: "Aprender é
ampliar o significado da vida." Efetivamente, o saber representa
renovação, descobertas, possibilidades novas que se lançam de plataformas
construídas a partir do que já foi adquirido, impondo-se como necessidade
vital. Particularmente, a aprendizagem espírita é luz no caminho e nos meandros
da alma humana, apontando as saídas libertadoras para o formoso mundo do Si. O
saber espírita é tão importante para a prática mediúnica, que Allan Kardec
inicia e conclui “O Livro dos Médiuns”
com uma apologia ao estudo. Nas primeiras linhas da introdução ele escreve:
"Todos os dias a
experiência nos traz a confirmação de que as dificuldades e os desenganos, com
que muitos topam na prática do Espiritismo, se originam da ignorância dos
princípios dessa ciência, e felizes nos sentimos de haver podido comprovar que
o nosso trabalho, feito com o objetivo de precaver os adeptos contra os
escolhos de um noviciado, produziu frutos e que à leitura desta obra devem
muitos o terem logrado evitá-los".
E no final do livro, na última
página e último parágrafo, após advertir quanto aos cuidados que é preciso
tomar para frustrar a ação dos Espíritos embusteiros, ele coloca,
enfático:"...Estudai, antes de praticardes, porquanto é esse o único meio
de não adquirirdes experiência à vossa própria custa".
Recorrendo a “O Livro dos Espíritos”, obtemos
preciosos estímulos para valorização do estudo. Na questão 227, respondendo a
indagação de como se instruem os Espíritos errantes, os Benfeitores da
Humanidade informaram: "Estudam e procuram meios de elevar-se",
reforçando essa proposta na questão 967, ao afirmarem que a felicidade dos bons
Espíritos consiste em "conhecerem todas as coisas; em não sentirem ódio,
nem ciúmes, nem inveja, nem ambição, nem qualquer das paixões que ocasionam a
desgraça dos homens" tendo o amor que os une e o bem que fazem como fonte
de suprema felicidade.
Sintetizando essa proposta de
harmonia e ventura espiritual, vemo-la apoiada em três condições essenciais: “o
prazer do conhecimento”, que é o debruçar-se da inteligência sobre a Criação
Divina a fim de compreendê-la e dela participar conscientemente, “a pureza”,
que é vitória sobre as paixões materiais e o “amor”, que sustenta a vida e
emula o ser a doar-se incondicionalmente.
Recorrendo a Emmanuel,
destacamos esses lúcidos ensinamentos: "Já se disse que duas asas
conduzirão o Espírito humano à presença de Deus - Amor e Sabedoria".
Depois de referir-se ao amor, o Amigo Espiritual esclarece o papel da Sabedoria
"que começa na aquisição do conhecimento, através do qual se recolhe a
influência dos vanguardeiros do progresso", concluindo que estudar e
servir são rotas inevitáveis na obra da elevação, realçando que "o livro
representa vigoroso imã de força atrativa, plasmando as emoções e concepções de
que nascem os grandes movimentos da Humanidade...".
De Joanna de Ângelis, em Estudos
Espíritas, tomamos de empréstimo estas abençoadas reflexões: Estudar o
Espiritismo na sua limpidez cristalina e sabedoria incontestável é dever que
não nos é lícito postergar, seja qual for a justificativa a que nos apoiemos.
Cada conceito necessariamente
examinado reluz e clarifica o entendimento, facultando mais amplas percepções
em torno da vida e dos seus fenômenos. Estudar, pois, é atitude essencial à
vida. Estudar de todas as formas ao alcance: lendo, ouvindo, refletindo,
meditando e interagindo com as pessoas, com a Natureza, consigo mesmo,
aproveitando essa maravilhosa viagem da evolução, minuto a minuto, com a
consciência atenta para reter o que Deus tem para nos oferta Harmonia
Espiritual.
Gostaria de ver por aqui trechos do livro de Divaldo Franco/Rabindranath Tagore- Pássaros Livres (poemas). Seria possível? Agradeço. Abraços- marialu05@yahoo.com.br
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