sábado, 4 de junho de 2016

Uma revelação do futuro[1]



Antônio Carlos Navarro – 12/01/2016


Quem de nós já não se interessou pelo conhecimento do futuro, e quem de nós já não teve acesso às narrativas de fatos de futuro revelado? A própria natureza humana traz em si mesma a noção da existência do futuro, e a esperança é, entre outras coisas, a expectativa de que o futuro será composto de situações e condições melhores para se vivenciar e usufruir.
Desejamos, neste ensaio, trazer à baila uma interessante revelação do futuro a que teve acesso o eminente Dr. Victor Frankl, em 1945, e que posteriormente narrou em seu excepcional livro “Em Busca de Sentido”.
Na primeira parte do livro o Dr. Victor narra sua experiência como prisioneiro dos campos de concentração da Segunda Guerra Mundial, e na segunda, apresenta os postulados da Logoterapia, que é fundamentada na busca pelo Significado Existencial, ou Sentido da Vida. Desde então, a sua psicoterapia desenvolveu-se pelo mundo todo, e é de sua narrativa que tiramos uma interessante experiência de revelação do futuro:
O chefe do meu bloco, um estrangeiro que outrora fora um compositor musical bastante conhecido, disse-me certo dia:
– “Ei, doutor, gostaria de lhe contar uma coisa. Há pouco tempo tive um sonho curioso. Uma voz me disse que eu poderia expressar um desejo, que poderia dizer o que gostaria de saber e ela me responderia qualquer pergunta. Sabe o que eu perguntei? Quero saber quando a guerra terminará para mim. Sabe o que quero dizer: para mim! Isto é, queria saber quando seremos libertos do nosso campo de concentração, ou seja, quando terminarão os nossos sofrimentos”.
Perguntei-lhe quando tivera esse sonho. “Em fevereiro de 1945”, respondeu. Estávamos no começo de março. E o que te disse então a voz em sonho? Continuei perguntando. Bem baixinho, me segredou: “Em trinta de março...”.
Quando este meu companheiro me narrou o seu sonho, estava ainda cheio de esperança, convicto de que cumpriria o que anunciara aquela voz. Mas a data profetizada se aproximava cada vez mais e as notícias sobre a situação militar, na medida em que penetravam em nosso campo, faziam parecer cada vez menos provável que a frente de batalha de fato nos trouxesse a liberdade ainda no mês de março. Deu-se então o seguinte: Em vinte e nove de março aquele companheiro foi repentinamente atacado de febre alta. Em trinta de março, no dia em que de acordo com a profecia a guerra e o sofrimento (para ele) chegaria ao fim, ele caiu em pleno delírio e finalmente entrou em coma. . .
No dia trinta e um de março ele estava morto. Falecera de tifo exantemático.
Antes de mais nada precisamos, para orientar nosso raciocínio, saber se o futuro pode ser revelado, e em O Livro dos Espíritos Allan Kardec trata do assunto:
868 - O futuro pode ser revelado ao homem? – Em princípio, o futuro é desconhecido e apenas em casos raros ou excepcionais Deus permite que seja revelado.
869 - Com que objetivo o futuro é oculto ao homem? – Se conhecesse o futuro, negligenciaria o presente e não agiria com a mesma liberdade, porque seria dominado pelo pensamento de que, se uma coisa deve acontecer, não tem por que se preocupar, ou procuraria dificultar o acontecimento. Deus quis que assim fosse, para que cada um cooperasse no cumprimento das coisas, até mesmo daquelas a que gostaria de se opor. Assim, preparais, vós mesmos, frequentemente sem desconfiar disso, os acontecimentos que sucederão no curso de vossa vida.
870 - Mas se é útil que o futuro seja oculto, por que Deus permite algumas vezes sua revelação? –– Permite, quando esse conhecimento prévio deva facilitar o cumprimento de algo em vez de dificultá-lo, ficando obrigado o homem a agir de modo diferente do que faria sem esse conhecimento. Além disso, é, frequentemente, uma prova…
Observa-se que aquele sonho foi uma vivência espiritual, e o desenrolar dos acontecimentos confirmam isso.
O interessante é que a pergunta foi feita no sentido da experiência da personalidade humana encarnada, e a resposta dada pela entidade espiritual estava relacionada ao espírito imortal, o que, convenhamos, nem sempre é de nosso interesse.
Quando buscamos conhecer o futuro desejamos saber se virão alívios ou facilidades para nossas vidas, que sempre achamos atribulada demais, esquecendo que temos um programa reencarnatório que tem, como objetivo maior, nos elevar na condição de espíritos imortais através do desenvolvimento moral decorrente do resultado de nossos comportamentos diante das provas e expiações que a vida nos apresenta.
Aquela Entidade Espiritual não mentiu. Apenas tratou do interesse maior, que é o espiritual, e de forma a fortalecer o encarnado para o pouco de tempo que lhe restava para ser vivido na Terra, e que é o que interessa para se cumprir, com fidelidade, o programa reencarnatório traçado pelo próprio espírito.
O que importa, portanto, é como experimentamos e reagimos ao agora, porque a todo momento estamos delineando nosso futuro através das consequências daquilo que escolhemos como nosso modo de ser e agir, seja para o bem, ou seja, para o mal.
Pensemos nisso.

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