Antônio Carlos Navarro – 12/01/2016
Quem de nós já não se interessou
pelo conhecimento do futuro, e quem de nós já não teve acesso às narrativas de
fatos de futuro revelado? A própria natureza humana traz em si mesma a noção da
existência do futuro, e a esperança é, entre outras coisas, a expectativa de
que o futuro será composto de situações e condições melhores para se vivenciar
e usufruir.
Desejamos, neste ensaio, trazer
à baila uma interessante revelação do futuro a que teve acesso o eminente Dr.
Victor Frankl, em 1945, e que posteriormente narrou em seu excepcional livro
“Em Busca de Sentido”.
Na primeira parte do livro o Dr.
Victor narra sua experiência como prisioneiro dos campos de concentração da
Segunda Guerra Mundial, e na segunda, apresenta os postulados da Logoterapia,
que é fundamentada na busca pelo Significado Existencial, ou Sentido da Vida.
Desde então, a sua psicoterapia desenvolveu-se pelo mundo todo, e é de sua
narrativa que tiramos uma interessante experiência de revelação do futuro:
O chefe do meu bloco, um
estrangeiro que outrora fora um compositor musical bastante conhecido, disse-me
certo dia:
– “Ei, doutor, gostaria de lhe
contar uma coisa. Há pouco tempo tive um sonho curioso. Uma voz me disse que eu
poderia expressar um desejo, que poderia dizer o que gostaria de saber e ela me
responderia qualquer pergunta. Sabe o que eu perguntei? Quero saber quando a
guerra terminará para mim. Sabe o que quero dizer: para mim! Isto é, queria
saber quando seremos libertos do nosso campo de concentração, ou seja, quando
terminarão os nossos sofrimentos”.
Perguntei-lhe quando tivera esse
sonho. “Em fevereiro de 1945”, respondeu. Estávamos no começo de março. E o que
te disse então a voz em sonho? Continuei perguntando. Bem baixinho, me
segredou: “Em trinta de março...”.
Quando este meu companheiro me
narrou o seu sonho, estava ainda cheio de esperança, convicto de que cumpriria
o que anunciara aquela voz. Mas a data profetizada se aproximava cada vez mais
e as notícias sobre a situação militar, na medida em que penetravam em nosso
campo, faziam parecer cada vez menos provável que a frente de batalha de fato
nos trouxesse a liberdade ainda no mês de março. Deu-se então o seguinte: Em
vinte e nove de março aquele companheiro foi repentinamente atacado de febre
alta. Em trinta de março, no dia em que de acordo com a profecia a guerra e o
sofrimento (para ele) chegaria ao fim, ele caiu em pleno delírio e finalmente
entrou em coma. . .
No dia trinta e um de março ele
estava morto. Falecera de tifo exantemático.
Antes de mais nada precisamos,
para orientar nosso raciocínio, saber se o futuro pode ser revelado, e em O Livro dos Espíritos Allan Kardec trata
do assunto:
868 - O futuro pode ser
revelado ao homem? – Em princípio, o futuro é desconhecido e apenas em
casos raros ou excepcionais Deus permite que seja revelado.
869 - Com que objetivo o
futuro é oculto ao homem? – Se conhecesse o futuro, negligenciaria o
presente e não agiria com a mesma liberdade, porque seria dominado pelo pensamento
de que, se uma coisa deve acontecer, não tem por que se preocupar, ou
procuraria dificultar o acontecimento. Deus quis que assim fosse, para que cada
um cooperasse no cumprimento das coisas, até mesmo daquelas a que gostaria de
se opor. Assim, preparais, vós mesmos, frequentemente sem desconfiar disso, os
acontecimentos que sucederão no curso de vossa vida.
870 - Mas se é útil que o
futuro seja oculto, por que Deus permite algumas vezes sua revelação? ––
Permite, quando esse conhecimento prévio deva facilitar o cumprimento de algo
em vez de dificultá-lo, ficando obrigado o homem a agir de modo diferente do
que faria sem esse conhecimento. Além disso, é, frequentemente, uma prova…
Observa-se que aquele sonho foi
uma vivência espiritual, e o desenrolar dos acontecimentos confirmam isso.
O interessante é que a pergunta
foi feita no sentido da experiência da personalidade humana encarnada, e a
resposta dada pela entidade espiritual estava relacionada ao espírito imortal,
o que, convenhamos, nem sempre é de nosso interesse.
Quando buscamos conhecer o
futuro desejamos saber se virão alívios ou facilidades para nossas vidas, que
sempre achamos atribulada demais, esquecendo que temos um programa
reencarnatório que tem, como objetivo maior, nos elevar na condição de
espíritos imortais através do desenvolvimento moral decorrente do resultado de
nossos comportamentos diante das provas e expiações que a vida nos apresenta.
Aquela Entidade Espiritual não
mentiu. Apenas tratou do interesse maior, que é o espiritual, e de forma a
fortalecer o encarnado para o pouco de tempo que lhe restava para ser vivido na
Terra, e que é o que interessa para se cumprir, com fidelidade, o programa
reencarnatório traçado pelo próprio espírito.
O que importa, portanto, é como
experimentamos e reagimos ao agora, porque a todo momento estamos delineando
nosso futuro através das consequências daquilo que escolhemos como nosso modo
de ser e agir, seja para o bem, ou seja, para o mal.
Pensemos nisso.
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