JORGE HESSEN
Sabemos que a Doutrina Espírita
é pura e incorruptível. Porém, o movimento espírita, ou seja, a organização dos
homens para praticá-la e divulgá-la é suscetível dos mesmos graves prejuízos
que dificultaram a ação do cristianismo tradicional, hoje bastante fracionado.
Observamos com tristeza muitas diretorias das casas espíritas que se mantêm sob
uma incômoda e rígida hierarquia (aquela do aqui mando e quero ser obedecido!).
São dirigentes contaminados pela prepotência no exercício do cargo e totalmente
vazios de consciência sobre os seus encargos. Destarte, permanecem bastante
longe da prática evangélica, inventando um “Espiritismo” estranho ao projeto da
Terceira Revelação.
Como não se pode imaginar o
espírita com duas condutas divergentes, a conduta do homem e a conduta do
espírita, também não se pode imaginar o movimento espírita, ora acontecendo
segundo os preceitos espíritas, ora segundo outros preceitos duvidosos, aceitos
equivocadamente no seu contexto em nome da tolerância piegas.
Kardec é único. Espiritismo
também, por conseguinte. O mestre lionês sempre preconizou a unidade
doutrinária. Não há o menor espaço para compor com outras ideias que não sejam,
ou convergentes e em uníssono com as suas, ou reflexos resplandecente destas.
Unidade doutrinária foi a única e derradeira divisa de Allan Kardec, por ser a
fortaleza inexpugnável do Espiritismo. Por isso, necessita ser o nosso lema, o
nosso norte, a nossa bandeira.
Muitas vezes os Centros
Espíritas transformam-se em ilhas de isolamento, por falta de estudo sério,
aprofundado e metodizado da Doutrina, donde surgem inúmeras interpretações
equivocadas sobre os seus postulados, em prejuízo da verdade doutrinária. Se
abraçamos o Espiritismo, por rota de crescimento espiritual, não podemos
negar-lhe fidelidade. Porém, é a lamentável falta de fidelidade aos conceitos e
princípios do Espiritismo, que são difundidos de forma truculenta por
dirigentes ignorantes, que têm isolado as casas espíritas, tornando-as ilhadas
e desérticas de consolação!...
O compromisso do Centro Espírita
e dos dirigentes é com a Doutrina Espírita. A adoção de teorias e práticas
exóticas, ou não afinadas com a simplicidade e pureza dos trabalhos espíritas,
comprometem o objetivo da Casa Espírita e desorientam seus frequentadores e
assistidos. Quando citamos a palavra pureza, os “vanguardistas de plantão”
arregalam os olhos o coçam as orelhas, exclamando: Ah! Lá vem esse purista!
Cabe salientar, porém, que André Luiz, em “Conduta Espírita”, não deixa margem
para dúvidas sobre isso, senão vejamos: "A PUREZA DA PRÁTICA DA DOUTRINA
ESPÍRITA DEVE SER PRESERVADA A TODO CUSTO".
Infelizmente, o despreparo e os
atavismos de muitos indivíduos, que colaboram de boa vontade nas fileiras
espíritas, fazem com que certas práticas, pouco condizentes com a pureza
doutrinária, se implantem em diversas instituições e acabem mesmo divulgadas em
palestras, livros e periódicos ditos espíritas. Quem compreende essa situação
deve trabalhar para modificá-la. A via mais segura, para isso, é a do
esclarecimento, do estudo, do convencimento pela razão e pelo amor, jamais
pelos anátemas, óbvio!...
Para os mais apressados, a
pureza doutrinária é a defesa intransigente dos postulados espíritas, sem maior
observância das normas evangélicas; para os não menos afoitos, é a rígida
igualdade de tipos de comportamento, sem a devida consideração aos níveis
diferenciados de evolução em que estagiam as pessoas. Sabemos que o excesso de
rigor na defesa doutrinária pode levar a graves erros, se enredarmos pelas
trilhas do fundamentalismo injustificável, posto que redundará em divisão
inaceitável em face dos impositivos da fraternidade. Se tivermos que nos
equivocar, que seja com atitudes e jamais por omissão. Nesse tópico, veio-me à
mente (como estranha moral!), porém, sublime advertência cristã: “NÃO PENSEIS
QUE VIM TRAZER A PAZ À TERRA; NÃO VIM TRAZER PAZ, MAS ESPADA”.
Os espíritas não são proibidos
de coisa alguma, mas sabendo que devem arcar com a responsabilidade de todos os
atos, conscientes do desequilíbrio que possam praticar. Que terão que
reconstruir o que destruírem e responderão pelo mal praticado e harmonizarão o
que desarmonizarem etc.. Não podemos fingir que tudo está em ordem e harmônico
às mil maravilhas ou que somos sublimes cristãos. Em verdade, existem inúmeras
práticas não compatíveis com o projeto doutrinário que, por isso, urge sejam
combatidas à exaustão, porque nas pequenas concessões é que vamos desestruturando
o edifício kardeciano e descaracterizando o projeto da Terceira Revelação. Por
isso, é óbvio que estejamos atentos contra ideologias estranhas aos objetivos
espíritas, em nome da mais legítima fraternidade, até porque: QUEM AVISA AMIGO
É!!!
O Espiritismo não aceita “donos
da verdade”, até porque a espiritualidade e Kardec ensinam que a Revelação
Espírita é progressiva, não estando completa em parte alguma e nem precisamos
fazer um esforço descomunal para nos cientificarmos de que são raros os centros
espíritas que podem se dar ao luxo de praticar a mediunidade na sua mais pura
acepção. Muito melhor, e mais prudente, seria que os núcleos e grupos espíritas
despreparados intensificassem as reuniões de leitura, meditação e comentários
racionais para as conclusões seguras, fugindo de um inoportuno e prematuro
intercâmbio com as forças do além. Até porque, prática mediúnica sem uma
robusta base cultural e moral será, inevitavelmente, uma incursão permanente no
mundo das sombras.
Por isso, insistimos - e temos publicado
no “meu site” - o tema sobre centros espíritas que propõem aplicações de luzes
coloridas (cromoterapias) para higienizar auras humanas e curar (acreditem!!!):
azia, cálculo renal, coceiras, dores de dente, gripes, soluços em crianças,
verminose, frieiras. Se não bastasse, recomenda-se até carvãoterapia (?!) para
neutralizar "maus-olhados". Nesse sentido, segundo creem, é só
colocar um pedaço de tora de carvão debaixo da cama e estaremos imunes do
grande flagelo da humanidade - o "olho comprido". Não satisfeitos,
ainda têm aqueles que “engarrafam” literalmente os obsessores.
Difunde-se, por aqui, (DF), a
coqueluche da moda: uma tal de desobsessão por corrente mentoeletromagnética
(sic), com as mais extravagantes proposições. Há as inusitadas piramideterapias,
gatoterapia (???) (conheço pessoa que possui cinco gatos em casa para “atrair”
as energias negativas), cristalterapias, apometrias e mais uma dezena de
terapias bizarras, isso sem esquecermos que, na mística Brasília, aplicam-se,
até, passes magnéticos nas paredes dos centros para “descontaminá-las”. Há casa
espírita, por aqui, que evoca “ET” para um contato imediato(!?)
Conhecemos outras práticas
estranhíssimas ao projeto espírita, a saber: dirigentes promovendo casamentos,
crismas, batizados, velórios (tudo no salão de palestras), além das sempre
“justificadas” rifas e tômbolas nos centros, festival da caridade, tribuna para
a propaganda político-partidária, preces cantadas. Isso, para não aprofundar
nos inoportunos trabalhos de passes com bocejos, toques, ofegações, choques
anímicos (?), estalação dos dedos, palmas, diagnósticos pela “vidência":
sobre doenças e obsessões etc.. Dias atrás, entrei numa certa Federação
Espírita (fora de Brasília) e observei vários cartazes, convidando para cursos
e palestras sobre a “kundaline”, a força da "mandala" etc.. Ufa!!!
Para entendermos a mediunidade,
em seus conceitos básicos, temos que separar o fenômeno, em si mesmo, da
Doutrina Espírita e definirmos o aspecto fenomênico, apenas por matéria de
observação e Espiritismo como a luz que esclarece os fatos. Em todos os cantos
da Terra existem manifestações medianímicas, pois elas não ocorrem somente nos
núcleos espíritas. Por isso, na sua real interpretação, podemos assegurar que,
no atual estágio do projeto espírita, os fenômenos não são prioritários, mas
secundários. A questão fenomênica não mais constitui ponto de partida para o
atual objetivo do Espiritismo na Terra.
Destarte, para evitarmos
determinadas práticas perfeitamente dispensáveis em nome da pureza doutrinária,
entendamos que prática de fidelidade aos preceitos kardecianos é processo de
aprendizagem, com responsabilidade nas bases da dignidade cristã, sem quaisquer
laivos de fanatismo, tendente a impossibilitar discussão sadia em torno de
questões controversas. Porém, não olvidemos que espírita-cristão deve ser o
nosso caráter, ainda mesmo que nos sintamos em reajuste, depois da queda.
Espírita-cristã deve ser a nossa conduta, ainda mesmo que estejamos em duras
experiências. Espírita-cristão deve ser o nome do nosso nome, ainda mesmo que
respiremos em aflitivos combates íntimos. Espírita-cristão deve ser o claro
objetivo de nossa instituição, ainda mesmo que, por isso, nos faltem as
passageiras subvenções e honrarias terrestres.
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