Mensagens atribuídas a Rizzini,
Herculano Pires e Arnaldo Rocha ridicularizam os médiuns, a mediunidade e a
própria doutrina.
A morte física do médium Chico
Xavier não levou para o outro plano da vida apenas o espírito; levou, também, o
bom-senso e abriu espaço para que candidatos a homens de bem se cristalizassem
numa nova loucura da atualidade: a de batalhar a todo custo para que o querido
médium se transforme no deus do espiritismo, guia absoluto e indiscutível da
doutrina, atribuindo-lhe a supremacia do pensamento de um movimento que dia a
dia rola ladeira abaixo sob o manto do religiosismo exacerbado.
Macena, um jornalista de pouco
equilíbrio e bastante astúcia, tanto que se tornou presidente de uma associação
médico-espírita, escancarou a porteira da crença sem base científica de que
Chico era Kardec. Alguns seguiram pela obscura estrada que se abriu, mas foram
perdendo o fôlego e pararam. Aí surgiu a figura controvertida de Marlene Nobre
e do posto de comando da Folha Espírita, jornal que ela dirigia, fez publicar
página inteira defendendo a estapafúrdia ideia, numa entrevista que ela deu-se a
si mesma, para difundir a mensagem de um médium de pouca expressão enquanto
médium, na qual um suposto Hilário Silva “confirmava” ter Chico sido no passado
próximo Allan Kardec, além de pôr em destaque um livreto ingênuo e lacrimoso
escrito por um chiquista de carteirinha, em que dizia, entre outras bobagens,
que Chico era Kardec e ninguém, ninguém mesmo, poderia tirar essa crença do seu
cérebro de sinapses místicas.
Daí para frente, a massa
desandou. Não foi suficiente algumas personalidades expressivas do movimento
virem a público para confrontar as ideias da então presidente da AME-Brasil com
fatos e argumentos que desmontavam a farsa. Marlene, médica, viúva de um
conceituado político, não quis saber de responder à crítica que apontava para a
falta de seriedade dos argumentos e sua distância abissal das provas
científicas. Preferiu retorquir com um texto choroso e repetitivo. Manteve
pérolas do nonsense como a do argumento de que o casamento de Kardec com Amelie
era apenas formal, sem intimidades, algo parecido com o pensamento dos
roustainguistas, que afirmam que Jesus não teve corpo carnal, só aparente.
Chico já não está mais presente
para se manifestar. Mas isso há muito deixou de ser importante, uma vez que os
defensores da reencarnação de Kardec na pele de Chico tomaram imediata
providência para abrir uma outra porteira, a da mediunidade descontrolada, sem
mesmo perceber o estridente ruído da madeira apodrecida, e fazer desfilar por
ali, um após outro, espíritos escolhidos a dedo, dentre eles o próprio médium
mineiro, sem sequer dar ouvidos ao suposto código que Chico teria entregue a
três de seus fiéis colaboradores. Registre-se, nenhum desses três até hoje deu
aval às mensagens que Chico teria enviado.
Médiuns, cuja presença ao seu
lado o Chico proibira por razões que se desconhece, passaram a dar mensagens
com a “autoria” a ele atribuída, como o faz ainda Carlos Bacceli, que já havia
sido exposto ao público mais sério por difundir outros textos de autoria
duvidosa de espíritas conceituados. Para publicar em primeira mão, Bacceli
quase não esperou o corpo do médium mineiro sequer esfriar.
Atualmente, nossas caixas
postais vêm sendo inundadas por correspondências portadoras de mensagens ditas
mediúnicas que revelam a “conversão” pós-túmulo de pessoas que antes combateram
a insana vontade de alguns de querer “provar” que Chico fora Kardec. Entre
aqueles que formam o que denomino círculo dos adoradores de Chico está o
português atualmente radicado no Brasil, de nome Nuno Emanuel, cuja única
função entre nós parece ser basicamente a de fomentar diuturnamente a crença. É
ele, neste affaire, secundado pelo
brasileiro que também se diz médium, Geraldo Lemos Neto, e utiliza-se das redes
sociais para sua propaganda, além do site de uma editora ligada a este Geraldo,
site que se tornou quase que inteiramente voltado à difusão e defesa da
controversa ideia. Neste endereço: http://www.vinhadeluz.com.br/site/noticias.php
Numa ação semelhante à praticada
pela Igreja Católica no passado, que mandava seus bispos dar a extrema unção a
personalidades adversárias no seu leito de morte, para depois proclamar a sua
conversão, os componentes do círculo dos adoradores de Chico andam à cata de
mensagens nas quais revelam que seus supostos autores espirituais, todos eles,
em vida, contrários à ideia de Chico-Kardec prontamente se arrependeram ao
aportar no outro plano e agora a defendem.
Nenhum deles percebe o ridículo
dessas mensagens, protegidos que estão pela capa do nonsense, e as tomam como
verdade para balançar a bandeira da universalidade do ensino dos espíritos, o
que prova a venda presente nos seus olhos a impedir o uso da razão.
Por médiuns pouco ou nada
conhecidos, sem lastro na produção mediúnica, apresentam mensagens absurdas com
a autoria, entre outros, de Jorge Rizzini, Herculano Pires e Arnaldo Rocha, a
dizer que mudaram de ideia rapidamente no outro plano da vida. Rizzini aparece
na forma poética, em redondilha maior (versos em sete sílabas), ele que não era
poeta e não escrevia poesia, mas fora mestre na escritura de contos, é
apresentado – pasmem! – por um poema ingênuo de rimas absolutamente pobres,
coisa que, vivo e médium, não permitiria a nenhum espírito comunicante, fosse
qual fosse.
Herculano Pires, este, sim,
poeta de mão cheia, aparece também “confessando” seu suposto erro em vida, mas
a poesia em que revela a mudança está anos-luz de distância da qualidade dos
poemas que em vida escreveu. Pois bem, o médium aqui é irmão carnal daquele que
“psicografou” Rizzini e ambos integram o círculo dos chiquistas. Até mesmo o
pai desses médiuns foi por um deles psicografado, a defender a mesma tese, o
que mostra à saciedade o quão contaminado está o ambiente mediúnico desses
intermediários do além (ou do aquém?).
São corajosos esses médiuns e
absurdamente ridículos os que os divulgam e aplaudem, pois não levam em
consideração a mais simples observação doutrinária de que as mensagens
mediúnicas, quando não primam pelo estilo, devem primar pelo conteúdo.
Pois bem, não satisfeitos com
essas pérolas de além-túmulo, apresentam outras, como as atribuídas a Arnaldo
Rocha, ele mesmo, o amigo verdadeiro e não imposto de Chico Xavier e viúvo de
Meimei, que se opôs com veemência à campanha de endeusamento de Chico e desenrolou
extensa relação de possíveis reencarnações dele, nenhuma como Kardec, é agora
jogado na fogueira das paixões humanas como alguém também arrependido de não
ter “visto” Kardec no corpo do mineiro de Pedro Leopoldo. Espantosamente, menos
de cinco meses após sua desencarnação! Míope antes, Arnaldo agora toma
emprestado os olhos dos chiquistas do lado de cá para fugir deste fogo que
consome e produz cinzas.
Como diria Rizzini, não seremos
ingênuos e nem pretensiosos a ponto de achar que vamos deter essa onda insana
de mitificação idólatra do Chico, mas é preciso denunciar essa doentia campanha
que conduz a doutrina ao mais extremo dos polos da ridicularização. Se não for
por nós mesmos, que seja por respeito ao autor da obra espírita que eleva a
noção de espiritualidade ao Monte Ararat do bom-senso.
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