sábado, 7 de maio de 2016

Médicos pesquisam influência do 'passe' espírita para tratar a ansiedade[1]




            Pesquisa da Unesp estuda união entre tratamento espiritual e médico.
 
Um grupo de oito médicos da Associação Espírita de Médicos de Botucatu (SP) se reuniu para pesquisar a influência da terapêutica energética do “passe” espírita na redução da ansiedade. A técnica, originada das práticas de cura do cristianismo primitivo, consiste basicamente na imposição de mãos sobre uma pessoa, a fim de transferir boas energias e tratar o lado espiritual de quem recebe o “passe”.
A pesquisa teve início em 2014 e está em fase de desenvolvimento na Faculdade de Medicina de Botucatu/Unesp (FMB). De acordo com o médico infectologista Ricardo de Souza Cavalcante, a inspiração para a pesquisa surgiu de outro grupo de médicos, de São Paulo, que iniciou um estudo sobre a eficácia de uma técnica semelhante, o Reiki, de origem japonesa.
O estudo sobre o “passe” é feito com voluntários, não necessariamente espíritas ou praticantes de alguma religião, que não estejam fazendo nenhum tipo de tratamento psicológico ou psiquiátrico. “Primeiramente, nós fazemos uma avaliação médica para verificar se o voluntário tem realmente o diagnóstico de ansiedade. Se confirmado, o paciente passa a frequentar a sala de estudos uma vez por semana, durante oito semanas, para receber o 'passe'“, explica Ricardo.
Ainda de acordo com o médico, antes de iniciar o tratamento, os participantes passam por um tempo de meditação e concentração. Música ambiente é utilizada para relaxar e, por 5 minutos, um terapeuta impõe as mãos sobre a cabeça, tórax e barriga do voluntário. São levados em conta, na análise, níveis de depressão, qualidade de vida e grau de espiritualidade do paciente.
Os voluntários respondem a um questionário ao final de cada sessão e, alguns deles, passam por exames de eletroencefalograma, para medir as variações das ondas cerebrais antes, durante e depois do procedimento.
 
Ciência e espiritualidade
 Nas últimas décadas, muitos estudos científicos têm sido feitos a fim de demonstrar os benefícios de aliar o trabalho com a espiritualidade ao tratamento médico convencional.
“Houve uma separação histórica, mas eu acredito que essas coisas precisam caminhar juntas. O ser humano deve ser visto como um todo. Nós não somos só um amontoado de células. Temos, comprovadamente, um lado emocional, espiritual”, pontua Ricardo.
A dona de casa Silvia Helena Vieira da Silva, de 47 anos, é uma das voluntárias que participarão da pesquisa. Católica, ela acredita que as práticas espíritas podem colaborar para o bem-estar. “Nós estamos tão ansiosos, nos medicando tanto, que eu gostaria de experimentar algo que não fosse medicamento, até porque remédios atacam meu organismo. Se eu puder fugir, eu fujo”, declara Silvia, que sofre as consequências físicas da ansiedade.
“Nós que temos filhos, estamos sempre na expectativa de algo. É um convívio constante com a ansiedade. Quando ela aparece, meu intestino solta, sinto dores no estômago e na cabeça. Quero muito que esta iniciativa dê certo”, conta.
Muitos voluntários estão participando da pesquisa. Eles precisaram demonstrar ter ansiedade e não esteja em tratamento psicológico pode participar. Nosso objetivo não é converter ninguém”, explica o médico.
Os interessados em participar da pesquisa podem obter informações pelo telefone (14) 3811- 6547.
 
Passe na Doutrina Espírita
 De acordo com Leopoldo Zanardi, diretor de comunicação do Centro Espírita Amor e Caridade, de Bauru (SP), o “passe” trata-se de uma assistência espiritual, denominada de fluidoterapia, e que não anula a necessidade do tratamento médico. Este nome é dado por ser uma transferência de energias. “As mãos são colocadas de 10 a 15 centímetros acima da cabeça, não há toque físico. A Federação Espírita brasileira aconselha que as mãos sejam colocadas apenas sobre a cabeça”, conta Leopoldo.
Ele explica também que, na doutrina espírita, acredita-se que além das boas energias passadas pelo passista, existe também a atuação de espíritos que identificam e agem diretamente no problema de quem está recebendo o passe, seja ele físico, emocional ou espiritual. O procedimento pode ser individual (“passe simples”) ou em grupo (“passe conjugado” – 2 ou mais passistas realizam o procedimento). Mas quanto mais pessoas estiverem juntas, melhor, de acordo com Leopoldo.
No Centro Espírita, o passe simples pode ser tomado por qualquer um que desejar, sem a necessidade de entrevista. Mas, para aqueles que querem tratar algo específico, é necessário passar pelo atendimento, onde será identificada a necessidade de cada pessoa.
Em seguida a pessoa recebe um papel que dá direito a oito passes, que devem ser tomados uma vez por semana. Em ambos os casos, os pacientes entram em uma sala, após um período de oração do grupo mediúnico (responsável por aplicar os passes), sentam-se nas cadeiras e estendem as duas mãos para frente, como quem está para receber algo.
Os passistas, como também são chamados os membros do grupo mediúnico, impõe as mãos sobre a cabeça das pessoas, uma nova prece é anunciada e, após poucos minutos de silêncio, tudo está feito. Depois de dispensar as pessoas, os passistas fazem outra oração de agradecimento e encerram o procedimento. “É importante ressaltar que não se deve abrir mão do tratamento médico. Nós oferecemos uma assistência espiritual. Também não basta apenas 'tomar o passe’. É necessário assistir às palestras, mudar o pensamento, buscar ser melhor a cada dia. Dominar as más inclinações e fazer caridade. Precisamos estar em constante evolução”, completa Leopoldo.
Para a dona de casa Iole Angelo Cintra, de 46 anos, tomar os “passes” trouxe melhora para problemas de insônia e dor de cabeça que, segundo ela, tinham raiz espiritual.
“Eu não dormia direito à noite. Aqui no centro descobri que eu tinha ‘desdobramento’, que é uma espécie de mediunidade que me faz sair do meu corpo. Eu me via dormindo à noite e andava pela minha casa. Quando comecei a tomar os passes, as dores de cabeça sumiram e eu pude controlar mais esse desdobramento. O efeito do passe é ótimo, mas também depende da pessoa se esforçar para ser alguém melhor”, contou Iole.


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