Pesquisa da Unesp estuda união entre tratamento espiritual e
médico.
Um grupo de oito médicos da
Associação Espírita de Médicos de Botucatu (SP) se reuniu para pesquisar a influência
da terapêutica energética do “passe” espírita na redução da ansiedade. A
técnica, originada das práticas de cura do cristianismo primitivo, consiste
basicamente na imposição de mãos sobre uma pessoa, a fim de transferir boas
energias e tratar o lado espiritual de quem recebe o “passe”.
A pesquisa teve início em 2014 e
está em fase de desenvolvimento na Faculdade de Medicina de Botucatu/Unesp
(FMB). De acordo com o médico infectologista Ricardo de Souza Cavalcante, a
inspiração para a pesquisa surgiu de outro grupo de médicos, de São Paulo, que
iniciou um estudo sobre a eficácia de uma técnica semelhante, o Reiki, de
origem japonesa.
O estudo sobre o “passe” é feito
com voluntários, não necessariamente espíritas ou praticantes de alguma
religião, que não estejam fazendo nenhum tipo de tratamento psicológico ou
psiquiátrico. “Primeiramente, nós fazemos uma avaliação médica para verificar
se o voluntário tem realmente o diagnóstico de ansiedade. Se confirmado, o
paciente passa a frequentar a sala de estudos uma vez por semana, durante oito
semanas, para receber o 'passe'“, explica Ricardo.
Ainda de acordo com o médico,
antes de iniciar o tratamento, os participantes passam por um tempo de
meditação e concentração. Música ambiente é utilizada para relaxar e, por 5
minutos, um terapeuta impõe as mãos sobre a cabeça, tórax e barriga do
voluntário. São levados em conta, na análise, níveis de depressão, qualidade de
vida e grau de espiritualidade do paciente.
Os voluntários respondem a um
questionário ao final de cada sessão e, alguns deles, passam por exames de
eletroencefalograma, para medir as variações das ondas cerebrais antes, durante
e depois do procedimento.
Ciência e
espiritualidade
Nas últimas décadas, muitos estudos
científicos têm sido feitos a fim de demonstrar os benefícios de aliar o
trabalho com a espiritualidade ao tratamento médico convencional.
“Houve uma separação histórica,
mas eu acredito que essas coisas precisam caminhar juntas. O ser humano deve
ser visto como um todo. Nós não somos só um amontoado de células. Temos,
comprovadamente, um lado emocional, espiritual”, pontua Ricardo.
A dona de casa Silvia Helena
Vieira da Silva, de 47 anos, é uma das voluntárias que participarão da
pesquisa. Católica, ela acredita que as práticas espíritas podem colaborar para
o bem-estar. “Nós estamos tão ansiosos, nos medicando tanto, que eu gostaria de
experimentar algo que não fosse medicamento, até porque remédios atacam meu
organismo. Se eu puder fugir, eu fujo”, declara Silvia, que sofre as consequências
físicas da ansiedade.
“Nós que temos filhos, estamos
sempre na expectativa de algo. É um convívio constante com a ansiedade. Quando
ela aparece, meu intestino solta, sinto dores no estômago e na cabeça. Quero
muito que esta iniciativa dê certo”, conta.
Muitos voluntários estão
participando da pesquisa. Eles precisaram demonstrar ter ansiedade e não esteja
em tratamento psicológico pode participar. Nosso objetivo não é converter
ninguém”, explica o médico.
Os interessados em participar da
pesquisa podem obter informações pelo telefone (14) 3811- 6547.
Passe na Doutrina
Espírita
De acordo com Leopoldo Zanardi, diretor de
comunicação do Centro Espírita Amor e Caridade, de Bauru (SP), o “passe”
trata-se de uma assistência espiritual, denominada de fluidoterapia, e que não
anula a necessidade do tratamento médico. Este nome é dado por ser uma
transferência de energias. “As mãos são colocadas de 10 a 15 centímetros acima
da cabeça, não há toque físico. A Federação Espírita brasileira aconselha que
as mãos sejam colocadas apenas sobre a cabeça”, conta Leopoldo.
Ele explica também que, na
doutrina espírita, acredita-se que além das boas energias passadas pelo
passista, existe também a atuação de espíritos que identificam e agem
diretamente no problema de quem está recebendo o passe, seja ele físico,
emocional ou espiritual. O procedimento pode ser individual (“passe simples”)
ou em grupo (“passe conjugado” – 2 ou mais passistas realizam o procedimento).
Mas quanto mais pessoas estiverem juntas, melhor, de acordo com Leopoldo.
No Centro Espírita, o passe
simples pode ser tomado por qualquer um que desejar, sem a necessidade de
entrevista. Mas, para aqueles que querem tratar algo específico, é necessário
passar pelo atendimento, onde será identificada a necessidade de cada pessoa.
Em seguida a pessoa recebe um
papel que dá direito a oito passes, que devem ser tomados uma vez por semana.
Em ambos os casos, os pacientes entram em uma sala, após um período de oração
do grupo mediúnico (responsável por aplicar os passes), sentam-se nas cadeiras
e estendem as duas mãos para frente, como quem está para receber algo.
Os passistas, como também são
chamados os membros do grupo mediúnico, impõe as mãos sobre a cabeça das
pessoas, uma nova prece é anunciada e, após poucos minutos de silêncio, tudo
está feito. Depois de dispensar as pessoas, os passistas fazem outra oração de
agradecimento e encerram o procedimento. “É importante ressaltar que não se
deve abrir mão do tratamento médico. Nós oferecemos uma assistência espiritual.
Também não basta apenas 'tomar o passe’. É necessário assistir às palestras,
mudar o pensamento, buscar ser melhor a cada dia. Dominar as más inclinações e
fazer caridade. Precisamos estar em constante evolução”, completa Leopoldo.
Para a dona de casa Iole Angelo
Cintra, de 46 anos, tomar os “passes” trouxe melhora para problemas de insônia
e dor de cabeça que, segundo ela, tinham raiz espiritual.
“Eu não dormia direito à noite.
Aqui no centro descobri que eu tinha ‘desdobramento’, que é uma espécie de
mediunidade que me faz sair do meu corpo. Eu me via dormindo à noite e andava
pela minha casa. Quando comecei a tomar os passes, as dores de cabeça sumiram e
eu pude controlar mais esse desdobramento. O efeito do passe é ótimo, mas
também depende da pessoa se esforçar para ser alguém melhor”, contou Iole.
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